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Textos revisados para o 13

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Mensagem por Ricardo Andrade Qua Ago 26, 2009 6:06 pm

Vampirismo ou Solidão? (Agente Dias)

Parece que meus sentidos estão aguçados mas, ao mesmo tempo, em conflito. Sinto o gosto salgado da frieza do mar oceânico, ouço o movimento vazio do vento dos quatro cantos, mas não te vejo ao meu lado na fotografia.

Ando nas ruas medievais e modernas ao mesmo tempo. A única coisa de diferente entre elas é a ignorância do tempo que existe em ambas. As pessoas não conhecem mais o pânico e o pavor quando passo por elas. E olha que nem sei usar a ofuscação. Nem mesmo de dia, o sol quer queimar minha pele. Mas à noite... Ah, prefiro não falar.

– O que está havendo? Sem você, não sou mais quem sou, ou sou quem nunca fui?

Então, por que não me vejo no espelho? Eu me lembro que, antes, você contornava meu rosto, com seus delicados dedos, e eu podia ver-me no reflexo. Teu sangue feminino me fazia querer te matar, te devorar, e agora me faz querer te beijar, sem medo da morte aparecer.

– O que está havendo? Sem você, não sou mais quem sou, ou sou quem nunca fui?

Agora estou numa igreja, é numa igreja! Chegou o fim da missa, e nada da sagrada ação de Deus me fazer sair desse lugar. O crucifixo não me fazia gelar e nem correr; agora me fazia ter fé pra te reencontrar. Eu não tinha medo daquela água sagrada mas, quando a usei pra me purificar e para ter força pra te reconquistar, ela me queimou. Você é o meu pecado!

– O que está havendo? Sem você, não sou mais quem sou, ou sou quem nunca fui?

Acabo de beber bastante vinho. Beber vinho é uma tradição na minha família. Mas eu deveria ter bebido no meu castelo. É, castelo; você me chamava de seu príncipe, lembra? Saí daquele luxuoso restaurante, sem ter controle dos meus sentidos, sentimentos e pensamentos... Na verdade, eu parecia uma caixa de papelão vazia, sendo empurrada pelo vento na rua. Uma forte luz veio ao meu encontro, junto com um alto som, mas eu jurava que eram seus olhos e sua voz me chamando, pedindo ajuda, então fui ao seu encontro. Sempre gostei de ser o seu herói. Segundos depois, senti uma dor consumindo meu corpo; tudo gira e acabo revivendo aquela cena em que você dizia: Tô indo embora. Não te amo mais! Agora sei o que é um flashback, só o conhecia pela sétima arte. Estou no chão. Alguns perguntam se eu encontrei a morte, mas eles mal sabem que eu e a morte somos íntimos... Sabe, acabei pegando essa intimidade com ela, nas diversas vezes em que você saia de casa sem avisar e demorava a voltar. Não consigo mais mover nenhuma parte do meu corpo; meu coração já não batia mesmo, agora o kit está completo. Mas posso me levantar, como se eu estivesse apenas me recuperando da ressaca, se eu voltar a sentir o seu sangue dando o prazer de pulsar ao meu gelado coração.

– O que está havendo? Sem você, não sou mais quem sou, ou sou quem nunca fui?
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Mensagem por Ricardo Andrade Qua Ago 26, 2009 6:10 pm

Texto: Jluismith
4 páginas


37 dias
Eu sinceramente não sei como te contar isso. Provavelmente você não vai acreditar, mas eu tenho que contar, para o seu bem. Espero que você entenda. Se você não entender, vai me magoar bastante, mas eu também vou compreender. Começou quando eu era criança.
O nome dela era Carla. Carlinha. Eu tinha sete anos, ela oito, mas sempre brincávamos juntos no pátio. Era naquela escola perto da minha casa, eu provavelmente já te mostrei quando passamos de carro por lá. Bem, foi com ela que eu dei meu primeiro beijo. Eu sei, é engraçado, mas eu ainda me lembro bem, foi atrás da casa da tia dela, Dona Lalá, provavelmente a senhora idosa mais chata que já pisou na face da Terra... Mas agora não é hora pra pensar na Dona Lalá.
Nós nos beijamos, beijo de criança. Selinho. Mas o primeiro beijo é sempre o primeiro beijo. Passamos a nos considerar namorados, graças às piadas do pai dela, que sempre tinha sido amigo do meu. E, bem, era um namorinho, passeávamos de mãos dadas, dávamos um beijinho de vez em quando, brincávamos todo dia um na casa do outro. Isso durou um mês, até o pai dela ser transferido. Eu lembro dela chorando pra me contar, o rostinho ficando vermelho, o abraço apertado. Éramos muito colados, sempre fomos, desde sermos vizinhos, até colegas e depois... namorar...
Minha família ajudou a empacotar a mudança, junto com os pais dela, e trocamos um beijo no vidro, enquanto o pai dela se preparava pra sair com o carro. Na Serra de Petrópolis, eles foram jogados pra fora da pista por uma carreta. Todos saíram com ferimentos leves, menos a Carla. Carlinha. Saiu pelo vidro e bateu com a cabeça. Nem teve tempo de chegar até o hospital. Meu primeiro velório. Minha mãe ainda tem o terninho preto que eu usei.
Depois, quando eu já tinha 14, veio a Flaviana. Colega de sala, sempre falante, bem mais alta que eu. Já tinha ficado com o Gabriel, o babaca da oitava série, mas terminou com ele pra ficar comigo. Eu diria que foi a minha primeira conquista em termos de... romance, posso dizer assim. Nos beijávamos no fundo da sala, durante as aulas do Professor Sobral, aquele carequinha que meu pai te apresentou outro dia. Meus primeiros amassos. Desculpa, estou dando detalhes demais, não? É que as lembranças voltam... Mas então... Um dia, nós brigamos e ela foi pra casa dos avós. Passaram-se duas semanas e eu não soube dela. Não telefonei por birra, achei que ela estava me evitando.
Na semana seguinte, falaram na escola que ela tinha tido um caso súbito de hepatite. A doença atacou rapidamente o fígado e ela não resistiu. Não tive coragem de ir ao enterro. Meus pais me trocaram de colégio depois disso.
Aos 17, foi a Larissa. Colega da minha irmã mais nova, se você procurar bem no mural da Cristiana, acho que ainda tem uma foto dela por lá. Sempre foi doidinha em mim, mas eu só fui reparar nela quando a Teresa me deu um fora totalmente degradante na festa de Halloween do curso de inglês. Era engraçadinha, ainda que meio chata. Mas era novinha, muito bonita e carente. Admito que me aproveitei disso pra tirar a virgindade dela.
Começamos a namorar, e eu vi que não ia aguentar muito tempo a garota; afinal, além de sexo, eu podia ter o quê com ela? E ela ficava mais e mais grudenta a cada dia que passava. Decidi terminar e fui até a casa dela. Quando cheguei lá, tinha uma ambulância na porta. O pai dela tinha bebido e matado ela e a mãe, pra depois se matar. Me lembro que foi notícia no país todo. Problemas na empresa, algo assim. E ele sempre tinha sido um alcoólatra, ela passava todo aquele tempo lá em casa exatamente pra fugir dele.
Para esquecer disso, meus pais me mandaram pra Espanha, visitar meus avós. Lá conheci Sofia, que foi minha professora no curso de espanhol da embaixada. Morena, elétrica, filha de bascos. Eu ia ficar só um mês lá, mas quis ficar mais uma semana, pra poder me despedir melhor dela. Um namoro de verão, desses sem compromisso, com uma mulher mais velha, que tenta te ensinar o que você não sabe, e acha graça nisso.
No dia do meu embarque, ela não foi se despedir. Pelos monitores de TV do aeroporto de Madri, eu vi o nome dela na lista de terroristas mortos pela polícia num atentado do ETA a Barcelona. Um pouco do meu coração ficou em Madri naquele dia.
Com 20, eu fui reencontrar Luana, uma prima de segundo grau, que eu não via desde pequeno. Nos aproximamos muito, mas basicamente como amigos. Ela não era exatamente bonita e eu não me sentia preparado pra ficar com alguém de novo.
Mas um dia acabamos nos beijando, os dois bêbados. Tentamos não deixar que isso atrapalhasse a amizade, nem fazer daquilo nada demais. Ela era jogadora de handebol, fazia parte da seleção estadual até, aquela medalha no meu armário é dela, você pode reparar. E foi num jogo de handebol que aconteceu. Ela estava marcando uma garota enorme, praticamente um tanque de guerra panzer nazista, chamada Popota, me lembro até hoje. O jogo estava 17 a 17, e a Popota recebeu a bola na ponta direita da quadra. Fez o movimento de cortar para o meio e arremessou. Luana se jogou para defender, mas não se protegeu do jeito certo e a bola bateu na cabeça. Era uma bola dura e, como eu disse... Popota era um monstro.
Lu caiu inconsciente, ali mesmo. No hospital, descobriram que uma artéria havia se rompido no cérebro. Ela entrou em coma. Acho que nem os médicos entenderam direito o que aconteceu. O pai dela ameaçou Popota de morte, mas ela deu uma surra nele e ele viu que não adiantava culpar ninguém além do destino. Uma semana depois do acidente, ela ainda estava em coma e eu, chorando, disse, sentado na beira da cama, que ela sempre seria minha namorada. 37 dias depois, a atividade cerebral cessou. Ela ficaria feliz de saber que os órgãos dela foram doados.
Tranquei a faculdade. Meus pais me mandaram pra uma espécie de clínica/spa na Bahia. Eu sentia que, de alguma forma, aquilo tudo era culpa minha e não queria nunca mais ficar com ninguém. Passei a temer as mulheres, pelo mal que eu podia fazer a elas. Simplesmente havia alguma coisa em mim que causava dor às pessoas que eu amava. Mas Clarice não acreditou em mim.
Ela cantava num trio e sonhava em um dia ir pra Salvador, cantar num grande bloco. Era simples, divertida, tinha toda aquela calma que se supõe que uma baiana deva ter e mais um jeito de criança, uma inocência impressionante mesmo. Insistiu tanto em mim, confiou tanto em mim, que nós ficamos, com a condição de que ela nunca considerasse aquilo um namoro. E fomos ficando. Passamos 8 meses juntos, até chegar o carnaval.
Estávamos em janeiro, mas as coisas já tinham começado a ficar movimentadas por lá. Fomos pra Salvador, onde ela tinha começado a cantar num bloco pequeno, mas que já era, pelo menos em parte, a realização de um sonho pra ela. Num dia, começo de janeiro, ela dedicou, de cima do palco, uma música pra mim, durante uma festa. “Essa é pro meu namorado, Ricardo!” Provável que você nunca tenha ouvido a música... É aquela “sou um peixinho fora da água sem você, e não demore, volte logo, bem-querer”. É, você nunca ouviu.
Depois disso, nós brigamos, claro. Eu tinha feito ela prometer que nunca ia dizer aquilo. Mas ela sorriu e aquele sorriso me desarmou. Eu deveria saber que não ia dar certo, mas eu acreditei que poderia. Eu sou culpado por acreditar? Provavelmente sim.
Na terça-feira de carnaval daquele ano, quando ela cantava no alto do trio, alguém lançou uma garrafa de água mineral pra que ela pegasse; afinal, todos suavam absurdamente no calor da Bahia. Ela se esticou para alcançar e o fio do microfone se enrolou nos seus pés. Ela tropeçou e caiu do alto do trio, sendo logo depois esmagada pelas rodas. Você deve ter reparado que eu choro sempre que ouço “Água Mineral” ser cantada. Espero que você entenda agora.
Depois disso eu vi que teria que me afastar, definitivamente, de qualquer mulher. Fui para o monastério da ordem franciscana, no interior de Minas. Era uma vida simples, mas tranquila. Eu me sentia satisfeito, finalmente podia viver em paz. Ou, pelo menos, eu pensava assim. Até que fomos fazer uma visita a uma comunidade carente numa cidade próxima. O lugar era triste, desolado, pobre. Lá, eu conheci Lucinda, a professora da única escola do lugar. Idealista, recém-formada, estava tentando melhorar a qualidade da educação das crianças e pediu ajuda aos monges. Eu, por ser o mais novo do mosteiro, além de ser articulado e gostar de crianças, fui indicado pra ajudar a professora no que ela precisasse.
Não demorou muito para que um sentimento nascesse entre nós. Mas eu fiz questão de contar a minha história toda, para que ela visse como nada de bom poderia surgir daquela idéia. Mas ela era cabeça-dura e eu, fraco e carente após três anos sem contato com nenhuma mulher, aceitei. Abandonei a ordem e fui viver com ela. Decidimos ficar logo noivos, talvez fosse apenas o namoro a causa de tudo. 3 dias antes do casamento, ela fugiu com um ex-namorado. Confesso que, até certo ponto, eu respirei aliviado: afinal, as coisas haviam terminado bem.
Mas não terminaram, é exatamente por isso que eu estou contando isso tudo pra você, agora. Eu soube ontem que Lucinda morreu dois dias depois do dia que seria o do casamento, esmagada por um porco caído de uma sacada, em Caxambu. Sim, uma senhora idosa criava porcos em seu apartamento, talvez por saudades de sua vida na fazenda. Sim, porcos. É, complicado de entender.
E quando eu soube disso eu tive que te contar. Porque quer dizer que a maldição não acabou... Eu queria te dizer que só aceitei começar esse namoro porque achei que tudo já tinha passado, mas agora... Lucinda morreu porque não me deu tempo de terminar com ela, então, teoricamente, ainda era minha namorada. E todas as minhas namoradas morrem 37 dias depois que começam a namorar comigo, desde a Carla até hoje... E eu não quero isso pra você... Por isso que hoje, quando nós completamos 36 dias de namoro, eu vim aqui terminar tudo. Porque eu te amo, e não quero que nada de ruim aconteça com você. Se eu faço isso é pra te proteger. Você entende? Eu espero que entenda... Isso dói em mim tanto ou mais do que dói em você, porque você pode achar outro cara, mas eu sei que você era minha última chance de felicidade. Mas eu vou aprender a viver sozinho.
Não vou mais poder te ver, porque não ia conseguir suportar ver você levando sua vida adiante, sabendo que eu nunca vou poder fazer a mesma coisa. Mas saiba que eu te amo. Seja feliz.

