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Viviane - Projeto em andamento

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Mensagem por jluismith Seg Jan 26, 2009 7:17 pm

Bem, como essa vai ser a provável sequência de Manuela e já faz um tempo que ela foi postada como conto, então pouca gente deve se lembrar, lá vai o texto-base novamente pro pessoal ler e dar alguma opinião. Claro, eu ainda vou montar como roteiro pra que o Dias possa desenhar, mas se quiserem dar uma olhada vai ser bem aceito.



Viviane

Naquele dia a tensão estava desenhada no ar com letras gigantes e fosforescentes: era o dia da escolha da Viviane. Nós todos estávamos sentados na calçada, com caras de bobo e ainda vestindo o uniforme do colégio, esperando que ela chegasse. O tempo foi passando, já deviam ser quase cinco horas da tarde, quando eu sugeri que a gente batesse bola. Achei que era a melhor forma de esperar. O Pancinha e o Renato não queriam, mas graças á pressão minha, do Thiago e do Mateus, pegamos a bola na caso do Léo e fomos jogar na rua de cima.

A pelada era sem graça. Os gols não tinham comemoração, ninguém dava carrinho com medo de sujar a roupa, as reclamações pareciam muito mais pessoais do que meramente esportivas, havia um clima de competição pairando no ar. E de competição desleal. Eu notei isso quando o Thiago deu um chutão no joelho do Renato e deixou o coitado gritando no chão. Era óbvio: tudo por causa da Viviane.

Todo mundo quis parar e só eu e o Mateus continuamos chutando a bola contra o muro, mesmo que isso nos deixasse suados e com os uniformes imundos. Não importava. Nós sabíamos que éramos os “azarões”, tínhamos muito pouco ou quase nada de chances de sermos escolhidos, e pelo menos eu só estava lá pra não admitir isso na frente de todos eles.

O Thiago e o Renato continuavam discutindo, um dizendo que o outro puxou briga por inveja, “porque a Vivi vai escolher eu e não você”. E ela continuava demorando.

Provavelmente de propósito, afinal, mulheres são mulheres mesmo quando ainda tem 9 anos. Elas sabem quando tem o poder e usam isso. E Viviane tinha o poder, afinal era a única menina da rua e a nós não restava nada além da chance de nos tornarmos súditos da princesa, o que, pensando bem, nunca foi tão ruim.

O Pancinha começou a reclamar que ela demorava demais, que ele tinha que estudar, estava de saco cheio, mas eu sabia que era tudo encenação: antes da Vivi chegar ninguém ia sair daquela calçada, nem mesmo se a mãe aparecesse com um rolo de macarrão ou o pai chegasse segurando um sapato nas mãos. Não sairíamos dali sem uma resposta: não éramos mais garotos, éramos príncipes encantados em escala reduzida. Só a nossa princesa é que parecia ter se esquecido do combinado: “Depois da aula na frente da minha casa”.

Pensei em tocar a campainha e chamar por ela. Só pensei. Eu era o menor e mais tímidos de todos, o que menos teria chances, afinal, o Pancinha era forte, o Renato era falante, Thiago era bonito (ela dizia), o Mateus era inteligente, e eu, bem eu não era nada de mais...Não ia ter coragem de tocar aquela campainha e falar com a Dona Fátima nem em cinco mil anos de tentativas...E foi quando eu estava assim, perdido em pensamentos, que o portão começou a fazer barulho e ela saiu.

Linda. Nunca vou esquecer do rosto dela ou do cabelo , por mais tempo que passe. Os olhos eram castanhos e grandes, quase grandes demais, o jeitinho de quem ainda não se acostumou com o próprio tamanho (ela era maior que eu...), os passinhos curtos. O ar ficou parado, o silêncio era total. Eu cheguei a imaginar que tinha conseguido ouvir minha mãe me gritando de lá do princípio da rua. Mas ignorei. Eu tinha coisas mais sérias para ouvir.

“E aí, Vivi? Qual de nós?”
“É, diz logo que eu tenho que estudar...”
“Qual de nós você vai beijar?”

