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TEXTOS REVISADOS # 23

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Mensagem por Kio Seg Jul 11, 2011 8:59 pm

Recordar é Viver:
Graphic Novels Autobiográficas


As Graphic Novels deixaram de ser apenas uma contracorrente da cultura de consumo dos Quadrinhos e se converteram numa corrente em si. Conhecidas pelo seu conteúdo autoral, literário e/ou poético, por sua arte muitas vezes experimental e pela sua narrativa muitas vezes transgressora e complexa, as Graphic Novels não buscam exatamente ser a antítese dos superheróis coloridos, mas são encaradas com certa solenidade pelas diversas comunidades e círculos de quadrinistas e leitores, como a modalidade de quadrinhos mais próxima da Arte em si.

Isso não impede, contudo, que haja Graphic Novels de superheróis, pelo contrário. Ao mesmo tempo, o termo pode ser gasto de forma indevida justamente para aproveitar sua “aura” e vender um título qualquer a um desavisado. Marvels, Reino do Amanhã e Watchmen são épicos que, de certa forma, são Graphic Novels, pois desenvolvem seus personagens e a relação dentre eles acima do outros elementos. Todavia, para ser uma Graphic Novel, é necessário antes ser uma Novel.

Ainda que gozem hoje em dia de uma liberdade muito maior de temas e abordagens possíveis (o que cria uma grande confusão entre Graphic Novels e simplesmente quadrinhos independentes), as Graphic Novels nasceram do impulso da catarse. Não se tratava ou trata de simples desabafo, uma vez que nem sempre o artista possui essa necessidade, mas sim a liberação de ideias que há muito estavam presas no íntimo e buscavam oportunidade para serem aplicadas (oportunidades que tiveram de ser criadas muitas vezes). Mesmo que agora boa parte das histórias seja fictícia, de alguma maneira elas acabam inspiradas em fatos da vida particular do autor.

O termo fora cunhado por Will Eisner justamente numa fase de sua carreira onde ele se dedicou a publicar vários álbuns com contos quadrinizados, todos baseados em experiências suas no gueto novaiorquino, ainda que ele não seja propriamente o protagonista de suas histórias. Mais adiante, outros autores sentiram necessidade de falarem de suas experiências, boas ou ruins, na maior parte das vezes usando o personagem fictício como centro das mesmas. Esse processo, óbvio, não é novidade, pois é usado há séculos na literatura em si, que por sua vez é a base cultural dos mesmos quadrinistas. Porém, tratando-se de uma mídia marcada pelas limitações das mentalidades de quem as consumia e quem as editava, era um salto gigantesco.

Para quem deseja uma explanação mais detalhada da história do movimento das Graphic Novels autobiográficas, aqui vai o link de um texto excelente: http://www.nerdssomosnozes.com/2011/02/uma-pequena-historia-dos-quadrinhos.html

Nem todos os fluídos passados pelas Graphic Novels são de saudosismo, assim como nem sempre são feridas antigas e rancores. Muitas vezes podem ser ambos, ou até nenhum deles. Podem ser apenas locais onde o autor esteve ou trabalhos que executou na juventude. Na realidade, lembranças simples são o material mais comuns em todos os tipos de roteiros de todos os tipos de mídia, o que significa que usá-los não qualifica a obra instantaneamente.

Entretanto, nosso foco aqui serão as Graphic Novels autobiográficas e os seus traços comuns. Ou seja, as obras onde a intenção de reminiscência é clara, ainda que subjetiva, onde o roteiro se desenvolve dentro da lembrança e não ao redor dela, como numa ficção original. Não é possível apontar nenhum desses padrões como canônico, mas é possível, como usual de um artigo, abrir a discussão e a possibilidade de um estudo mais profundo daquilo que as molda. No mais, pode ser interpretado como boas dicas de desenvolvimento.

Animistas e Iconoclastas:

Scott McCloud, grande teórico dos quadrinhos modernos, explana no terceiro livro de sua trilogia, Desenhando Quadrinhos, suas ideias a respeito das quatro culturas dos quadrinhos (páginas 229 a 239), que seriam as quintessências transcendentais dos gêneros quadrinísticos. Em resumo, as filosofias básicas dos quadrinistas.

São elas: O Classicismo, o Animismo, o Formalismo e a Iconoclastia. Scott explica que essas quatro escolas não são declaradamente opostas, mas que, em pares, buscam abordagens diferentes dos quadrinhos, ora como experimentação artística, ora como realização artística. Para os fins desse artigo, o foco será no Animismo, na Iconoclastia e na sua combinação, pois são os perfis que mais se aproximariam em tese das Graphic Novels autobiográficas.

O Animismo reafirma o conteúdo acima da arte e prima pela intuição. Ele, de certa maneira, complementa o Classicismo, que busca a soberania da arte e da técnica. Não se trata apenas de texto contra desenho. O Classicismo também pode ser esmerado no texto, assim como na arte. Também não se trata apenas de desenhar ou escrever sem nenhum tipo de pauta ou sistema. O Animismo visa uma narrativa compreensível e explorável, ainda que visceral. Apesar da queda por múltiplas interpretações, o autor animista não tende a confundir o seu leitor.

Há também um foco na criação de personagens autênticos e vivos, mesmo que pobres em detalhes. Enquanto o Classicismo visa a criação de um mundo a volta do personagem, o animista é capaz da fazer o personagem contracenar com o próprio vazio.

A Iconoclastia é mais selvagem nas suas aplicações. Seria de certa maneira a quebra completa das regras que acercam o fazer quadrinhos, com uma rixa especial com o motivo básico de se fazer quadrinhos (ficar conhecido e famoso). O Iconoclasta é um autêntico despretensioso e não rebusca suas obras, mas sim trabalha com a crueza natural das coisas. Compartilham com os animistas o foco maior no conteúdo, mas não são tradicionais, pois seu compromisso é com a vida real e cotidiana exterior ao próprio quadrinho. Numa livre associação, os animistas seriam dramaturgos de teatro, enquanto os iconoclastas cronistas de folhetim.

O personagem iconoclasta, assim como a crônica iconoclasta, não tem compromisso com o entendimento, parecendo muitas vezes incompleto. Assim como o mundo em si também o é, pois para essa filosofia de trabalho as coisas nem sempre são justas e claras

As Graphic Novels autobiográficas seriam, então, uma união dos dois tanto no sentido de que pendem contrários ao apego visual e material, primando pelo impalpável, quanto no sentido de que o biógrafo começa sua jornada procurando apenas expor os episódios que viveu sem grandes evoluções, mas acaba tendo uma grande inclinação em romanceá-los. Isso ocorre porque existe a necessidade de dar ênfase aos ecos psicológicos que aqueles incidentes tiveram, pois cada coisa ocorre em múltiplos níveis de existência, tanto interna quanto externa, diversas camadas de significado. Também isso se dá devido ao que considero ser o objetivo final de uma autobiografia. Expondo o mecanismo da vida ao redor do personagem central, num processo indutivo, o autor busca desvendar o próprio mecanismo da vida que cerca a todos. O autor busca entender seu lugar no universo, vendo-se como uma peça de um sistema maior que ele. Ele oferece essa visão para o leitor, que então se espelhará e tentará fazer uma junção, montando o todo.

Traços básicos de uma Graphic Novel autobiográfica:

Analisando um grupo de obras selecionadas (Maus, Retalhos, Cicatrizes, Persepolis, American Splendor, Epilético, Ao Coração da Tempestade), é possível perceber alguns elementos comuns, a forma como são trabalhados e sua importância para definir a obra.

O Autor como Centro

A colocação pode parecer óbvia se levada em consideração apenas no âmbito das obras autobiográficas, mas como já dito, o autor pode relatar os fatos ou através de um alter ego ou então transferir parte de suas experiências de vida para um personagem totalmente diferente dele. Contudo, o que fica constante é que tal personagem, ego ou alter, é o eixo central a partir de onde tudo irá orbitar. Literalmente, o centro do universo.

Com certeza se trata do conceito básico do protagonista, mas nunca do conceito do herói. Na realidade, o protagonista autobiográfico se mostra um indivíduo falho e por vezes inseguro, por conta do próprio ato do autor de encarar suas ações passadas e, por conseguinte, seus erros. Nem sempre por ser o centro, o personagem é um narrador em primeira pessoa ou em terceira, mas por ser um relato subjetivo, os vícios de personalidade do personagem, como suas mesquinharias e preconceitos, por exemplo, influenciam demais a experiência do leitor, que assiste aquele episódio sob a ótica daquele que foi o centro da pressão, vítima ou felizardo.

O estado de espírito do autor, antes e depois do acontecido, procura encarnar no leitor a fim de transformar a leitura numa simulação, através do discurso descritivo, que é o tipo de texto que predomina nesse tipo de obra.

Muito raro o autor buscar referências externas para ter uma ideia mais precisa do fato que viveu, ele confia em seus sentidos. Mesmo quando o autor relata os efeitos que tais fatos tiveram sobre outros personagens presentes na trama ou não, ele o faz de maneira subjetiva, sem ter conhecimento total de como seus próximos se sentiam.

Isso acontece com mais frequência quando o biógrafo é seu próprio foco, mas em Maus, por exemplo, o biografado é o pai do biógrafo. Todavia, ainda assim, o autor não buscou outras fontes para completar as narrativas do pai (que conta suas histórias de sobrevivente de Auschwitz), pois o verdadeiro foco da obra é na realidade mostrar a figura curiosa e contraditória que ele era, além da relação distante entre os dois. Na verdade, em Maus, essa é a verdadeira história e Art Spigelman, e não Vladek Spiegelman, é o verdadeiro centro.

Conflitos

Toda vida é na verdade uma luta nossa contra algo que se impôs em nosso caminho e nos tirou o conforto. E em toda autobiografia quadrinizada é possível entender e apontar o conflito em que o personagem está envolvido, que na realidade, é a trama em si, despida de seus detalhes. Ainda que sejam vários conflitos separados, haverá um que será a origem de todos e é o que define a “fase” em que o personagem está na sua vida. Tal conflito demandará quase a história inteira para ser resolvido, isso se ainda não estiver ocorrendo na vida do autor até hoje.

Um conflito nem sempre é uma contenda violenta ou um choque literal de forças. Muitas vezes se trata do personagem lidando com forças naturais a sua volta as quais ele não compreende totalmente. Outras vezes são problemas que o personagem traz dentro de si e o conflito se resume nele tentando achar um equilíbrio pessoal. De qualquer forma, nunca o conflito é mostrado de uma maneira simples, pois para o autor nunca foi simples naquela época e nem é atualmente. Dezenas de fatores irão se impor ao longo da luta do personagem, obrigando-o a pensar nas consequências e nas pessoas que o afetam e que podem ser afetadas. O personagem muitas vezes flertará com a desistência completa e com a ideia de que talvez seu conflito seja invencível e que ele tenha de apenas conviver com ele. Em outra ele finalmente encontrará uma resposta, o conflito pode cessar ou pode aparentemente sumir.

A obra possui a força que o conflito tiver, o que obriga o autor a desenvolvê-la em todas as suas complexidades e agonias, mas também o força a tentar falar também da evolução que tais sofrimentos trouxeram em sua vida, a maturidade conquistada. É preciso que o autor torne o seu conflito algo único, para que ele não seja um mero resmungo, todavia, é preciso preservar uma simplicidade, para que os leitores encontrem uma semelhança com seus próprios problemas.

Todo o conflito muda pelo menos em sua superfície, devido às pessoas que surgem e oferecem diversas abordagens ou pontos de vistas sobre ele para o protagonista. Mesmo que não o façam, a mera existência deles já ajuda o personagem a desviar o curso do conflito e eles se tornam elementos dignos de nota. Existem autores que buscam isolar o conflito no centro do palco, dando a impressão que a volta dele tudo é vazio, é o caso de Cicatrizes de David Small, que fecha a trama em volta do autor e sua mãe cruel e reprimida, sem dar atenção a possíveis amigos ou outras relações familiares da vida do autor, nem como elas afetaram seu contato com a mãe. Nem sempre o resultado disso é encarado com naturalidade pelo leitor.

Há ocasiões onde o autor não expõe com clareza o que tal conflito está causando no interior do protagonista, em boa parte para reproduzir a própria confusão vivida na época. Muitas vezes sem dar atenção se isso é ou não coerente com o que o leitor é capaz de aceitar. Tudo isso depende se a obra é mais iconoclasta ou animista.

Paralelos

O espírito de época, ou Zeitgeist, é parte importante de uma autobiografia, ainda mais se o autor possuir algum sentimento de nacionalismo ou militância política. Apesar de lotar a obra com um conteúdo muitas vezes educativo demais, atrapalhando a vista do interior do personagem, é necessário reconhecer a necessidade de contextualização histórica, mesmo que ele seja tão subjetivo quanto todo o resto. Para entender por que o protagonista era daquele jeito é preciso entender por que TUDO era do jeito que era.

Traçar paralelos não é, deixemos claro, explicar o cenário. Não. Trata-se de isolar um fato da vida do protagonista e descrever um fato de seu mundo que ocorreu se não ao mesmo tempo, da mesma forma, ou com interpretações semelhantes. Persepolis, de Marjane Satrapi, é uma obra que apesar de seu aspecto de livro infantil, é altamente politizada, pois, ao mesmo tempo em que descreve a infância da autora em plena guerra civil iraniana, procura mostrar a guerra como um mal que também cresce e se desenvolve, mas que aparentemente nunca morre. Marjani cresce na guerra e a guerra cresce em Marjani.

Outros tipos de paralelos envolvem tramas de fundo sem conteúdo histórico, usando elementos simples de causa e efeito, a fim de traçar uma semelhança de mecanismos entre elas. Mas tanto um quanto o outro constituem um artifício comum da filosofia animista de quadrinhos, pois tende a mostrar o protagonista como um reflexo do mundo a volta dele ou que o mundo segue uma série de padrões que se repetem. Nenhuma dessas construções elaboradas cabe a iconoclastia, que é mais despretensiosa, realista e assume esses voos como um superdimensionamento do autor.

Metáforas e simbolismos

Mesmo que tais reflexões não tenham ocorrido na época em que alegadamente ocorreram, o autor pode inserir diversos tipos de comparações e figuras de linguagem na sua narrativa, a fim de tornar mais fácil ou mais difícil para o leitor. Isso é válido, pois a autobiografia não é apenas uma reconstituição do vivido, mas também uma análise de um tempo imaturo feito por um autor mais maduro.

As metáforas e simbolismos existentes nessas obras agem de forma semelhante aos paralelos, mas não de todo. Num sentido muito mais interior do autor (diferente do paralelo que é exterior), o símbolo é a tentativa de resumir todo um universo de ideias num único objeto, pessoa, palavra ou acontecimento da trama, de modo que sempre que ele é evocado, o leitor compreenda a situação. Algo como a palavra rosebud de Cidadão Kane (que simboliza a infância perdida) ou o sonho de Holden Caulfield em Apanhador no Campo de Centeio (que refletia não apenas seu medo de crescer como também a busca por uma pureza que pudesse subjugar o vazio de seu mundo).

Metáforas agem de modo mais econômico. São comparações que servem para um entendimento mais imediato de sentimentos que normalmente não seriam fáceis de descrever, mas que não são fortes ou autosuficientes para serem símbolos. Em geral a intenção do autor de constituir um símbolo é bem mais clara, pois o mesmo aparecerá mais vezes, já que se trata de algo constante na vida do protagonista naquela época, mesmo que ele não reconhecesse com tal reverência.

Diferentes de paralelos, símbolos podem ocorrer em obras iconoclastas, já que são justificáveis por serem íntimos.

