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[Conto] Buraco Negro - Parte 2

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Mensagem por Apgrilo Dom Ago 28, 2011 1:39 pm

Amigos, continuo a saga aqui para quem quiser ler. Por favor, comentem!
Grande abraço.


Buraco Negro - Parte 2

O lugar onde estava era muito mal iluminado, com poucos feixes de luz entrando fracos pela fresta entre a porta e o chão, além da luz que se passava por entre a portinhola. Uma pequena janela no alto da parede e cheia de grade indicava que lá fora estava escuro, além de ter poucas nuvens no céu, encobrindo parte da lua, inclusive.
Jonas conseguiu se acalmar, sempre evitando olhar aos outros. Ainda estava chocado com a possibilidade de se ver naquelas pessoas. Variações de si mesmo, com alturas, pesos e idade diferente da sua.
Depois de mais algumas horas, a luz do corredor acendeu, pois reforçou a iluminação vinda da porta e todos ficaram excitados. Em segundos o professor apareceu na abertura de vidro. Com os olhos fez uma varredura pelo local como se procurasse por algo e saiu da visão. De repente, uma portinhola abriu e uma quentinha com comida apareceu como se fosse empurrada com força. Sua imagem voltou ao vidro de cima.
- Essa é só pra ele. - Falou com o som meio abafado pelo outro lado da porta.
- E a gente, professor? - Indagou o mais velho.
- Vocês esperem ai que mais tarde eu trago.
- Ô professor... - Falou o mais velho de novo se levantando e tendo sua face e parte de cima do peitoral iluminado por um feixe de luz que entrava pelo vidro e chegava até a parede.
- Você ainda quer voltar para a sua família, não quer... Velho Jonas? - O velho anuiu. - Quer voltar para a sua realidade, não quer? - Assentiu novamente. - Então, meu querido, sente-se e fique quietinho no seu canto e só saia daí quando eu mandar.
Ele sentou-se novamente, sumindo na sombra. O professor apontou o dedo da mão direita para Jonas.
- Você ai, coma.
Ainda atordoado, ele foi se aproximar da quentinha, com certa dificuldade. Com as mãos tremendo, conseguiu chegar perto. Cheirou para tentar identificar o que era e sentiu arroz, feijão e macarrão.
- Coma... Isso se quiser voltar para aquilo que você chama de vida. - Disse o professor.
- O que é isso que eu vou comer?
- Coma. - Falou mais enérgico. - E não faça mais perguntas.
- Mas profe...
- Coma! Agora!
Jonas começou a comer rapidamente todo o conteúdo com as próprias mãos e em minutos havia limpado a quentinha. Olhou novamente para o vidro e viu que o professor havia saído. Levantou-se e começou a andar pelo local calmamente para tentar ajudar na digestão. Ficou girando em círculos por minutos até se aproximar janela.
Ficou fitando o céu por mais alguns minutos até que começou a se sentir tonto de novo e começou a cambalear. O velho chegou perto dele e Jonas o repeliu com o braço, e então ele o empurrou para perto da porta e ele caiu de bruços. A porta abriu, o professor entrou e chegou ao lado de Jonas. Mexeu em seu ombro fazendo-o sacudir.
- Venha comigo.
Tonto, ele demorou para se sentar e depois se agachar. Com dificuldade se levantou, mas somente conseguiu permanecer de pé apoiando seus braços na parede. O professor passou pela porta e depois que Jonas saiu dali, fechou-a. Andaram pelo corredor até chegar a outra porta, agora de metal.
- Aôd... Isdou... Ído? - Falava pausadamente, entre uma baba e outra, além de perceber que os lábios formigavam. Mas a visão estava perfeita.
- Para cá, meu melhor aluno. - Falou com um sorriso e abriu a porta.
Jonas entrou em outro ambiente que destoava totalmente da casa do professor. Diferente da sala aconchegante ou do quarto mal-iluminado. Ali era muito bem iluminado por luz fria vinda das longas lâmpadas, além dos abajures. Os móveis de madeira eram pintados de branco, assim como as paredes e havia também cadeiras e uma grande mesa de alumínio.
O professor o ajudou a entrar e fechou a porta. Nas paredes, Jonas reparou quadros de cortiça extensos com diversos papéis A4 pregados, incluindo cartolinas, semelhante aquela que ele vira. Estavam todas desenhadas e preenchidas com palavras, números, equações matemáticas e outras com desenhos que pareciam ser de uma cadeira e um capacete.
O que chamou a sua atenção foi que no centro havia uma cadeira de madeira, com estofado de couro, e diversas presilhas de plástico se espalhavam por ela, semelhante as de uma mochila de alpinista. No colo, um capacete de metal. Ele se lembrou do desenho.
- Ô... Gi... Dá... Agondezêdo?
- Ainda não percebeu, Jonas? Pô e eu que achava você era o meu melhor aluno... - E o empurrou para a cadeira central. - Assim você me decepciona, hein?
O professor tirou o capacete de metal da cadeira central e o colocou em cima da mesa de alumínio. Ajudou Jonas a sentar-se com delicadeza e começou a amarrá-lo na cadeira. Apanhou o capacete e quando foi depositar em sua cabeça, ele a virou, foi colocá-lo na outra posição e ele desviou novamente. O professor ficou rindo venda a tentativa de rebelião, até que por fim, cansado, segurou sua face com força e colocou o capacete de metal. Amarrou o objeto passando embaixo de sua cabeça.
- Agora, Jonas, eu quero que você faça uma coisa pra mim.
- Geu... Dão vou... Vazer... Dada! - Falou com certa raiva.
- O que é isso, Jonas? Onde fomos parar? - Se agachou ficando na sua altura a ponto de encará-lo bem de perto. - Olha... Vamos fazer o seguinte, garoto. Você faz isso pra mim, e logo logo eu te devolvo pra sua vida. Que tal?
Jonas cuspiu na sua cara. No cuspe vieram partes da comida semi mastigada. O professor, que havia fechado os olhos por reflexo, abriu-os lentamente e ficou encarando-o com a cara suja.
- Jonas, presta atenção... Ou você faz isso pra mim, ou você faz isso pra mim. Entendeu? Não existe a opção de você não fazer o que eu vou te pedir. Caso você prefira, eu posso também tentar te ameaçar de morte. Eu não sei, sabe, cada um é cada um, as pessoas têm gostos diferentes e eu não sei se é o seu caso ser sado-masoquista. Mas isso não me adianta muito, já que eu quero e preciso que você faça algo pra mim. E morto você não me serve de nada. - Ele foi até o banheiro e lavou sua cara, e retornou secando-a com a toalha de mão. - Então garoto, vamos fazer assim: você vai para outra realidade paralela e pega uma coisa pra mim. E ai, aceita, meu melhor aluno? - Finalizou sorrindo.
- Azeida? Dão denho... Obizão... Denho? Brovezor...
- Claro que você tem, Jonas. Como eu te expliquei antes, você tem a opção de fazer isso da melhor forma possível. E rápido. Eu te analisei muito antes de te escolher e sei do que você é capaz.
- Burguê vozê... Dão bai Indão?
- Eu posso muito bem ir como já fui... Mas eu preciso agora muito mais é que você vá pra mim. Senão, qual utilidade você tem pra mim?
Jonas suspirou.
- O guê é? - Indagou firme.
- Eu vou te mandar para a realidade paralela do seu velho eu. Na verdade é futuro paralelo, pois a realidade é agora, no presente. Enfim... É o mundo daquele chato que enche o meu saco sempre que eu passo pela sala, como agora quando eu fui te pegar. Jonas, você precisa me prometer que quando envelhecer não vai ser tão chato assim, hein? - Suspirou. - Você precisa entrar na casa dele e pegar uma sacola que eu esqueci. A sacola é marrom claro e está em cima do sofá. Entendeu? - Jonas anuiu.
- É zó izu?
- Não. Depois de pegar você tem que levar nesse endereço aqui. - Colocou um papel dobrado dentro do bolso de sua calça jeans. - Ai tem os dois endereços, o do velho Jonas e o outro. Depois disso, acaba.
- Dá bou.
- Esse é o meu aluno. Vamos lá.
- E gôbu eu vazu... Bra voldá?
- Ah, isso você deixa comigo. Se preocupe em pegar a sacola e levar até o lugar. - Ele ia saindo perto dele, mas voltou. - Uma última coisa: afaste suas mãos do corpo e deixe elas abertas.
- Hã?
Com um sorriso cínico, o professor se afastou até chegar a porta. Caminhou por entre as bancadas e apagou todas as luzes dos abajures, e, apertando um interruptor apagou a luz do quarto. Digitou uns botões, acionou uma chave e saiu do quarto. Em segundos, os móveis começaram a estremecer, raios azuis começaram a sair da cadeira onde Jonas estava e em menos de um segundo uma pequena explosão de luz se deu cobrindo todo o quarto.
O professor entrou no quarto e acendeu a luz. Viu que Jonas havia desaparecido, restando somente a cadeira com as presilhas de plástico, com o capacete no colo e sorriu.