“E aí? Ela acreditou?”
“Não sei bem... ela estava tão chocada que mal disse uma palavra... Só foi embora... mas, pelo olhar, parecia ter pena de mim... Então, deve ter funcionado, eu acho.”
“Mas você forçou a barra dessa vez, você sabe...”
“Você acha?”
“Porra, Ricardo, Popota? Popota matando a menina com bolada foi dose... E aquela do trio, eu não sei como você falou sem rir.”
“No começo foi fácil, mas do meio pra frente ficou complicado inventar... O porco caindo da sacada eu sinceramente não sei de onde saiu...”
“Mas, sério, precisava disso tudo? Maldição dos 37 dias, inventar gente morta...”
“Queria que eu fizesse o quê? Fosse sincero e dissesse que é porque ela ronca na cama? Eu sou um cavalheiro, pô!”
“É, nisso você tem razão... Mas a Popota foi sacanagem...”
“OK, a Popota eu admito que foi forçada...”
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Mensagem por Ricardo Andrade Qua Ago 26, 2009 6:12 pm

Texto: Nano Falcão
2 páginas

AS NOITES NO BAR DO LIMBO



As noites no limbo sempre são frias. Não há estações no limbo, apenas um eterno inverno. Afinal, todos aqui estão “na geladeira”.

Centenas de personagens que um dia figuraram nas páginas coloridas de jornais e revistas, hoje esquecidos – ou nem tanto.

Antes, eles lutavam contra o crime, ou tentavam dominar o mundo. Aprontavam brincadeiras ou ralhavam com as crianças. Viajavam pelo espaço ou pela selva africana. Pilotavam aviões ou navegavam pelos mares.

O que resta a fazer quando não se é mais publicado?

Os personagens da ficção vão ao bar. Até mesmo os abstêmios. Vão para conversar, trocar memórias, anedotas, contar mentiras e verdades. Afinal, não há como viver de verdade no limbo. Caso fossem resgatados, suas linhas cronológicas seriam reinventadas.

Regra número um: o que acontece no Limbo fica no Limbo.

– Ontem, comi a Lori Lemaris – confessou Doc Savage, após a 12º taça de bourbon. – Que se foda o Superman! Homem de Aço! Hunf! Só pras negas dele. O homem de bronze aqui é tudo que uma menina precisa...

– Como é que se faz pra transar com uma sereia? – deixei escapar a questão que não deveria fazer. Afinal, todo mundo sabe que Doc Savage é gay, e conta essas lorotas pra posar de macho. Isso e falar mal do Superman, o herói que o sucedeu e o superou, e que ele considera o grande responsável por agora morar no limbo.

– Elas têm um cu – descreve Savage. – É pequeno, é uma delícia! – gargalhou.

– O seu pinto deve ser microscópico, hein – provocou um sujeito de cabelos castanhos, vestindo roupa de mergulho vermelha, ao lado. – Sereias não transam. O cu delas é muito, muito pequeno pra isso, elas se reproduzem como os peixes: jogam os óvulos no mar.

– Quem é você pra duvidar de mim, hein, esquisito? – Doc tentou levantar da cadeira mas, de repente, percebeu que estava tão bêbado que poderia cair.

– Dane Dorance – ele disse, antes de dar outro gole na cerveja.

– Quem? – perguntei, involuntariamente.

– Dos Demônios do Mar – ele levantou os olhos, na esperança de ser reconhecido.

– Nunca ouvi falar – me desculpei.

– Nós somos uma equipe de mergulhadores. Enfrentamos monstros e alienígenas nas profundezas marítimas.

– Um bando de mergulhadores? – riu Savage. – Pua! De onde vocês saíram, de uma série de TV de quinta categoria?

– Dos gibis da DC Comics – garantiu Dorance. – Ei, nós já aparecemos nos gibis do Aquaman!

– Coadjuvantes do Aquaman? – os olhos de Savage eram zombeteiros. – Mas que bando de perdedores!

– Mais respeito aí – anunciou um sujeito de tapa-olho e quepe da marinha, sentado numa mesa ao canto, com outros três amigos: um índio, um soldado da infantaria e um aeronauta.

– Se você fosse tão diferente de mim, não estaria por aqui – sorriu Dorance.

– Não ouse me comparar com você, frutinha – Savage já falava torto. – Eu fui o maior dos heróis das pulp fictions. Se não fosse por mim, nem existiria o Superman. Aquele copião. Ele roubou a minha fortaleza da solidão, roubou até o meu nome, Clark!

– Pelo menos, não roubou a sua viadagem. – Dorance parecia sem paciência para os choramingos do homem de bronze. – Não, esse foi o outro cara, o Apolo.

– Eu vou enfiar a minha mão na... – mas ao levantar, Savage escorregou e caiu com o queixo no balcão, e depois com a testa no chão.

– Oh... que golpe baixo... – ele murmurava.

– Deixe que eu te ajude, colega – apareceu um sujeito loiro, de tanguinha. – O que você precisa é de uma boa chuveirada. – Ajudou o amigo a se levantar.

– Quem é o viadinho? – Dorance me perguntou.

– O Ka-zar. O senhor da selva.

– Espera aí, esse não é o Ka-Zar – um gárgula que nos escutava protestou. – Eu conheço o Ka-Zar, e esse aí não é ele. Eu posso estar enganado, mas o verdadeiro Ka-Zar é macho e bem casado, com a Shanna... aquela gostosa.

– Sinto te dizer, Gárgula, mas esse aí é o verdadeiro Ka-Zar. Que, na verdade, é uma cópia barata do Tarzan, só que loira. É com tendências sexuais, digamos, suspeitas. O Ka-Zar que você conhece, senhor da Terra Selvagem, é uma reformulação desse daí.

– Cara, o que eu mais odeio no Limbo são as versões – Dorance fez uma careta, como para frisar a observação. – Por que as versões são consideradas pessoas diferentes, e não simplesmente versões?

– Talvez porque, no caso, sejam pessoas diferentes mesmo – tentei explicar. – Veja o Ka-Zar, por exemplo, originalmente uma cópia descarada do Tarzan na selva africana. Nos anos 60, ele foi recriado como um cara num reino perdido de dinossauros. Isso o tornou mais autêntico. E ele também parecia bem mais másculo do que esse afrescalhado aí, que anda traçando o Doc Savage...

– Isso é sério? – o Gárgula me olhou como se fosse censurar. – Os dois estão tendo um caso?

– O que você acha? – tentei ironizar minha voz. – Savage nunca vai admitir, seus fãs nunca vão admitir, mas a verdade é que nosso homem de bronze é meio fresco.

– Cara, nunca reparei não... – um sujeito que vestia um uniforme paramilitar marrom comentou, descontraidamente. Tinha acabado de chegar ao balcão, sentando no lugar outrora pertencente a Savage. – Ele parece bem macho... Pra quem não o conhece pessoalmente, claro.

– Muita gente engana – Dorance alfinetou. – Você não vê o Rawhide Kid?

– Ele assumiu finalmente, não? – tentei dar lenha à conversa.

– Alguns dizem que só assim pra sair daqui... – comentou nosso novo convidado.

– Então vou passar a minha eternidade aqui! – o Gárgula levantou a voz. – Estou velho demais pra virar veado...

– O termo correto agora é “homossexual” ou “gay”, Gárgula – sorri, tentando ser politicamente correto. – E você é...?

– Ele é o Predador – Dorance apresentou.

– Também da DC Comics, imagino – chutei.

– Isso mesmo – ele respondeu. – José Delgado, a seu dispor. Ex-namorado da Lois Lane.

– A mina do Superman? – Gárgula arregalou os olhos.

– Não se surpreenda, muita gente a catou antes do escoteiro – riu Dorance.

– Ei! – o Predador pareceu magoado. – Também não é assim. Eu fui o rival do Superman nos anos 80...

– Mas que raio de nome é esse, “Predador”? A DC não conseguiu pensar em algo mais criativo, não? – provoquei.

– Acho que todos os bons nomes se esgotaram – José sorriu, sem jeito. – Vai ver, é por isso que me jogaram no Limbo. Maldito nome!

– Um diz que comeu a Lori Lemaris; então, aparece o ex da Lois Lane – divaguei. – Essa noite promete.

– Como assim? – Dorance ficou curioso.

– Está vendo aquela loira, lá no canto? É Lyla Lerrol, a namorada do Superman em Krypton! – expliquei, me levantando da cadeira. – Vamos ver se até o fim da noite eu também não entro neste seleto clube dos que traçaram uma “super” mulher!
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 2:19 pm

Texto: Agente Dias
1 página
Histórias Bíblicas em Quadrinhos


Aí está uma matéria pra quem curte o lado espiritual cristão, ou até mesmo pra quem pretende conhecer.

Sabemos que alguns livros da velha escritura têm contextos muito complexos e, em alguns casos, os próprios livros teológicos sobre o mesmo assunto falam de visões diferentes, apesar de a Bíblia ter apenas um sentido. E, com isso, a 7ª arte entrou em cena para esclarecer alguns livros bíblicos. Quem nunca viu, numa data especial, um filminho bíblico passando na TV? Então, a 9ª arte também está entrando no meio... É isso mesmo! As palavras inspiradas pelo Espírito Santo aos escritores do velho livro sagrado estão sendo passadas para a revista em quadrinhos.

Os traços exagerados e espetaculares do mangá estão sendo o material pra esse espetáculo. Fazendo os passos de Jesus Cristo e de outros personagens bíblicos ficarem ainda mais fascinantes, ou até mesmo fantasiados demais, para alguns... Como “Testament”, o projeto do cristão devoto e quadrinista Rob Liefeld, que vai além da história bíblica do Velho Testamento, trazendo uma dimensão futurista, pondo o Rei Davi usando um snowboard, enfrentando o guerreiro Golias, em forma de robô gigante. Entre outras loucuras do artista.

Não vejo a hora de encontrar um material desses em HQ, até para ver algo mais realista realmente, mas o mangá está fazendo um bom trabalho. Confira algumas obras publicadas:

A Bíblia em Mangá: Novo e Velho Testamento
A editora JBC contempla os religiosos de plantão com a arte dos autores Siku (Ajinbayo Akinsiku) e Akin Akinsiku. Siku consegue fazer uma arte bem legal juntando os dois tempos da Bíblia, que se aprofunda, de Gênesis a Apocalipse. O material também traz alguns extras em suas páginas, contando com entrevistas, esboços das artes, etc..
Parece que esse mangá foi o primeiro no gênero em inglês e, pelo visto, acabou abrindo o mar, pois logo depois surgiu um projeto chamado “Mecha Manga Bible Heroes”, que conta a história de Davi, o rei de Israel, e Golias, por outro autor.
Siku ainda escreveu mais um projeto que ainda não foi lançado no Brasil, chamado “The Manga Bible: from Genesis to Revelations”. Essa trama religiosa tem Jesus aparentemente como um samurai... Bem, vamos aguardar e conferir!

True Warriors: Sansão e Elias
Duas histórias de dois famosos personagens da Bíblia: Sansão, o homem que tinha força em seus cabelos, e Elias, o profeta do fogo, nas mãos do Deus de Israel. Formado pelos autores brasileiros paulistanos Rodrigo Ginn e Fernando Caratti.

Mangá Messias
Um dos exemplares do gênero mais vendido, contando a história de Jesus desde o nascimento até o Seu sacrifício. Essa história tem um belo roteiro de Hidenori Kumai, e uma boa companhia nos traços de Kozumi Shinozawa. Essa arte, além de não exagerar no estilo mangá de ser, é colorida, e sua forma de leitura é igual à da HQ.
O Novo Testamento é o foco da trama, trazendo personagens como: Anjo Gabriel, João Batista, os doze apóstolos etc.. Fora isso, traz dados como o mapa da região, com seus pontos históricos, e dados sobre cada personagem, incluindo os fariseus e escribas.
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:14 pm

Texto: Snuckbinks
Diagramação: Snuckbinks
Ilustração: Dias

Blues – parte 1

Você certamente conhece esse estilo de música, talvez até o aprecie. Mas a verdade é que pouca gente conhece esse gênero musical que, como descobriremos aqui, influenciou toda a forma de se fazer música.
Então, para dar o pontapé inicial na matéria, tomarei emprestada a frase de abertura do filme "Cadillac Records":
"A primeira vez que uma mulher tirou a calcinha e a jogou em um palco foi por causa de um cara negro que cantava blues. Quando uma garota branca jogou sua calcinha no palco, chamaram isso de ‘rock'n'roll’"
E se você vive por aí curtindo seu rock, seja lá qual variante dele lhe agrade mais, tenha certeza de que foi no blues que ele foi tomar sua inspiração. Johnny Cash, Elvis, Buddy Holly, Rolling Stones, Beatles, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Eric Clapton, Muddy Waters, Led Zeppelin, Bob Dylan e muitos outros foram "tomar dessa mesma água".
Uma coisa é certa, foi preciso muita gente pra fazer a música que mudou o mundo.
Um deles foi um cara chamado Robert Johnson. Nasceu e cresceu no Mississipi, vendo o irmão mais velho tocar guitarra, e observando grandes nomes do Mississipi Delta Blues, como Son House e Sonny Boy Williamson, tocar suas harmônicas em piqueniques e festas ao ar livre.
Seu som influenciou futuramente o blues mais elétrico de Chicago e, embora seja considerado um som mais “cru”, foi ele quem inovou os acordes e diferenciou o blues das canções que os trabalhadores cantavam nas plantações de algodão.
Robert Johnson era filho bastardo e cresceu longe de seu pai verdadeiro, casou-se cedo e perdeu sua esposa bem cedo também, por ocasião do parto de seu primeiro filho... Após esses incidentes, Robert desaparece do cenário musical do delta, e retorna algum tempo depois, tocando guitarra de uma forma espetacular, solidifica-se como bluesman e, como tudo em sua vida, morre precocemente, aos 27 anos, ao tomar whisky envenenado durante um show no bar "Tree Forks".
E se você acha que o o Ozzy era o cara do marketing, espere até ler isso. Son House ajudou a espalhar o mito de que Robert havia se encontrado com o Diabo em uma encruzilhada, e feito um pacto em troca de aprender a tocar, mito esse que o próprio Robert ajudou a propagar, com a música “Crossroad Blues”...
Curiosamente, durante sua apresentação no "Tree Forks", testemunhas afirmam que ele caiu no chão, começou a se transformar em um cachorro, e uivou até morrer.
Essa é a primeira parte de uma série de matérias que pretendo escrever sobre esse tema. Portanto, vemo-nos na próxima edição. Até lá!
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:14 pm

Texto: Marcelo Soares
Para a edição # 14


O nerd e a referencialidade
Por Marcelo Soares

É mais que sabido que temos, hoje em dia, na sociedade, uma cultura de convergência de mídias, tendências e gostos, e deve ser por isso que os nerds estão mais do que na moda (o “Fantástico” que o diga). Mas, se pensarmos, o que é a moda para o nerd? O que lhe chama tanto o interesse? Não, não falarei aqui de roupas para se usar em cosplay, nem camisas com estampas de heróis, mas de uma estratégia do mercado de cultura pop, que vem funcionando muito bem para chamar a atenção dessa parcela de seres (anti-) sociais, e que faz com que eles comprem mais e mais algo que é lançado: a auto-referencialidade, ou melhor, como os quadrinhos levaram para dentro de si a convergência midiática.

