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TEXTOS REVISADOS # 24

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Mensagem por Kio Seg Set 05, 2011 3:19 pm

Texto de: Paloma Diniz

Ao mestre, com carinho: muito obrigado
LAERTE.
Seis letras que trazem na sua pronúncia a grandiosidade de um mestre da criatividade dos quadrinhos brasileiros. Laerte, pelo pouquíssimo que nos comunicamos, demonstrou atenção, carinho e a generosidade que só os grandes de espírito têm para com os mortais.
Tenho guardadas com muito carinho duas edições de Piratas do Tietê: Humor, Quadrinhos e Afins do Laerte. São edições, respectivamente, de junho e julho de 1990; particularmente, tenho mais carinho pela segunda (edição de número 03) cuja capa ousada mostra a moça da lata de Leite Moça na sua versão digna da tripulação dos Piratas do Tietê. “Moça, sei que já não és pura!” Esta, passados 21 anos de publicação, é atualíssima nos quadrinhos que falam das relações patrões e empregados em Lutas de Classes. E o que mais adoro nesta edição é Rituais da Natureza onde aparecem Os Gatinhos!
Na edição de número dois, um dos momentos marcantes da sua narrativa onomatopéica dos quadrinhos, pra mim, é em Vozes da Selva, o código Morse que começa com uma caneta, segue por uma coqueteleira, um batido de cassetete numa placa de sinalização, pela bengala de um senhor, o latido de um cão, aves, animais, tambores, elefante e avião, até chegar à caverna para avisar ao Fantasma que Diana está com os Piratas do Tietê.
Laerte Coutinho nasceu em 10 de junho de 1951. Tem 60 anos e, destes, 40 dedicados a produção artística, cultural e aos quadrinhos. Ele ingressou na Universidade de São Paulo (USP) para cursar a Escola de Comunicações Culturais, mais tarde Comunicações e Artes. Estudou música, jornalismo, mas não terminou nenhum dos cursos.
Na década de 1970, participou da revista SIBILA (com o personagem Leão), editada pelo Toninho Falcão, participou da Ovelha Negra, do Geandré. Fundou, com o Sérgio Gomes, o Clube do Choro. Começou a publicar no jornal de Centro Acadêmico. Fundou, com o Luiz Gê, a revista BALÃO (de quadrinhos), na USP. Foi premiado no CUDHU (Concurso Universitário de Desenho de Humor) da Poli e também no Salão de Piracicaba. Trabalhou na revista BANAS, de economia, e na revista PLACAR com os personagens: Baianinho e Crioulo. Laerte trabalhou na Gazeta Mercantil. Produziu material de campanha para o MDB, nas eleições. Fundou, com o Sérgio Gomes, a editora Oboré, onde fez material de comunicação para sindicatos. Participou do "bunker", grupo de trabalho junto com Henfil, Angeli, Glauco, Petchó, Fausto, Nilson, produziu peças de campanha para o MDB e para o movimento sindical e fez desenhos e histórias do João Ferrador, para os metalúrgicos de S. Bernardo.
Fez também a cobertura da Copa para O Estado de São Paulo. Tudo isso apenas na década de 1970.
No período da década de 1980, Laerte participou da página GOL, na FSP fazendo a cobertura da Copa. Colaborou com o Pasquim, junto com o Angeli e o Glauco, e posteriormente tornaram-se “Los Tres Amigos”. Lançou o livro: O Tamanho da Coisa (CIRCO/OBORÉ), que é uma coletânea de charges e cartuns. Cobriu a Copa para o Estado de SP. Ele começou a publicar a tira CONDOMÍNIO, com distribuição da Funarte, gestão do Ziraldo. Participou da revista Chiclete com Banana (Angeli) e da Geraldão (Glauco). Lançou a revista CIRCO, editada pelo Luiz Gê e pelo próprio Laerte, pela Editora Circo.
A partir de 1990, Laerte lançou a revista Piratas do Tietê, pela editora Circo (os exemplares que possuo e citei anteriormente), no ano seguinte, as tiras dos Piratas do Tietê foram publicadas no Jornal Folha de São Paulo. Na década de noventa, Laerte ousou outros meios de comunicação e produziu textos para TV Pirata, participou da TV Colosso (que eu adoraaaaaava!), fez o roteiro para o filme Super Colosso, fez textos para o programa Sai de Baixo, fez textos para o programa Vida ao Vivo, fez a peça PIRATAS e ingressou na web com seu site! http://www.laerte.com.br/
Nos anos 2000, algumas das produções de Laerte foram os lançamentos do livro "Deus Segundo Laerte" pela Editora Olho D'Água, o livro de memórias televisivas "Laertevisão: Coisas que não esqueci", pela Editora Conrad, lançou o livro infantil "Carol", pela Editora Noovha América e Seteluas e a graphic-folhetim 'Muchacha' pela Quadrinhos na Cia., selo de HQs da editora Companhia das Letras, inspirado na cultura da década de 50.
L – A – E – R – T – E.
Agora que você leu o que ele fez nas últimas quatro décadas, sabe o que soam estas letras juntas e o peso deste nome. E não é à toa que a maioria de nós, que tivemos a honra de acompanhar a sua produção, o chamamos no mínimo de MESTRE! E olhem que não escrevi tudo o que ele produziu: Overman, por exemplo, não está citado acima e, diga-se de passagem, é muito bom.
Sua criatividade é citada com sendo espontânea, livre e desmedida, pelos que trabalharam com ele. E comprovada pelos que acompanham seus trabalhos.
Sua linha simples, feita em um único golpe, limpa e minimalista, traz consigo a força expressiva, criativa e necessária para a composição da cena nos seus desenhos.
A cada página que folheio, a cada quadrinho que leio, eu aprendo da maneira mais prazerosa: a desenhar, a compor narrativas, a expressividade de corpos e faces, construir cenário, e através dos detalhes a comunicar com imagens.
Diante destes quarenta anos de tão rica produção, não tenho mais nada a dizer; não nem mais o que dizer de Laerte. Sua vida e obra falam por si.
Apenas agradecer:
Ao mestre Laerte, com carinho:
Muito obrigado.
