Recortes e Narrativas Não-Cronológicas

Narrativas não lineares foram uma das principais evoluções do quadrinho moderno, por justamente forçar o leitor a pensar e ler de forma mais atenta, juntando os pedaços. Uma fórmula emprestada do cinema, ela também obrigou o leitor a encarar diversas peculiaridades do tempo em si e as múltiplas ordens onde as coisas acontecem ou podem acontecer.

Por se tratar de lembranças, a autobiografia pode trabalhar isso de uma maneira bem mais livre, ordenando os fatos tendo como base sua importância pessoal, a expectativa do leitor ou quaisquer outras experimentações. Isso afirma uma linha animista, onde a vida do autor pode ser vista como um filme editável. Ao passo que a lógica iconoclasta prega que nada ocorreu à toa e que tudo teve seu lugar, ainda que num curto espaço de tempo. Isso não significa, contudo, que uma obra iconoclasta não possa segmentar a vida em ciclos curtos e apresentá-los de forma separada, ao invés de uma linha contínua e infinita, como a interpretação mais radical poderia sugerir.

O conflito e o fluxo de narrativa acabam sendo parceiros fundamentais na constituição da obra, pois unidos podem criar efeitos como pressa, confusão, paranoia, êxtase, além de simular a recordação numa verossimilhança psíquica, ou seja, lembranças despedaçadas e incompletas assim como na mente humana.

Jimmy Corrigan, de Chris Ware (que não é autobiográfica e sim inspirada em fatos vividos), possui fortes vieses Formalistas (a escola de quadrinhos que prima pela experimentação do veículo e suas possibilidades de transmissão de ideias), pois aplica em diversas páginas, séries de quadrinhos unidos em sequência, complexos como gráficos empresariais, mas que traçam sem palavras os graus de separação entre os personagens ou objetos da trama, muitas vezes recuando ou avançando no tempo. Um enorme dominó que sugere que talvez toda a vida seja uma história em quadrinhos devido à sua sequencialidade.

Histórias dentro de histórias

Ainda no âmbito das narrativas não-cronológicas, o autor muitas vezes lança mão de flashbacks dentro de flashbacks, ou seja, casos onde ele se recorda que tentou se recordar de algo, ou que alguém tentou se recordar de algo e contou a ele.

Como dito anteriormente é raro o autor fazer uma pesquisa aprofundada a respeito dos outros pontos de vista que cercavam sua pessoa, como que entrevistá-los. Isso, por sinal, tornaria a obra demasiadamente objetiva, a ponto de dispensar o próprio autor como seu artista e roteirista. Contudo, também como foi dito, o autor coloca em sua obra o que viu e o que ouviu a sua volta e, logo também, o que pensou que fosse.

Se a vida do autor é rica, é porque dezenas de pessoas passaram por ela, se a vida do autor é vazia, então as poucas pessoas que nela surgiram devem ter tido uma grande importância. De uma forma ou de outra, as experiências de outrem muitas vezes são desenvolvidas na trama porque fizeram alguma diferença no modo como o autor via o mundo naquele tempo ou porque podem traduzir com mais acuidade o contexto em que viviam.

Epilético, de David B., possui como trama central a vida do autor ao lado de seu irmão, diagnosticado epilético bem jovem, numa época onde isso ainda não possuía nenhum tratamento estabelecido. A família de David busca uma cura sem cessar, conhecendo diversos charlatões e pioneiros no caminho, enquanto o próprio irmão de David afunda num mundo particular. No desenrolar da obra, David começa a descrever as inúmeras histórias que ligam seus pais, avós e bisavós, além dos demais personagens que aparecem, evidenciando o traço em comum de todos: a busca por uma “cura”. Ao longo do épico, perguntas surgem, tais como: o que é a doença? O que é a cura? A cura é simplesmente o fim da doença?

O uso de histórias dentro de histórias cria diversos resultados em Epilético, tais como a noção de família como uma grande rede não só de laços consanguíneos, mas também como um grande legado; o karma vivido por todos os seres humanos, na busca da resolução definitiva de seus problemas; e a construção da moral do próprio autor.

Existem outras formas de trabalhar esse conceito metalinguístico de forma mais acentuada, sem recorrer a mecanismos mais previsíveis como relatos de parentes dentro da história. Em Black Hole, de Charles Burns, é explorado um curioso efeito onde os personagens se recordam de eventos e durante a memória, seus “eus” passados relembram fatos mais priscos ainda. Claro que Black Hole não é autobiográfico e sim uma ficção com inspirações na adolescência de Burns, o que permite essa plasticidade, que não pode ser julgada como subjetividade.

Dureza e Feiúra

Esse aspecto não é exclusividade desse tipo de quadrinhos, mas sim uma realidade presente em absolutamente toda a forma de arte, que é o contraste entre o feio e o belo. Não se trata de uma crítica superficial em cima da arte visual, mas sim de uma análise em cima da própria história e dos acontecimentos.

Tanto o Animismo quanto a Iconoclastia compartilham uma abordagem artística ligada com a vida. Ou seja, tornar arte devido à sua semelhança com a organicidade da vida real, como que esta fosse a única obra de arte real do universo e a expressão humana, meras reproduções da Grande Arte. E a arte da vida trabalha criando nos seres humanos diversas reações, nem todas boas, mas necessárias, pois esta é a reação prevista para que a dita obra cumpra seu objetivo.

A vida humana é imperfeita, pois o próprio conceito de vida perfeita não é concebível, que dirá aplicável. O processo de se tornar humano envolve um sem número de decepções e descobertas de aspectos desagradáveis tanto daqueles que te cercam, quanto de você mesmo. Sobreviver a essas decepções traz uma visão mais lúcida e madura do mundo, permitindo que você controle melhor sua vida.

No discurso da Graphic Novel autobiográfica, busca-se destacar os duros fatos da vida ou as obscuras facetas humanas a fim de dar realismo à obra, cumprindo com seu lado iconoclasta (assim como, na realidade, fazem o cinema e a televisão) Essa acaba sendo a característica que mais chama a atenção dentro desse gênero, pois é um dos subterfúgios mais certeiros e devastadores na busca do artista de “tocar a alma” do leitor. Porém, o exagero nesse quesito pode fazer a obra passar de dramática para sinistra ou até melodramática, e até mesmo exceder os limites da subjetividade, com risco de se tornar uma ficção.

A tal feiúra da vida não se manifesta apenas de maneira abertamente cruel e inumana (ou até veladamente), muitas vezes, como visto em American Splendor, de Harvey Pekar, a vida não é feia por que seja má. O feio, na realidade, é toda a falta de qualquer outra coisa fantástica, o cotidiano sem fim, o limbo. A vida seria o rosto de um homem de mais de quarenta anos, com suas rugas e marcas de cansaço.

Beleza e Singeleza

Na Graphic Novel a beleza pode ser enxergada de diversas maneiras, em especial na própria feiúra. O modernismo e o pós-modernismo se encarregaram de virar do avesso as maneiras de se apreciar arte. O leitor busca ter uma experiência intensa, mesmo que ela seja de quase autodestruição, há uma grande satisfação na demolição de valores e ideologias cuja inocência está em franca dúvida. Claro, isso se tratando do restrito público consumidor desse tipo de HQ, isso não se aplica ao grande público que, por sinal, não consome Graphic Novels.

Mas por detrás de tanto autoflagelo, o que o autor e seu leitor buscam é a redenção, sem dúvida. A purificação e o encontro de algo legítimo, autêntico e, sim, belo. Em muitas partes da trama, o protagonista se deparará com detalhes do mundo que constituem formas transitórias de beleza, perdidas, cercados de escuridão e mundanidade. Pequenos atos ou falas, carregados de significado. Elas passarão, às vezes, despercebidas pelo personagem, mas não pelo leitor, são as singelezas da obra.

O encontro do belo e a redenção costumam ser as ferramentas com que o autor deseja dar fim ao seu conflito. O belo aqui pode significar qualquer coisa, como um sentimento confiável, auto-estima, uma companhia ou, simplesmente, uma resposta. Como a autobiografia se reserva a um recorte da vida do autor, é comum que o protagonista não encontre tal beleza definitiva, mas compreenda que talvez ela não exista ou que um dia chegará, e que o mundo esconde diversas singelezas as quais ele ignorou, mas não o fará novamente a partir de agora. Observe que isso nem sempre constitui um final feliz.

A obra Retalhos, de Craig Thompson, conta com delicadeza o romance entre o próprio autor, filho de cristãos ortodoxos, e uma garota chamada Raina, que possui um espírito livre, mas que guarda dentro de si várias inseguranças. O relacionamento é cercado de momentos de pureza e carinho, e dá a Craig as forças que ele precisa para sair da clausura que sua família e o cristianismo lhe impuseram, mas ele termina, o que deixa Craig desorientado. Craig é obrigado a refletir sobre a autenticidade dos momentos que viveu diante do presente que se tornou passado. Livre de espírito, mas sozinho, Craig enfim decide seguir em frente. Ao contrário do que se poderia esperar, Raina não retorna na vida de Craig, mas este parece ter atingido outro nível de convivência com as coisas que o assombravam.

Arte Alternativa

O fato das escolas Animistas e Iconoclastas terem foco na vida e no conteúdo, não significa necessariamente que a arte seja desleixada, mas sim que não ofusquem o texto e os personagens com preciosismos e detalhes visuais chamativos e desnecessários. Segundo Scott McCloud, as quatro escolas estão organizadas em pares de afinidade (Classicismo e Animismo são tradicionais, Iconoclastia e Formalismo são rebeldes. Classicismo e Formalismo são visuais e técnicos, Iconoclastia e Animismo são viscerais e intuitivos), mas todos os tipos de combinações são virtualmente possíveis, mesmo que opostas em teoria (Iconoclastia e Classicismo, por exemplo).

Claro que a escolha da arte se limita primeiro pelas capacidades do autor, que também costuma ser o desenhista. A partir daí, ele poderá escolher a abordagem visual mais adequada, o que nunca é uma decisão óbvia ou fácil. Em Epilético e Persepolis, a arte transmite um ar infantil e carente de técnica, mas é eficiente e transmite a mensagem com clareza. Seu maior defeito talvez seja seu leque restrito de graus de expressões ou variedade de rostos. Black Hole e Ao Coração da Tempestade de Will Eisner, por outro lado, possuem uma arte bem mais detalhista, como um esmero principalmente no uso do preto e branco (que aliás, são as cores que predominam em Graphic Novels autobiográficas). Podem conseguir criar boas atmosferas, mas não possuem o problema de serem artes muito “inacessíveis” para os aspirantes, o que não ocorre com os desenhos de David B. e Marjane.

Arte e história podem se combinar justamente numa contradição planejada. É o caso principalmente de Maus, que cruza os relatos dos maus tratos sofridos pelos judeus nas mãos dos nazistas com personagens com rosto de ratos, porcos e cachorros, todos simplificados. Nesse caso foi feita uma aposta total em cima dos diálogos e do contexto para que o leitor entenda o que os personagens sentem, mesmo a arte sendo repetitiva e sem expressão.

Mensagem

Quadrinhos ou não, o indivíduo lembra porque viveu, e conta porque há uma lição a ser transmitida, mesmo que não se trate de um adágio ou ideia possível de ser escrita com palavras. Ou mesmo que tal lição não possa se reaplicada na vida de quem lê. Na realidade, o autor pode estar apenas dizendo que ELE aprendeu uma coisa, mas que não necessariamente você, leitor, precise entender. Tudo o que o autor pode estar querendo dizer é: eu estive lá.

A mensagem estará no fim de tudo: da construção do protagonista central, do começo de seu conflito, das pessoas que conheceu e que contaram suas histórias, das lembranças dentro das lembranças, do mundo inóspito ou solitário que teve de atravessar, das belezas que passaram indiferentes, do objetivo final atingido ou da batalha perdida. Após tudo isso, caberá ao leitor refletir e verificar se tal viagem dentro do corpo de outra pessoa lhe expandiu os horizontes, se foi divertida e inspiradora ao menos ou se não passou de um exercício de vaidade do autor.

Linhas animistas têm uma preocupação maior em passar essa dita mensagem, enquanto os Iconoclastas muitas vezes trabalham com a mensagem de “não haver mensagem”, sendo até o fim crentes de que o mundo não é um local feito para ser entendido.

Críticas Gerais

As obras lidas para a conclusão desse artigo não representam nem um décimo do que esse gênero tem a oferecer em termos de obras disponíveis tanto no Brasil quanto no mundo, o que significa, na prática, que todos os conceitos discutidos aqui podem não ser um padrão amplo. Todavia, é incorreto afirmar que são casos isolados, mesmo a bibliografia sendo parca.

Todas as obras citadas aqui valem a pena serem procuradas, lidas e relidas, principalmente se você procura se formar um quadrinista, mesmo que não autobiográfico ou mesmo de Graphic Novels. Para complementar o artigo, é possível utilizar os critérios discutidos e tecer pequenas análises:

Maus, de Art Spigelman, ganhador do Pulitzer, é tido como uma das obras mais importantes do gênero, para não dizer dos quadrinhos em si. A descrição da devastação causada pelos nazistas e da engenhosidade dos sobreviventes para conseguirem atrasar suas execuções chama a atenção, contudo, os personagens, mesmo os principais, não são trabalhados com muita profundidade. O único, talvez, seja o pai de Art, narrador da história, um idoso às portas da morte, mas neurótico e preconceituoso. Nem o próprio autor consegue transmitir autenticidade. A relação dos dois é distante, mas há um esforço para superarem isso, que não se conclui antes da morte de Vladek.

Retalhos, de Craig Thompson, é de fato uma história bem inocente, flertando muitas vezes com o piegas, mas nunca atravessando de fato essa linha. Os personagens principais são bem acabados e a relação entre eles é crível. O autor trabalha bem ao nos envolver no êxtase da paixão dos protagonistas e como ela é abruptamente interrompida por uma súbita insegurança de Raina que nunca é explicada. O final, contudo, é reticente.

Cicatrizes foi feito por David Small, e foi tida como a melhor HQ de 2010. Conta a respeito da relação glacial que ele possuía com seus pais, em especial sua mãe, que ocultava seu lesbianismo. A mãe de Small aparenta estar em conflito dentro de si, procurando fazer seu amor de mãe sobressair ao rancor que tem pelo filho, mas nunca conseguindo. A avó de David possui traços sociopatas, uma característica ignorada pela mãe de David. Mais tarde, devido a um erro de procedimento de seu pai, David acaba adquirindo câncer e também uma cicatriz no pescoço que o impede de falar.

A obra parece francamente incompleta em muitos sentidos, mas não se assume iconoclasta a despeito disso. A arte faz uso de quadros que tomam quase a página toda, com aquarelas cinzentas, buscando referir ao silêncio, mas não passando de grandes e desajeitados desperdícios de espaço (talvez por Small ser um pintor), tornando o livro polpudo, mas curto demais. O conflito não é bem desenvolvido, dando a impressão de estarem faltando diversos outros pedaços, que seriam essenciais. Muitas oportunidades de desenvolvimento são perdidas ao longo da obra que, na realidade, é muito pretensiosa. O final é insatisfatório, não convencendo o leitor que de fato a mãe de Small fora um obstáculo tão grande.

Persepolis, de Marjane Satrapi, é bem ordenado e repartido em pequenos episódios, o que sugere hiatos e não um recorte contínuo da vida da autora. Assim como em Maus, os personagens principais, os familiares de Marjane, não são bem desenvolvidos, só representando as partes que a autora desejou lembrar deles. Isso, no entanto, ainda está de acordo com o conceito de um livro de memórias. Talvez por ter vivido numa época, num país e numa família onde a consciência política era valorizada, a autora dedica muito tempo a explicar os joguetes e figuras importantes da guerra que a cerca, o que deveria tornar o livro educativo, mas acaba sendo irritante na maioria das vezes. No entanto, a proposta do livro de fato é ser mais histórico e politizado do que seus equivalentes.