Para início de conversa, irei citar um exemplo de obra que, com certeza, 11 de 10 fãs dos quadrinhos devem conhecer, e que tem bem explícito esse artifício da referencialidade: “Planetary”, de Warren Ellis. A história trata de um grupo de pessoas com poderes especiais que catalogam, como arqueólogos, a “história oculta da humanidade”, uma história com raízes fortes na cultura pop. Portanto, como disse o João Felipe do site Sobrecarga, “espere de cada aventura de ‘Planetary’ citações e referências ao mundo do cinema e das histórias em quadrinhos. Nas palavras do mestre Alan Moore: ‘Warren Ellis e John Cassaday fabricaram um engenhoso mecanismo com o qual podem explorar as possibilidades de nossa situação contemporânea’. Isto é, resgatar elementos do passado, dando-lhes um novo encaminhamento e apontando para um possível futuro da nona arte.”

Essa sentença mostra bem o que quero discutir aqui: como, nessa primeira década do século XXI, o recurso de uma mídia fazer referência a outra, ou a si mesma, está sendo muito utilizado para ser um atrativo a mais para quem compra. “Planetary” e suas inúmeras citações visuais, escondidas ou não, gerou enxurradas de discussões em fóruns, teorias e até um guia, fomentando a curiosidade de quem não conhecia, e aumentando o interesse de quem, já na primeira edição, se tornou fã. Ou seja, Ellis sabiamente usou o gosto pelo saudosismo e colecionismo do passado dos leitores para prender suas atenções.

Estratégia também utilizada por Grant Morrison na sua mega-saga “Crise Final”, que muitos alardearam ser “arrogante, presunçosa e complexa” demais, o que até tem sua lógica mas, antenado com os novos tempos e leitores, Morrison criou uma verdadeira caça a símbolos escondidos, histórias esquecidas e revivals por parte dos fãs do Universo DC. Na verdade, o escritor já faz esse tipo de coisa desde seus tempos de “Homem-Animal” e “Patrulha do Destino”, só que, então, era mais com personagens “sumidos”. Ampliou tudo isso em “Crise Final” e em sua passagem pelo Batman, alimentando a fome de um leitor de quadrinhos que vive na velocidade e interconexão de uma vida cibernética, de wikipédias e cultura participativa, um verdadeiro Leitor 2.0.

Acho que qualquer pessoa ligada às novidades desse mundinho virtual já tinha percebido que instigar o público com a lógica de pesquisa e “caça ao tesouro” é lucrativo, os produtores de “Lost” que o digam. Tanto que produtos audiovisuais, como a série “The Bing Bang Theory” e o recém-lançado filme brasileiro “Apenas o Fim”, usam e abusam da capacidade nerd de se interessar por coisas que fazem referência aos seus gostos, explorando bem um filão de consumo que, até pouco tempo, era simplesmente renegado pela mídia e o capital.
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:15 pm

Texto: Marcelo Soares
Diagramação: Kio
2 páginas

Uma sombra viva
Por Marcelo Soares
Criar um personagem, seja ele de filme, livro ou quadrinhos, apesar dos Robs Liefelds da vida tentarem provar o contrário, é um trabalho árduo e minucioso. É necessário pensar uma gama de possibilidades, complexidades e motivações. Ouso dizer, que no Universo DC um personagem seja o mais complexo dentre os super-heróis da editora: Bruce Wayne.

Não sei se alguém achou estranho, mas poderiam perguntar-me por que me refiro ao alter-ego, e não ao Batman. Para mim, Wayne é a síntese de um personagem multifacetado, um garoto que viu os pais serem assassinados quando ainda era criança, e nunca conseguiu superar isso, preferindo refugiar-se em uma construção (o morcego) a se levantar e tentar mudar o mundo de outra forma; afinal, o cara é um multimilionário. Mas aí você me diria: “ele é um herói; se não tivesse tragédia e trauma, não existiria história”. Concordo, não critico o caminho escolhido para o personagem; afinal, sou fã do Cavaleiro das Trevas assim como ele é. Só utilizo exemplos para mostrar que fazer uma história não é para qualquer um. Só para constar: quantos autores sabem, de verdade, trabalhar as várias faces do “príncipe de Gotham”?

Agora, falemos um pouco sobre o Batman. Logo de cara, percebemos que ele é um “Lone Ranger”, assim como o personagem que o inspirou: Zorro. Um cara perturbado que, como dito, não soube deixar para trás a morte dos pais e se ancora em uma fantasia de combatente do crime para conseguir viver. Passa noites lutando contra si mesmo, ao socar bandidos e voar entre prédios. Talvez, por saberem que esse caminho só poderia levar um homem a destruição, tenham inroduzido Robin, para dar uma leveza as suas histórias e uma tábua de salvação para o personagem.

Eu o vejo como um psicótico, sedento por um tipo de salvação ao “fim do túnel”, um cara que começou achando que está fazendo o certo, e vai se consumindo aos poucos, até chegar a um ponto onde surta, não muito diferente de seus vilões.

Por sinal, os vilões são também a síntese de um personagem. Um cara como o Batman tem vilões que são seu reflexo distorcido, e isso torna a história mais instigante ainda, pois como fica o bem, dentro de uma linha tão tênue como a em que o Batman vive, em sua luta diária? É necessário autopoliciar-se sempre para não cruzá-la, e só esse policiamento já é um martírio constante pra quem está detrás da máscara, uma forma de deixar mais humano um ser com o pé no mitológico. Uma analogia que gosto muito de fazer é de que ele é o lado violento/sombrio da justiça, enquanto o Superman é o lado ingênuo/crédulo. Eu gosto desse conceito de humanizar heróis. Dia desses, em uma dessas conversas de MSN da vida, eu discutia sobre isso: eu defendendo a humanização do Batman, e meu companheiro de debate quase exaltando o lado “cool” do morcego, reflexos da overpowerização do personagem nos anos 90.

Gosto também dos personagens da DC porque, apesar de muito irreais, ele são até mais humanos do que os da Marvel. Explico: por viverem muito nesse mundo mitológico, tornam-se mais complexos. Na Marvel, é tudo muito claro desde o início: Homem-Aranha é um “fudido”, em busca de emprego, amor, cuidar da tia e ainda ser herói... É legal mas, com o tempo, torna-se previsível, tanto que, a cada dois anos, são mil reviravoltas.

Com Batman, você pode trabalhar vários aspectos de algo tão louco que dá várias interpretações, como vimos ao longo de sua história. Não digo aqui que um é melhor do que o outro, isso não existe – apesar de grupelhos quererem discutir “sexo dos anjos” em comentários por aí – só digo que são diferentes, e são coisas como essas que tornam o mundo dos quadrinhos um lugar tão maravilhoso.
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:15 pm

Texto: Marcelo Mainardi
Revisão:
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TOCA RAUL

Meados de 1989. Eu tinha 13 anos e me lembro de um cara todo vestido de couro, ou seja lá o que fosse, se esguelando nalgum programa de TV. A próxima lembrança que me vem é de uma matéria do programa “Fantástico”, anunciando a morte de um cantor. Parecia algo importante, mas o que se fixou mesmo na minha cachola de moleque foi que aparecia um cara lendo um gibi do Tex, num videoclipe amalucado de uma música que falava de cowboys e medos. Quadrinhos são parte indelével de minha memória desde a mais tenra idade, mas creio que essa informação não vem ao caso.
Passou mais um tempo até que eu me deparasse, em uma festinha de aniversário, com um LP que me chamou a atenção. Aquela capa, na qual apenas aparecia um deserto e uma pintura, no melhor estilo foto 3x4, e o nome sugestivo: “O Dia Em Que a Terra Parou”. Foi então que notei que já havia visto aquele cara da foto. Era o tal do Raul Seixas. Daí, para me apaixonar pelas músicas, decorar todas daquele disco, e então correr atrás de qualquer material possível, fossem fitas cassete pra lá de piratas ou recortes de jornais e revistas, foi um pulo.
Neste mês de agosto de 2009, faz 20 anos que Raulzito nos deixou. Faz mais ou menos 19 anos que sou fã incondicional dele.
A esta altura, você deve estar se perguntando: “Tá! 20 anos que o cara morreu. Não vai rolar uma biografia, ou discografia, ou quaisquer outras grafias?” Não. Não vai. Sempre em datas “redondas”, a mídia em geral despeja toneladas de informações sobre um fato ou personagem; portanto, se você quiser saber sobre datas, números e informações úteis ou fúteis, basta um passeio rápido por esse mundão da internet, que estará bem provido de informação.
Aqui me reservo apenas ao direito de, mais uma vez, prestar homenagem a esse cara que me fez ser quem sou, seja isso bom ou ruim. Mas, aí, já é com meu psiquiatra!
Enfim, digo: prestar mais uma vez homenagem pois, lá naquela época de que eu falava antes, após me apaixonar pelas músicas do cara, eu costumava prestar minha homenagem religiosamente, mesmo que fosse anônima. Não me importava. Era usando uma camiseta; ou pendurando um cartaz, desenhado por mim mesmo, no saguão da escola, para lembrar mais um ano de ausência; disseminando minha paixão, fazendo com que outros amigos ouvissem também, da maneira como eu ouvia, as músicas; ou ainda, auxiliando num teatro, no qual fizemos um sósia do Raul saltar de dentro de um caixão, dublar algumas músicas e retornar ao caixão, levando cutucadas de um capetinha pintado de colorau! E isso tudo no coreto da praça de minha cidade natal. Algumas pessoas não gostaram muito.

O tempo passa, essa efervescência adolescente passa, as demonstrações mais apaixonadas acabam sendo relegadas a um tímido “Gosto muito.” em resposta a um “Ô cara, você curte Raul?”. Apesar de não deixar de sempre ouvir e buscar saber mais sobre a obra e o homem. Talvez tenha sido apenas o mundo, fazendo com que a gente tome a pose de cidadão respeitável, que ganha 4 mil cruzeiros por mês, alegre e satisfeito, e que contribui para o nosso belo quadro social. Mesmo que isso lhe doa no peito. Pois é, com o tempo, a gente acaba entendendo exatamente o que aquele magrelo queria dizer.

Mas deixemos as melancolias de lado, hoje não é o “Dia da Saudade”. Aproveitemos essa data “redonda” não apenas para enumerar discos, falar de datas, curiosidades, ditos ou desditos da vida do Raul. Vamos aproveitar para fazer o que de melhor podemos fazer para homenageá-lo, mesmo que seja anonimamente! Vamos ouvir e cantar suas músicas. Ouvir com o coração e cantar com a alma! Vamos fazer parte daquela trupe que enche o saco de qualquer banda em festas de formatura, bares e shows, gritando lá do fundão: TOCA RAUL!




Ou como diria o Zeca Baleiro: “Mal eu subo no palco, um mala, um maluco já grita de lá:
‘Toca Raul!’ A vontade que me dá é de mandar o cara tomar naquele lugar; mas aí eu paro, penso e reflito: como é poderoso esse Raulzito!”
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:16 pm

Texto: Filipe (NSN)
3 páginas
Os Infilmáveis


Por FiliPêra, do Nerds Somos Nozes

É isso... “Watchmen” foi adaptado. A última fronteira das HQs que jamais deveriam ir para o cinema foi invadida. Ainda existem outras, como você verá a seguir, mas o mundo dos quadrinhos jamais será o mesmo!


Arte que é arte precisa ter obras únicas, revolucionárias, que inspirem respeito e que sejam mega-reverenciadas... a ponto de não se cogitar uma transposição dela para outro tipo de arte ou mídia. Vemos o caso de “Guerra e Paz”, o livro, com seus poderosos conflitos psicológicos e farta e detalhada descrição, tudo típico da literatura russa. E vemos o filme, que é bom e bem intencionado, mas deixa para trás tudo que tornou a obra um clássico da literatura.

Algumas revistas em quadrinhos, mesmo tidas por muitos como pertencentes a uma arte inferior à literatura, têm esses atributos. São poderosas o bastante para tornar qualquer tipo de adaptação complicada, ou inviável. Vou direto ao assunto: com a moda das HQs indo pro cinema de forma desordenada, é certo que alguns produtores e diretores colocarão os olhos em revistas que jamais deveriam chegar ao cinema. Principalmente após Zack Snyder conseguir uma bem-sucedida adaptação da melhor HQ da história, para muitos: “Watchmen”. O resultado quase sempre é desastroso, mas a insistência do mundo do audiovisual, que nunca está satisfeito em ver obras fantásticas em outras mídias, e não no cinema ou na TV, é enfadonha.