Última edição por Kio em Qui Out 27, 2011 7:35 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Kio Seg Set 05, 2011 3:21 pm

Texto de: Pablo Grilo

Buraco Negro - Parte 1

- Quer dizer que o futuro é cíclico, então? - Disse aquele mais jovem.
- Não, cíclico não, ele é, a princípio, inevitável. - Falou o mais velho, de barba grisalha. - Quer mais café?
- É... Quero sim. Por favor.
- Açúcar ou adoçante?
- Açúcar.
E o mais velho foi para a cozinha. O mais jovem ficou admirando a sala de sua casa, achou muito aconchegante e confortável. A forma como ele havia decorado o lugar trazia paz ao ambiente. Quadros, móveis de madeira.
- Aqui, café para um dos meus melhores alunos. - E serviu café na xícara de ambos, apoiada na mesa perto do sofá onde estavam. - Café para o Jonas! - E sorriu bebendo um gole.
- Mas então... Sobre o futuro... Quer dizer que ele sempre vai acontecer, não importa o que se faça? - E Jonas bebeu um gole do café.
- É a velha ideia de que se você voltar no tempo e mudar uma pequena coisinha, vai ter aquele blá blá blá todo. Não. O futuro só se altera de verdade quando você tira alguma coisa de seu curso.
- Curso? - O mais velho anuiu. - Como assim, professor? - E bebeu outro gole.
- Olha, parece complicado, mas é bem simples na verdade... Já viu o filme De Volta Para O Futuro? - Jonas negou.
Nunca viu aquele do carro que volta no tempo? - Negou de novo. - Tá... Imagina várias linhas paralelas. Imaginou?
- Aham.
- Não, espera. Isso tem que desenhar.
- Porra, professor, tá me chamando de burro, cacete?
- Não. - E sorriu. - É que pra explicar melhor, realmente tem que desenhar. Deixa pegar aqui uma coisa. Um minuto.
Levantou-se e saiu de novo. Jonas voltou a olhar a sala daquele homem mais velho que o havia trazido para ali depois de uma discussão acalorada no bar da faculdade. Um grupo enorme discutia teorias sobre viagens no tempo e tudo o que poderia acarretar se acontecesse na realidade.
Para ilustrar seus pontos de vista, entre cervejas, refrigerantes e aperitivos, os diversos debatedores citavam filmes, quadrinhos, livros, revistas cientificas ou nerds, enfim, qualquer mídia que proporcionasse as viagens e tudo aquilo que as envolvia.
O professor voltou com uma cartolina e um lápis. O papel estava desenhado de um lado e meio sujo do outro. Jonas já havia tomado o café pela metade. O professor virou-a em cima da mesa com o lado sujo, aparecendo o que não estava desenhado.
- Aqui, Jonas. Presta atenção.
Desenhou com um lápis quatro linhas paralelas enquanto Jonas bebia o resto do café.
- Em cada uma dessas linhas, existe uma possibilidade de futuro. - Jonas já ia abrir a boca. - Calma, me deixa explicar. Imagina a sua vida. Na sua vida, você, Jonas, provavelmente já pensou por diversas situações de escolha: “puxa, se eu tivesse feito isso”, “eu deveria ter feito aquilo” e assim por diante.
- É verdade.
- Então, cada escolha que fazemos gera uma linha dessas. E essas linhas começam inclusive antes de nascermos. Foram as escolhas, por exemplo, que os nossos pais fizeram por nós antes de virmos ao mundo e enquanto somos crianças.
- Ah, entendi, professor!
- Aqui, desenhando fica mais fácil.
- Me chamando de burro de novo, professor?
- Não, nada disso. É pra mostrar o ponto de vista. Olha só.
Ele foi riscando com o lápis por cima de uma linha, iniciando da esquerda para a direita, depois passando a outra linha, depois por outra, sempre fazendo força para que seu riscado fosse mais perceptível do que as linhas anteriormente feitas.
- Aqui, Jonas, essa é a nossa vida.
- Correto.
- A parte mais louca: cada escolha que fazemos também gera um “Jonas” diferente que agora está, faz parte dessa realidade alternativa. Da realidade do “e se eu fizesse isso ou aquilo”. Imagina se você não tivesse vindo aqui em casa hoje e não estivéssemos tendo esta conversa agora? Em algum lugar, o seu outro “eu” voltou para a sua casa e o meu outro “eu” para a minha e nunca conversamos sobre isso. Quem sabe em outra realidade nós nunca chegamos a nos conhecer. - E sorriu.
- Caraca, professor, que coisa de maluco, hein? Ficar pensando nisso...
- Sim. E é agora que vemos como alterar o futuro. O “Jonas” que continuou em alguma dessas linhas, ele viveu com a escolha que fez, certo? - Ele anuiu. - Mas os outros não, porque fizeram escolhas diferentes. Então eles têm outros futuros. Dai, como fazer para consertar aquele futuro do Jonas que, provavelmente, fez alguma besteira ou aconteceu alguma coisa trágica na sua vida?
- Como, professor?
- Consertar não dá. Simplesmente não dá.
- Ah, impossível. Eu já vi filmes, li livros... Sempre tem como mudar o futuro.
- Não, não tem. O futuro daquela realidade vai acontecer, Jonas, porque o seu outro “eu” simplesmente fez aquela escolha. Em todas as possibilidades, em todas as realidades alternativas, algum futuro irá acontecer para todos os “Jonas” que estão nelas. A sacanagem que esses filmes fazem é trocar o futuro de uma realidade alternativa por outra. Enquanto o Marty McFly daquele presente fica feliz por estar no futuro que ele quer, que ele deseja e conseguiu alterar, como para salvar o Doc Brown, os outros McFlys se ferram nas outras realidades. E isso é puro egoísmo, uma sacanagem das grandes. O Doc Brown era pra morrer, porra! Salvando ele, o McFly prejudicou outras realidades alternativas. Filho da puta egoísta do cacete esse cara.
- Entendi professor. - Falou Jonas sorrindo.
- Mas o lado positivo do que esses filmes, quadrinhos e livros contam em suas histórias, é, de fato, o que mais existe de possível hoje em dia.
- Do... Do... Possível?
- Sim. O que podemos fazer é escolher um desses futuros que serão escritos e irmos para lá.
- Mas como podemos fazer isso se não podemos viajar no tempo?
- Criando um buraco negro.
- Buraco negro? Mas... Como?
- Você viaja para os outros presentes e futuros e retira dele a mesma coisa... - E olhou para a cartolina apontando. - O tempo-espaço sempre irá se corrigir quando se retira algo, mas veja bem... Peguemos esta cartolina como exemplo. É difícil de eu conseguir retirar esta mesma cartolina de diversos presentes e futuros para conseguir criar esse vácuo, esse buraco negro, e conseguir voltar ao passado. Como saber se é a mesma cartolina? Mas com uma pessoa não. Além de ser mais fácil identificar a mesma pessoa em todas os presentes e futuros alternativos, o tempo-espaço demora muito mais para se corrigir quando se retira uma pessoa. - E sorriu como uma criança, fazendo seus olhos brilharem. Ele olhava para Jonas, que começou a ficar desconfiado.
- Eu... Eu... Acho que vou embora, professor. Obrigado pela aula. - Disse tentando se levantar, mas sentiu uma tontura, sentando-se novamente.
- Calma, para quê a pressa?
A respiração de Jonas começou a ficar mais forte, ele sentiu a tontura aumentar e seus lábios formigaram. O professor olhou seu relógio.
- Agora deve estar bom.
Jonas começou a piscar os olhos com força, e a partir daí não viu mais nada sequencialmente. Ele via o que sua visão permitia e tentava forçar o olho para ver o quanto pudesse, mas não conseguia por muito tempo.
Viu na seguinte ordem: ele sendo retirado do sofá, sendo arrastado pela sala, passando por um corredor, ele tombando no chão, o professor abrindo uma porta, ele passando pela porta novamente arrastado, ele sendo jogado no chão de um local muito escuro, o professor fechando a porta, e, por último, o professor sorrindo com um olhar infantil pela abertura de vidro da porta. Depois disso apagou.
Acordou depois de um tempo, recobrando a consciência. Ainda estava no mesmo local escuro e sentiu que tinha mais gente com ele e começou a se apavorar.
- Calma, tenta ficar calmo. - Disse um ao se aproximar.
- Quem é você?
- Não fale alto. - Falou outro, este bem mais velho. - Dói meus ouvidos.
- Aonde eu estou?
- Você está preso, garoto. - Completou um terceiro. - Assim como todos nós.
- Quem são todos vocês?
E todos se aproximaram do pouco de luz que tinha. Seis pessoas se revelaram quando a luz tocou nos seus rostos. Não, aquilo não podia estar acontecendo, não podia ser verdade. Ele não conseguia acreditar no que via. Seis Jonas diferentes estavam ali: dois aproximadamente de sua idade, e os outros quatro mais velhos, até um com cabelos brancos e pele enrugada.
- Vo... Vo... Vocês! Não! Não! Sa... Sa... Saiam daqui!
- Não adianta gritar, garoto. Ninguém vai te ouvir. - Falou o mais velho. - E daqui a pouco o professor volta pra te pegar, se prepara.