É, um beijo. O primeiro dela. E o primeiro de qualquer um de nós, apesar do mentiroso do Pancinha insistir que tinha beijado uma menina no sítio da avó dele. “Nem sua avó beija você, seu gordo!” era o que a gente sempre respondia. Afinal, que vantagem beijar se ninguém vai saber?

E ela parou na nossa frente. Sorriu e disse “Você”. Primeiro falou e depois levantou a mão. E foi virando em direção a mim e ao Thiago. Eu me sentei no chão desanimado enquanto ele tomou a frente e foi andando pra perto dela. “Você não, ele”. Eu duvidei, mas levantei a cabeça. Todos me olhavam: sim, eu tinha sido escolhido. O primeiro da rua a beijar na boca seria eu. Sim, eu finalmente teria algo pra me vangloriar, uma conquista só minha.

Enquanto ela estendia a mão pra mim eu já imaginava como seria namorar a Viviane, a inveja dos outros moleques, ela torcendo por mim nas peladinhas do colégio, os lanches na casa dela, as tardes jogando Mega-Drive juntinhos...E foi segurando na mão dela que eu entrei pelo portão, que ela logo depois fechou. Ficamos sozinhos no quintal.

Ela me encostou no murinho, pôs as duas mãos nos meus ombros e fechou os olhos. Eu entrei em pânico. Como eu ia beijar? Como se beija? Como o meu rosto ia ficar perto o bastante do dela se nós dois tínhamos narizes? Onde eu seguro? E se ela não gostasse? E se eu não gostasse? E se nenhum dos dois gostasse? E se eu mordesse a boca dela sem querer? E se ela mordesse a minha boca sem querer? E se os pais dela chegassem? Afinal, o seu Eduardo nunca foi com a minha cara e ia me matar! Tudo isso passou pela minha cabeça enquanto eu ficava estático. Ela então abriu um olho, bem devagar, e notou que eu estava lá, como uma estátua. Então pegou minhas mãos, colocou na própria cintura e foi chegando mais perto.

Era agora ou nunca. Fechei os olhos, me inclinei pra frente e encostei minha boca na dela. Notei que era bastante sem graça essa coisa de beijo. Até que eu sem querer abri a boca pra respirar (até hoje eu tenho pouco fôlego) e começamos a nos beijar de boca aberta. Nunca vou esquecer do gosto do meu primeiro beijo: saliva humana. Mas continuamos nos beijando e aquilo ficava melhor á cada instante. Comecei a segurar mais forte na cintura dela e então nossas línguas se tocaram. Foi elétrico. Continuamos mais um pouco e nos separamos, os dois sem ar. Olhei pra ela e tive certeza de que estava apaixonado. Muito apaixonado. Apaixonado pra caramba. E eu ainda estava inventando novos graus de paixão quando ela virou pra mim e disse “Vai lá fora e chama o Mateus”.

O Mateus? O que o Mateus poderia ter a acrescentar ao momento romântico mais marcante que eu já tinha tido em 9 anos de vida? Nada!

“Mas o Mateus? Pra que?”
“Porque ele é o próximo.”
“Próximo?”
“É, você foi o primeiro e ele vai ser o segundo.”
“Segundo? Você vai beijar o Mateus também?!”
“Claro que vou! O Mateus, depois o Pancinha, o Renato e o Thiago.”
“Peraí...Você tá beijando a gente em ordem alfabética?!”
“Aham. Legal, né? Agora vai lá e chama o Mateus logo que eu tenho que ir na casa da minha prima hoje ainda!”

E então foi como se a voz que saía não fosse mais minha, e sim de outra pessoa, algo que subitamente dominasse meu corpo e estivesse absolutamente acima do meu controle.

“Porra, Vivi! Uma bela de uma ***** que você está me saindo, hein? **$%&! E olha que tem só nove anos...Mas que@#$%*&!”


E essa é a bela história do dia em que eu disse meus quatro primeiros palavrões.
jluismith
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