E, com isso, se abre fácil discussão: que outras obras jamais devem chegar perto de serem adaptadas para o cinema?! Bom, listei algumas abaixo... se elas um dia chegarão aos cinemas, ou no formato de série de TV, só o tempo dirá... mas torço pelo contrário:


1 – Sandman

A obra de Neil Gaiman é naturalmente a primeira da lista, mesmo já tendo sido cogitada a transformação dela em uma série de TV, com Robert Smith (vocalista do “The Cure”) no papel de Morpheus. Hoje ainda se fala numa série da HBO e, para Gaiman, parece inevitável que um dia a série chegue a ser adaptada, de alguma maneira. Ele provavelmente só não espera estar vivo até lá, já que ninguém sabe como levar adiante uma série gigante, com 10 arcos distintos, um séquito de personagens bizarros e profundos... além da inclusão de temas indigestos para 95% da população americana, como magia, violência e assassinatos em série.

Ajuda o fato de “Sandman” ser muito mais que uma série de quadrinhos. É uma mitologia tão vasta e grandiosa quanto “O Senhor dos Anéis”, se guardarmos as devidas proporções. A quantidade de referências e o poder de seus personagens e mitos podem levar qualquer diretor e produtor à loucura, o que não duvido que aconteça, caso eles resolvam levar essa idéia a cabo, isso já considerando a evolução pela qual a TV americana está passando.


2 – Os Invisíveis

Um grupo de anarquistas que estão numa guerra secreta para livrar os humanos dos verdadeiros dominadores do mundo. Sim, você já ouviu essa história e, se era fã de “Os Invisíveis”, é provável que tenha identificado ecos da série na trilogia “Matrix” logo de cara. É impossível não associar as duas obras, mesmo com todo aquele papo antigo de jornada do herói que está presente em inúmeros filmes, desde as primeiras tragédias gregas. Grant Morrison, autor de “Os Invisíveis”, pensou da mesma forma, e não ficou feliz com a inspiração exacerbada da obra dos irmãos Wachowski em sua série, mesmo tendo gostado do filme.

O fato é que “Os Invisíveis” tem muitos elementos que são suficientes para mantê-lo longe de qualquer tipo de adaptação audiovisual. A começar por sua estrutura narrativa, que não liga de deixar no escuro até mesmo o mais esperto e viciado dos leitores. Tanto que a série perigou ser cancelada ainda no seu segundo arco, devido à queda de vendas causada por leitores que não estavam entendendo o que tava rolando na trama. E depois piora: o último arco, com 12 edições, é narrado de forma invertida, e é de suma importância que se tenha um guia de leitura a mão, já que a coisa é insana ao cubo.

Fora isso, temos uma trama povoada por personagens esquisitos, alguns mortos, outros saídos de outra dimensão, viagens no tempo, cultura e mitologia asteca, inca e ambientações na França, na época da Revolução.

É a típica salada, que deixa roteiristas com as mentes parecendo tijolos, e o resultado é o esperado: a adaptação não agrada ninguém. Ajuda o fato do texto de Morrison ser genial, e nunca parece envelhecer, mesmo já tendo 15 anos.

Uma adaptação, também para a tela pequena, entrou em pré-produção pela BBC londrina, na época do encerramento da série de 59 volumes, mas emperrou, em parte devido ao surgimento de “Matrix”, mesmo que as temáticas dos dois não sejam exatamente iguais. Recentemente, Grant declarou que desistiu de qualquer adaptação da obra, o que acho muito bom. Mas é sempre possível que algum produtor com uns três parafusos a menos coloque os olhos sobre ela.


3 - Incal

Quando pensamos em adaptações, não devemos pensar unicamente nas limitações estéticas e narrativas de cada arte, mas também no tipo de público que a consome. Isso também faz de muitas obras infilmáveis. A infinidade de referências que saltam das páginas de certas revistas em quadrinhos teria que ser posta de lado, caso a HQ virasse uma série de TV ou filme. Simplesmente não dá pra reproduzir isso a um espectador, a 30 quadros por segundo. Nem o neurônio mais acordado vai pescar todas, mesmo com fenômenos do estilo “Lost” mostrando algo que parece ir na direção inversa.

Basicamente, é isso que impede “Incal”, uma das melhores HQs da história, de chegar aos cinemas, ou coisa do gênero. Imagine uma HQ que misture a narrativa épica e os personagens exóticos de “Star Wars”, a jornada mística do filme “El Topo”, com conceitos existencialistas de “Matrix”. Sim, essa obra existe, e influenciou um séquito de revistas em quadrinhos e roteiristas que viriam posteriormente. E Alejandro Jodorowsky, o autor de “Incal”, não economiza nas referências delirantes, e cria uma ficção científica sem igual na nona arte.

Tudo está no seu devido lugar por aqui: a narrativa grandiosa que jamais fica enfadonha, os personagens interessantes, as contínuas e densas tramas, as maquinações políticas e traições, as referências às mais diversas disciplinas místicas e esotéricas e, claro, a jornada transformatória de auto-conhecimento de John Difool, o personagem principal, que encontra por acidente um artefato que pode mudar o curso dos acontecimentos do universo.

Tem também a arte de Moebius, que não encontra muitos pares por aí, mesmo com tecnologias modernas invadindo o modo como se faz desenhos e cores nas revistas. Tentar reproduzi-la ia tirar qualquer designer de produção do sério ante a frustração.

E, como é de praxe em obras unânimes, já se cogitou (e eternamente se cogita) adaptar “Incal”, no formato de uma série de animação, mas isso nunca saiu do papel. Talvez como animação a coisa fluísse melhor pois, francamente, aquele universo maluco dificilmente funcionaria em live action. Seria uma loucura do naipe de adaptar Dragon Ball como filme (sim, existem loucos no mundo...).

4 – Promethea

Dizem que quando Alan Moore completou 40 anos, ele teve uma vontade incontrolável de conhecer magia, e escolheu a Cabala para aprender, jogando tudo em Promethea, para compartilhar isso com os leitores. O resultado é soberbo, e deixa muita coisa dele no chinelo (o que significa que 90% das HQs foram superadas no processo). Promethea é mais ou menos a versão feminina do titã Prometeu, que também é um arquétipo de Lúcifer, que trouxe o conhecimento para humanidade. Ela “encarna” nos que escrevem sobre seu mito, e o resultado é metalinguagem insana pulando a cada página. Tudo isso embalado por muito Tarô e Cabala.

Se Promethea fosse uma série de TV, somente em seus três primeiros episódios, os espectadores iam ficar se sentindo postes. Moore aplica sua carga de conhecimento de sempre sobre o assunto, e não está ligando se você não possui tal conhecimento... é seu dever correr atrás. Se a série não tivesse sido cancelada a essa altura, seria quando tivesse um capítulo inteiro dedicado à Magia Sexual, lá pelo capítulo 11, o que faria os puritanos de plantão ver o diabo inserido subliminarmente dentro do episódio.

Isso sem contar a arte de J. H. Williams III, que deve ser tão parabenizado quanto Moore. Algumas lendas sobre a produção da revista contam que o uso de certos símbolos mágicos no papel levou as pessoas que cuidavam da impressão a ficarem doentes.

Só para você ter uma idéia, a última edição da revista é um pôster de dois lados, com um estrutura mega-complexa, que pode (e deve) ser lido de diversas formas possíveis para ser assimilado. Agora imagine isso na TV?! Se as páginas de “Watchmen” – que são estupendas, mas passam longe do brilho e beleza de “Promethea” – já foram um desafio para Zack Snyder, eu acho que a arte dessa série vai fazer qualquer um chorar, antes de sequer cogitar imaginar adaptá-la. Ah!, fora isso, os direitos da série pertencem ao próprio Moore, o que lima quase completamente a possibilidade de existir uma adaptação.

Há várias outras, como “Maus”, “Planetary” e “Sete Soldados da Vitória”, mas é melhor parar por aqui. Vai que algum produtor desesperado por grana está lendo isso aqui...

[nota do revisor: vale pôr uma “Nota do Editor” no pé da página certa, lembrando ao leitor que o Jodorowsky do “Incal” foi entrevistado pelo FARRAZINE na edição de número tal...)
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:16 pm

Texto: Nano Falcão
1 página
POR ONDE ANDA?
ROGER STERN

Seu nome pode ser virtualmente desconhecido para os mais jovens, mas quem lia quadrinhos nos anos 80 com certeza se lembra de Roger Stern. Fazendo parte da mesma geração que John Byrne e Frank Miller, Stern começou sua carreira na Marvel, no final dos anos 70, assinando por quase três anos as histórias do Hulk.
No entanto, seus trabalhos mais famosos na Marvel são, sem dúvida, sua passagem, também de três anos, em “Amazing Spider-Man”, onde criou personagens como o Duende Macabro e Madame Teia, e deu um passado para o vilão Abutre; e “Vingadores”, onde ficou quase seis anos no comando das histórias, criando a nova Capitã Marvel e Os Vingadores da Costa Oeste.
Stern também é celebrado pela curta passagem, ao lado de John Byrne, pela revista do Capitão América, no início dos anos 80. Ele também escreveu “Triunfo & Tormento”, uma graphic novel estrelada por Doutor Estranho e Doutor Destino, e considerada a melhor história do vilão em todos os tempos.
Depois de quase dez anos escrevendo o Superman, para a DC Comics – onde também criou Will Payton, o quarto Starman – Stern fez um rápido retorno à Marvel para alguns projetos breves, e aparentemente sumiu do mapa, na segunda metade dos anos 90.
O que teria acontecido? Teria ele ganho na loteria? Ou convocado pra ser conselheiro do próprio Odin? Nada disso, Stern tem dedicado seu tempo a escrever prosa, mas apesar de seus esforços de ser um “escritor sério”, nem assim consegue abandonar seu amor pelos super-heróis.
Afinal, seu maior sucesso como escritor é justamente um romance estrelado pelo Superman – “The Death and The Life of Superman”, que ficou várias semanas na lista de livros mais vendidos dos Estados Unidos. Outros sucessos foram “Superman – A Batalha sem Fim” e “Smallville – Estranhos Visitantes”. Infelizmente, todos continuam inéditos no Brasil.
Nos quadrinhos, ele tem trabalhado para editores europeus, escrevendo “O Fantasma” para a editora Egmont. Nos EUA, sua “última aparição” foi a mini-série “Darkman X Army of Darkness” para a Dynamite.
Se você anda com saudade do trabalho de Roger Stern, não pode perder, então, o lançamento de “SPIRIT” número 30, onde o escritor nos apresenta um conto com a imortal criação de Will Eisner!
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:16 pm

Texto: Vino
2 páginas
STAR WARGHS PARTE 2

O que você faria se, depois de ser sugado para outro tempo e espaço, um cara de preto com uma lâmpada fluorescente vermelha viesse pra cima de você, abanando aquela coisa como se fosse um taco de golfe e respirando como uma chaleira no cio?
(respiração)
Desviei como podia, e senti aquela lâmpada queimando o ar no local onde estava meu pescoço, um segundo antes. A viúva drag-queen estava a fim de me matar, aparentemente. E eu sabia que não ia desviar daquela espada de luz pra sempre. Foi quando ouvi a voz áspera da velhota:
– Sinta o poder do seu ódio. Use o lado negro.
E estendeu uma daquelas lanternas, a uns três metros de onde eu estava.
Poderia muito bem estar na Lua. Não tinha como eu alcançar: entre eu e a vovó estava o Bombeiro Negro, abanando a espada como se estivesse sendo atacado por um enxame de abelhas, e eu mal conseguindo escapar de seus ataques. Aí, aconteceu: estendi a mão na direção da lanterna da velha, e senti alguma coisa... uma... uma força, que nunca havia sentido antes. Assobiei com a mente. E a lanterna pulou para a minha mão, obediente como um cachorrinho. Um daqueles que fazem truques e trazem a bola de volta pra você.
Nem foi cedo. No mesmo instante em que a lanterna tocou a minha mão – e ligou, automática, acho – seu feixe de luz aparou um golpe mortal da lanterna vermelha. E depois outro. E outro. Aí, eu caí pra trás e tive que rolar pra evitar um ataque. Tava suando que nem um urso polar que entrasse numa sauna, por engano, e o robozão nem parecia cansado. Enquanto eu olhava, em relances rápidos, para as paredes espelhadas, buscando por alguma saída, só o que conseguia eram vislumbres de meu próprio rosto, assustado. Eu estava a segundos de morrer, e sabia disso. Um ataque dele me jogou contra a parede, e a lâmina da minha espada deslizou para dentro de um espelho enorme.
E saiu do outro lado, em um ângulo perfeito de 90º.
Eu não tinha pensado nisso antes, mas espelhos refletem luz. E aquelas lâminas pareciam feitas exatamente disso. Imediatamente, consegui me desvencilhar e, quando o cascudão de capa chegou perto de mim mais uma vez, ataquei a parede.
Ele não esperava isso. A lâmina saiu do espelho e por pouco não arrancou o braço dele fora. E aí, eu pude ver que era mesmo um robô. Onde a luz acertou, apareceram circuitos, metal, uma coisa que parecia muito pouco com sangue, e fagulhas. Aproveitei pra retomar o fôlego, enquanto escutava aquela respiração regular, mecânica.
(respiração)
Aí, ele atacou de novo. Eu estava de costas para o espelho, de maneira que ele tinha que se conter, se não quisesse seus ataques projetados diretamente de volta contra ele, ao mesmo tempo que evitava os meus. A boa notícia era que ele parecia um pouco mais lento por causa da ferida no braço. Devia ser por causa do fluido que tinha vazado. (Eu não sei consertar uma TV, mas quero explicar os efeitos de uma perfuração com lâmina de luz no desempenho de um ciborgue.)
Enfim. Mesmo tendo conseguido ferir o Cabeção, estava na cara que eu iria acabar perdendo a luta – e a cabeça. Mas ele estava com dificuldade pra atacar, então, fez uma coisa que me impressionou: ergueu a mão dele, em um gesto rápido, e a lanterna quase voou das minhas mãos. Consegui segurar, e desviei rápido de outro ataque, que fez a lâmina dele voltar pelo espelho e acertar a capa preta. Tudo o que eu tinha feito até então só tinha servido pra deixar ele puto. A velhota dava risadas da poltrona dela.
O bombeiro do mal fez outro gesto rápido e, de repente, um pedaço de metal se destacou do teto e veio na minha direção. Consegui desviar, mas o espelho se estilhaçou e caiu pra todo o canto. O pedaço de metal continuou a voar pela sala, quebrando os espelhos. Tava na cara que ele tinha ficado de saco cheio da brincadeira de espelhos, e foi essa a minha grande sorte. Ataquei com tudo o que tinha. Não o besourão preto, mas o chão, cheio de cacos de espelho, aos pés dele.
Não tinha como ele desviar ou aparar meu ataque. Foi como se eu disparasse uma rajada de metralhadora contra ele. A luz ricocheteou nos cacos e voltou bem em cima do vampirão de capacete, que foi jogado pra trás, cheio de cortes e furos. Eu não podia perder essa chance: ataquei ele, diretamente, e consegui decepar a mão que segurava a luminária vermelha.
Não adiantou: a espada vermelha saltou pra mão que ele ainda tinha, e ele veio pra cima de mim de novo. Eu ataquei o chão. Ele desviou. Não parecia saber direito o que fazer: se ele se defendia dos cacos, eu podia atacar ele diretamente, e vice-versa. Claro, sabia que era incrivelmente superior a mim no manejo da lâmpada fluorescente, mas isso não adiantava muito. E ele ficou furioso. Frustrado. Eu senti isso. De alguma maneira, eu senti isso, e me fez recordar de quando, séculos atrás, eu tinha feito a lanterna pular pra minha mão. O mesmo truque que ele tinha feito pra quebrar o espelho, será que eu conseguiria? Não precisava arrancar um motor da parede como ele tinha feito... só fazer um caco de vidro flutuar.
Queria ter visto a cara dele quando a luminária em sua mão subitamente se dobrou em um ângulo agudo e decepou seu outro braço. O momento de confusão foi o suficiente para eu chegar perto e girar minha lanterna em um arco longo, decepando suas pernas e mandando-o pro chão. E, acredite se quiser, isso não foi o fim dele. Parecia aquele filme do Monty Python.
Os cacos de vidro que cobriam o chão se ergueram no ar, em torno de nós, e eu sabia que em instantes eu seria retalhado. Mas mantive a presença de espírito, me preparei pra arrancar a cabeça dele, e perguntei:
– Sabe o que eu fiz quando encontrei um homem sem braços ou pernas em uma praia, quando estava meio bêbado?
Ele não respondeu. Só fez aquele som regular.
(respiração)
Eu continuei:
– Eu arrastei ele pra água e disse: “Vai, tartaruga, volta pra sua casa.”
E aí ataquei.
Queria que ele ficasse confuso, e funcionou. Não por causa da piada, descobri depois. Ele não sabia o que era uma tartaruga. Mas o caso é que meu braço se deteve no meio do ataque. A velhota estava perto de nós, sorrindo. Falou para o robozão:
– Basta. Ele se provou digno de ser treinado Sith.
E foi assim que o meu treinamento começou.
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:17 pm