Buraco Negro - Parte 2

O lugar onde estava era muito mal iluminado, com poucos feixes de luz entrando fracos pela fresta entre a porta e o chão, além da luz que se passava por entre a portinhola. Uma pequena janela no alto da parede e cheia de grades indicava que lá fora estava escuro, além de ter poucas nuvens no céu, encobrindo parte da lua, inclusive.
Jonas conseguiu se acalmar, sempre evitando olhar nos outros. Ainda estava chocado com a possibilidade de se ver naquelas pessoas. Variações de si mesmo, com alturas, pesos e idade diferentes da sua.
Depois de mais algumas horas, a luz do corredor acendeu, pois reforçou a iluminação vinda da porta e todos ficaram excitados. Em segundos o professor apareceu na abertura de vidro. Com os olhos fez uma varredura pelo local como se procurasse por algo e saiu da visão. De repente, uma portinhola abriu e uma quentinha com comida apareceu como se fosse empurrada com força. Sua imagem voltou ao vidro de cima.
- Essa é só pra ele. - Falou com o som meio abafado pelo outro lado da porta.
- E a gente, professor? - Indagou o mais velho.
- Vocês esperem ai que mais tarde eu trago.
- Ô professor... - Falou o mais velho de novo se levantando e tendo sua face e parte de cima do peitoral iluminado por um feixe de luz que entrava pelo vidro e chegava até a parede.
- Você ainda quer voltar para a sua família, não quer... Velho Jonas? - O velho anuiu. - Quer voltar para a sua realidade, não quer? - Assentiu novamente. - Então, meu querido, sente-se e fique quietinho no seu canto e só saia daí quando eu mandar.
Ele sentou-se novamente, sumindo na sombra. O professor apontou o dedo da mão direita para Jonas.
- Você ai, coma.
Ainda atordoado, ele foi se aproximar da quentinha, com certa dificuldade. Com as mãos tremendo, conseguiu chegar perto. Cheirou para tentar identificar o que era e sentiu arroz, feijão e macarrão.
- Coma... Isso se quiser voltar para aquilo que você chama de vida. - Disse o professor.
- O que é isso que eu vou comer?
- Coma. - Falou mais enérgico. - E não faça mais perguntas.
- Mas profe...
- Coma! Agora!
Jonas começou a comer rapidamente todo o conteúdo com as próprias mãos e em minutos havia limpado a quentinha. Olhou novamente para o vidro e viu que o professor havia saído. Levantou-se e começou a andar pelo local calmamente para tentar ajudar na digestão. Ficou girando em círculos por minutos até se aproximar janela.
Ficou fitando o céu por mais alguns minutos até que começou a se sentir tonto de novo e começou a cambalear. O velho chegou perto dele e Jonas o repeliu com o braço, e então ele o empurrou para perto da porta e ele caiu de bruços. A porta abriu, o professor entrou e chegou ao lado de Jonas. Mexeu em seu ombro fazendo-o sacudir.
- Venha comigo.
Tonto, ele demorou para se sentar e depois se agachar. Com dificuldade se levantou, mas somente conseguiu permanecer de pé apoiando seus braços na parede. O professor passou pela porta e depois que Jonas saiu dali, fechou-a. Andaram pelo corredor até chegar a outra porta, agora de metal.
- Aôd... Isdou... Ído? - Falava pausadamente, entre uma baba e outra, além de perceber que os lábios formigavam. Mas a visão estava perfeita.
- Para cá, meu melhor aluno. - Falou com um sorriso e abriu a porta.
Jonas entrou em outro ambiente que destoava totalmente da casa do professor. Diferente da sala aconchegante ou do quarto mal iluminado. Ali era muito bem iluminado por luz fria vinda das longas lâmpadas, além dos abajures. Os móveis de madeira eram pintados de branco, assim como as paredes e havia também cadeiras e uma grande mesa de alumínio.
O professor o ajudou a entrar e fechou a porta. Nas paredes, Jonas reparou quadros de cortiça extensos com diversos papéis A4 pregados, incluindo cartolinas, semelhante aquela que ele vira. Estavam todas desenhadas e preenchidas com palavras, números, equações matemáticas e outras com desenhos que pareciam ser de uma cadeira e um capacete.
O que chamou a sua atenção foi que, no centro, havia uma cadeira de madeira, com estofado de couro, e diversas presilhas de plástico se espalhavam por ela, semelhante as de uma mochila de alpinista. No colo, um capacete de metal.
Ele se lembrou do desenho.
- Ô... Gi... Dá... Agondezêdo?
- Ainda não percebeu, Jonas? Pô e eu que achava você o meu melhor aluno... - E o empurrou para a cadeira central. - Assim você me decepciona, hein?
O professor tirou o capacete de metal da cadeira central e o colocou em cima da mesa de alumínio. Ajudou Jonas a sentar-se com delicadeza e começou a amarrá-lo na cadeira. Apanhou o capacete e quando foi depositar em sua cabeça, ele a virou, foi colocá-lo na outra posição e ele desviou novamente. O professor ficou rindo ao ver a tentativa de rebelião, até que por fim, cansado, segurou sua face com força e colocou o capacete de metal. Amarrou o objeto passando embaixo de sua cabeça.
- Agora, Jonas, eu quero que você faça uma coisa pra mim.
- Geu... Dão vou... Vazer... Dada! - Falou com certa raiva.
- O que é isso, Jonas? Onde fomos parar? - Se agachou ficando na sua altura a ponto de encará-lo bem de perto. - Olha... Vamos fazer o seguinte, garoto. Você faz isso pra mim, e logo logo eu te devolvo pra sua vida. Que tal?
Jonas cuspiu na sua cara. No cuspe vieram partes da comida semimastigada. O professor, que havia fechado os olhos por reflexo, abriu-os lentamente e ficou encarando-o com a cara suja.
- Jonas, presta atenção... Ou você faz isso pra mim, ou você faz isso pra mim. Entendeu? Não existe a opção de você não fazer o que eu vou te pedir. Caso você prefira, eu posso também tentar te ameaçar de morte. Eu não sei, sabe, cada um é cada um, as pessoas têm gostos diferentes e eu não sei se é o seu caso ser sadomasoquista. Mas isso não me adianta muito, já que eu quero e preciso que você faça algo pra mim. E morto você não me serve de nada. - Ele foi até o banheiro e lavou sua cara, e retornou secando-a com a toalha de mão. - Então garoto, vamos fazer assim: você vai para outra realidade paralela e pega uma coisa pra mim. E ai, aceita, meu melhor aluno? - Finalizou sorrindo.
- Azeida? Dão denho... Obizão... Denho? Brovezor...
- Claro que você tem, Jonas. Como eu te expliquei antes, você tem a opção de fazer isso da melhor forma possível. E rápido. Eu te analisei muito antes de te escolher e sei do que você é capaz.
- Burguê vozê... Dão bai Indão?
- Eu posso muito bem ir como já fui... Mas eu preciso agora muito mais é que você vá pra mim. Senão, qual utilidade você tem pra mim?
Jonas suspirou.
- O guê é? - Indagou firme.
- Eu vou te mandar para a realidade paralela do seu velho eu. Na verdade é futuro paralelo, pois a realidade é agora, no presente. Enfim... É o mundo daquele chato que enche o meu saco sempre que eu passo pela sala, como agora quando eu fui te pegar. Jonas, você precisa me prometer que quando envelhecer não vai ser tão chato assim, hein? - Suspirou. - Você precisa entrar na casa dele e pegar uma sacola que eu esqueci. A sacola é marrom claro e está em cima do sofá. Entendeu? - Jonas anuiu.
- É zó izu?
- Não. Depois de pegar você tem que levar nesse endereço aqui. - Colocou um papel dobrado dentro do bolso de sua calça jeans. - Ai tem os dois endereços, o do velho Jonas e o outro. Depois disso, acaba.
- Dá bou.
- Esse é o meu aluno. Vamos lá.
- E gôbu eu vazu... Bra voldá?
- Ah, isso você deixa comigo. Se preocupe em pegar a sacola e levar até o lugar. - Ele ia saindo perto dele, mas voltou. - Uma última coisa: afaste suas mãos do corpo e deixe elas abertas.
- Hã?
Com um sorriso cínico, o professor se afastou até chegar a porta. Caminhou por entre as bancadas e apagou todas as luzes dos abajures, e, apertando um interruptor apagou a luz do quarto. Digitou uns botões, acionou uma chave e saiu do quarto. Em segundos, os móveis começaram a estremecer, raios azuis começaram a sair da cadeira onde Jonas estava e em menos de um segundo uma pequena explosão de luz se deu cobrindo todo o quarto.
O professor entrou no quarto e acendeu a luz. Viu que Jonas havia desaparecido, restando somente a cadeira com as presilhas de plástico, com o capacete no colo e sorriu.