Epilético, de David B., descreve sua saga ao lado dos pais, que lutam para achar a cura da doença de seu irmão, a epilepsia. Cobrindo um largo intervalo da vida de B., a obra quase não poupa detalhes. A memória do autor consegue resgatar desde as brigas nas ruas de seu bairro na infância, passando pelos livros que leu, até as histórias particulares de cada curandeiro e médico que conheceram. Talvez por isso, os dois livros não sejam fáceis de ler continuadamente, tampouco de forma picada, pois o volume de informação é muito.

Epilético é europeu de fato, pois se assemelha muito a um filme dessa linha, tanto na sua arte demasiada escura quanto na sua narrativa carregada de viagens ao subconsciente e passagens muitas vezes secas. O protagonista consegue ser facilmente assimilado pelo leitor, pois possui os mesmo traços que a maior parte dos aspirantes a quadrinistas. O irmão de B. também é um personagem muito bem elaborado. Misterioso, ele já não compreende mais seu lugar no mundo e aos poucos vai desistindo da cura, preferindo se isolar aos poucos do mundo real. Não se sabe ao certo, ao fim da obra, se o irmão está vivo ou morto.

American Splendor, de Harvey Pekar, foge dos padrões normais de uma autobiografia, pois ao passo que a maioria dos autores busca relatar fatos conturbados de sua vida, Pekar simplesmente retrata a monotonia de seu viver. São pequenos episódios onde vemos o arquivista Harvey lidando com seus colegas de serviço intrometidos, seus amigos sanguessugas, suas tentativas de comprar e vender discos de jazz, entre outras coisas que poderiam parecer fascinantes para nós, mas não para Harv. As histórias começam do nada e raramente terminam de modo claro, e também não possuem uma linearidade. Ao término da leitura, o leitor pode ser abordado por outro interessado que vai lhe perguntar: O que acontece nessa história? Ao que o leitor responderá: Nada, mas ai é que está.

Ao Coração da Tempestade é um retrospecto da vida de Will Eisner, só que na forma quase de livro ilustrado, com uma forte inclinação Classicista. Cobrindo parte da sua infância, seu desenvolvimento como artista, até quando a guerra entra em seu caminho, a obra não é a primeira do gênero (vide o texto recomendado), mas foi a primeira mais conhecida. Apesar da fama de seu personagem, Spirit, Eisner foi um romancista muito melhor do que roteirista. Todos os seus livros baseados em lembranças, com ênfase em Um Contrato com Deus, são ótimos. Todavia, o livro em questão sofre com sua idade, já que narra a saga com saltos e textos diretos, formas tradicionais demais de contar histórias, fazendo o personagem simplesmente ir do ponto A ao ponto B. Mesmo assim, Eisner foi pioneiro e ler sua biografia é mais que um ato de aprendizagem do básico, é um ato de respeito.

Por Que Tudo Isso?

Para você que chegou até o fim desse longo artigo, deve surgir a dúvida: Para que tabelar tudo isso? Eu sou obrigado a seguir essas indicações? E se não for, então para que elas servem?

Como dito no início do texto, quase não há como diferir Graphic Novels de quadrinhos indies, pois as primeiras são de qualquer maneira quadrinhos independentes. Porém, o contrário não se aplica: nem todas as obras independentes são Graphic Novels. Por quê? Por causa do acabamento? Por que são feitas por profissionais? Por que uma editora simplesmente disse que era ou não era?

Para definir o que uma obra é ou não, imagina-se que devemos perguntar isso direto ao artista. Aquilo que ele quis fazer, em tese, deveria ser o que a obra é. Mas mesmo isso não será suficiente, se o artista não quiser rotular a obra, não souber ao certo o que fez ou não ter certeza de que atingiu todos os pré-requisitos que elegeu para a missão estar cumprida. Esses requisitos, por mais individuais que sejam, são altamente influenciados pela expectativa que as demais pessoas têm da obra. E haverá situações onde, dependendo da forma, função ou conteúdo da obra, o artista não conseguirá argumentar contra o coletivo. Por exemplo, se um artista faz uma história em quadrinhos mas diz que pintou um quadro, ainda assim teríamos de concordar com ele?

Claro que veículo/mídia e gênero são coisas diferentes. O primeiro abrange toda uma forma, enquanto o segundo os conteúdos e suas abordagens. Mas também é certo que as mídias em si também são segmentações de algo maior, que é a arte. E a arte é um segmento de algo maior que ela, a vida humana. “A base da cultura humana é a lista” já disse Joseph Campbell, antropólogo de grande renome mundial. Isso por que humanos gostam de nomear e organizar coisas. É um processo não só comportamental, como instintivo, usado principalmente para sua manutenção social.

Scott McCloud também complementa dizendo: “Se você criou algo bom, é bem certo que outros queiram imitar. Se houverem pessoas suficientes imitando, você tem então, um gênero.” Ele também explana que, quando um gênero é fundado, surgem diversas expectativas em cima dele que vão determinar seu funcionamento básico e seu sucesso em incorporar aquela identidade. Dependendo da ramificação do gênero, as expectativas podem ser muitas ou poucas.

É natural ter uma revolta contra a ideia de gênero, sobretudo nos tempos atuais, onde os indivíduos buscam firmar uma identidade original, mas nunca conseguindo, pois a indústria cultural massifica tudo que os cerca, reduzindo a fórmulas prontas. De fato quando algo novo é descoberto e lhe é dado um nome, ele automaticamente é carimbado e deixa de ser uma surpresa. Quando ele se torna um nome, também se torna um símbolo, que pode ser passado adiante pelo processo comunicativo (conversas, escrita, desenhos) que, como a própria palavra indica, é o processo de tornar comum.

Mas o que fazer então? Voltarmos aos tempos onde certos segmentos da sociedade tinham o conhecimento, enquanto outros não? Estamos indiscutivelmente numa era não de democratização da informação, mas de amplo acesso a ela. Não quer dizer necessariamente que a novidade tenha morrido, o que se percebe na verdade é o contrário. Todos os dias nascem dezenas de novas tendências, que são desde derivados de outras mais antigas, repaginações ou até mesmo fusões e misturas. Podem ter vida longa ou curta, dependendo de sua real qualidade, mas tendo existido, são automaticamente parte da História Humana.

E como tal, existirão indivíduos interessados em estudá-las e decifrá-las. E em seguida, oferecer suas descobertas para aqueles que quiserem apreciá-las.

Rafael Martins



Última edição por Kio em Qui Ago 25, 2011 4:29 pm, editado 1 vez(es)
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TEXTOS REVISADOS # 23 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 23

Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 10:21 am

FARRAZINE - Como seria a definição do Pipoca e Nanquim para o público que não conhece ainda o trabalho de vocês?
Daniel: Um bate papo descontraído e informativo sobre cultura pop, focado em quadrinhos e cinema, apresentado por três fãs ardorosos da sétima e nona arte. Gostamos tanto de falar sobre isso que gravamos videocast, podcast, mantemos um site com textos diários e lançamos um livro em Maio passado, chamado “Quadrinhos no Cinema”. Ufa!
Bruno: A razão de existir dos programas e o do site são as indicações de filmes, quadrinhos e outras coisas. Nos dividimos entre material mais desconhecido, e também obras de conhecimento mais geral, pois o público gosta de conferir o que temos a falar sobre tudo que está saindo.
FZ - No site há um breve, mas detalhado, perfil dos 3 responsáveis por levar o Pipoca adiante (Alexandre Callari, Bruno Zago e Daniel Lopes) e nele podemos ver uma forte influência nerd. Daí surge a pergunta: todos os nerds têm as mesmas idiossincrasias?
Daniel: Acho que não. O único ponto em comum, acredito que seja a dedicação e vontade de conhecer a fundo uma obra, seja livro, quadrinho, game, filme ou computadores... enfim. Nós desenvolvemos o PN, pois possuímos afinidades de gostos e adquirimos um entrosamento muito grande. Mas não dá para afirmar que todo nerd têm as mesmas idiossincrasias.
Bruno: Acredito que não. Nem todo nerd lê quadrinhos, por exemplo, nem todos gostam de assistir séries de TV ou jogar videogame e por aí vai. Por coincidência, nós três temos gostos meio parecidos para material considerado nerd, mas não podemos afirmar que seja um perfil que se aplique a todo mundo. O próprio termo nerd hoje em dia é confuso. O que é um nerd? Seria aquela pessoa retraída, sem namorada, que fica o dia todo no quarto, entende tudo de informática, cdf pra caramba e que não bebe uma cervejinha aos fins de semana? Esse perfil obviamente não cabe a nós e outros conhecidos. Agora, se ser nerd significa curtir HQs, filmes, séries, games, etc. e levar esses assuntos para uma roda de amigos, aí sim nos encaixamos no termo.
FZ - Vocês mantêm videocast, podcast, colunas sobre cinema, quadrinhos e etc... Há alguma coisa mais que vocês têm a intenção de fazer? Não digam uma revista virtual porque esse trabalho já é nosso! (Risos)
Bruno: Queremos lançar mais livros sobre quadrinhos e, da mesma forma que o Alexandre já escreveu um romance, eu também mantenho esse sonho há um tempão e em breve quero produzir alguma coisa! Queremos lançar uma graphic novel nas livrarias um dia.
Daniel: Revista virtual já tem a de vocês que é primorosa, queremos fazer uma revista impressa mesmo (e já estamos correndo atrás disso) e quem sabe no futuro abrir uma editora! Isso seria a glória para nós. Por último, temos intenção de ganhar todas as HQs, livros, games e DVDs lançados no Brasil e se possível dinheiro com esse nosso trabalho todo! Risos.
FZ - O livro “Quadrinhos no Cinema” foi a primeira incursão de vocês no ramo literário? Existe a previsão pra mais trabalhos nesse campo?
Daniel: Minha e do Bruno sim, o Alexandre já publicou outros três livros, mas não de cultura pop, em Julho foi lançado Apocalipse Zumbi – Os Primeiros Anos (Ed. Évora – 2011), primeiro romance de zumbis escrito por um brasileiro.
Bruno: E existe previsão de outros trabalhos, queremos escrever mais volumes de Quadrinhos no Cinema, sobre as próximas adaptações de quadrinhos, mas isso depende de como essa primeira edição irá se comportar no mercado.
FZ - Vocês sentem que influenciam a galera que frequenta o site de alguma maneira? Como vocês lidam com os comentários, sejam positivos ou negativos?
Daniel: Sim, sentimos. O PN é basicamente um canal de opiniões e indicações de material que achamos ótimo e que merece ser divulgado. Quando 50, 80, até 200 mil pessoas descobrem que gostamos de alguma obra, muitas procuram para comprar. Com o tempo o público vai percebendo nossos gostos pessoais e predileções, então sempre têm gente pedindo dicas do que, onde e por que ler ou assistir, isso é comum.
Bruno: Alguns nos acusam de sermos culpados pelo gasto excessivo de dinheiro em quadrinhos e DVDs. (risos).
Daniel: Os comentários são fundamentais para o desenvolvimento do site. É o único termômetro que temos e procuramos responder a todos, inclusive dedicamos um bloco do nosso videocast para a leitura de e-mails e explicações.
FZ - O podcast toca em uma Rádio de Araraquara, qual é o feedback e a aceitação de uma mídia para web, fora dela?
Daniel: Tanto nosso podcast quanto videocast são exibidos fora da web, na verdade inicialmente eles surgiram para rádio e televisão (o programa passa em um canal fechado aqui em nossa região). Mas não pensamos neles como coisas distintas, achamos que funciona bem em todos os veículos. Se um dia algum canal aberto quiser nos contratar, estamos aqui para isso!
Bruno: O único cuidado que temos de ter é na Rádio. Devido a grande quantidade de ouvintes leigos nos assuntos que abordamos, temos que dar explicações que para o público da internet seriam desnecessárias (por exemplo, dizer que Marvel e DC são editoras norte-americanas de super-heróis). A gente sabe que tem senhores que ouvem nosso programa jogando truco em boteco, por exemplo, curtindo o rock’n’roll que sempre colocamos pra tocar. Aliás, os blocos musicais existem por exigência da Rádio, por isso somos o único podcast da internet com seleção musical.
Daniel: O feedback rola por e-mail, twitter, facebook ou comentários no site, não importa onde a pessoa nos assiste/ouve, as mensagem que recebemos são parecidas e felizmente em sua maioria, muito positivas.
FZ - De todos os programas feitos até agora, quais seriam os mais destacados do ponto de vista da polêmica ou da diversão? Ou os dois! (risos)
Daniel: Achamos que o mais divertido foi o podcast sobre Adaptação de Games para o Cinema, como só tem filme ruim, lembramos de várias pérolas! Recentemente gravamos um sobre Pirataria, algumas pessoas torceram o nariz para algumas das opiniões emitidas sobre scans e downloads de filmes, mas rolou uma discussão muito saudável nos comentários. No videocast gravamos um sobre Quadrinhos Eróticos com muito pé atrás, pois o canal em que exibimos na televisão poderia chiar, mas foi tudo numa boa, o pessoal adorou, pois apesar de falar de sacanagem não escorregamos para o escracho. Na época do Natal nos desafiaram a fazer um sobre o tema, gravamos e foi muito legal, têm filmes que quadrinhos sensacionais que se desenrolam nesse feriado.
Bruno: Eu gostei muito de gravar os videocasts sobre zumbis, por mim só teria os comedores de carne e cérebro como tema! Mas sem dúvida, nosso podcast de maior sucesso até agora foi o primeiro sobre Game Of Thrones, e videocast foi o do Alex Ross.
FZ - Não podemos deixar de notar as músicas que acompanham a trilha sonora do podcast, já que vocês possuem um excelente gosto musical. Qual é o critério para a escolha das músicas de cada episódio?
Daniel: O critério é tão somente nosso gosto. Cada um possui um bloco com duas músicas e nos revezamos para as duas do quarto e último bloco. As duas primeiras são de minha escolha, depois o Alexandre e por último o Bruno. É fácil reconhecer, pois sempre anunciamos nossas próprias escolhas. Tocamos muito rock ‘n’ roll, mas sempre tem vez para jazz, blues, MPB...
Bruno: No inicio achávamos que sempre conseguiríamos igualar nossas escolhas com o tema em debate, mas logo vimos que isso não ajudava em nada, só atrapalhava, então hoje simplesmente aproveitamos o espaço para também indicar e relembrar boas bandas.
FZ - Normalmente o cotidiano sempre pede por mais atenção do que nossos hobbys, não é? Nesse caso, o Pipoca e Nanquim já conseguiu a tão desejada independência? Ou ainda há que se moldar a "first life" com o site?
Daniel: Putz, ainda não! Mas estamos lutando para isso, seria maravilhoso poder viver com o que realmente gostamos de fazer. Todos nós temos empregos "mundanos", que infelizmente ocupam partes preciosas de nossa força e tempo. Quando os três puderem se focar somente no PN a coisa vai explodir!
Bruno: Acho que não há mal algum em querer dinheiro trabalhando com seu hobby, certo?
FZ - E já falando da "first life", como é o cotidiano da galera fora do universo virtual?
Daniel: Cara, muita normalidade. Eu moro com minha namorada, coleciono discos de vinil, trabalho no período noturno no núcleo de TV de uma universidade.
Bruno: Eu trabalho o dia todo com publicidade e marketing, na mesma universidade que o Daniel, e a noite eu dou aulas de marketing em cursos técnicos da ETEC de Araraquara. No meu pouco tempo livre, me divido entre ler quadrinhos e ver filmes para apresentar no PN e
sair com a namorada e os amigos. O Alexandre é o único (por enquanto) profissional autônomo. Ele trabalha com traduções e é escritor. Ele é mais velho que nós dois, já é casado e tem mais obrigações familiares.
Daniel: Todos nos colecionamos quadrinhos, claro! E por incrível que pareça sempre juntamos um pessoal pra comer pizza, tomar cerveja e conversar sobre esse hobby. Esporte que é bom, nada!
Bruno: Mas não por falta de vontade, por falta de tempo! Que fique bem claro. (risos)
Daniel: No meu caso é por pura falta de vontade sim!!
FZ - Quais são os sites - nerds ou não - que vocês mais curtem?
Daniel: Eu diariamente dou uma olhada no Universo HQ, Omelete, MDM, Nerd Somos Nozes, Comic Alliance e CBR, Cinema em Cena, Whiplash, Collector´s Room... Assino feeds de vários outros e os visito quando pinta alguma matéria bacana.
Bruno: Vejo as notícias nerds no Judão e no Omelete (só as noticias, não leio as criticas e nem assisto o programa deles), ouço os podcasts Matando Robôs Gigantes, Pauta Livre News e as vezes o Nerdcast, e sempre acesso os sites que são parceiros do Pipoca e Nanquim: Nerds Somos Nozes, Área 171, Soc Tum Pow, iCult Generation e outros. Visito religiosamente o Universo HQ toda sexta-feira, para conferir os novos reviews. O único videocast que gosto mesmo de assistir é o Cabine Celular, mas confesso que vira e mexe vou ouvir as abobrinhas do Mas Poxa Vida. Fora do conteúdo nerd, acompanho vários sites de marketing e design, tenho muitos feeds no meu Google Reader. De vez em nunca acesso Chongas, Sedentário e outros com conteúdo de humor.
FZ - Tem algum assunto que vocês ainda não trataram no videocast ou podcast que, apesar de estar em pauta, não se concretiza nem com reza braba?
Daniel: Nossa, tem um monte. Policiais, Filmes Noir, Sandman, Star Wars... Sei lá, são meio cabalísticos. Mas vamos fazer, na verdade pensar nisso pra entrevista está me dando ainda mais vontade de gravar!
Bruno: O Alexandre e o Daniel nunca querem gravar sobre Kick-Ass, Zumbis partes 3 e 4, filmes que dão medo pra caramba, entre outros. Tenho que revelar que tenho medo de falar de Star Wars e Star Trek, visto que certamente o público é muito mais fã disso do que eu.
FZ - Vocês podem contar dois segredinhos sobre o Pipoca e Nanquim que a galera não conheça, com exclusividade para o Farrazine?
Daniel: O Bruno Zago não terminou de ler Sandman, Preacher e Lobo Solitário. Eu tenho muito mais quadrinhos do que já li, mas isso é bom, biblioteca inteira lida fica chata. O Alexandre Callari é muito fã de Cristina Aguilera.
Bruno: O Daniel é um mentiroso! Teoricamente nenhum brasileiro acabou de ler Preacher (eu não li os scans, oras!) e já acabei sim o Lobo Solitário. Sandman... putz, é verdade, as circunstâncias nunca me deixaram terminar, os encadernados sempre foram caros e o cara que me emprestava a versão antiga da Globo não tinha tudo. (risos) Também tenho quadrinhos que ainda não consegui ler.
FZ - E há alguma pergunta que não fizemos que vocês gostariam de ter respondido? O espaço é de vocês!
Bruno: Quando saem nossos videocasts e podcasts? Toda sexta-feira e segunda-feira, respectivamente, sem falta! Se quiser que seu programa dê certo na internet, seja rigoroso nas postagens! E sigam o @PIPOCAENANQUIM no twitter, e também Facebook, têm sempre boas promoções rolando e são canais para batermos um papo!
Daniel: Em breve vamos começar a postar vídeos mais curtos no Youtube, com indicações variadas, não percam! Agradecemos demais por essa entrevista, é uma honra para o Pipoca e Nanquim aparecer em nossa revista digital favorita! Sucesso a todos!