Texto: Vino
1 página
Camila

Camila. Deitada na cama, rodeada de bugigangas: bichinhos de pelúcia, celular, revistas, esmaltes. Esfomeada de carinhos e de pertences. Camila, menina-moça, dezessete anos na experiência e vinte e tantos no corpo. Sonhadora. Juízo de passarinho. Bobinha, bobinha.
Camila quer sapatos. Quer roupas. Quer uma noite na cidade. Camila quer viver.
Quer seu sonho de princesa, quer a lua bonita, quer que façam por ela o impossível e que a amem para todo o sempre, amém. Agora se revira sobre os lençóis, pensando em um certo par de olhos verdes, que normalmente vêm em um certo carro esporte. Os olhos verdes são só sorrisos na direção de Camila. São gentis e engraçados. Mas também são cheios de anseios que a carne tenra – mas intocada – de Camila não quer responder. Os olhos verdes vêm acompanhados de mil mãos que a menina mal consegue manter distantes. Se o pai soubesse...
Aqui ela ri. O que o pai faria, se soubesse? Mas o pai não sabe. Segredo guardado no peito e com as melhores amigas, apenas, o par de olhos verdes está seguro. Por enquanto.
Noite passada, no calor do meio do verão, Camila e o par de olhos verdes no banco traseiro do carro, os corpos suados lutando, invisíveis no lugar ermo. Um lutava pra se aproximar, outro pra se manter distante.
– Deixa.
– Não.
– Só um pouquinho.
– Não, já disse.
Nova investida, que a virtude de Camila suporta sem ceder, mas por um fio. Depois, ofegantes, os olhos verdes se amuam. Precisam de meia hora pra voltarem à disposição normal. E aí voltam ao ataque:
– Deixa.
– Não.
– Só um pouquinho.
O embate continua, sem sucesso dos olhos verdes. É a proverbial força irresistível que se choca contra o objeto irremovível. Até que o encontro acaba. Camila chega em casa de carona. Dá adeus aos olhos verdes. Antes de se separarem por aquela noite, ouve a proposta, acompanhada de um sorriso:
– Se deixar, eu te compro aquele par de sapatos caros de que cê me falou.
Camila ficou de pensar. Lá no íntimo, já tomou a decisão. E se ri. Todas as mulheres são princesas. Mas Camila já não é mais menina.
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Mensagem por Ricardo Andrade Sáb Set 05, 2009 6:17 pm

O começo da tormenta foi a constatação de erros no mapa da América Latina em um livro didático adotado pelo MEC, em março deste ano. Aparentemente, onde lia-se “Paraguai” deveria ler-se “Uruguai”. Nosso vizinho Paraguai também estava incluído dentro da Bolívia, e por alguma razão o Equador havia desaparecido. O cartógrafo devia estar gostando de uma paraguaia. A sogra seria equatoriana.

A coisa não deixa de ter certa graça, e evoluiu da maneira que essas coisas geralmente evoluem: o governo responsabilizou a empresa, que pôs a culpa no professor, que provavelmente, como o elo mais fraco da corrente, deve ter sido mandado pras cucuias. 500.000 livros foram recolhidos. Noticiado o problema, olhos se empenharam em focar os respectivos culpados. O que, que se saiba, nunca solucionou um problema.

No mês seguinte, houve nova comoção, dessa vez envolvendo os quadrinhos. A Secretaria Estadual da Educação de São Paulo distribuiu a escolas um livro recheado com pérolas como "chupa rola", "cu" e "chupava ela todinha". O livro “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol”, coletânea de quadrinhos sobre futebol, faria parte do programa Ler e Escrever. Nele, os estudantes podem usar o material na biblioteca, na aula ou levar para casa. A obra, voltada para o público adolescente (segundo a editora, Via Lettera, responsável pela publicação) foi distribuída para ser usada como material de apoio por alunos da terceira série do ensino fundamental.

Não joguemos a primeira pedra: a molecada deve ter se divertido, palavrões ou não. Talvez até por causa deles. De acordo com o cartunista Caco Galhardo, um dos autores do livro, o motivo pelo qual a obra acabou parando com alunos da terceira série é óbvio: “o cara que escolheu não leu o livro”. Os 1.216 exemplares foram recolhidos, provavelmente uma que outra cabeça rolou nos bastidores.

Em fins de maio, em Santa Catarina, foram recolhidos mais de 130 mil exemplares do livro "Aventuras Provisórias", do catarinense Cristóvão Tezza. A razão foi uma cena de sexo que constava no romance, e que foi considerada imprópria por professores que entraram em contato com a obra. Depois da polêmica levantada, foi comentado o vocabulário “chulo” empregado na novela. O autor lamentou que o livro, de 142 páginas, tenha sido lido como se fosse um hai-kai de três linhas sobre sexo, e tocou sua vida. A Secretaria da Educação de Santa Catarina anunciou que os livros recolhidos seriam redistribuídos a bibliotecas e salas de aula com alunos adultos.

Junho chegou, como costuma acontecer. E, em meados do mês, consta que, no distante município de União da Vitória, região sul do Paraná, um vereador e diretor de escola denominado Jair Brugnago (PSDB), mandou recolher das prateleiras de sua escola as obras “Amor à Brasileira” (coletânea de contos), e “Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço”, de Will Eisner.

Os títulos foram enviados pelo Ministério da Educação, por meio do Programa Nacional das Bibliotecas Escolares (PNBE), às escolas públicas de todo país. Elas fazem parte de uma lista selecionada e analisada por uma comissão de professores universitários da área, selecionados pelo MEC. Em São Paulo, o conteúdo de “Um Contrato com Deus” já havia sido questionado por educadores paulistas por conter cenas de violência, sexo, estupro e pedofilia. Mas o Ministério da Educação havia se negado a recolher a obra e apenas orientara os bibliotecários a terem cuidado ao emprestar o livro. Dizem que morde.

Também em junho, no município do Rio de Janeiro, uma gravura de mais de 400 anos arrepiava os cabelos de pais e professores. Os alunos do quarto ano do ensino fundamental encontraram, em seu livro didático, uma imagem de 1592, do francês Theodore de Bry, que mostrava índios praticando o empalamento. Cumpre, por mera diversão, uma descrição do processo: introduz-se uma estaca no ânus do inimigo (a menos que se queira fazer isso a um amigo) e se o atravessa com ela, até que a ponta saia pela boca. A imagem, juntamente com a denúncia, apareceu no jornal "O Dia", e a secretária municipal de Educação, Cláudia Costin, resolveu recolher o livro de história onde ela aparecia. A imagem, não a secretária.

Mais pra fins do mês, a chuva engrossou: o Rio Grande do Sul, que é conhecido como um estado progressista e aparentemente não queria ficar pra trás nessa onda, orientou que as escolas estaduais retirassem do acervo três obras em quadrinhos de Will Eisner: “Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço”, “O Sonhador” e “O Nome do Jogo”. Na avaliação da Secretaria Estadual da Educação, os títulos apresentam conteúdo inadequado aos estudantes do ensino médio, público a que foram destinados. As obras integraram a lista de mais de 20 títulos em quadrinhos que compuseram a lista deste ano do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola). Os álbuns – e outros livros selecionados – são enviados diretamente a escolas de todo o país para criar acervos de bibliotecas. Os títulos de Eisner são para o ensino médio. A secretária de Educação do RS, Mariza Abreu, disse considerar os títulos inadequados ao uso em escolas públicas, junto a adolescentes.

O MEC, por sua vez, divulgou nota informando que os livros haviam sido avaliados pela Universidade Federal de Minas Gerais, que eram livros da biblioteca escolar, cuja cessão deve ser intermediada pelo professor ou pelo bibliotecário e destina-se à comunidade escolar: dirigentes, professores, pais e estudantes. Não eram livros didáticos. Aliás, o programa distribui livros para as bibliotecas sem intermediação das secretarias estaduais e municipais desde 1997, sem oposição. E eu acredito: se por acaso o MEC quiser entregar conteúdo imoral em minha casa, de graça, eu aceito. Mas eu já tenho idade pra isso.

Este artigo buscou reunir informações sobre casos de censura a obras didáticas ou literárias que vêm acontecendo no país, e assim possibilitar ao leitor manter um olho aberto a um assunto que merece ser observado com cuidado. Quem quiser opiniões a respeito está convidado a desenvolvê-las. Desafiado, aliás.
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Mensagem por Kio Seg Set 14, 2009 1:38 pm

O Baú do Batman – Parte Dois

Pois era um baú, eu dizia...

Antes que houvesse Batcaverna, Batmóvel, cinto de utilidades e pencas de apetrechos maneiros, antes que os criminosos fossem todos coloridos e interessantes, antes que o uniforme fosse uma armadura com aparatos tecnológicos, Bruce Wayne guardava a roupa de morcego num baú comum, quando não a estava usando na noite de Gotham City. Como vimos no último capítulo...

Foi assim naquele lendário ano de 1939, em que até se viu a capa e o capuz casualmente jogados sobre um cabideiro ao lado da cama, como se fosse o smoking que Wayne vestira em alguma festa. Mas o baú foi o refúgio favorito do uniforme do Batman, naqueles tempos.

Não por muito tempo...

A Batcav... – ops! Batceleiro??
Já em setembro de 1939, Batman sente necessidade de instalações mais apropriadas: surge um hangar secreto para um precursor do Batplano. E em novembro de 1939 (Detective Comics 33, “The Batman Wars Against The Dirigible of Doom”), vê-se um laboratório secreto atrás de uma parede da Mansão Wayne, com um arquivo de recortes de jornal (Aquilo junta uma barata! Batman deve ter ficado contente quando chegou o Batcomputador...) e equipamento médico.

Em outubro de 1940 (Batman 3/1, “The Strange Case of the Diabolical Puppet Master”), vemos uma passagem subterrânea, da mansão até um celeiro deserto, para Batman poder entrar em casa sem ser visto. Assim teve início a saga do Batceleiro (que nunca teve a honra de ser chamado assim).

Em fevereiro de 1941 (Det. Com. 48, “The Secret Cavern”), o celeiro é promovido a garagem do Batmóvel e, no verão de 1942 (World’s Finest 6, “The Secret of Bruce Wayne!”), passa a guardar também o Batplano. Que celeiro grande!

Só em agosto / setembro de 1942 (Bat. 12/2, “The Wizard of Worlds!”) é que se menciona pela primeira vez um quartel-general subterrâneo. Não é chamado de Batcaverna, mas de “hangares secretos subterrâneos”. Talvez porque fossem isso mesmo: conectados à mansão por um elevador, eram uma combinação de oficina e garagem, que guardava dois Batmóveis e três Batplanos! Como um Batplano num buraco não serve para muita coisa, um guincho puxava até o bom e velho celeiro o Batplano que o Batman fosse usar naquela noite, ou o Batmóvel mais apropriado para a ocasião. Espessa camada de concreto reforçado separava esta área subterrânea do piso da mansão, acima. Deve ser lá que estão os cadáveres dos trabalhadores que escavaram isso tudo e construíram esta extravagância debaixo da mansão. Ou o Batman fez tudo sozinho, só com o Robin?! Nesta época, nem o Alfred tinha chegado!