Jonas não entendeu muito do que acontecia, ele via imagens rápidas passando na sua frente e algo como se fosse um tubo com diversos tons de azul. Ele tremia e passavam ventos rápidos por ele, bagunçando seu cabelo, fazendo sua roupa sacudir e o impedindo de abrir muito os olhos. Até que de repente tudo parou e ele viu se aproximando de uma imagem especifica que crescia com velocidade.

A esquina da rua estava deserta naquela hora da noite, com poucos carros passando. Do nada, pequenos raios azulados começaram a aparecer no ar saindo de um mesmo ponto, que começou a crescer se transformando em uma bola e por uma pequena explosão de luz para sumir logo em seguida. Jonas surgiu no ar, a um metro do chão, e caiu na calçada de bruços.
Com aparente dor, ele se virou e colocou a mão na boca, que percebeu estar sangrando. Agachou-se e ficou em pé. Se sentia bem melhor. Estranhou que realmente estava bem. A mão não tremia mais, a tontura havia terminado.
- Onde eu... Estou?
Também conseguia falar direito e os lábios não estavam mais formigando. Passou a mão na cabeça, notando a rua onde estava. Poucos prédios baixos, becos entre eles, e, atrás de si, uma praça. Caminhou até um banco. Viu uma pequena pilha de jornal e instintivamente a pegou e tirou uma pagina. Olhou as matérias, falavam do país. Correu com os olhos até chegar ao topo dela e a largou horrorizado.
- Na... Na... Não. Não po... Não pode ser...

A folha de jornal caiu no chão enquanto Jonas sentava-se novamente, onde podia-se ler: “Rio de Janeiro Quarta-Feira 12/05/2055”. Exatos 43 anos no futuro.
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TEXTOS REVISADOS # 24 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 24

Mensagem por Kio Qua Set 14, 2011 2:09 pm

O Santo e a Besta (pseudo-poema-cordel)
Por Marcelo Soares

Eu agora vou contar
Uma peleja como ninguém já viu
Entre um santo do Ceará
E um carcaju vil

Um era o famoso Ciço
O outro figura de gibi
Esse um bicho arrisco
Aquele famoso por aqui

Pois se deu pra você vê
Pelas bandas do Juazeiro
De o encontro acontecer

Padim Ciço fagueiro
Pegou o seu cajado
Apontou enfim
Para a besta ao lado

O tar de Wolverine
Nem o olho piscou
Com tranquilidade
Um cigarro puxou

O bicho era danado
Tanto que o Santo arretô
Mexeu o cajado
E um vento forte soprô

O Carcaju se segurou
E um sorriso safado deu
Suas garras sacou
E morte ao padim prometeu

Com uma corrida a besta atacou
Mas o velho, sábio que só ele, parado ficou
Balançou o cajado e um raio atirou
E no peito da fera forte acertou

O danado caiu, rolou e de pé ficou
Mostrando que o raio nada lhe incomodou

O bicho arteiro por demais da conta
Lançô suas garra contra o padre
O sangue nos oios de fera
Mas ficou só na vontade

Com um movimento do santo
Um escudo protetor surgiu
E as garra do mostro
Logo repetiu

Quem olhava sentia em seu coração
Que aquela contenda parecia sem fim
Os dois iguais em determinação
Duelavam pela tarde assim

Ali estava o profano e o divino
Se olhando como o que eram
Uma parte um do outro
Sempre de frente por onde estiveram

Foi quando algo se deu
E o grito de um garoto surpreendeu
- corre, corre que eles tão vindo, ele falou,
O bando de cangaceiros chegou!