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Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 10:31 am


AINDA EXISTE AQUELE AMOR – Brenno Dias

#

-Pra que fotos que paralisam o que não é mais verdade?
-Pra que cartas que registram coisas no verbo do passado?
-Pra que lembranças que só alimentam a amargura da alma?

É o que o coração daquela mulher pergunta ao flagrar seu marido saindo do motel com outra mulher. Ela não acredita no que vê, não acredita que um casamento de dez anos está se resumindo naquilo. A atenção dela se foca na lanterna do carro do marido, que assinala para uma direção contrária da casa deles. O carro some no meio do trânsito noturno. Mesmo que não sumisse ela não iria mais conseguir enxergar nada, as lágrimas inundam os olhos e é preciso fechá-los. De olhos fechados soluçando sobre o volante do próprio carro estacionado, a mulher vê novamente a cena que o carro sai do motel, mas agora observa que ao lado do marido, a amante estava vestindo várias saias, saias ciganas que preenchiam todo o interior do carro...

#

Carla acorda de seu pesadelo, suada e muito assustada. Ao se levantar procura seu marido ao lado da cama e ele não está. Acende a luz do quarto procurando algum relógio e pode ver que marcava poucos minutos antes dos minutos que se passavam no pesadelo. Ela fica sem ar e muito apavorada, o ciúme se mistura aos sentimentos, logo corre pro celular e quando vai discar o último número do celular do marido, ela se lembra da conversa que teve com a vizinha. A dúvida por influência do ciúme sonda seu coração por alguns segundos, mas decide dar crédito às palavras de sua vizinha, aliás, aquela conversa não tinha sido por acaso, a vizinha não sabia da crise no casamento dela. Carla joga o celular sobre a cama e corre até sua estante na sala do apartamento... Pega a bíblia que havia ganhado de presente da mesma vizinha e cai de joelhos aos pés do sofá. Ela sem rumo começa uma oração a Deus. Mesmo não sabendo como orar, ela mais uma vez acreditou em sua vizinha quando havia dito que o Espírito Santo de Deus iria ajudá-la a orar.

Bem longe dali, Paulo, o marido de Carla, está num quarto de motel à espera de sua amante, mas minutos se passam e ela não chega. Paulo fica impaciente e começa a procurar o número da amante no aparelho celular, mas nada do número aparecer. Ele estranha, jurando pra si mesmo que havia anotado o número no aparelho, e procura por algum possível papel que estivesse anotado o número. No meio da procura, Paulo revê na carteira a foto de sua esposa. Sem entender o porquê, começa a sentir nojo do quarto onde está e sente o prazer ser trocado por uma saudade, saudade da esposa, aquela saudade que existia no inicio do relacionamento. Paulo sai do quarto e, a caminho do carro, liga para casa.

- Alô!?
- Meu amor, me desculpe! Estou louco de saudades!
- Paulo é você?
- Não meu ouviu, amor? Estou louco de saudades! Sei que passam das três da madrugada, mas conheço um restaurante que ainda está aberto. Arrume-se que estou indo te buscar! Hoje teremos uma lua de mel. Beijos!

Aquela casa que estava um jardim de flores cinzentas acaba de virar cena de filme romântico. Carla fica pasma com a atitude do marido após a oração. Com felicidade ela desliga o telefone e começa a chorar de alegria, agradecendo repetidamente ao novo Deus que a vida dela acabou de sentir. No momento que consegue controlar a emoção, ela volta a ouvir o pastor que falava na programação de televisão que estava assistindo e o responde com uma fé que não conhecia:

- Sim! Eu quero entregar a minha vida a Jesus. O meu Deus de Amor!
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Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 10:41 am

Andanças por um Local Distante


Ramuel viajava. Andar era só o que sabia fazer. Passeava por entre os países, costumava conversar com as pessoas próximas aos reis, rainhas, tiranos e acabava sabendo, meio que sem querer, o que pensavam todos os diversos soberanos da região.

Parou para beber vinho em uma estalagem da estrada que conectava todos os reinos.

- Ramuel, está sabendo? - Perguntou sussurrando, o dono que atendia os fregueses por trás do balcão.

- De quê?

- Da guerra.

- Guerra, você diz?

E o dono anuiu.

- Mas, por quê?

- Dizem os viajantes que param aqui que algum rei guarda um tesouro. E que todos os outros vão tentar tomar para si.

Isso amedrontou Ramuel, ele não gostava de violência. Decidiu pesquisar a respeito.

Em 2 dias entrou na capital de Hur e procurou por seu conhecido que sabia das coisas, mas não o achou de início. Encontrou um albergue e decidiu que lá se estalaria até que o encontrasse, para saber o pensava o rei e se a tal guerra viria.

- Tem quarto? - Perguntou ao funcionário, que anuiu. - Gostaria de um.

Foi andar pelas ruas com o intuito de procurá-lo. Maravilhou-se com a arquitetura dos prédios com até 4 andares, muitas janelas e o domo arredondado. Percebeu como as pessoas que lá viviam eram tratadas pelos funcionários reais. A forma de governar o povo se refletida na rua nos vários empregos que garantiam a sobrevivência de alguns e faziam com que Ramuel entendesse mais sobre aquele local. Não encontrou o informante.

Antes de ir embora, viu alguns centauros adultos que, com espadas na mão, treinavam duro e forte. Segundo seus cálculos seria para a tal batalha. Para não perder tempo e com medo iminente, foi ao próximo reino.

O reino de Har.

Chegou na capital, mas agora tinha em mente achar um velho conhecido, amigo de um amigo, que por si conhecia outro amigo que achava que era um dos conselheiros do rei.

- Ramuel, quanto tempo. - Disse sorrindo. - Venha conhecer minha casa e família.

- Meu velho amigo, não temos muito tempo para cumprimentos. Preciso lhe falar sobre a guerra. - O conhecido mudou de semblante.

- Sim, entre, vou lhe contar o que sei.

Ele entrou. Por lá passou a noite. No dia seguinte, saiu de sua casa satisfeito do almoço e da conversa. Foi andar pelas ruas da capital para tentar achar transporte ao terceiro reino.

Pelo que Ramuel notou, em Har havia prédios maiores, delgados e menos janelas. A rua era menos suja, porém os mendigos eram tantos que se confundiam com os habitantes. Notou alguns bichos esquisitos, como fênix e filhotes de dragões, e quando viu a criação dos animais se lembrou para o que as criaturas seriam utilizadas.

Tremeu.

Respirou fundo e voltou a andar.

Somente depois de 2 dias encontrou quem o levasse ao outro reino para que pudesse continuar sua missão.

Atingiu Her ao meio do dia, ou pelo menos era o que pensava de acordo com os 3 sóis que os iluminavam. Ramuel notou agora que outra arquitetura reinava no país daquele soberano, com prédios altos como Har, porém mais largos, mas com amplas janelas que permitiam entrar a brisa da tarde. Caminhou pelas ruas sujas, com tantos ratos quanto mendigos.

Parou em frente a sede administrativa. Ali, via entrando e saindo pessoas com roupas diferentes e notava pela língua comum falada que eram vários os funcionários governamentais diferentes. Continuou e passou embaixo de um grande aqueduto até atingir a casa de seu informante.

- Chame seu mestre. Diga que Ramuel está aqui.

Enquanto o servo o chamava, ele observou quando alguns batalhões passaram por ele rumo ao descampado em frente ao grande castelo. Eles só levavam quimeras adultas, porém muitas delas e algumas expeliam fogo pela boca.

- Ramuel, entre rápido. Vamos.

E Ramuel entrou. Sentou-se na sala e o servo veio com chás e biscoitos para os dois.

- O que se passa em Her?

- É muito complicado, Ramuel.

- Entendo. É pior do que se suspeitava? - O informante anuiu. - O que podemos fazer?

- Não sei.

- E quando começa?

- Acho que em alguns dias.

- Então eu vou. Ainda preciso ir a Hir e Hor, tenho conhecidos por lá com quem falarei.

- Alguma instrução, senhor?

- Sim, descubra mais sobre o rei e envie-me por ave.

O informante anuiu e Ramuel saiu.

Passou por Hir e não encontrou nenhum conhecido e por lá não ficou nem 1 dia. Mas pelas horas que passou não pode deixar de notar as casas de pedra em que viviam os moradores, e no castelo de mármore em que o rei vivia. Além das roupas dos trabalhadores reais, muito bonitas.

Chegou a Hor à noite, depois de 2 dias e meio.

Mesmo preocupado, não pôde deixar de notar a arquitetura. Prédios com aparência sinistra, de cores escuras, ruas mal iluminadas, mas estranhamente não tão sujas quanto os outros reinos. Com poucos ratos e quase nenhum mendigo.

Ele passou por um cercado onde viu quimeras e dragões dormindo.

Agora estava quase aflito.

Correu para procurar seu primo, que trabalhava como consultor de um dos nobres que auxiliava o rei. Parou em frente da sua casa e mandou chamá-lo. O parente veio em questão de minutos.

- Ramuel, o que faz aqui?

- A guerra. O que acontecerá a todos nós?

- Venha que lhe contarei tudo.

Ramuel entrou.


FIM


Pablo Grilo

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TEXTOS REVISADOS # 23 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 23

Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 10:46 am

Bem aventurados os que são coxos

Que fique bem claro a minha sensatez, pois não sou um qualquer. Trate a mim como um deus, mas não um deus qualquer. Um deus coxo. Não sois filho de Hera, tampouco meu nome deverás ser Hefesto. A minha religião deve-se ao sincronismo dos indo-europeus até os povos da Ásia menor e, talvez até mais, some aquelas terras nunca acessadas por Alexandre e verás um pouco da minha religião de costumes típicos. Filosofias e aforismos à parte, devo focar em minhas aventuras motivo este desta escrita trágica (ou cômica para os que gostam de um malfeito). A busca que tive ao início foi pelo conhecimento e nada melhor que Platão para instruir-me em sua notável escola aristocrata. Fui de encontro ao mestre, pedi-lhe para que me aceitasse como seu discípulo. Eis que Platão responde.
- Gostas de música, meu caro?
- Claro!
- Ótimo. Sabes que a música molda o caráter e aqueles que odeiam as liras não serão bem vindos aqui.
- Amo a música. Poderia eu me tornar seu discípulo?
- Infelizmente não. Percebi que ao chegar, tu és coxo.
- Sou sim.
- Sendo assim, não podes porque és coxo.

É necessário deixar bem claro que meu olhar não é coxo e meu pensar também não é coxo… O que me torna coxo são só meus membros inferiores com o meu andar. E por que não disse isso ao mestre? Ora, isso não faria diferença. Até porque resolvi arriscar na carreira militar. Procurei Napoleão…
- Aprecio sua coragem…
- Obrigado senhor!
- Porém, não posso recrutá-lo. Tu és coxo!

Pensai bem junto a mim: como ter ao lado um companheiro de guerra coxo? Seria um coxo capaz de salvar alguém? Mais provável ele ter de ser salvo a todo momento. Isso com certeza empacaria e até desmontaria a estratégia militar. Napoleão fora sensato e nada tive a declarar. De certa forma, precisaria mesmo era de uma companheira. Pensei em Eusébia, mas ela também era coxa e não queria alguém que fizesse par da mesma deficiência. Veio-me a mente os mesmos pensamentos de Brás Cubás, “Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita”. Isso não faria sentido, aliás… isso nunca daria certo! Pensei em ambos ao segundo andar de um sobrado, então a campainha toca… Nenhum deles seria capaz de abrir a tempo! Definitivamente, não daria certo.