Alfred, aliás, só chega em abril / maio de 1943 (Bat. 16/4, “Here Comes Alfred!”), escapando por pouco de ser peão de obra e de ser eliminado e sepultado em concreto. Mas ele acidentalmente aciona uma mola, que faz deslizar uma parede, que exibe uma “escadaria secreta”, que leva a um “hangar subterrâneo” e ao “laboratório criminológico” , afinal transplantado lá para baixo. Provavelmente por causa dos recortes de jornal e as baratas. Alfred não é executado por sua descoberta, como se sabe (talvez por falta de concreto), e tem início entre ele e a Dupla Dinâmica uma relação de amizade que dura até hoje.

Em janeiro de 1944 (Det. Com. 83, “Accidentally on Purpose!”), o termo “batcaverna” (em inglês, “bat cave”, ou “caverna de morcego(s)”) é usado pela primeira vez, embora ainda sejam instalações subterrâneas artificiais, não uma caverna natural. Mas já tem um ginásio para o Batman manter a forma.

Em julho de 1948 (Det. Com. 137, “The Rebus Crimes!”), o “Salão de Troféus” do Batman é visto no subterrâneo (em sua primeira aparição, em 1942, descia-se escadas para alcançá-lo, mas podia-se ver a luz do sol entrando por uma janela), assim como o tal laboratório, que já andara subindo e descendo as escadas. A propósito, são escadas em espiral que aparecem ligando a mansão à Batcaverna, não o elevador que se via antes e que só Deus sabe onde foi parar. As escadas deviam ser para o Batman fazer aquele exerciciozinho extra, que lhe dava aquele plus a mais na hora H. Esse Batman!...

Somente em agosto / setembro de 1948 (Bat. 48/2, “The 1,000 Secrets of the Batcave!”) é que a Batcaverna aparece como uma caverna subterrânea natural, e não como salas feitas pelo homem (e escapam do concreto algumas centenas de peões de obra, provavelmente importados do Brasil). Até se vê uma bela gruta natural, à esquerda. Ainda há um guincho puxando o Batmóvel e o Batplano até o velho celeiro. Ainda há a escada em espiral. O que Batman tem contra elevadores? Nada, parece: o elevador voltou no mês seguinte, maio de 1950 (Det. Com. 159, “Bruce Wayne – You Are Batman!”). Com uma Batcaverna cada vez maior, Batman provavelmente só não sabia mais onde o elevador ficava.

Em julho / agosto de 1953 (Wor. Fin. 65, “The Five Different Batmen!”), o celeiro é, afinal, aposentado. A princípio, ele é apenas rebaixado a saída de emergência, quando Batman e Robin passam a usar uma caverna natural como saída (“Ué!”, deve ter dito o Batman. “Quem botou essa caverna natural aqui?! E nós nunca a tínhamos visto, hein, Menino-Prodígio?”). Esta tal caverna até começou como saída de emergência, mas acabou virando principal. A vida é assim. Bye-bye, Batceleiro.

Aí, depois de tudo isso, chega março de 1954 (Det. Com. 205, “The Origin of the Bat-Cave!”), e Bruce nos conta, como diz o título, a origem da Batcaverna, com a maior cara-de-pau: no começo, diz ele, ele pretendia usar o velho celeiro como quartel-general mas, oh!, o piso cedeu, revelando uma tremenda caverna, cheia de morcegos. Bruce decidiu: “Esta caverna será meu quartel-general! Eu a chamarei de batcaverna!” Não, Bruce, chama de “Clube do Esquilinho Curioso”, dãã!! Eles mudam a história toda e querem que a gente engula! Bom, a gente engoliu, claro. Essa foi só a primeira vez, e nem tinha crise nenhuma na história. Mas tinha um belo relógio do vovô, que escondia a escada para a Batcaverna, um elemento que meio que persiste até hoje.

Dezembro de 1955 (Bat. 96/3, “The Third Alarm for Batman!”) trouxe mais um favorito: os bat-postes! Resultado de uma associação entre Batman e Robin e os bombeiros, para divulgar a semana de prevenção de incêndios. É sério.

Os anos seguintes fizeram muito bem à Batcaverna. Em julho / agosto de 1968 (Bat. 203), por exemplo, já há três níveis subterrâneos, mais uma área no interior de uma alta colina, onde ficam os hangares do Batplano e do Batcóptero. Nuvens de fumaça são expelidas para camuflar decolagens e aterrissagens. Compensando a falta de antes, agora há dois elevadores separados, ligando os diferentes níveis. Rampas para o Batmóvel, com uma porta secreta imitando rocha, que se abre por um controle no painel do carro. O rio, que sempre existiu, agora tem instalações para atracar o Batbarco. Parque aquático, playground, salão de festas, jardim de inverno e os golfinhos de Miami. Não, isso não tinha. Mas que parece que Batman estava interessado no ramo imobiliário, parece. E mandem chamar de volta os peões de obra descartáveis.

Aí, em dezembro de 1969 (Bat 217, “One Bullet Too Many!”), Dick Grayson (o primeiro Robin, se você estava desavisado) deixa a Mansão Wayne para ir para a Universidade Hudson. Batman fecha a Batcaverna e a mansão, e vai morar na cobertura do prédio da Fundação Wayne, no coração de Gotham City.

Quem passeasse ali pelos fundos da mansão, naquele dia, ouviria o velho celeiro rindo sozinho. Onde faz din, faz don...

Como se sabe, a Batcaverna eventualmente voltaria a ser o quartel-general oficial do Batman, e o é até hoje.

Batman: colecionador compulsivo?
Como vimos, foi em agosto / setembro de 1942 (Bat. 12/1, “Brothers in Crime!”) a primeira menção a um “Salão de Troféus”, que guardaria os souvenirs do combate ao crime do Batman. Àquela altura, já seriam simplesmente 897 “troféus”!

Faça as contas: Batman começou a agir em maio de 1939. Em setembro de 1942, ele completou 40 meses de atividade. 897 “troféus” em 40 meses dão uma média de 22,4 “troféus” por mês, ou pouco mais de um “troféu” por noite “útil”! O Batman é um colecionador compulsivo!

Depois, parece que ele deu uma segurada: em Det. Com. 158 (abril de 1950), a história “The Thousand and One Trophies of Batman!” (ou “Os Mil e Um Troféus do Batman!”) conta exatamente a chegada do 1000º e do 1001º “troféus” do Batman. Ou seja: após coletar 897 “troféus” em parcos 40 meses, o Batman levou sete anos e pouco (91 meses!) para pegar os 101 “troféus” faltantes para chegar aos 1001 – pouco mais de um “troféu” por mês. Batman está controlado.

Nesta história, vemos três “troféus” que assombram a Batcaverna praticamente desde que ela existe, e para os quais nunca há uma explicação. São eles: a moeda gigante, o tiranossauro em tamanho natural e um símbolo com a cara sorridente do Coringa.

“Ah, a moeda é fácil”, alguém dirá. “Só pode ser coisa do Duas-Caras!”

Errou! Errou, mané!!

Foi coisa de um certo Joe Coyne (nome que soa como “moeda”, em inglês), cruel criminoso, preso por tentar roubar uma caixa registradora que, afinal, só tinha pennies (palavra que, em inglês americano coloquial, equivale a “centavos”). Na prisão, furioso, ele repete para si mesmo: “Pennies... e coppers!” (palavra que, além de ser uma gíria para “policial”, significa “cobre”) “Copper pennies!” (ou “pennies de cobre”). Coyne resolve vingar-se dos policiais usando... moedas! OK, é ridículo. Ele sai cometendo crimes com moedas (daí a moeda gigante), e é preso por Batman e Robin. Mas a melhor parte é o cara gritar: “Eu combaterei os tiras – com pennies! Todo trabalho que eu fizer envolverá pennies! Meu símbolo do crime será pennies!” Só isso já vale. Foi em setembro / outubro de 1946, em Wor. Fin. 30, “The Penny Plunderers!”

O dinossauro apareceu em junho / julho de 1946, em Bat. 35/2, “Dinosaur Island!” Para levantar dinheiro para a caridade, Batman e Robin aceitam brincar de pique com os dinossauros mecânicos de um parque temático. Claro que um tal de Chase toma os controles dos dinossauros e a coisa fica séria. Claro que Batman e Robin o derrotam no final. Lá vai o dinossauro decorar a Batcaverna.

Viram? “Jurassic Park” já tinha rolado nas páginas de Batman!

Aliás, na parte três de “O Baú do Batman”, veremos uma série de figuras “familiares” que apareceram PRIMEIRO nas páginas do Batman... Aguardem!

Hein? A cara gigante do Coringa? Não, essa apareceu pela primeira vez exatamente na história dos mil e um troféus do Batman. Não tem uma história para ela. Foi só para ilustrar. É sério.
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Mensagem por Kio Seg Set 14, 2009 1:54 pm

Texto: Brontops
3 páginas


trave na treva

Seu lado definiu horário e o local. Surpreendeu-se com a precariedade urbana do lugar: um campinho de futebol às margens de um pátio de manobras ferroviárias. O polaco explicou que os bosques mais próximos queimavam devido a incêndios descontrolados, um ambiente inadequado ao embate. Aceitou o argumento, lamentando a insensatez destes nossos tempos.

Um comboio passou lentamente pelo pátio, estalando trilhos em um martelar ritmado. O duelista não precisava conferir o relógio para saber que estavam atrasados. O russo retirou sua cigarreira e começou a fumar. “Hábitos antigos”, justificou-se quase sem sotaque.

Duas estrelas feriram a escuridão, o veículo estacionou à beira do campo. Mais mato que grama cobria parciamente o terrão vermelho. O Mouro permaneceu dentro do carro, enquanto seus padrinhos - gentalha de esgoto - caminharam em direção ao círculo onde se daria o pontapé inicial da partida. Antes do polaco e do russo irem ao encontro deles, apelou-se ao duelista para que reconsiderasse.

-Não serei eu o covarde, meu prezado Vladimir. Todavia, serei piedoso se o escurinho oferecer desculpas.

Não havia lua ou estrelas, mas seus olhos de criatura da noite permitiriam acompanhar de longe o diálogo entre os padrinhos. Entretanto, o duelista voltou sua atenção para um outro comboio que passava naquele momento, por trás do muro. Era a manobra de um trem de passageiros, vazio naquele horário. Lembrou-se de uma certa primavera na Budapeste de 1945, e sentiu saudades da única pessoa a quem lhe interessaria deixar uma carta.

O russo e o polaco aproximaram-se. O semblante deles era comunicativo o suficiente. Rumaram os três para o centro do campo. O duelista viu o Mouro sair do veículo e, de forma bastante impetuosa, se adiantar a seus padrinhos.

Mas aquela atitude não enganava ninguém: o Mouro era um estúpido, um fraco, um desses cordeiros que tiveram a sorte de receber a dádiva da noite, mas sentem-se no direito de rejeitar o chamado do sangue, feito leões que decidem comer grama.

Antes que chegasse ao meio de campo, seus amigos o agarraram e o fizeram se acalmar. Polaco gracejou “Talvez os padrinhos dele possam amaciá-lo para você.”

Os amigos do adversário trouxeram uma caixa e a ofereceram para verificação. O polaco reconheceu duas rugers, pistolas de tambor. Arma de caubói. Em seguida, o russo checou a munição: balas de prata de um crucifixo mergulhadas em água benta.

-Será que estes novatos não aprenderam ainda que não somos lobos?

-Estão fazendo muitas piadinhas, cavalheiros; pretendem encobrir o medo?

Os antagonistas dispuseram-se conforme a tradição, de costas um para o outro. O duelista concentrou-se na arma em sua mão. Fazia mais de setenta anos que não precisava usar uma arma. Sentiu-se desconfortável. Talvez o russo tenha notado algo, pois aproximou-se para dizer, “Ao final desta noite, estaremos em nosso porão comemorando com o sangue de algum órfão”. Beijou-lhe a boca com lábios duros, o duelista sentiu o sabor impregnado de alcatrão e depois se retirou.

-Preparados, cavalheiros?

-Desde sempre, meus amigos, exclamou em um gesto pretensioso como todos os outros. E então, a contagem começou. Passo após passo, cada um respeitando a contagem dos padrinhos, os ímpares ditados por um dos escurinhos, os pares pelo polaco. Embora os olhos do duelista mirassem a trave a sua frente, todos os sentidos concentravam-se no que se passava atrás do duelista. O destino é inevitável somente por se passar em um lugar fora do alcance da visão.

Diante da ordem de fogo, o duelista apontou para o Mouro que ainda mirava e disparou sua arma. Mas a bala não saiu pelo cano e antes que pudesse se dar conta, sentiu o impacto no peito. Tombou para trás, caindo sobre uma parte do campo coberta por uma penugem maltratada de grama, esmagando um trevo de quatro folhas. O gosto de sangue na boca abriu-lhe o apetite e os caninos expandiram-se como em uma ereção. Mas o duelista não conseguia se mover, envenenado pela fé dissolvida no projétil alojado no peito.

Polaco e russo ajoelharam-se e o ampararam.

-E então?, perguntou o Polaco.

Antes de responder, o russo soltou a cabeça do duelista que caiu sem vontade aparente, mole como uma cabeça de recém-nascido.

-Eu lhe disse que funcionaria. E o melhor, quem sujou as mãos foi aquele estúpido calouro. O Mouro não tem idéia do que significa matar um membro da Realeza. Amanhã, sua cabeça estará valendo ouro para todas as famílias da cidade. Um dia se é Rei; em outro, Mendigo.



no campo de trevos.

Nos bancos da frente, os padrinhos relembravam situações similares, aconselhando métodos a realizar e erros a evitar. Puseram Wagner para tocar no som do carro, inspiravam-se em um velho filme de guerra. O duelista desconhecia o filme e achava aquela música empolgante, porém mais apropriada a um desenho animado do Pernalonga do que a uma noite de duelo.