Os dois inimigos se olharam rápido
E sem uma palavra o trato foi feito
A luta cessou e juntos ficaram
E lutaram contra os cangaceiros

E todo o sertão cantou
A união inesperada
Em coro bradou
O Santo e a Besta
Kio
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TEXTOS REVISADOS # 24 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 24

Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:40 pm

Vim. Vi. Voltei para contar.

Depois de um tempo afastado do zine, recebi um telefonema de nosso editor siamês, o Kio, para ir cobrir o HQMix 2011 e entrevistar Leonardo Poglia Vidal, vencedor do prêmio oferecido ao melhor TCC, de quem nunca tinha ouvido falar antes. E de quem não ouço falar desde então. Felizmente.
O evento se dá anualmente desde 1988, e se tornou um dos mais prestigiados prêmios da área no Brasil. O troféu, que é encomendado anualmente ao artista plástico Olintho Tahara, dessa vez foi do Geraldão, personagem do cartunista Glauco, falecido em 2010. O Geraldão se move através de um sistema de molas ao menor movimento, dando a perfeita impressão de movimento e dinamismo que é característica da obra de Glauco, devida ao uso de múltiplos membros como parte da retórica visual de seus personagens. Um sarro, o bichinho. Com meia bunda de fora.
Algumas celebridades a comparecerem ao evento foram Paulo Caruso, o quadrinista Laerte, Fábio Moon e Gabriel Bá, Zé do Caixão (que pichou uma maldição memorável) e Liz Vamp, sua filha, entre vários outros. Cheio de gente bacana, não sei por que quiseram que eu entrevistasse o tal Vidal. Encontrei com a Lílian Mitsunaga, que já foi entrevistada pelo Zine (N. R.: edição # 11) nos áureos tempos em que eu integrava a equipe. Outro premiado que já foi entrevistado foi o Mauricio de Sousa (N. R.: edição # 12) , que mandou um alô por vídeo. Quem mais mandou vídeo? Joe Sacco, Ziraldo, Jaguar. E esses são só o que lembro, até antes da sexta ou oitava taça de champagne.
Começou com a apresentação do documentário Angeli 24h e continuou com a apresentação da banda do programa Altas Horas e o começo da entrega dos prêmios por Serginho Groisman, o ‘padrinho’ do evento, que apresentou quase todos os anos até agora. Seguiu com pequenos agradecimentos dos premiados, que em geral agradeciam à distinção e quase chegavam às lágrimas pelo reconhecimento, após anos de árduo trabalho no que é um árido mercado – o de quadrinhos nacionais. O público foi de encher a casa, no apogeu do prêmio. Muitos viram a parte que lhes interessava e deram no pé, razão porque, lá pelo fim, tinha bem menos gente. Não sei se foi um sucesso de público. Certamente foi um sucesso se o objetivo era juntar talentos sob o mesmo teto.
O HQMix vem, desde 2004, sendo dirigido pela ACB – Associação dos Cartunistas Brasileiros (que neste ano começaram a distribuição de cartões com nomes de quadrinistas nacionais, moda que – prometeram – pega para o próximo ano e assim por diante) e pelo IMAG, Instituto Museu de Artes Gráficas do Brasil. E eu mal posso esperar pra ver o troféu do ano que vem.
Lá pelas tantas, mais para o fim da premiação, um baixinho careca foi pegar o caneco. Até o nome do trabalho dele era difícil. Chegou a enrolar na língua do Groisman. Na hora de agradecer, o cara enrolou tanto que não tenho certeza do que acabou dizendo, só lembro que tinha a ver com quão quixotesco é fazer quadrinhos no Brasil. O tal fulano mais ou menos pulou do palco, tremendo de nervoso, e voltou para seu lugar. Era o cara que eu tinha ido ali pra entrevistar. Ele estava assediando o Laerte para tirar uma foto. Carinha inconveniente. Antipatizei com ele de cara. Assim que o evento terminou, entretanto, consegui entrevistá-lo. O resultado foi mais ou menos o seguinte:
InVinoVeritas - Boa noite. Eu gostaria de cumprimentar você pelo prêmio em nome do pessoal do FARRAZINE. Em especial o Kio.
Leonardo Vidal - Opa. Boa noite. Kio? Quem é Kio?
InVinoVeritas - O Kio é nosso editor.
Leonardo Vidal - Não é Caio?
InVinoVeritas - Kio. Ele é oriental. Mas entendo sua confusão. Ele está sempre caindo nos trotes do pessoal, mesmo. Fale de seu troféu.
Leonardo Vidal - Hein? É o Geraldão, do Glauco. Ele mexe, quer ver? (Brinca um pouco com o troféu. Depois ri, que nem um retardado.) Achei isso genial.
InVinoVeritas - Eu quis dizer do que você fez para merecer o troféu. O seu trabalho. Você venceu na categoria TCC, não?
Leonardo Vidal - Ah. Sim. O nome do meu trabalho é “O Quixote de Cerveisner”. Nele, eu comparei o capítulo dos moinhos de Dom Quixote com a adaptação para os quadrinhos, por Will Eisner. Por isso o nome. Sabe? É uma brincadeira.
InVinoVeritas - Só o que eu posso dizer é que você não venceu o troféu pelo humor requintado. Então deve haver algo de bom no que escreveu. Porque se fosse pelo título...
Leonardo Vidal – (Risos) Verdade. É que são duas coisas que tenho muito profundas em minha formação, as influências de Cervantes e de Eisner. Sabe, tenho até um superherói que é baseado em Dom Quixote, que é o Urubu. É sobre um contador chamado Danton Lima que tem um surto psicótico e acaba achando que é um super-herói...
InVinoVeritas - Sim, sim, muito interessante. Essas categorias são novas?
Leonardo Vidal - Hein? Ah, sim. São novas, foram pensadas como um incentivo à pesquisa na área dos quadrinhos. A professora Drª Sônia Bibe-Luyten escreveu um artigo comentando isso e a qualidade dos trabalhos que chegaram neste ano... parece que esse ramo está crescendo dentro do HQMix. O que eu acho muito bom, porque dá mais foco e mais qualidade à produção nacional, não só de trabalhos teóricos, mas de quadrinhos, também. Isso a longo prazo, obviamente.
InVinoVeritas - Por que “obviamente”?
Leonardo Vidal - Hã... bom, porque o objetivo final da comunidade acadêmica é a produção de conhecimento que vai ser aplicado novamente na sociedade, de uma maneira ou de outra, né? Então todos esses artigos e teses sobre quadrinhos podem vir a levar os quadrinistas no futuro a produzirem obras de maior qualidade, ou até mesmo capacitar os professores a trabalharem melhor com o gênero, talvez até em salas de aula. E isso também é um fator que pode influenciar a qualidade de produção dos quadrinistas nacionais. Uma coisa leva à outra, entende?
InVinoVeritas - Obviamente.
Leonardo Vidal - Hã... sim... Obviamente.
InVinoVeritas - Você disse que esse trabalho é de conclusão de curso. Você não está um pouco velho para estar concluindo uma graduação, não?
Leonardo Vidal - Hã... não, acho que não. Tenho 33 anos. Mas, afinal, qual é a idade pra estudar? Todas, acho. Eu já tenho uma graduação, também sou formado em Jornalismo. E escrevo contos e quadrinhos. Já fiz alguns trabalhos com o zine, você sabe. Por isso o Kio combinou nosso encontro aqui. Você não sabia disso? Eu gosto das coisas que você escreve.
InVinoVeritas - Obrigado. Eu também gosto das coisas que eu escrevo. Algum outro projeto em andamento?
Leonardo Vidal - (Distraído, balançando o troféu. Provavelmente conclusão de curso em alguma escola para necessidades especiais. Vira pra mim e percebe que perguntei alguma coisa.) O quê?
InVinoVeritas - Algum outro projeto em andamento?
Leonardo Vidal - Ah. Sim, sim. Tenho um livro pra sair entre o final do ano e o ano que vem, em que sou responsável por dois capítulos. É uma coleção de ensaios de Literatura de Língua Inglesa, e eu contribuo com um capítulo sobre Os Mortos, de James Joyce. E o outro capítulo é a tradução do conto, porque o livro é bilíngue. Nesse livro eu também faço as ilustrações, que estão bem interessantes. Acho que é um de meus melhores trabalhos.
InVinoVeritas - E ganha crédito por dois capítulos quando precisou escrever um só. Interessante.
Leonardo Vidal - É que eu mesmo fiz a tradução. Aí, tenho que ser creditado também, não?
InVinoVeritas - Podia ser creditado com três capítulos. O que escreveu, o outro que escreveu e depois como tradutor.
(Silêncio desconfortável.)
InVinoVeritas - Mais alguma coisa?
Leonardo Vidal - Um livro com uma ilustração sobre um conto de Edgar Allan Poe (O Coração Denunciador), uns cordéis ilustrados que fiz em parceria com o Guilherme (Guiff), que vão sair em um jornal de São Paulo, e mais um artigo sobre o trabalho, que estou fazendo para publicação em um periódico eletrônico. Nada demais, porque tenho que me concentrar em meus estudos para o mestrado.
InVinoVeritas - Sim, sim. Concordo. E depois você podia se viciar em drogas ou viver recluso, como as celebridades fazem.
Leonardo Vidal - O quê?
InVinoVeritas - Nada, nada. Bom, queria te agradecer pela entrevista e te desejar todo o sucesso do mundo. Parabéns também pelo troféu, embora você não tenha ganho ele com nenhum quadrinho que fez.
Leonardo Vidal - Hum. Obrigado. Ei, fala pro Caio...
InVinoVeritas - Kio.
Leonardo Vidal - Fala pro Kio que, se quiser, eu posso mandar uma cópia do trabalho pra redação, caso alguém queira ler. Talvez até mandar o resumo...
InVinoVeritas - Deus do céu, não. Não precisa. Mesmo. Não queremos dar trabalho. Mas parabéns, mesmo assim. Foi um prazer conversar com você. Tchau.
Leonardo Vidal - Eu que agradeço, foi um prazer também. Acho. Sabe, eu acho que conheço você de algum lugar...
InVinoVeritas - Não. Não conhece. Nem parente distante. Nem sósia. Agora, eu tenho que ir levar meu canguru pra passear. Boa noite.
E foi isso. Sujeitinho antipático. Detestei-o de cara. O Kio que me perdoe, mas da próxima vez que pintar um trabalho desses pra mim, eu dispenso. Afinal, tenho mais o que fazer. Ando ocupadíssimo desde que deixei o zine para viver novas aventuras intelectuais. Além disso, as verduras não se vendem sozinhas, você sabe. E a feira teve público recorde no mês passado.