Havia uma mulher que eu desejava e que já foi desejada por muitos, dentre eles poderosos nobres e reis, Menelau foi um deles. Atualmente ela é a prometida de Páris. Eu deveria ter Helena, de Esparta, para mim! Consultei a deusa do amor.
- Afrodite, acredite em mim! Darei um marido melhor que Páris. Deves me conceder Helena…
- Isso quem decide é ela. Tudo que posso fazer é colocá-lo diante dela e o trabalho de D. Juan será seu.
Não tinha nada a perder. Coloquei-me ao encontro de Helena! Páris era um medroso e nenhuma mulher desejaria tal impotência. Um homem que necessita de uma deusa para se proteger não conseguiria defender a beldade que é Helena, capaz de causar uma guerra! Esta era a principal arma deste coxo!
- Helena! Sejas minha esposa. Garanto que não se arrependerás, pois não sou um covarde como o filho de Príamo!
- Mas tu és coxo.

Esta resposta não necessitava de nenhuma réplica… A verdade foi dita. Sem conhecimento, sem ao menos um reconhecimento e agora, sem uma companheira para o fim de meus dias, resta-me a melhor companheira do homem, aquela para todas as horas. Sem pensar duas vezes, passei a lâmina em meu pescoço, senti dores, porém rápidas e logo nada mais estava em meu campo de visão. Apenas uma silenciosa escuridão. Tempos depois (não sei dizer exatamente o quanto), acordo e me encontro em meu quarto exatamente onde executei meu próprio assassinato. Com o meu sangue que escorrera pelo chão formou-se uma frase.

“Não posso levá-lo, pois tu és coxo”.
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TEXTOS REVISADOS # 23 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 23

Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 1:52 pm

CURSO DE ROTEIRO (DIVULGAÇÃO - AGENTE) - 1 PÁGINA

O curso de roteiro para histórias em quadrinhos visa ensinar ao aluno como transformar suas ideias em histórias e a organizá-las dentro de um roteiro. Além disso, algumas das aulas apresentadas podem servir como base para criação de personagens e histórias em outras mídias que se envolvem com a criação de uma história, como: cinema, contos, romance etc. Este curso é composto por sete aulas, que são: Proposta (Organizando as ideias), Narrativa (Guiando as ideias para uma boa história), Criação de Personagem (Usando o eixo da história), Diálogos (Dando um bom “som” aos quadrinhos), Planos & Ângulos (Enquadrando as cenas), Transições (Movimentando as cenas) e Roteirização (Texto técnico para a produção da HQ). Dando assim ferramentas para criar a história perfeita dentro do roteiro ideal.

Site:

www.ipstudio.com.br


Informações:

Endereço: Avenida das Américas 3959, loja 120 - Shopping Marapendi. Barra da Tijuca - Rio de Janeiro Ligue para gente 2430-7013 ou 9629-0319.

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TEXTOS REVISADOS # 23 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 23

Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 2:02 pm

Sr. Porfírio
Por Rita Maria Felix da Silva


Naquela noite do último dia de janeiro, quando Zaira veio novamente visitá-lo, Amaleque Dias estava a apenas uma semana de completar cinquenta anos. Ele a considerava supersticiosa, muito crédula e, portanto, um pouco tola, mas, por alguma razão, ainda gostava dela. Em alguns momentos, até se permitia mergulhar nas recordações do tempo em que foram namorados.
Amaleque estava na poltrona da sala, lendo o segundo volume das Enéadas, de Plotino, quando Zaira entrou. Ela trazia consigo um livro de capa acinzentada e, quando o estendeu para ele, era possível se ver uma grande mancha de tinta azul, provavelmente de caneta esferográfica, próxima ao título.
— Olha! Eu tenho uma coisa incrível para te mostrar! — disse ela.
Havia momentos em que Zaira era tediosa, ele pensou, afastou os olhos de Plotino e disse, com certo desdém:
— “Anotações sobre Vegetarianismo”, de Saul Hagag? Desculpe, mas tenho esse livro. Não é novidade para mim.
— Tá! Você é precipitado, Amaleque. Não é isso, é algo extraordinário, acredite.
— Zaira, estou um pouco ocupado, como pode ver, mas a educação me obriga a deixar que você me mostre, seja lá o que for, apenas não me tome muito tempo, está bem?
Ela animou-se e recolheu o livro para si. Havia algo de criança que sobrevivera naquela mulher de quase quarenta anos, pensou Amaleque, alguma inocência que chamava a atenção, que ainda o atraía:
— Bem, esse livro aqui foi de um tal Sr. Manoel Porfírio, um velhinho aposentado, que vivia sozinho, sem família, numa casinha antiga, lá no bairro em que moro. Era querido por todos, só que meio recluso. Cometeu suicídio semana passada. Perto do corpo, encontraram o copo em que ele tomou veneno. O Sr. Porfírio não tinha herdeiros, aí os vizinhos pegaram o que puderam. Não olhe para mim com essa cara: eu não participei disso. Mas uma vizinha minha, do tipo obcecado com dietas, achou esse livro, estava me mostrando quando descobri uma coisa incrível nele. Sem que eu contasse a ela o que foi, eu a convenci a me emprestar, li e reli o que achei, e vim correndo te dizer.
— E o que foi? Alguma mensagem codificada? Uma teoria revolucionária da conspiração? Num livro de Hagag? Ora, por favor, tenha paciência…
— Olha, essa sua mania de bancar o cético me ataca os nervos, sabia?
— Não é mania, eu sou cético e racional, duas coisas que recomendo para todos.
— Será que não acredita em nada?
— Em mim mesmo… Na maioria das vezes… Desculpe. Estou sendo tão indelicado, é que um dos poucos prazeres de minha vida é ver você irritada assim. Bem, mostre-me o que te pareceu tão importante.
Ela sorriu e Amaleque lembrou da primeira vez que a viu sorrindo, naquele dia agora distante quando ambos se conheceram.
— Achei aqui dentro uma carta manuscrita do Sr. Porfírio, eu li e… Acredite, acho que é a coisa mais extraordinária que já encontrei. — ela retirou do livro uma folha de papel dobrado e ofereceu-a a Amaleque — tome, veja por você mesmo, Sr. Cético.
Mais por educação que interesse, ele pegou a carta, abriu-a e estas foram as palavras que estavam lá:
“Esferas e círculos concêntricos, eternamente flutuando no vazio, como ilhas num oceano escuro e infindável… Desculpe-me. Metáforas e divagações, costumo me perder nisso.
Seja quem for que esteja lendo isto, presumo que meu plano deu certo e estou morto. Não foi muito fácil conseguir isso, não mesmo. Este corpo não se permitiria morrer de um jeito simples e precisei encontrar um veneno capaz de tanto. Apenas imagino como os médicos ficarão confusos, afinal uma toxina que não é usada desde antes da invenção da escrita não deve ser algo que eles veem no dia-a-dia.
Como devo começar minha explicação? Tenho planejado isso há… Como é mesmo a palavra… Isso! Há séculos. (sempre me confundo com essas medidas de tempo que vocês, humanos, usam).
Bem, tudo começa com os Deuses, ao menos é assim que vocês os chamam, fazem preces, ídolos, sacrifícios e erguem templos para eles, na esperança de alcançar favores ou escapar da ira divina. Acredite, já convivi o bastante com essas criaturas a quem vocês adoram para não querer mais proximidade com eles.
Mas todos nesse universo têm suas obrigações e eu não poderia ser uma exceção. Meu trabalho começou algum tempo depois que os Deuses criaram a espécie humana. No princípio, ficaram orgulhosos de sua obra, mas logo algumas facções entre eles se preocuparam com o potencial que os humanos demonstravam: se deixados para evoluir livremente, acabariam suplantando os Deuses. Teria sido mais simples extinguir a espécie humana, mas havia tantas dessas facções e tão discordantes entre si que a ideia nunca foi aprovada e tiveram de pensar numa alternativa.
Foi então que me criaram. Entenda que, até aquele ponto, todos os seres humanos eram imortais e tinham uma vida que poderia ser classificada como paradisíaca. Então eu surgi, e a humanidade passou a conhecer as doenças, a velhice e a morte. Subjugados, humilhados e contidos por esses flagelos, os humanos jamais poderiam alcançar a grandeza que as divindades temiam.
Certamente você já deve ter entendido quem eu sou. Se não, explico melhor. Durante a História, vocês adoraram tantas divindades da morte, sem nunca saberem que nunca houve, realmente, um deus da morte. Apenas eu, a Morte. Sim, é isso que sou. Para a maioria dos habitantes deste século XXI, que se curvam a um deus único, não sou mais que um conceito, embora muito temido. Bem, lamento dizer que eu, existo e tenho percorrido esse mundo de vocês por… Milênios, creio que seja esse termo, trazendo moléstias, velhice e, por fim, extinção ou descanso eterno, como prefiram chamar.
Conforme falei, por certo tempo convivi com aqueles que você chamam de Deuses, mas em algum momento, as querelas deles, os exibicionismos, as explosões de ego e a busca por adoração… Tudo isso me enfastiou e decidi me mudar para a Terra. Aqui precisei assumir uma forma corpórea para poder interagir com vocês (afinal, há regras no universo, e, um deus ou um conceito fundamental, não pode viver na Terra a menos que aceite ter um corpo material).
Mas, como era de se esperar, todo esse tempo convivendo com vocês, me passando por humano, vim a entendê-los melhor, do entendimento veio o respeito e depois a afeição. E da afeição veio a culpa. Vocês, apesar de tudo, são notáveis e, se não fosse pelos deuses e por mim mesmo, poderiam ser extraordinários. No começo, meu trabalho era só um trabalho, depois me esforcei para gostar dele, até que houve um momento que eu realmente me sentia deprimido com o que estava fazendo a este mundo.
Então tomei esta decisão. Eu morro, saio de cena, deixo o tabuleiro do jogo e vocês vão estar livres para alcançarem o potencial a que sempre foram negados. Os Deuses vão ser pegos de surpresa e, até que superem suas querelas e possam tomar alguma atitude, já será tarde demais, nem mesmo conseguirão um substituto para mim, porque cuidei de sabotar essa possibilidade…
Provavelmente, irão fazer cessar os nascimentos de humanos, mas mesmo isso não vai adiantar muita coisa.
Imagino que vai demorar talvez alguns dias para que os efeitos se apresentem, enquanto a onda de caos metafísico provocado por minha “morte” percorre o mundo e faz o universo notar que uma mudança fundamental aconteceu. Imagine, por toda a parte, as pessoas miraculosamente se curando de todas as doenças e ferimentos; velhos regredindo até se tornarem novamente e para sempre jovens; ninguém mais adoecendo, nem se ferindo… E ninguém mais morrendo, não mesmo, nunca mais. Será maravilhoso.
Não sei realmente porque escrevi esta carta. Vocês têm algo chamado testamento, em que expressam seus últimos desejos. Bem, este é meu último desejo, é o que deixo para este mundo. Talvez eu tenha me tornado mais parecido com vocês do que imaginei e tivesse a necessidade de contar a alguém, talvez eu esteja apenas com medo do que vou ter de fazer. Seria algo bem humano, não é?
Ass.: Sr. Manoel Porfírio”

Quando terminou de ler a carta, Amaleque Dias ficou em silêncio, pensativo por alguns instantes, até que a voz de Zaira interrompeu sua reflexão:
— Então, não é extraordinário?
— Não, — respondeu Amaleque devolvendo o texto para Zaira — quando muito isto aqui é o delírio de algum louco ou o esforço lamentável de um escritor de ficção barata. Provavelmente, as duas coisas.
— Eu não te entendo, Amaleque! Você acaba de ler a revelação mais incrível que se possa imaginar e fica duvidando?
— Zaira, eu não sou feito você: o mundo real me basta, não preciso ficar procurando fantasias para continuar vivendo. Sei que veio aqui me mostrar isso procurando minha aprovação, mas entenda: eu não tenho porque perder tempo com… ilusões, como você faz. Se me permite um conselho: cresça.
Zaira conteve um palavrão que ameaçava escapar de sua garganta e apenas disse:
— Você é uma pessoa seca, Amaleque, sem sonhos, sem nada. Não está vivo de verdade, é só uma casca vazia esperando para morrer. Eu nem sei, nem sei mesmo como é que já te amei uma vez na vida!
Ele deu as costas e, levando consigo a carta e o livro, saiu sem dizer mais nada. Por um instante, Amaleque considerou que também era recluso, talvez tanto quanto o dito Sr. Porfírio, e que um dia Zaira finalmente se cansaria dele e pararia de visitá-lo… Não. Ela voltaria, sempre voltava… Por um momento, lembrou-se quando Zaira fora sua esposa. Tempos felizes… Às vezes, ele não conseguia acreditaram que haviam acabado. Reprimiu uma lágrima que ameaçava cair do olho direito. Chorar não convinha a alguém tão racional quanto ele.
De qualquer modo, embora não tivesse admitido, aquela carta mexera com ele. Amaleque não voltou à leitura de Plotino, ao invés disso, tirou de uma gaveta, num pequeno móvel próximo da poltrona, um outro papel, esse, porém, mais sombrio. O resultado do exame. Recordou as palavras do médico… “Não resta a você muito tempo, eu lamento”.
Ele guardou o exame e foi se deitar. Sentia-se deprimido. Por curiosidade, imaginou qual seria a última coisa que diria a Zaira antes de morrer. Que ainda a amava… Não, isso seria piegas demais. Ela o fazia tornar-se desnecessariamente sentimental. Isso nunca mudara. Desejou poder dormir para sempre e adormeceu.
Na verdade, embora não soubesse, seu desejo seria satisfeito, pois ele morreria antes do nascer do sol, apenas alguns minutos antes do início do que a humanidade viria a chamar de “A Grande Mudança”, o momento a partir do qual o desejo derradeiro do Sr. Porfírio foi realizado. Na verdade, para todos os efeitos e registros, Amaleque Dias foi à última pessoa a morrer neste mundo.
FIM
Dedicado a Luis D’Arte

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Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 2:21 pm

Red Baron Blues Bar - 2 páginas

Gillian Welch e Dave Rawlings Machine
Canções sobre os órfãos e dependentes de morfina


Gill e Dave conheceram-se no Berklee College of Music, enquanto Gillian estudava composição, Dave estudava guitarra e acabaram por se reunir para uma audição em uma banda country. Mudaram-se para Nashville, que é onde a maioria do seu trabalho foi produzido. Assim, passaram a influenciar e inspirar gerações de cantores country e folk, compositores e atores. Conquistaram a admiração de muitas das vozes mais elogiadas e queridas do meio americano. Entre os que gravaram suas músicas aparecem nomes como Willie Nelson, Emmylou Harris e Solomon Burke. Gill e Dave fazem um trabalho que está profundamente enraizado nesse meio, retratando na música um único tema: a região Sul dos EUA.

O registro, no entanto, - diz Gillian - tem pouco do sul doce e ensolarado, na verdade, há uma palidez real e escura, a linguagem nas canções parece lembrar os bosques sombrios do Tennessee, muito mais do que qualquer coisa que a dupla tem feito nos últimos anos.

Embora tenham saído de Nashville por um tempo, para fugir do peso do estúdio e da gravadora, os pensamentos sempre se voltaram para lá com uma novidade e clareza tamanha, que não se compara ao mesmo entusiasmo que tinham quando chegaram lá há quase 20 anos.

O Harrow & The Harvest, novo álbum Gill e Dave é o produto de duas pessoas que se tornaram tão entrelaçadas entre si que a música registrada neste disco parece se originar de uma única voz. É o som de duas pessoas em uma sala, tocando um para o outro, o som de duas vozes combinadas em uma só.

Fogem da nostalgia barata e entregam um disco rico nos detalhes e uma visão única de americanos excêntricos que não passam de andarilhos carregando o peso da culpa nesse mundo de Deus. Welch não escreve canções de amor e tampouco deseja guiar ovelhas tosquiadas; ela prefere escrever canções sobre coisas mais difíceis e que poucos gostam de cantar.