Observava os grafites no contínuo muro branco: elaborados, mas desequilibrados; cotidiano, mas monstruoso. Tentando interpretar as linhas pensou em uma floresta elétrica que a tudo devora, cercando um rei/ um mendigo em um banquete.

A guarita vazia e o portão aberto facilitaram a entrada do veículo. Os faróis iluminaram uma das traves. Sua cor branca, apesar de suja, brilhava como uma fileira de dentes contra o escuro da madrugada. Os padrinhos quiseram que o duelista ficasse dentro do carro até que se fizessem os acertos finais. Um deles lembrou que haveria chance para desistir.

-Apenas se a iniciativa partir dele.

Ele evitou ver o que acontecia, fixou-se no balanço de equalizador no display. Depois, tirou o celular do bolso, ligou o aparelho e teclou uma mensagem.

Antes de a enviar, os padrinhos retornaram. Ele escondeu o aparelho rapidamente em um bolso da jaqueta. Pediram que saísse do carro, em uma voz séria.

-O Europeu não quis nem saber. Tá pedindo pra morrer. Hoje você vai dar um jeito neste filho-da-puta.

O duelista saiu do carro e percebeu a calma no caminhar do outro trio. Pareciam bastante solenes e calmos, mas já vira os três em meio a
uma chacina e conhecia aquela aparência tranquila de ninho de formigas venenosas. Decidiu que se era para ser um jogo, então ele iria entrar para o arregaço, para o tudo ou nada; apunhalaria seus ovos, separando-os ao meio.

Mas os dois o seguraram pelos braços, Pelintra murmurou para o duelista. “Tu ainda é novo na noite, irmão, não sabe que a única coisa que nos impede de ficar loucos é o Código. Tu vai derramar muito sangue pra beber e tu vai entender o que digo.”

Conforme a tradição, um lado escolhe o lugar, o outro traz as armas. Pelintra e Navalhada preferiram um duelo com armas de fogo. O duelista estranhou, mas eles defenderam que assim se faria uma menor sujeirada.

Após algumas provocações inúteis, finalmente definiram-se as regras daquele combate. Ficariam de costas um para o outro no meio do campo. Em seguida, dariam dez passos conforme o ritmo ditado pelos padrinhos, rumo as traves dispostas uma oposta a outra. Depois virariam e tentariam um disparo. Caso ambos errassem o tiro, o que nunca acontecera antes, então retornariam ao centro do campo para recarregarem as pistolas e repetirem o processo por mais uma única vez. Se falhassem novamente, então marcariam outra data.

Os amigos do adversário pareciam ser bastante próximos a ele. Enquanto Pelintra e Navalhada se afastavam rumo a lateral do campo, o ruivo permaneceu trocando ainda algumas palavras que não escutou com clareza. E então, ele também posicionou-se na outra lateral, a brasa do cigarro brilhando uma última vez até ser esmagada sob aquele pé. E então declarou:

-Podemos começar?

-Vamos terminar logo esta merda. Cada um dos padrinhos gritava um número, de uma forma um tanto ridícula, o que o fez recordar de um coral de sapos que vira uma vez em um desenho animado na televisão. Embora os olhos do duelista mirassem a trave a sua frente, todos os sentidos concentravam-se no que se passava atrás do duelista. O destino é inescapável apenas se você não souber onde ele está.

Diante da ordem de fogo, o duelista apontou sua arma, conforme aconselhado pelo Navalhada, no terceiro botão da camisa e a disparou. Acertou em cheio. O homem deu uns passos para trás, como um goleiro que encaixa no peito uma bola chutada com muita força. E aí caiu. Os padrinhos correram, cada grupo foi acudir o seu duelista. Pelintra tateou seu corpo em busca de ferimento, Navalhada já sabia que a arma do outro pipocara, mas ainda assim correra para congratulá-lo pela sorte. “Tu é cagado mesmo”.

-E agora?

-Agora, este filho da puta está fodido. O sol vai nascer logo e vai queimar este cuzão até as sombras.

Os três aproximaram-se do lado adversário, onde estava tombado o Europeu, velado por seus amigos. Cumprimentaram-se de forma contida. Entre os apertos de mão, o polaco entregou o prometido a Pelintra e Navalhada conforme negociado antes. A traição, um hábito antigo: um dia se é Mendigo e no outro, continua-se sendo.
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Mensagem por Kio Seg Set 14, 2009 2:11 pm

Nostalgia: Mundo da Lua

Assim começam as mais loucas histórias, lá nos idos de 1991. Mundo da Lua, exibido pela Globo e em parte pela TV Cultura. Esses dias, tarde da noite, estava dando aquela típica zapeada nos canais da TV a cabo, e, ao sintonizar um desses canais especializados em programação "nostálgica", me deparo com um epísódio de "Mundo da Lua". Momentaneamente paralisado, bombaredado por milhares de lembranças de minha infância - cenas, episódios... coisas que eu sequer lembrava de ter visto.

Pra quem não lembra ou não conhece, a série gira em torno de um garoto comum, que mora com os pais, a irmã, o avô e a empregada, que vive nesse mundo e muitas vezes se sente limitado por regras e situações que lhe são impostas; no entanto, um dia seu avô lhe entrega um gravador, onde ele passa a gravar suas idéias para romper os limites desse mundo... e, assim, a cada começo de gravação ele fala a frase inicial deste texto.

Embora essa viagem onírica seja fruto de sua imaginação, como, por exemplo, no episódio onde a enfermeira diz que ele nunca mais deve dormir (há também um episódio onde o presidente sanciona uma lei proibindo as pessoas de tomar banho), em um dado momento ele perde o controle sobre a situação e acaba tendo de enfrentar as consequências de ter quebrado essas regras.

Sem dúvida uma série responsável pela parte criativa que existe em muitos de nós, e é uma pena que não haja hoje em dia investimentos em projetos como esse, e nossas crianças tenham de assistir programas onde os personagens se preocupam em "ficar" e em alcançar fama. Sinceramente, tenho medo dos adultos do futuro.

Por Snuckbinks
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Mensagem por Kio Seg Set 14, 2009 2:17 pm

InVinoVeritas escreveu:
Kio escreveu:Texto: Barker e OPN
2 páginas


Obs.: Aqui também seria interessante correr os dois textos (de autores diferentes) lado a lado. São duas opiniões sobre o mesmo assunto

Dito e Mal-Dito

Vingadores ou LJA? Marvel ou DC? Liefeld or Kirby? Abril ou Panini? Você tem suas dúvidas quanto a esses assuntos? Bom, o pessoal do Superscans (www.superscans.net) também! Por isso a partir desta edição do FARRAZINE a coluna Dito e Mal-Dito vai sempre expor duas opiniões diferentes sobre assuntos que assolam os leitores de quadrinhos. Se você quer expressar sua opinião sobre o assunto, basta mandar um email para barker.scans@gmail.com que ela pode acabar sendo publicada na próxima coluna!
O assunto de hoje é: gibis digitais (scans) ou gibis de papel?

Dito

Por Barker*


Como aprendemos a gostar de quadrinhos? Todos nós possuímos diferente histórias. Seja um tio seu que lhe comprou um gibi do Super-Homem, um amigo que lhe emprestou um gibi do Homem-Aranha ou você resolveu ler, após ver seus heróis favoritos em algum desenho ou série de TV, etc. Todas as histórias são diferentes, porém uma coisa todas elas têm em comum: "O Gibi".

Nos últimos anos a internet brasileira tem sido invadida por websites divulgando "scans". Você não sabe o que é um "scan"? Simples: Scans foi o nome dado a um gibi (história em quadrinhos) que teve suas páginas copiadas por um scanner e compiladas em um arquivo (zip, rar, cbr, cbz e também pdf) para leitura no computador.
Muitos destes websites traduzem e disponibilizam material inédito, aquelas séries que as editoras brasileiras não possuem plano algum de publicar. Já outros preferem publicar material inédito que as editoras brasileiras IRÃO publicar. É sobre este último grupo que irei falar a respeito.

Participo de alguns fóruns e listas de discussão de quadrinhos já faz um bom tempo e percebo que muitos leitores têm dado preferência aos scans em vez do gibis de verdade (aqueles que você compra na banca). Muitos argumentam que as editoras cobram preços abusivos e que "tem mais é que quebrar, mesmo". Ora, se as editoras quebrarem, quem vai publicar as aventuras dos seus heróis favoritos? O site de scans? Eu acho que não...E vou mais adiante: como serão criadas novas gerações de leitores se os gibis "físicos" não estarão lá para o seu amigo lhe emprestar uma edição do Homem-Aranha ou seu tio comprar para você aquele gibi do Super-Homem? Pois é, a matemática é simples nesse caso: sem as editoras, o número de leitores irá diminuir e será muito difícil uma nova geração de leitores ser formada. Consequência: Não haverá público o suficiente para justificar a produção de novas histórias.

Não podemos deixar de lado o fato de que a internet, embora tenha se popularizado bastante ao longo desta década, ainda é uma ferramenta a que a maioria da população mundial (e brasileira) não possui acesso.

Os sites de scans devem prestar um serviço, divulgando materiais publicados no passado (gibis da EBAL, RGE, Abril, Globo) ou aquelas séries que as editoras brasileiras já divulgaram desinteresse na publicação (Wetworks, Bloodstrike, Gotham Adventures, The Boys). Publicar séries que estão sendo publicadas no Brasil (Capitão América, Batman, etc.) é um tiro no pé.

Não defendo que estes sites devam ser fechados ou algo do tipo. Apenas sou da opinião que os sites de scans deveriam evitar fazer com que novos leitores optem pelo formato digital em vez do bom e velho gibi de papel, aquele que você pode ler deitado na cama ou sentado no banheiro.

Os sites de scans devem existir para divulgar os gibis e personagens e não para tentar substituí-los. Pense nisso!

*Barker é um sujeito que mora no fim-do-mundo (mais precisamente em Matamata - Nova Zelândia) adora filmes de terror classe Z e é conhecido como o único admirador do filme Alien vs Predador 2 e gibis do Extreme Studios. Também é criador e webdesinger do site www.superscans.net (antes conhecido como barkerscans.blogspot.com) , www.hotwallpaper.co.cc , www.comicswallpapers.net dentre algumas outras porcarias.

MAL-DITO

Por OPN*

Sabe quando te perguntam se você gosta mais do seu papai ou da sua mamãe e você não sabe o que responder? Esse foi mais ou menos meu dilema quando fui questionado sobre qual minha preferência ao ler uma História em Quadrinhos: no papel ou na tela. Vou TENTAR responder dando minha humilde opinião sobre o assunto, mas tenho certeza que vou acabar MAL-dito.

Realmente, é muito bom poder se levar um gibi pra cima e pra baixo e o CHEIRO do papel (que nos remete à infância e a outros velhos odores que por vezes nos fazem ter vontade de chorar, ao melhor estilo do Marv, em Sin City) é uma experiência que demorará muito a ser substituída. Mas efetivamente SERÁ substituída.

Digo isso porque a tendência de passarmos mais e mais tempo na frente do computador (não muito) em breve será cada vez maior e mais frequente. Claro, isso não vai ser a curto prazo, na verdade será daqui muito e muito tempo, mas a comodidade de ter TUDO que se quer ler ao alcance de um click (e de alguma pesquisa na internet) seduz demais, o papel impresso e suas limitações não podem competir. Quer um exemplo bobinho? Ler antes de dormir deveria ser um hábito de todos os brasileiros - agora ler no inverno, com as maozinhas pra fora do cobertor...? Ninguém merece. Se você estiver segurando um notebook, pronto, as mãos ficarão quentinhas enquanto você continua apreciando sua história favorita. Só aí você já vê que ler na tela tem suas vantagens: não precisa segurar o gibi; pra virar a página é um clique; pode dar zoom e ver detalhes e “entrelinhas”; não rasga se você folhear depressa; você pode carregar 300 edições (se o seu pen drive for grande o suficiente). E essa é uma ótima coisa de se ler direto no monitor: se o personagem da história diz: “eu plantei um sinalizador em você na edição 9841.654,19”, você só abre o arquivo, vai até a página e confere. Sem dúvida a maior comodidade da versão virtual é a COMODIDADE! Todas as edições no mesmo espaço é um luxo impensável (assim como era a gente pensar em ler certas coisas que JAMAIS seriam publicadas em terras tupiniquins).
E o lance da experimentação? Agora você pode comprar o gibi só depois de ter lido a história (hoje é raríssimo na relação consumidor/vendedor - e vai ficando cada vez mais raro – a pessoa comprar alguma coisa antes de experimentá-la. Com o advento dos scans, isso é possível) e pode apenas DELETAR (não só do PC, mas da memória) aquelas histórias que você simplesmente abominou. E se você não curtiu a história, não vai precisar desperdiçar seu rico e suado dinheirinho! Esse é um ponto em que eu sou completamente a favor dos scans: a sobrevivência do mais forte! Muitos acreditam que os scans irão matar a revista impressa (assim como a TV iria matar o cinema!) Pois eu digo: HA! Que morram, então! A “sobrevivência do mais forte” diz que, em um ambiente hostil, o menos apto é destruído. Pois eu acho que os scans acelerarão (nossa, que palavrinha) a derrocada da incompetência editorial (pra não dizer “incompetência dos escritores). Então, quando houver essa brecha no entretenimento, essa falta de histórias, outros - MAIS COMPETENTES - entrarão no lugar dos que estão perpetuados naquilo que eu gosto de chamar “preferência coletiva da ignorância” e nos trarão HISTÓRIAS COM MELHOR QUALIDADE. E digo mais: com os scans você pode ler coisas que nem sequer pensava existirem. E isso é uma maravilha, com certeza seu cérebro agradecerá.
Maravilha por maravilha, eu acho ler na tela uma maravilha, requer apenas algumas adaptações... Agora... se faltar luz, aí ferrou tudo!

E tenho dit... oops, isso é lá no Superscans.