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TEXTOS REVISADOS # 24 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 24

Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:41 pm

Arte x Entretenimento
Por Filipêra (Nerds Somos Nozes)

Quando o Radiohead terminou de colher os louros do sucesso avassalador de OK Computer, dois caminhos surgiram à frente da banda com relação ao seu próximo disco: agradar aos fãs e mídia para se tornar a maior banda do planeta, ou chutar tudo isso, seguir o próprio nariz e fazer a música que desse na telha. Eles estavam acabados, moídos, e absurdamente descontentes com a profusão de shows, entrevistas, e sessões de fotos, que pareciam intermináveis (mais sobre isso no documentário Meeting People is Easy). Essa não era a visão que tinham do sucesso, o que os levou a afirmar que só continuavam naquela porque realmente amavam a música. O caminho seguido por eles foi talvez uma das mais dramáticas reviravoltas no som de um grupo musical nas últimas décadas. Com o nome de Kid A, o quarto álbum da banda foi (aparentemente) na contramão do que se esperava.
As guitarras foram embora, e ficou uma estranheza sonora bizarra, meio etérea, no lugar das maravilhosas canções que o grupo costumava compor. Imediatamente uma série de reações diversas começou a surgir em resposta a maluquice do disco. Alguns fãs declaravam que era o fim do Radiohead (Thom Yorke realmente cogitou trocar o nome do grupo após OK Computer), enquanto outros diziam que o álbum era "estranho", "difícil" e "para poucos". Por quê? Porque OK Computer e Kid A eram arte no mais pleno sentido da palavra, e mudaram tudo que eles conheciam sobre o Radiohead até o momento!
O que é arte, principalmente quando colocamos o termo pop no meio da conversa? Arte é quando o cara denominado artista (seja lá o que ele faça, desde música a games, passando por quadrinhos e livros) se despe de qualquer pressão de mercado ou de fãs e faz aquilo que acha que é melhor, baseado em percepções, ideias e emoções. É o que chamam de "fazer pra si mesmo". O artista faz exatamente o que David Lynch sutilmente retratou em uma cena meio autobiográfica de Cidade dos Sonhos: dispensa ideias estapafúrdias vindas de fora e toma as rédeas de sua obra.