O disco que fizeram é um som novo do Sul, com o tipo de canção que você não ficaria surpreso em ouvir, é o tipo de canção que você esperaria ser cantada para acalmar bebês inquietos, canções com o humor irônico da varanda dos fundos.

Gill e Dave, chegaram a um lugar em sua música, onde parece ser impossível distinguir o que é um e o que é o outro, não dá pra desvendar qual palavra que um escreveu, e qual linha vem do sentimento de Gillian.

É uma carta de amor para uma vida menos digital

"O jeito que você fez. Essa é a maneira como ele será."


Dan Auerbach
Dan Auerbach, é vocalista e guitarrista do Black Keys, vem de uma família de músicos, além de saber muito bem como escrever e contextualizar uma música, aproveitou o tempo livre e decidiu tirar algumas coisas da gaveta e juntá-las em um só lugar, o resultado foi o álbum solo 'Keep It Hid', de 2009, produzido no estúdio que ele tem em sua própria casa.

O Álbum é extremamente recomendável, é sobre o amor pela música, pois o pai compôs, o tio tocou guitarra e os amigos juntaram-se à sua volta.

No álbum encontramos um rock'n'roll voraz e um blues assombrado, algo além do rock britânico sessentista, o blues do delta e o garage rock.

O disco mostra que ele conhece profunda e intuitivamente a história que reconstrói em canção.

Em um trecho da entrevista à Ipsilon, Auerbach comentou:

"- Há alguns anos, viajei duas, três, quatro vezes até ao Mississipi para conhecer aquela que considerava uma das minhas grandes influências, o bluesman Junior Kimbrough. Uma vez cheguei atrasado - o músico estava tocando em outra cidade. Outras, tive o azar de Kimbrough estar doente e cancelar as suas apresentações. Na última tentativa, cheguei tarde demais, o bluesman havia morrido"

Essa história poderia muito bem ser uma de suas canções, pedaços sem grande espaço por onde a luz entra. Desdém e paranoia, contos tétricos ou malvadezas amorosas.

Isso é o que ouvimos nas canções de Auerbach e não é fingimento, ele é assim. Não confia em pessoas felizes. São uma maldição.

É um músico à moda antiga, desconfiado das certezas inabaláveis de uma certa modernidade da música popular urbana, baixa as guardas quando se discutem as bandas que aprecia, como Creedence Clearwater Revival, aos Wu Tang Clan que, no que diz respeito ao ambiente sonoro, era tudo aquilo que os Black Keys ambicionavam ser quando começaram.

Para Ouvir:
:: Whispered Words
:: My Last Mistake
:: Street Walkin'
:: Trouble Weighs A Ton
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Mensagem por Kio Ter Jul 19, 2011 2:29 pm

Vincent & Van Gogh, de Gradimir Smudja

Van Gogh é uma farsante! Sua produção artística é uma fraude escondida a sete chaves! Por trás da figura de gênio perturbado, existia um homem fragilizado e sem aptidão alguma para o sucesso na pintura. Porém, como Van Gogh conseguiu que seu nome entrasse pra história? A resposta é bem simples: Vincent, o gato. Isto mesmo, um gato. E não é um felino comum, mas sim, um que fala, é bípede e extremamente inteligente. Entre suas habilidades temos um grande mulherengo, um incorrigível boêmio, genioso, temperamental e, claro, um excelente pintor.


Em viagem à Provence, sudoeste da França, em busca de novos ares, depois de uma trajetória frustrante, o dublê de pintor não encontra a inspiração que tanto procurava e seus dias são muitas vezes dedicados a olhar o horizonte da janela de seu quarto. Mas tudo muda quando em certa noite, ao caminhar por ruas mal-afamadas, ele intervêm em uma briga de rua, em que muitos estavam dispostos a acabar de vez com a vida do bichano. Van Gogh salva a pobre vítima de tamanho ato brutal. Como gesto de boa fé, leva o quase moribundo pra casa para lhe prestar os socorros. Lá aquela pequena criatura, em um gesto de gratidão, ao ver uma tela em branco faz em poucos instantes, quase de forma sobrenatural, uma obra maravilhosa, nada mais nada menos que ‘Os girassóis’ , uma das obras mais famosas do artista holandês. O aspirante a pintor fica de queixo caído e vê naquele pequeno prodígio felino uma grande possibilidade de mudar seu destino desprestigioso.


Vincent & Van Gogh, do pintor, desenhista e cartunista iugoslavo Gradimir Smudja, é de longe uma obra de encher os olhos. Sua arte cai como uma luva na narrativa em que recria o cenário expressionista repleto de grandes mestres como Monet, Degas e Gauguin, os quais também são figuras presentes na trama. Cada quadro da HQ não é apenas um quadro, mas uma pequena pintura e de um realismo incrível. Longe de ser apenas um trabalho visual, Gradimir Smuja realizou uma intensa pesquisa para dar vida à história, portanto pode esperar riqueza em detalhes históricos, porém o grande mérito é a harmonia entre a ficção e o real que faz com que a leitura seja de um fôlego só.


Vincent & Van Gogh, de Gradimir Smudja
Título original: Vincent et Van gogh
Publicado pela Jorge Zahar Editor em 2004
Brochura com capa flexível, 21x28cm
72 páginas coloridas
R$ 50,00

Telefone: (83) 3227.0656
Email: vendas@comichouse.com.br
Twitter: @Comic_House
Av. Nego, 200, Tambaú (João Pessoa-PB)

Comic House quadrinhos que não estão no gibi



Manassés Filho é administrador da Comic House, gerencia redes sociais e produz eventos. Leitor de quadrinhos, devorador de livros, apaixonado pela sétima arte e que, ao descobrir as séries de TV, virou prisioneiro delas.

--
Manassés Filho
Diretor da Comic House
www.comichouse.blog.br
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Mensagem por Kio Dom Jul 24, 2011 5:25 pm

Prepare-se, fiel leitor, para a mais ideal aventura já narrada!

Giorgio Vasari apresenta:
A Liga dos Super-Heróis Renascentistas


Uma luxuosa carruagem parou diante da entrada do palácio de Florença sob as estrelas do céu noturno, e dela desembarcou um musculoso homem de expressões indomáveis. Ele caminhou até o grande portão, onde foi detido pelos guardas.
— Deixai-me passar, ou vos esmagarei! — bradou para as sentinelas, cujas armaduras tilintavam ao tremer de seus joelhos intimidados à poderosa fúria do homem que os encarava de cima — Abri o portão, pois o Senhor de’ Medici me convocou, e uma terrível sina aguarda aquele que se colocar entre o caminho de Michelangelo!
Rapidamente um diplomata a serviço do palácio chegou ao local e, após se desculpar, conduziu o Poderoso Michelangelo até uma câmara interna. Após adentrar, Michelangelo se viu diante de um grupo seleto que confabulava ao redor de uma mesa composto de Fillipo Brunellesco, Donatello e o jovem Rafael Sanzio. Próximo à cabeceira, como um cão de guarda, estava em pé um homem trajando um longo manto e com a cabeça coberta por um capuz que lhe ocultava a face. Ao lado desse homem misterioso, o assento principal era ocupado por Leonardo da Vinci.
— Ah, és tu! — gritou Michelangelo aproximando-se do conselho — Por que convocas Michelangelo? Fala antes que arranque tua cabeça, pois sou um homem ocupado e não tenho tempo a perder!
Leonardo olhou o imenso e furioso homem com indiferença — Sempre o mesmo selvagem. Não sabe quando deixar a força bruta de lado e valer-se do intelecto. Mas o que esperar de um homem que desperdiça seu tempo festejando na imundice de suor e poeira de mármore?
Michelangelo avançou possesso, mas Rafael Sanzio se colocou entre os dois o detendo — Santos conflitos desnecessários! Michelangelo, Leonardo, vós sois a inspiração deste grupo. Foram vós que me destes o exemplo e me fizestes querer ser um herói. Este é o momento de encerrarmos nossas diferenças e nos unir por uma causa maior.
O poderoso herói conteve sua cólera e desviou o olhar de seu desafeto. Mas, ao mover a cabeça, por um instante pôde vislumbrar os olhos imersos nas sombras do homem de capuz, e neles viu algo indizível que o desconcertou e o fez esquecer completamente as desavenças.
— Cavalheiros — disse Leonardo ao se levantar e caminhar até um tríptico fechado ao fundo da sala com a face externa coberta pela pintura da cena da crucificação de Jesus — vós fostes reunidos aqui por uma delicada situação em que todos nos encontramos neste momento. Há cinco dias, um vil espião furtou da sala do tesouro de Sua Santidade um item de extremo valor — e apontou para o ramo de ervas que circundava a cabeça da figura central na pintura — um espinho da coroa de Nosso Senhor adquirido durante as Cruzadas. Como todos sabem, tal artefato possui um poder que, em mãos erradas, pode provocar consequências terríveis. O serviço de inteligência do Palazzo della Signoria rastreou o espião e localizou o item. — explicou enquanto abria o tríptico exibindo o mapa da Europa que decorava seu interior e indicando uma região ao norte do mundo civilizado — Nossa missão é ir até a Floresta de Germa, recuperar o espinho e capturar o responsável por trás dessa trama.
— Sacro Império. — corrigiu Michelangelo.
— Como?
— Esse lugar que estás indicando é o Sacro Império.
Donatello se manifestou — Não é a Neerlândia?
— Eu poderia jurar que é Flandres. — acrescentou Brunellesco.
— Santos equívocos cartográficos! — exclamou Rafael — Eu ouvi algo sobre essa região ser chamada de Prússia.
— Tanto faz. — esclareceu Leonardo — O Norte é todo igual: uma região fria habitada por bárbaros armados com machados que vivem entre as árvores e praticam bruxarias em nome de um deus pagão caolho.
Quanto a essa afirmação, todos acordaram de maneira unânime, e os preparativos para a jornada foram tomados.
Leonardo distribuiu vestimentas especiais a todos e alertou — Este tecido foi desenvolvido por mim a partir de pêlo de carneiro. Jamais o dispais enquanto estiverdes no Norte, pois ele será vossa única proteção contra o frio, e, como sabeis, contra a perda total da razão e fomentação da selvageria que ele provoca.
Donatello recusou o traje — Bah! Eu não preciso disso. Graças a longas jornadas de escavações, meu corpo adquiriu resistência sobre-humana que me imunizará a tais malefícios!
Uma vez preparados, o grupo se dirigiu a um pátio aberto anexo ao palácio, onde uma complexa máquina os aguardava.
— Santas engenhosidades! — exclamou Rafael — O que é esse dispositivo que nos aguarda?
— Um de meus inventos. — contou Leonardo — Vamos, cada um de vós deveis tomar um dos assentos e mover os pedais com toda vossa disposição.
A máquina foi ocupada por Leonardo, Michelangelo, Rafael, Brunellesco, Donatello e o homem misterioso e, conforme deslocavam suas correias e eixos com o movimento de seus pés, um grande mastro vertical pôs-se a rotar, e, com ele, o tecido que o circundava formando uma helicoidal. Também se moviam uma série de asas, projetadas com forma similar às de um morcego, ascendendo e descendendo alternadamente. Logo, o engenho ganhava os céus e partia rumo ao perigoso Norte.
Algumas horas depois, os seis homens ocultavam seu veículo em uma escura floresta gelada e iniciavam sua marcha, que só se deteve quando alcançaram uma sinistra construção. O prédio era muito alto compondo-se de linhas verticais que pareciam querer tocar o céu. Suas paredes estavam repletas de imensas janelas, e, acima do portão principal, havia um grande orifício circular vedado por muitos pequenos pedaços de vidro colorido.
— Que blasfêmia é essa?! Que horror! — Brunellesco deixou escapar em lástima ao virar o rosto enojado diante de uma forma tão medonha que jamais imaginara que as pedras criadas por Deus pudessem assumir — Não há domo! Nem ao menos algumas colunas dóricas!
Era difícil distinguir se a expressão no rosto de Michelangelo refletia ira ou desapontamento — E as paredes… Nenhum afresco há nelas.
— E é tão frágil que fora necessário rodear suas paredes externas com arcos de sustentação! — acrescentou Donatello.
— Calma, meus colegas. Evitemos pensar em tal abominação e concentremos em nossa missão. — acalmou-os Leonardo — Não podemos entrar pelo portão principal sem sermos detectados. Melhor passarmos através da muralha lateral.
— Santos apuros! — questionou Rafael — Como passaremos pelo muro?
— Deixai que eu resolva isso, amigos! — exibiu-se Donatello ao erguer sua pá.
Menos de uma hora depois, Donatello havia escavado um túnel sob a muralha e não apresentava sinal algum de fadiga. Os seis heróis agora adentravam a fortaleza inimiga.
— Lá! — apontou Leonardo em direção a uma torre — É ali que se encontra a relíquia que procuramos. Se uma corda for pendida naquele pequeno orifício no alto, eu posso nos erguer até lá.
— Santas verticalidades extremas! De que forma a corda chegará até lá? — perguntou Rafael.
— É simples. — disse Brunellesco assumindo a dianteira. Desenrolou uma folha de papel que trazia em um dos bolsos e, empunhando seu material de desenho, tratou de riscá-la. Em átimos, concluiu um esboço impecável da torre, cuja perspectiva era tão bem trabalhada que, lado a lado, verdadeira e desenho, difícil era identificar qual era qual.
Então Donatello e o homem misterioso ergueram o papel diante de Brunellesco, cada um segurando uma de suas extremidades, e o esboço pareceu desaparecer ao se encaixar perfeitamente à paisagem. Brunellesco então, munido de seu arco, retesou uma flecha e tocou a ponta da seta na folha exatamente onde o orifício indicado por Leonardo se localizava.
Ao ser liberada, a flecha atravessou o papel e subiu se incrustando exatamente na fenda na parede da torre e conduzindo até o alto a corda fixada à sua parte traseira.
De seu cinto, Leonardo retirou seis pequenos sistemas de roldanas que, após serem distribuídos entre a equipe, os conduziu sem esforço até o cume do castelo. Uma vez lá em cima, o grupo entrou pela enorme janela e se viu diante de um corredor. Logo à frente estavam as portas de um salão.
— Está lá dentro. — afirmou Leonardo.
Donatello avançou com a intenção de abrir as portas, mas acabou frustrado — Há um enorme cadeado aqui.
— Eu posso abri-lo, mas precisarei de tempo. — disse Leonardo procurando por algum apetrecho em seu cinto.
Michelangelo avançou — Afastai-vos! Nada pode deter o Poderoso Michelangelo! — e esmagou a tranca com seus incomparáveis músculos.
Leonardo pensou em censurar seu aliado por mais uma vez preferir a brutalidade ao invés do intelecto, mas concluir a sua missão era mais importante do que doutrinar um tolo incapaz de aprender.
Passando pelo portão, os seis heróis alcançaram uma grotesca sala do trono desabitada, cujo teto fora removido, e o céu azul podia ser vislumbrado de seu interior. Bem no centro do salão estava uma gigantesca máquina que tinha como componente principal um monumental cilindro vertical apoiado por incontáveis arcos. Era tão hediondo quanto a arquitetura daquele enojante edifício, se é que aquilo podia ser chamado de arquitetura.
— Isso é o que estou pensando? — Brunellesco se dirigiu a Leonardo.
— Sim. É o maior canhão já construído. Apenas um homem poderia conceber tal abominação. A maior mente maligna de todo o Norte.
— Sim, Leonardo! Mas erraste em uma coisa — falou o homem que saiu de trás do trono com uma pele e olhos tão claros que provocavam náuseas a quem o observasse — Não apenas a maior mente do Norte, mas de toda a Europa pertence a Albrecht Dürer!
Antes que pudessem reagir, o bárbaro maligno acionou uma alavanca, e uma grande jaula desceu do alto prendendo os seis heróis.
O selvagem os observava com uma satisfação possível apenas àqueles que abandonaram a razão e se entregaram à selvageria e bestialidade — Não adianta tentares escapar. Essas grades foram criadas usando técnicas de ourivesaria tão superiores que nem mesmo teus dispositivos ou a força de Michelangelo podem superar.
— Cão selvagem do Norte! O que pretendes?! — berrou Michelangelo.
O bárbaro se mostrou ainda mais satisfeito — Bruto imbecil. Ainda não percebeste? Eu roubei a relíquia sagrada, pois ela é uma enorme fonte de poder. Com essa força, energizarei meu canhão que disparará rumo ao céu uma bala forjada com o ouro retirado da estátua de Zeus de Olímpia de Fídias. O projétil ascenderá até o firmamento, trespassando as nove esferas de cristal e atingindo o Mundo das Ideias, obliterando completamente o Logus. Como toda a arte concebida na Península Itálica é inspirada pela beleza e perfeição do Mundo das Ideias, ela deixará de existir. Uma vez que a arte bárbara do Norte não segue qualquer regra, deseja apenas a feiura, invoca a imperfeição mundana e glorifica nada além do caos, ela permanecerá intacta e dominará o espírito de todos os homens da Europa incitando-os à selvageria e a barbárie.
Leonardo parecia calmo — Dürer, não percebes que, se destruíres as nove esferas de cristal, todos os astros do cosmo que orbitam ao redor da Terra despencarão esmagando completamente este mundo?
Replicou o bárbaro — Esse é um custo aceitável, tamanho é o desprezo que o Norte sente pela Ordem que abençoa apenas os italianos na sua condição de únicos e verdadeiros herdeiros do Império Romano e de toda a sabedoria dos clássicos.
— Então vejo que não tenho alternativa. — Leonardo desviou os olhos na direção de seu companheiro incógnito — Chegou a tua vez de agir, velho amigo.
O manto foi lançado ao chão, e, a exceção de Leonardo, os demais homens dentro da jaula jogaram seus corpos contra a grade como que desesperados para afastarem-se de seu companheiro até então misterioso.
Até um selvagem pode temer quando encontra algo mais monstruoso que ele próprio, e foi isso que o bárbaro sentiu ao recuar alguns passos — Este homem… P… Paolo Uccello!!! Ele pinta campos com a cor azul, cidades com a cor vermelha e prédios com cores variadas de acordo com sua vontade! É completamente louco! Leonardo, percebes que libertaste uma insanidade que está além de teu controle?! Acabas de provocar o fim de todos aqui, inclusive o teu!
A alegria no sorriso de Uccello era incoerente à demência que habitava seus olhos — Vinde a mim, meus amigos! Vinde a mim, meu exército de bestas!
Ao clamor, os vidros coloridos que cobriam as grandes janelas estouraram à passagem de uma macabra matilha composta de cães, lobos, chacais e raposas, liderada por uma hiena, com uma cicatriz que cruzava seu olho direito vazado, acompanhada de uma grande serpente enroscada em seu pescoço. Súbito, uma das paredes do salão caiu diante da impassível marcha de um elefante africano, e um grande bando de beija-flores azuis desceu pelo orifício no teto carregando com seus delicados pés um tigre de pelagem branca que parecia levitar entre a nuvem azul composta de pássaros.
Leonardo triunfou — Estás acabado, Dürer. Devolve a relíquia e te entrega, e talvez eu possa deter Paolo.
— A Fortuna ainda não escolheu o vencedor. Acaso acreditaste que eu estaria despreparado? — declarou o bárbaro em tom de superioridade ao erguer do manto que trajava um esverdeado pedaço de laticínio.
— NÃO!!! Queijo, a única coisa que pode me destruir!!! — berrou Uccello antes de cair de joelhos comprimindo a cabeça com as mãos como se quisesse deter um antigo e perigoso mal ali aprisionado há eras, enquanto as feras que invocara desapareciam no ar como se não tivessem passado de um sonho.