*OPN (Sigla para O Poderoso Nana) é agente da S.H.I.E.L.D. nas horas vagas, prestando um serviço aqui e ali sob comando do Coronel Nick Fury. Quando sobra um tempo escreve a coluna Tenho Dito no Superscans (www.superscans.net) – sucesso entre os usuários do site. Além de também gostar de tomar umas biritas com um certo Deus do Trovão vez ou outra.

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Textos revisados para o 13 Empty Re: Textos revisados para o 13

Mensagem por Mainardi Seg Set 14, 2009 7:44 pm

REVISADO.
ENTREVISTA COM WILTON PACHECO
Texto/Diagramação: InVinoVeritas

“Entreviste o Wilton”, eles dizem.
“Mas é o Wilton”, eu respondo. “O que é que eu vou perguntar pra ele?”
“Não nos amole e entreviste ele”, respondem.
De maneira que tinha que fazer uma entrevista com um amigo que já conhecia há um bom tempo. E simplesmente não tem jeito certo de se fazer isso.
Enfim, resolvi começar do básico: Wilton Pacheco tem 39 anos, é casado, tem um filho de doze anos e reside em Curitiba. Fez curso técnico de Desenho Industrial e é graduado em Gravura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Tirou o 1º lugar no concurso de cartaz Expoville pelo Cefet-PR, o 1 º lugar no concurso de Cartaz da Eco 1992, ensinou quadrinhos para estudantes e participou de várias mostras de arte: fotografia, gravuras, pinturas e quadrinhos. Deu cursos sobre Perspectiva, editou revistas e chegou até a ser retratista de eventos. Sempre trabalhando com arte, de alguma forma, e em produção constante. Alguns dos quadrinhos que produziu: Albaria (que o leitor conhece), Colugo, Venetinho, Revista de Olho 4, A Corda (História em Quadrinhas), Nas Nuvens (novela publicada em Portugal) e Se essa Rua Fosse Minha, 1º, 2º e 4º Edições, editora Fama. Fora milhões de coisas mais.
Não deixa de impressionar, enquanto currículo. Mas o importante não está no papel: Wilton é um dos poucos e vitoriosos. Vive de sua arte. E conciliar sua expressão artística com o feijão e arroz necessários, é uma coisa que muito poucos brasileiros puderam – ou tiveram a perseverança para – fazer. Além de, é claro, Wilton ter trazido Albaria para o FARRAZINE.

FARRAZINE: Aparentemente, pela sua biografia, cê fez de tudo que fosse, mesmo remotamente, relacionado à arte. Seria justo dizer que seu maior interesse no momento são os quadrinhos?
WILTON: Sim, é justo. Sempre me interessei por quadrinhos. Tinha 11 anos e já estava fazendo quadrinhos. 14 anos e estava publicando nas tiras da Gazetinha.
FARRAZINE: O mercado nacional de quadrinhos é difícil. Talvez porque geralmente as coisas venham prontas - e consequentemente mais baratas - de lá de cima. Mas o tempo não está pra peixe para a produção nacional há um tempo. Gente como o Ziraldo, famoso, passou a vida inteira tentando emplacar quadrinhos nacionais sem muito sucesso. Mauricio de Sousa parece ser uma exceção à regra, mas, em geral o pessoal reclama do mercado. Como cê vê essa questão? O que te chama para os quadrinhos?
WILTON: O que me chama para os quadrinhos não tem a ver com fama e fortuna. Mas com a possibilidade de comunicar minhas idéias através de imagens e textos. É algo mágico desenhar uma seqüência, contando algo, e a outra pessoa ler e entender diferente do que foi falado. E isso mesmo estando distante, sem conhecer a pessoa. Ler uma crítica de alguém que nunca te viu, nunca te conheceu, de algo que você tenha feito. Isso não é fama, não me torno famoso com isso, não vejo grana por isso. Mas traz satisfação isso.
Agora, o mercado de quadrinhos brasileiro tem tradição americana. A questão entretenimento/produto de venda sempre existiu nos EUA. E no Brasil isso é marginal, Mauricio de Sousa, no início, tinha a Mônica, o Cebolinha, etc... Mas também tinha personagens underground do estilo dos universitários (Tina, Rolo, Pipa, Zecão...). Ziraldo tinha outra linha. Seus personagens, mesmo nos quadrinhos, eram mais literários, culturais... saci pererê, onças... No mundo infantil e adulto ele era mais ilustrador literário, charges e crônicas políticas. Envolvido com um mundo mais jornalístico, como o Henfil. Laerte é algo mais independente. O que quero dizer com isso, é que o mercado do quadrinho no Brasil tem uma tradição diferente dos EUAs.
FARRAZINE: Tem também iniciativas como o movimento Udigrudi, Laerte, Angeli, Adão, Glauco... tiveram seu tempo, seus momentos. Os mais conhecidos artistas nacionais sempre foram vinculados à grande imprensa OU a personagens famosos da vida nacional.
WILTON: Concordo.
FARRAZINE: Teve a revista dos Trapalhões, da Xuxa, do Sérgio Mallandro, acho que até o Gugu já teve uma revistinha.
WILTON: E o Beto Carreiro também
FARRAZINE: Isso.
WILTON: Mesmo assim eram vinculados à TV. Eles eram subprodutos.
FARRAZINE: Henfil, Jaguar, Ziraldo... faziam quadrinhos, mas o principal eram as charges. Talvez com exceção de Henfil, que meio que atacava em todas as frentes. Ou seja: também era um tipo de subproduto.
WILTON: Quando digo subproduto quero dizer que é um adendo de outra coisa. Como adaptação de filme e livro para quadrinho.
FARRAZINE: Quem veio tentar romper com isso foram Laerte, Angeli, Adão e Glauco, produzindo tiras de jornais, também. Mas fizeram quadrinhos por um bom tempo.
WILTON: Teve outras gerações na ditadura militar que fizeram para entretenimento. E funcionaram por um bom tempo. O mais famoso talvez fosse o Judoka, que teve um filme como subproduto.
FARRAZINE: Sim. Mas quadrinhos, quadrinhos, nunca vingaram cá no Brás, com a única exceção de Mauricio de Sousa. Na edição passada do FARRAZINE ele comentou que talvez isso se tenha dado pelo approach diferente dele em relação a esse mercado. Em vez de fazer os quadrinhos mais autorais, ele encarou como um mercado e começou a produzir em massa.
WILTON: Ele arriscou um outro caminho e não abandonou a idéia. Se Ziraldo tivesse feito isso com a turma do Pererê estaria até agora. Assim como a turma do Circo, Piratas do Tietê.
FARRAZINE: E, no entanto, cê está se propondo a ir contra a corrente. Apesar da falta de tradição do mercado. Se bem que há uma promessa de abertura desse mercado no momento, cê não sente isso?
WILTON: O caso é que a pessoa tem que se limitar... imagino que não teríamos coisas grandiosas do Ziraldo se ele se limitasse aos quadrinhos. Minha proposta é outra. Estou tateando um mercado novo: quadrinhos como veículo paradidático, com abertura para animação e reforço. A idéia é bem velha. Mas a forma que quero tentar não tanto. Como disse antes, nos Estados Unidos, a questão de entretenimento como produto de consumo é forte, move a economia deles de forma bem significativa. No Japão também. Com a recente crise, o governo incentivou a publicação e exportação de mangá. Já no Brasil, o entretenimento como entretenimento é importado, a produção nacional tem caráter de divulgação cultural. Mas de forma limitada. Penso que podemos fazer algo como foi feito no início da indústria de entretenimento estadunidense. Existia lá o Daniel Boom, General Couster, etc...
FARRAZINE: Parece que, apesar da rica literatura brasileira, os outros tipos de literatura estão estagnados. A produção de quadrinhos é mais independente que qualquer outra coisa. Até quando há publicação por uma grande editora o leitor pode saber que a produção foi independente. O autor tem que entregar tudo pronto sem ver um tostão adiantado (uma carga grande de trabalho sem retorno - a princípio - que nem todos podem se dar ao luxo de fazer).

WILTON: A literatura brasileira é rica sim. O escritor brasileiro antes não conseguia viver de sua literatura. Atualmente a coisa tem mudado. Mas para poucos. Paulo Coelho achou um filão, Eduardo Bueno com seus livros também. Mas isso não é coisa da maioria. Muitos quadrinistas veteranos concordam na afirmação: "O povo brasileiro não lê".
Os novos quadrinistas tentam fazer o que vêem nos importados. Tentam ter a qualidade japonesa ou americana e ganhar igual. Mas o nosso mercado é diferente, não se adaptou a isso. Valorizamos, por tradição, o que vem de fora.
FARRAZINE: Super-heróis, kung-fu ou robôs gigantes, cê diz?
WILTON: Sim, mas tem que pôr nomes estrangeiros. O autor tem que ter nome estrangeiro. Claro, a coisa pode ser mudada, mas precisa de insistência do quadrinista, ele tem que bater na mesma tecla. Jogar no mercado sempre, até cativar e mostrar que não vai falhar.
FARRAZINE: Isso requer um investimento grande.
WILTON: Sim, tanto físico e emocional quanto financeiro. Mas sempre existiu um outro caminho: entrar na máquina de entretenimento de fora do Brasil, e depois voltar a atenção para cá. Isso dá um curriculum que faz com que a mídia e editores do Brasil respeitem o artista.
FARRAZINE: Sim. Porque vem de fora. Falando em investimento físico, emocional e financeiro, no que você está metido agora?
WILTON: Pretendo fazer uma história sobre O Circo em Curitiba, depois uma história sobre o Descobrimento do Brasil – que é a “500 Dias”. Isso é parte de um plano maior: fazer uma sequência de quadrinhos de qualidade. Que contem com emoção sobre a história do Brasil, sem pecar no conteúdo histórico. Que ajudem a conhecer nossa história, mas com mais alcance do que o que foi feito antes. Algo como a indústria estadunidense fazia antes e ainda faz agora. Para isso tenho mandando e-mails para museus. Entrado em contato com um professor em Paris; com a biblioteca da Marinha de Portugal, com escritores brasileiros que escreveram sobre o tema; procurando fontes e imagens nos mais variados lugares. Essa metodologia de acúmulo de imagem/informação que deixa meus projetos com tempo de execução muito longo.
FARRAZINE: O que Manara e Jorodowski estão fazendo com Borgia você está se propondo a fazer com o Descobrimento... buscando elucidar a maior quantidade de fatos históricos possível.


FARRAZINE: Fale de Albaria. Ande. Ou vou ter que pegar o alicate de novo.
WILTON: Albaria é outra coisa. Para enfrentar situações difíceis, eu transformava elas em história. Por exemplo, quando eu tinha que fazer um conjunto grande de coisas para a semana seguinte, e para isso tinha que ficar madrugadas acordado, eu me posicionavam como um aventureiro espacial que tinha que escapar de buracos negros, explorar planetas e chegar ao objetivo final. Cada planeta era uma das coisas que eu tinha que fazer. Como eu acabava conseguindo acabar essas coisas por este método, eu ficava espantado.
FARRAZINE: Você percebe, claro, que isso o define como um cara estranho.
WILTON: Albaria era uma dessas histórias. Eu comecei a imaginar que quem criava coisas assim era do outro mundo; um cara estranho como você disse. Mas como seria esse mundo? Onde ele ficava? Qual a explicação física dessas pessoas estarem nesse mundo?
FARRAZINE: Não apenas estranho. Perturbado. Possivelmente psicótico. Talvez seja uma condição médica.
WILTON: Então escrevi sobre isso num diário que uma mãe, ciumenta da filha, roubou para me acusar de drogado, etc... É, o diário era uma viagem.
FARRAZINE: Alucinado, com certeza. Isso não precisa nem dizer.
WILTON: Bom, mais tarde comecei a trabalhar à uma hora de ônibus da minha casa. Era muito tempo de ônibus. Primeiro pensei em ler durante o trajeto. Adoro ler. Depois comecei a escrever no ônibus. Depois a estudar no ônibus. Depois tentei conversar com desconhecidos.
FARRAZINE: Paranóico, talvez. Megalômano.
WILTON: Dá para fazer terapia no ônibus. Me sosseguei desenhando nesse ônibus. Então pensei... todo o dia pego o ônibus, duas horas desenhando.... Posso fazer uma história em quadrinho, já que consigo desenhar mais ou menos aqui. Até fiz um retrato ou outro de moças bonitas, que elas levaram agradecidas. Então comecei a desenhar a Albaria.
FARRAZINE: Uma história em quadrinhos feita em um ônibus em movimento.
WILTON: Consegui fazer mais de trinta páginas no ônibus. Tinha parte que parecia que eu estava dentro de uma britadeira. Aproveitava essas partes para fazer texturas; outras trepidavam, eu fazia linhas que nunca conseguiria numa mesa parada.
FARRAZINE: São, obviamente, aquelas páginas que você tem que explicar aos leitores: "Isso é um gato. Aqui estão os olhos, essa linha que cai para fora do papel é a boca..."
WILTON: Foi divertido...mas depois saí do trabalho, e não tinha mais ônibus para desenhar. Não terminei a história, acho que faltavam cinco páginas Albarianas. Agora vou terminar.
Publiquei Albaria em forma de fanzine; dois fanzines de vinte e quatro páginas, se não me engano, cada um ... 100 impressões cada. Distribuído na Gibiteca e vendido na Itiban. E o pessoal conseguia entender bem a imagem. Agora reeditei, mudei um pouco o texto, redesenhei uma página que sumiu e estou publicando de oito em oito páginas no Farrazine.
Uma história de mais de dez anos atrás... isso é curioso.
FARRAZINE: Há histórias ilustradas nas paredes das cavernas. O que há de curioso nisso?
WILTON: O curioso é que a Albaria é como uma filosofia de vida. Não tinha objetivo de ser publicado. Era primeiro para me definir no mundo... depois para eu não ficar aborrecido num ônibus. Depois ganhei uma graninha para comprar cartinhas pokemon para meu filho com ele.
FARRAZINE: Conseguiram alguma boa?
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