Jonas não entendeu muito do que acontecia, ele via imagens rápidas passando na sua frente e algo como se fosse um tubo com diversos tons de azul. Ele tremia e passavam ventos rápidos por ele, bagunçando seu cabelo, fazendo sua roupa sacudir e o impedindo de abrir muito os olhos. Até que de repente tudo parou e ele viu se aproximando de uma imagem especifica que crescia com velocidade.


A esquina da rua estava deserta naquela hora da noite, com poucos carros se passando. Do nada, pequenos raios azulados começaram a aparecer no ar saindo de um mesmo ponto, que começou a crescer se transformando em uma bola e por uma pequena explosão de luz para sumir logo em seguida. Jonas surgiu no ar, a um metro do chão, e caiu na calçada de bruços.
Com aparente dor, ele se virou e colocou a mão na boca, que percebeu estar sangrando. Agachou-se e ficou em pé. Se sentia bem melhor. Estranhou que realmente estava bem. A mão não tremia mais, a tontura havia terminado.
- Onde eu... Estou?
Também conseguia falar direito e os lábios não estavam mais formigando. Passou a mão na cabeça, notando a rua onde estava. Poucos prédios baixos, becos entre eles, e, atrás de si, uma praça. Caminhou até um banco. Viu uma pequena pilha de jornal e instintivamente a pegou e tirou uma pagina. Olhou as matérias, falavam do país. Correu com os olhos até chegar ao topo dela e a largou horrorizado.
- Na... Na... Não. Não po... Não pode ser...


A folha de jornal caiu no chão enquanto Jonas sentava-se novamente, onde podia-se ler: “Rio de Janeiro Quarta-Feira 12/05/2055”. Exatos 43 anos no futuro.

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Mensagem por Kio Seg Set 12, 2011 10:06 am

Parabéns, Pablo.

Tô ansioso para ver no que vai dar a saga dos Jonas. Very Happy
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Mensagem por Apgrilo Seg Set 12, 2011 5:12 pm

Valeu, Kio.

Tem mais partes vindo aê.

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