Albrecht Dürer, o gênio maligno do Norte, subjugou Paollo Uccello, o mais insano e poderoso de todos os heróis. Poderão Leonardo, Michelangelo e seus companheiros impedir o disparo da arma projetada para destruir o Logus e lançar as trevas da barbárie nórdica sobre toda a Criação? Caro renascenauta, não perca a próxima aventura de A LIGA DOS SUPER-HERÓIS RENASCENTISTAS!
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TEXTOS REVISADOS # 23 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 23

Mensagem por Kio Dom Jul 24, 2011 5:49 pm

Marvel e DC:

VALE A PENA FERRAR TUDO PELOS FILMES?



A maioria de vocês que chegou até este texto, curte histórias em quadrinhos. Portanto, deve saber sobre o relançamento das revistas DC em setembro. Agora, se por um acaso do Google ou se você estava num universo paralelo nos últimos meses e não sabe de nada, resumo da ópera: A DC Comics, segunda maior editora de quadrinhos dos Estados Unidos – e proprietária do Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash e Lanterna Verde, para citar os mais famosos – vai zerar todas as suas publicações e relançar tudo a partir do número 1. Mais drástico ainda: os personagens vão apresentar novos visuais, novas origens e vários detalhes da sua história serão alterados.
O objetivo é alcançar “novas audiências”. A DC há anos é a segunda em vendas nos Estados Unidos – atrás da Marvel Comics, a proprietária do Homem-Aranha, Hulk, X-men, Capitão América, Homem de Ferro, Thor, pra também citar os mais famosos. Mas nos últimos tempos a crise econômica dos EUA afetou o mercado de gibis e as vendas caíram vertiginosamente (não só da DC). Claro, há tempos não se vendia revistinhas como antes, os jovens preferiam os videogames, animes, e outros badulaques tecnológicos.
Insatisfeitos, os executivos da Aol Time Warner – corporação dona da DC Comics – determinaram mudanças drásticas para tentar alterar o quadro. Não se trata só de vender mais que a Marvel, mas acima de tudo, vender mais do que atualmente! Porque esses gibis não são um negócio tão lucrativo quanto antes. O objetivo do relançamento dos personagens é atrair a atenção para as revistas e conquistar novos leitores. Aposta-se muito no meio digital como novo meio de leitura de milhares de pessoas, baseado na explosão dos tabletes.

VISUAIS PARA NOVAS MÍDIAS

O que mais causou estranheza nos antigos leitores foi, sobretudo, os novos visuais propostos para os heróis. A “cueca por cima das calças” foi abolida – a começar pelo “intocável” uniforme do Superman que praticamente não mudou em 70 anos! As heroínas deixam de mostrar as pernas de fora, mostrando também uma tendência ao politicamente correto. Mas o que incomoda é o aspecto de “armaduras” que as novas roupas coloridas têm.
Os uniformes foram desenvolvidos por JIM LEE, o novo diretor de criação da DC desde o ano passado. É ele que desenhará a principal revista da nova linha, a Liga da Justiça, equipe onde participam os mais populares heróis da editora. Lee disse que os novos uniformes seguem “tendências modernas” e “foram pensados para adaptações em outras mídias”.
Adaptações para outras mídias! Eis a palavra mágica! Eis uma tendência seguida não só pela DC, mas há anos adotada pela Marvel Comics, embora não de forma tão escancarada.
Como os gibis deixaram de dar dinheiro, a maior fonte de lucro desses personagens ainda são suas adaptações para o cinema, videogames, desenhos animados e a própria venda dessas marcas e imagens para produtos como cadernos, lancheiras, agendas, lápis, mochilas e todos aqueles penduricalhos manchados!
Um filme também empurra as vendas das combalidas revistinhas. Não à toa nos meses de lançamento de um filme baseado em histórias em quadrinhos, as vendas da revista aumentam. Só para citar um exemplo, no ano passado, entre as dez graphic novels (encadernados) mais vendidos nas livrarias, cinco eram volumes da série Walking Dead (Os Mortos Vivos) que estourou numa série de TV a cabo!


QUE SEJA FEITA A VONTADE DE... HOLLYWOOD!

Para atrair o público que vai ao cinema para as revistas, os editores têm feito de tudo para que os gibis sejam os mais parecidos quanto possível com o que se vê na telona. Por exemplo, logo após o sucesso do filme X-Men, em 2001, os mutantes perderam suas fantasias coloridas e passaram a usar roupas pretas de couro. Como Jean Grey era dada como morta em X-Men 2, e o filme final da franquia mostraria sua “morte definitiva”, o escritor Grant Morrison teve também que matá-la nos quadrinhos, a pedido dos editores.
Com a estréia da franquia do Homem-Aranha em 2002, o herói e sua esposa, Mary Jane Watson, deram “um tempo” nos quadrinhos, já que não ficavam juntos no primeiro filme. Como no segundo filme eles ficavam juntos, na mesma época se reconciliaram nos quadrinhos. Até mesmo as “teias orgânicas” do herói acabaram migrando para os gibis. Recentemente, com o reboot da franquia, e o herói tendo novos interesses românticos, a Marvel providenciou um peripécia onde limou toda a continuidade das histórias do Homem-Aranha: seu casamento com Mary Jane foi “apagado” e ele voltou a ter que precisar de lançadores de teia artificiais (já que essa é a opção que será usada nos filmes doravantes).
Pra quem acha apenas “coincidência”, avaliemos os casos: Até pouco tempo atrás, o personagem Homem de Ferro tinha evoluído muito nos quadrinhos, ganho novos poderes e se tornado diretor de segurança nacional comandando a organização Shield. Mas o filme foi um estrondoso sucesso, e assim, no prazo de um ano, o herói perdeu a Shield e os poderes extras, assim como o melhor amigo que era casado com Pepper Potts, afinal ela é o interesse romântico de Tony no filme. Então tinha que voltar a ser assim nos gibis também!
Outro herói que tinha passado por mudanças radicais nos quadrinhos e teve que voltar ao antigo status quo foi o Capitão América: Steve Rogers havia largado o escudo após ser dado como morto e foi de certa forma “promovido”, virando agora o diretor da Shield no lugar do Homem de Ferro. O novo Capitão era seu antigo parceiro da segunda guerra, Bucky Barnes. O problema é que o Capitão do filme será Steve Rogers, logicamente. E mais, a versão de Bucky adotada pelos produtores do filme é a versão ultimate, onde Bucky envelhece, ou seja, ele não poderia um dia ser o novo Capitão. Então o herói encontrou seu fim na recente mini-série “Fear It Self”, e Steve voltou a vestir sua roupa tradicional, que é usada no cinema.
Thor também é outro que aos poucos já está sofrendo mudanças devido ao sucesso de sua adaptação cinematográfica: nos quadrinhos, Odin estava morto, e seu irmão Balder era o rei de Asgard. Como Balder nem aparece nos filmes, os editores não só estão trazendo Odin de volta em Fear It Self, como apostamos um caminhão de cerveja que Loki deverá voltar a “idade normal” (atualmente ele é uma criança nos gibis), a fim de ficar em sintonia com o filme dos Vingadores, onde também desempenhará papel de vilão!


E A DC COM TUDO ISSO?

Vendo que o sucesso da rival estava tão ligado a adaptação das novas mídias, os executivos da Warner determinaram as mudanças nesse viés. “Mas poucos filmes baseados em heróis da DC foram feitos, e a maioria foi um fracasso!”. De fato, caro leitor. Mas a Warner está de olho nos filmes vindouros, afinal, há muita coisa em produção, até porque a única esperança de lucro verdadeiro que eles têm com os seus super-heróis está nas adaptações para outras mídias.
Por exemplo, o único caso de sucesso verdadeiro no cinema da Warner/DC foi o Batman. E quem já viu os filmes do Homem-Morcego de Christopher Nolan, viu que ele usa uma espécie de armadura. Então dá-lhe armadura nos gibis também, para que o público que sair das salas de cinema saibam que são o mesmo personagem.
Os irmãos Nolan, por acaso, são os que produzem o novo filme do Superman, que será dirigido por Zack Snyder, e quem viu Watchmen já sabe o que pode esperar do uniforme do Homem de Aço. Pois não é a toa que o novo uniforme do herói proposto por Jim Lee lembre tanto algo que poderá pintar na telona! Afinal, só haveria um motivo pro Super, invulnerável como ele é, usar uma “armadura” de látex: afinal, não dá pra qualquer ator ficar bombadão daquele jeito! Mostrando o uniforme antes, nos quadrinhos, não será tão estranho quando ele pintar no cinema também.
Mesmo caso a Mulher-Maravilha, que já havia mudado o uniforme ANTES do polêmico relançamento, deixando de usar “calças curtas”. Uma série de TV estava sendo desenvolvida pra heroína, e como o público feminino era um dos alvos, os produtores queriam algo mais “respeitoso” para não inflamar as “sensibilidades feministas”. Mesmo como fiasco da série de TV, cujo programa-piloto não foi aprovado, o novo uniforme veio pra ficar, na esperança de novas chances de adaptação por aí.
Mas as mudanças vão além do visual dos personagens: quando as pessoas se perguntam porque anular o casamento de Superman e Lois Lane, a resposta é óbvia: da mesma forma que o Homem-Aranha estará solteiro no novo filme, o Superman também. Então se eles estivessem casados nos quadrinhos, isso seria “contar o final da história” e não “estimularia” o público a ver o cinema. Sem saber o “futuro” dos personagens – ou seja, “quem vai ficar com quem” – os heróis têm que estar solteiros não só no cinema, mas nos quadrinhos também. O Homem Aranha pode ficar com a Gata Negra, o Superman com a Mulher-Maravilha. Algum suspense é preciso criar.
E uma vez que o Batman apareceu nos cinemas ANTES do Superman, que seja feita a vontade de Hollywood, e assim será também nos gibis! Embora Superman seja “o primeiro super-herói” a aparecer ao público, segundo os novos informes (ou seja, limaram a Sociedade da Justiça da continuidade), os mesmos releases da DC constam que “o Batman já está por aí há algum tempo, antes de todo mundo, como uma lenda urbana!”. Por essa razão, nos desenhos mostram um Batman mais velho que os demais heróis da DC, até porque eles deverão ser feitos por atores mais jovens que Chris Bale, né não?


BOM ENQUANTO PRODUTO, PÉSSIMO ENQUANTO ARTE

A estratégia da DC/Warner pode até estar correta do ponto de vista comercial: ir para um tudo ou nada, porque apesar do risco de perder os antigos leitores, é certo que somente os antigos leitores não são suficientes, a venda das revistas tem caído muito. Na verdade, tudo vai depender mesmo da distribuição digital, se este se tornar não só um novo ponto de consumo, como atrair gente que leia exclusivamente por este meio e não lia gibi antes, pode realmente renovar o público leitor e salvar não só a DC Comics, mas toda a indústria dos quadrinhos. A Marvel não vai deixar de adotar algo semelhante em relação a distribuição digital, se isso funcionar.
A polêmica fica mesmo quanto a produção de conteúdo. Sendo os personagens antes de tudo PRODUTOS, qualquer bom vendedor sabe que o segredo de um produto que vende é não mudar. Um produto só muda quando não está vendendo. Ninguém é louco de mudar a fórmula da Coca-Cola, ou fabricar Bombril com um material diferente.
É o que a Marvel vem fazendo há algum tempo, a partir do momento em que seus personagens se consolidam no cinema, enquanto produto. O Homem-Aranha eternamente solteiro e precisando de grana; o Homem de Ferro eternamente as voltas com a bebida (sim, ele volta a beber em Fear It Self!) e a indústria armamentista; o Capitão América eternamente sendo Steve Rogers; Thor eternamente debaixo da asa de Odin tentando ganhar sua aprovação; Wolverine, tão fodão que terá sua própria equipe de X-men, alçado a posição de manda-chuva (algo inaceitável até alguns anos atrás).
Se isso torna os heróis um produto confiável e reconhecível quando alguém folheia um gibi, ou vai assistir um filme ou desenho animado, ou vai jogar um videogame, por outro lado para aqueles de nós que ainda compram uma revista em quadrinhos em busca de surpresas e reviravoltas que só aparecem numa boa história, é uma decepção.
Sem o risco de “mudanças” para nossos heróis, qual seria a graça disso tudo? Desde que o homem começou a contar histórias, a mudança é a grande moral na história: no final da narrativa, o herói nunca é o mesmo de quando começou a aventura. Seja isso na Bíblia, num conto de fadas, ou até mesmo em grandes sucessos do cinema, como Star Wars. Se tirarmos a perspectiva de mudança dos heróis não teremos Homero, Dumas ou O Senhor dos Anéis. Não teremos a Saga da Fênix Negra, o Contrato de Judas, a Saga de Elektra, A Queda de Murdock, o Monstro do Pântano de Alan Moore, ou Watchmen, O Cavaleiro das Trevas, Crise nas Infinitas Terras, Crise de Identidade ou Guerra Civil. Isso só pra citar algumas boas histórias em quadrinhos aonde a mudança foi fundamental para sedimentá-las como histórias inesquecíveis para os leitores.
Não é à toa que tantos criadores mais sérios como Alan Moore abandonaram as grandes editoras, como Marvel e DC, incomodados com as verdadeiras “camisas de força” que são as regras desta indústria. Sem poder levar os personagens as direções que as histórias exigem, o resultado que temos muitas vezes são páginas coloridas de algo previsível, dispensável e sem sal. A liberdade criativa ainda é o maior aliado de um artista quando pensa numa história, seja na literatura, no cinema ou mesmo nos quadrinhos.
Claro que como produto da “indústria cultural”, essas peças têm um sistema de produção muito definido, e não à toa tantos estudiosos discutem se poderíamos tratá-los mesmo como arte. Para aqueles de nós que acreditam que qualquer forma de manifestação artística, mesmo quando produzida para o consumo das massas, é uma forma de arte, essa discussão é supérflua.
De fato há algumas regras a se observarem, mas nem tudo precisa ser orientado para “o mercado”. Quando Neil Gaiman criou Sandman não havia nada como aquilo sendo feito, os editores não suspeitavam que havia tamanha demanda por algo tão “literário”. Vários gibis como Cerberus, American Flagg, Maus, Preacher, Transmetropolitan, Os Invisíveis, Promethea, só pra citar os mais conhecidos, não atendem fórmulas pré-combinadas, nem estão presos a esquemas do que seria “filmável” ou não. E muitos gibis continuam sendo produzidos assim, mesmo na própria Marvel e DC, na “periferia” das grandes editoras, por assim dizer, existem revistinhas que são pensadas antes como uma boa história, e não necessariamente um bom produto. É o caso de DMZ, Escalpo, Fábulas, Y O Último Homem, Unwritten, Swenney Tooth, Criminal, Casanova e Future Foundation, só pra citar algumas.
São apenas boas histórias, ainda que nem sempre sejam “produtos viáveis” em outras mídias. Mas talvez por isso sejam histórias em quadrinhos que serão clássicas e sempre terão público, e não meros modismos a serem adaptados e esquecidos como acontecem com todos os blockbusters de verão.
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Mensagem por Kio Seg Jul 25, 2011 3:32 pm

“AGOSTO PRA TUDO”
NA REPÚBLICA DOS QUADRINHOS BRASILEIROS
Por Beto Potyguara


Em comemoração ao seu aniversário de quatro anos de “persistência”, o coletivo online, República dos Quadrinhos (RQ) preparou uma grande festa onde o maior presenteado será o público: um lançamento virtual coletivo de mais de 30 obras de autores, estilos e temáticas distintos.
Tendo como uma de suas maiores bandeiras, desde sua fundação, o resgate da produção independente autoral e o intercâmbio entre os artistas de Norte a Sul do Brasil (e do Exterior), a RQ uma vez mais põe em prática aquilo em que acredita.
São dezenas de artistas envolvidos, entre pesquisadores, divulgadores, roteiristas, quadrinistas, cartunistas, caricaturistas, chargistas e outros “istas” que também estão na lista. Nem todos os convidados atenderam ao nosso chamado, mas ficamos muito felizes com o resultado final e acredito que os envolvidos no projeto e o público também irão ficar.
Qual o objetivo disso mesmo?
A proposta é a de inserir o AGOSTO PRA TUDO no calendário de eventos artísticos do país, repetindo-se a cada ano nos moldes do que já acontece com a “Maratona dos Quadrinhos” promovida pelo Blog dos Quadrinhos e o “Concurso de GAGS” da Editora Marca de Fantasia.
Produção autoral de qualidade disponibilizada ao grande público e direcionada ao cético mercado editorial brasileiro. Um mero “lembrete” de que existe vida talentosa e inteligente nas artes gráficas e plásticas do país e que precisam ser reconhecidas, valorizadas e oportunidades oferecidas. A demanda de talentos é enorme, mas a oferta de espaços é limitada e restrita, sobretudo as Regiões Sul-Sudeste. O AGOSTO PRA TUDO, nesse sentido, é um grito silencioso de “Estamos aqui! Venham nos conhecer!”. Embora grande parte da galera já seja do ramo e muitos estejam com a carreira consolidada, é uma oportunidade ímpar de se ter contado com tanta diversidade e qualidade, num só montante, conhecendo não apenas seus trabalhos, mas suas biografias. É um verdadeiro registro da nona arte tupiniquim contemporânea.
Como estará acontecendo?
Desde o dia 1º de Agosto, sete webcomics de autores ou editores diferentes estão disponíveis diariamente em nosso Portal (rquadrinhos.blogspot.com) para o download gratuito. Em cada dia, uma obra estará destacada e uma resenha se fará presente (haverá dias em que mais de uma obra serão divulgadas). Ao final do projeto será lançado um Catálogo contendo curiosidades do processo de produção, os bastidores virtuais e físicos, as artes excluídas, enfim, muito material inédito. Sem mais delongas, confiram aqueles que serão conhecidos como os precursores do ANO ZERO do AGOSTO PRA TUDO:
1. Kio & Cia (toda a galera do FARRAZINE) que nos honraram com a participação e divulgação em sua edição de # 23.
2. Paloma Diniz em nome de todos do Studio Made in PB que colaboraram no projeto.
3. A manada dos elefantes brancos (RQ): Beto Potyguara, Wanderline Freitas, Rusiano, Joseniz Guimarães e Marcos Garcia (RN), Takren (SP), Nina Collère, Antoni Wroblewski, Vilson e Eneas Ribeiro (PR), Evandro Alves (MG) e Igor Cerqueira (DF)
4. Convidados camaradas: Evaristo Omido (Japão), Tiago Silva e Vanderfel (SP), Kaleo (CE), Ray Costa, Dão e Brum (RJ), Joaquim Monteiro (PI).


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Mensagem por Kio Qui Jul 28, 2011 1:53 pm

Dream Team de Músicos

Banda americana formada na década de 80, o Dream Theater é conhecido pela excelência e talento de seus integrantes, que foram indicados como os melhores em seus respectivos instrumentos por anos seguidos. Combinando técnica, feeling e melodias bem elaboradas, a banda se tornou uma referência quando o assunto é Metal Progressivo.
Todo esse conjunto é muito bem representado em “Awake”, terceiro álbum de estúdio da banda, lançado em 94. Porém, foi o álbum anterior intitulado “Image and Words” que realmente abriu as portas e deixou o DT conhecido no mundo inteiro, sendo que muitos fãs o consideram como melhor disco da carreira da banda. Apesar de gostar e respeitar esse trabalho, prefiro o “Awake” pois, em minha opinião, mostra uma banda mais coesa e experiente, direcionando um lado mais progressivo ao seu som, com músicas mais intimistas variando peso e melodia com inteligência e competência.
O line-up era composto por James LaBrie (Vocal), John Petrucci (Guitarra), John Myung (Baixo), Mike Portnoy (Bateria) e Kevin Moore (Teclados), formação considerada clássica até hoje, sendo que dois desses integrantes não fazem mais parte do DT. Kevin Moore saiu logo após a gravação de “Awake” e foi se dedicar a seu projeto solo, sendo que também participa de alguns álbuns da excelente banda Fates Warning. Já Mike Portnoy saiu recentemente e gravou um álbum com o Avenged Sevenfold, além de ser integrante da banda de rock progressivo Transatlantic. Hoje, quem ocupa seus lugares são Jordan Rudess e Mike Manguini, respectivamente.
O álbum começa com “6:00” que já deixa uma virada monstro de bateria logo na entrada da musica, o que se pode notar também em outras faixas como “Caught In A Web”, “The Mirror” e “Lie” que possuem riffs bem pesados. Já em “Inocence Faded”, “Scarred”, “Lifting Shadows Off a Dream” e “Erotomania” (Instrumental) mostram a versatilidade da banda ao fazer variações de ritmos, quebrando o andamento e velocidade das músicas com harmonias mais cadenciadas, sem perder o controle e o tempo da melodia. Há também duas baladas – “The Silent Man” e “Space Dye Vest”, porém com estilos diferentes. A primeira, com ênfase no violão, passa um clima de tranquilidade e a última prioriza o piano e é mais obscura e tensa, finalizando assim essa verdadeira obra prima do Prog Metal.
“Awake” é um álbum complexo e de difícil audição, principalmente pra quem não conhece o estilo musical do Dream Theater, mas pode surpreender até os ouvidos mais críticos, pois você encontrará influências como Metallica, Rush e até mesmo de bandas mais lights como U2 e Marillion. Como esse álbum não vendeu muito e nenhuma musica estourou nas rádios, a gravadora pressionou a banda, que lançou em 97 um álbum mais comercial intitulado “Falling Into Infinity”. Porém, acredito que toda essa pressão influenciou na qualidade do álbum que, apesar de ter bons momentos, não se compara a seu antecessor.
A verdade é que mesmo estando completamente detonado, não sei como o meu cd de “Awake” ainda não furou, pois não me canso de ouvir esse álbum que, a meu ver, permanece atual, apesar de fazer um tempão que ele foi lançado. Acredito que mesmo não sendo um sucesso comercial esse disco merece grande destaque, pois reflete como nenhum outro a habilidade e inspiração da banda como um todo. Por tudo isso, fica aqui a minha sugestão, porém cuidado, esse som pode viciar.
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Mensagem por Kio Qui Jul 28, 2011 3:58 pm

Bar do Stark

Há um ano, o bilionário Tony Stark - após sua recuperação no A.A (Alcoólicos Anônimos) - descobriu que o mercado de bebidas é muito lucrativo e que pode render mais dinheiro e menos custos que o mercado bélico. Ele passou a investir nesta nova empreitada, da qual o próprio Stark já foi cliente. Junto de outro grande homem de visão, Lex Luthor, ele abriu um bar. No estabelecimento só seria permitida a entrada de heróis, pois o acesso ao local por outras pessoas comprometeria suas identidades.
Para comemorar um ano de existência de seu bar, Tony Stark e Lex Luthor decidiram implantar um cybercafé no estabelecimento e convocou alguns membros da revista virtual FARRAZINE para um coquetel de comemoração.

(Na portaria, o tranquilo e intelectual Hulk recepciona os convidados do FARRAZINE)

Hulk: Hulk quer saber nomes pra olha lista!
SnuckBinks: SnuckBinks!
Kio: Sou Kio, muito prazer Sr. Hulk.
Rodrigo: Meu nome é Rodrigo! Belo terno.
Hulk: Mim odeia terno! ODEIA! ODEIA!
Kio: Vamos entrar, corram!
SnuckBinks e Rodrigo: Sim!

(Entram os convidados)

Hulk: HULK ESMAGA!!! (Um forte tremor balança as mesas e quase derruba os copos, mas o Sr. Fantástico e o Professor Xavier deram uma forcinha pra não estragar a festa)

Stark: QUE DROGA! Cadê o Batman!? Preciso que mande esse maluco pro Arkham.
Lex: Ele não vem...
Stark: Por quê?
Lex: Tá no PC.
Stark. Como assim, no PC?
Lex: é uai, olha aqui (vira a tela do PC pro Stark)
Stark: Que diabos é isso?
Lex: Pô meu, tu anda desinformado. Esse é o FARRAZINE! Sensação do momento. Geral tá acompanhando as revistas deles.
Stark: Que coisa de louco!
Lex: é sim, até o Coringa tá lendo. Pira?
Stark: Aff. Esses caras não são nada. Sou muito mais ler o blog do Paulo Coelho. Esse sim escreve coisas boas todos os dias.
Lex: Claro. E assistir Big Brother!
Stark: Tu curte também?
Lex: Claro que não. Olha aí, eles tão vindo.
Stark: Quem são esses dois indivíduos?
Lex: Os caras que não são nada...
Kio: E aí, pessoal?
SnuckBinks: Que lugar legal esse!
Lex: Opa, sejam bem-vindos. Ué, vocês não estavam em três?
Kio: Sim. O Rodrigo tá ali xavecando a Mulher-Maravilha, ele tá ali cantando aquela música dela pra ver se ela curte.
Stark: Não!
Lex: Não!
Snuckbinks: O que foi, galera?
Stark: Ela odeia essa música.
Kio: Humm...
(Rodrigo! Passa voando e despenca em algumas mesas no fim do enorme salão)
Lex: Relaxa, ele vai ficar bem. Agorinha ele acorda.
Stark: Então... O Lex estava me falando de um tal de FARRAZINE!
Kio: Isso, viemos aqui a convite do Lex divulgar nosso trabalho e também prestigiar a festança, beber uns vinhos e tal...
Lex: Opa, tô pegando já. É por conta da casa!
SnuckBinks: Tem Coca Zero?
Stark: Tem sim, tá na mão. Mas me falem um pouco desse negócio de vocês.
Kio: Reestruturamos recentemente o nosso blog. É o www.farrazine.blogspot.com. Temos ainda o twitter...
Lex: Esse eu sei, sigo vocês! @farrazine. E tem o facebook também.
Kio: Exato. Agora o site está integrado a nossas redes sociais. É só o pessoal clicar.
SnuckBinks: Sim, e essa nossa conversa sairá lá.
Lex: Sério!? Se tivessem falado eu tinha colocado a peruca nova que comprei. Cabelão estilo, viu. Vocês iam curtir.
SnuckBinks: Estilo!? Saquei. Estilo Dave Grohl?
Kio: Ou quem sabe Chi Cheung?
Stark: Não, a peruca dele é estilo o cabelo da Xuxa mesmo.
Lex: EI! Como ousa?
Stark: O quê?
Lex: A contar. Era surpresa!

(Risos de SnuckBinks e Kio)

Lex: Mas eu tenho uma raridade pra vocês colocarem no zine!
SnuckBinks: Do que se trata?
Kio: Fala, fala!
Lex: Então... Lembram do Batman Ano Um?
Kio: Claro!
SnuckBinks: Sucesso até hoje...
Lex: Pois é! Tenho um videozinho da Mulher-Gato, huhuhu...
Kio e Snuckbinks: hã?
Lex: é pô. Ela no seu horário de trabalho, entendem...
Kio: Nossa!
SnuckBinks: Meu deus!
Stark: Mostra logo rapaz...

(Estava tudo pronto para a festa começar e os convidados, juntos de Lex e Stark, divertiam-se vendo um vídeo da Mulher-Gato, mas chegaram duas convidadas inesperadas. Quem seria? E por que todos ficaram tão assustados?
Continua dentro de alguns dias no http://extremezine.thecenturions.net/category/bar-do-stark/)

Por Rafael Camargo de Oliveira

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