Fazer arte é para poucos. Fazer arte e ter o devido reconhecimento, tanto popular quanto crítico, é para menos gente ainda. No cinema vemos casos assim, embora na Sétima Arte a porção entretenimento da coisa esteja muito mais em voga por questões financeiras - é muito mais caro produzir um filme que um álbum musical. Vemos vários diretores fazendo arte, filmes aparentemente para eles mesmos, mesmo que no fundo o seu propósito seja apenas entreter. Provavelmente o exemplo mais óbvio de um meio termo balanceado entre esses dois fatores menos dicotômicos do que parecem, seja Quentin Tarantino. Talvez seja ele que mostre o quanto arte pode ser irônica. O queixudo não teve formação em cinema até seu segundo filme (depois de Cães de Aluguel ele fez um curso de direção em Sundance), tendo absorvido tudo que sabe sobre cinema simplesmente assistindo toneladas de filmes. É aquela típica história que todos gostam de ouvir e se inspirar.
Os filmes de Tarantino são colagens de um monte de coisas bizarras - tanto famosas, quanto obscuras - que ele já viu, juntamente com o estilo selvagem, hilário e bizarro dele próprio. O resultado é que todos os filmes dele são únicos e têm aquele verniz que te faz reconhecer com alguns segundos que está diante de um filme de Tarantino. E isso é exatamente a definição mais precisa de arte: acrescentar algo novo a uma multidão de coisas que você - e o mundo - conhece e referencia em sua obra.
E entretenimento? Bom, o entretenimento é o que sobra quando a arte vai. Não é sinônimo de porcaria, como alguns metidos a intelectuais falam por aí, pois existem obras de muitíssima qualidade feitas com o único intuito de servir como escapismo. Uma comédia do naipe de Se Beber, Não Case é entretenimento puro, mas nem por isso deixa de ser muito bom e cumpre com louvor a meta dela de nos fazer rir. Mas, ao mesmo tempo, existem filmes um pouco mais populares que se enquadram na categoria arte, como por exemplo, A Lista de Schindler.

A arte tende a incomodar, fugir das fórmulas estabelecidas, gerar discussões, exigir mais do leitor/espectador/jogador, por isso mesmo não cai no gosto popular, em boa parte dos casos. Não é fácil para o espectador comum, que trabalha 10 a 12 horas por dia, assistir um filme que exija que ele tenha certos conhecimentos de outras obras, e de fatos históricos não tão populares assim. Quadrinhos é uma das artes que mais puxa pra esse lado, tornando-a das mais vanguardistas e sofisticadas. Pegue Os Invisíveis pra ter um exemplo do gênero de “superheróis”. Não dá pra você simplesmente lê-la e passar para a próxima série de quadrinhos da sua coleção. Se quiser sacar tudo que tá rolando naquelas páginas, você tem que realmente mergulhar na trama, caçar referências, olhar histórias passadas, conhecer mitologia asteca, Magick, a obra de Sade, viagens no tempo, e mais uma pá de coisas. E Grant Morrison, o cara que escreveu a parada, não tá nem aí para o fato de você se ligar nisso ou não, a iniciativa tem que ser sua de buscar respostas e montar o quebra-cabeças que ele armou. Caso não queira … simplesmente pule fora do barco, ele não é pra você.
Outro exemplo é a Liga Extraordinária. Alan Moore criou uma obra de entretenimento, uma graphic novel de super-heróis. Porém, o resultado vai muito além disso e coloca sob o mesmo teto, literatura inglesa vitoriana, livros de Julio Verne, línguas marcianas... e um monte de outras coisas, sendo que parte delas Eu ainda não identifiquei, provavelmente. Entende?! ISSO é arte! É dar um passo adiante e procurar fazer algo ainda não realizado, ou melhorar algo já exaurido. É fazer o cara que pagou por ela querer mais, dá aquela sensação de vitória no fim, e não um reles “Próxima!”.
Mas nem só de referências vivem as obras de arte. Veja o caso de OldBoy da vida. Existem ali referências estéticas, mas sacá-las não é uma espécie de passaporte para o entendimento do filme. Aliás, o cinema de Chan Wook-Park não exige nada mais que atenção a todo o momento com os detalhes visuais e textuais do filme... e estômago. Talvez conhecer a linguagem dos mangás e de outros tipos de literatura oriental ajude, assim como sacar um pouco do modo de vida coreano, mas não é fundamental. É como um delicioso bolo em camadas: quanto mais você conhece, mais partes do bolo pode comer e torna a experiência mais completa. No geral, dar respostas na cara (como um close de dez segundos de um personagem fazendo algo fundamental pra trama, ou o vilão explicando o plano maligno dele no final), não é coisa de gente da arte, eles gostam que você participe e preenche as lacunas com o que você saca também.
Geralmente os artistas gostam de deixar enigmas, pequenos pontos pra discussão, pra não encerrarem a obra assim que você termina de degustá-la. Tipo Era Uma Vez na América, em que Noodles (Robert De Niro) começa e termina o filme mandando ver no ópio... o que abre a possibilidade do brilhante e épico longa-metragem que você acabou de ver não passar de uma viagem de um mafioso chapado. Mas, no fim, a escolha é sua, a arte permite isso também.
Caso ainda não tenha entendido, é só mentalizar a diferença entre Transformers e Blade Runner (isso, para citar somente filmes de robôs). Um é unicamente um espetáculo visual com cenas mal cortadas de brigas de robôs - e no fundo, no fundo, só vale a pena porque a Megan Fox decidiu abrir aquele capô - enquanto o outro é um conto moderno, que mesmo com a idade relativamente avançada para essa cultura de imediatismo que está sendo pregada, flerta com o futuro e lança questões fundamentais até na clássica pergunta quem somos nós?. Eu gosto dos dois (não muito de Transformers, para ser sincero), mas creio que existam momentos corretos para cada um. Às vezes é preferível ver Forrest Gump, e às vezes, Clube da Luta (para mim, o segundo melhor filme de todos os tempos). Pode ser que seu expediente de trabalho, que mais parece as lagartas de um Panzer te esmagando, impossibilite você de assimilar uma obra de arte em sua totalidade. Nesses casos, manda um Debi & Lóide e seja feliz.
Nessa altura da conversa você talvez esteja profundamente irritado, afinal, parece que taxei de superior quem gosta de arte (e me acho superior, por querer definir algo tão subjetivo quanto isso). Bom, entenda como quiser, mas realmente acho superiores os filmes de arte. Mas, como toda a regra, temos exceções, e não curto diversas das coisas taxadas de arte por aí, como Almodóvar, e a onda de culto em cima de Bollywood, enquanto gosto e assisto inúmeros filmes de entretenimento.
Mas, mesmo com a discussão a respeito disso não se esgotar de forma alguma, o lance é que, você define seus conceitos, não precisando ir na onda de ninguém quanto ao que é bom e o que é ruim, o que é arte, o que é entretenimento, e o que é lixo descartável. Cada um tem seus valores, e cada um tem sua visão. Só não a queira impor a sua ninguém... e sempre, SEMPRE tenha opinião própria.
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TEXTOS REVISADOS # 24 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 24

Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:41 pm

RESENHA – IRON MAIDEN – POWERSLAVE

Escrever algo que ainda não tenha sido resenhado sobre uma banda tão consagrada como o Iron Maiden não é tarefa fácil. Talvez seja ainda mais difícil escolher um dentre os inúmeros clássicos que foram lançados pela banda. Então, depois de pensar alguns dias, decidi optar pelo Powerslave, pois foi o álbum do Iron que mais ouvi e o considero um representante legitimo do que a banda representa para o Heavy Metal no mundo inteiro.
Quinto álbum de estúdio da banda, Powerslave foi lançado em 84, época em que o Heavy Metal estava a todo vapor no cenário musical, e graças ao grande sucesso de seus álbuns antecessores, The Number Of The Beast (82) e Piece Of Mind (83), Powerslave logo se tornou um clássico, pois vendeu milhares de cópias em poucos dias, prova maior de que os fãs aprovaram sua sonoridade, que não foi prejudicada pelo fato da banda lançar um álbum por ano, fato impensável nos dias de hoje.
A banda contava com Bruce Dickinson nos vocais, que estava no auge de sua forma cantando muito e dando seu toque melódico nas canções, Steve Harris mandando muito bem com seu baixo galopante, além da dupla de guitarristas Dave Murray e Adrian Smith que deram um show de técnica e entrosamento em todas as composições, e por último Nicko McBrain sempre rápido e preciso na bateria fechando esse quinteto que é considerado até hoje como a formação clássica do Iron Maiden.
O álbum começa com Aces High que possui riffs certeiros e acelerados, o vocal é cantado “nas alturas” - marca registrada de Bruce - que no refrão se destaca ainda mais pelo alcance e versatilidade de sua voz, essa música trata de assuntos relacionados a combates aéreos. Em seguida, temos Two Minutes To Midnight que segue uma linha mais balanceada, com uma leve mudança de andamento em algumas partes, culminando também em um excelente refrão, essa musica traz referências ao medo de uma guerra nuclear. Depois desses dois clássicos temos em sequência as boas Losfer Words (Big ´Orra) que é instrumental, Flash Of The Blade, The Duellists e Back In The Village, todas com um som rápido e direto, porém nenhuma delas figura entre as músicas tocadas pela banda ao vivo. Para finalizar, mais dois clássicos imortais do Iron: Powerslave, que tem uma progressão muito curiosa e bem elaborada, pois sua velocidade e ritmo vão mudando conforme a canção vai se desenrolando, fala sobre a ganância humana. Rime Of The Ancient Mariner possui mais de treze minutos e tem como destaque o desempenho de Steve Harris, que além de destruir no baixo, ainda compôs com maestria essa música que conta a história de um marinheiro que sofre uma maldição em alto mar, baseado em um conto do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1798-1834).
Claro que quando se trata de uma banda muito famosa, e que ao longo de sua carreira lançou vários álbuns geniais como o Iron, cada um vai ter seu preferido, meramente pelo gosto pessoal, e por isso acho que não exista certo ou errado, tudo depende de como você se conecta e se identifica com as músicas do disco. O fato é que nunca conheci alguém que goste de Heavy Metal sem gostar de Iron Maiden, só isso já mostra como a banda é importante para o gênero musical e que sua música significa muito para seus fãs, que assim como eu, não perdem nenhum show da banda, que costuma ser inesquecível e épico, como comprovei na turnê Somewhere Back In Time em 2009...”Scream For Me Brazil”.
Até a próxima.
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Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:41 pm

Baraldi é Dez, Rap Dez

O premiado – e “sangue bão” – cartunista Márcio Baraldi lançou, recentemente, o 14º livro de sua carreira, com a coletânea do Rap Dez, o primeiro personagem rapper dos quadrinhos.
O livro mantém o padrão caprichado das publicações anteriores do autor. Com 52 páginas coloridas em couché e capa plastificada, traz prefácios de Paulo Lima (editor da Viração) e do escritor Ferréz , além de depoimentos de vários artistas do rap como DJ HUM, Rappin Hood, XIS,Toni C e de outras personalidades como os mestres da HQ brasileira Emir Ribeiro, Fernando Ikoma e Getulio Delphim, além do jornalista Osvaldo Bertolino. O livro ainda traz duas caricaturas do Baraldi feitas pelos mestres da HQB Osvaldo Talo e Fernando Ikoma.

O lançamento é uma parceria do selo GRRR!.. do cartunista e da revista Viração, vem no formato magazine (21 x 28 cm) e custa R$ 10,00, podendo ser encontrada nas principais livrarias e comic shops.

O Personagem - Publicado desde 2003 na revista Viração, Rap Dez tem suas histórias narradas em versos rimados, sempre retratando temas politizados de interesse da juventude, tudo com o bom humor e energia positiva típicos do Baraldi. Foi criado para a revista desde seu início e logo se tornou a mascote da publicação.
Viração - Com linha editorial politizada, mais que uma revista, é um projeto social e tem o apoio do Ministério da Cultura, da Unicef e da Unesco. Conta com a participação de jovens secundaristas e universitários na sua pauta e produção e, além de Baraldi, grandes ilustradores como Natalia Forcat, Lentini, Marcelo Rampazzo e o mestre Novaes.
O autor – Baraldão é um workaholic de mão cheia e vencedor de vários prêmios em sua carreira. Saiba mais sobre sua história em nossa edição # 21 onde publicamos uma extensa entrevista com ele.
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TEXTOS REVISADOS # 24 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 24

Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:42 pm

Aulas de Roteiro – Final

A notícia que mencionarei em instantes parece que veio na hora certa e serve de exemplo para muito roteirista, inclusive este que vos escreve. Sei que está curioso para saber que notícia é essa, mais até do que o resto do conteúdo da parte final da aula (Sim! Você que estava revendo aquele remake de uma famosa novela brasileira e chegou agora, perdeu as outras três partes dessa aula...), então vamos lá, eis a notícia:

“But even if it did, and even if you kept it just to the American continents, it still would be wrong. When you have something like Teen Monica’s Gang being printed in Brazil. Issue 34 here, united two popular characters in a kiss, and added 100,000 sales, bringing it to a total of 500,000.”

Tudo bem. Deve estar se perguntando: “por que esse idiota colocou esse texto em inglês?”. A questão é que se eu colocasse um link do Terra, UOL, Ofuxico, etc ninguém acreditaria. Tudo bem, temos jornais mais sérios, mas nada como um veículo internacional especializado para dar mais credibilidade e também, nada como a notícia na íntegra. O trecho acima fala da repercussão da Turma da Mônica Jovem, pois enquanto no mercado americano as vendas são alavancadas por morte de heróis conhecidos (Capitão América, Batman, Superman, Homem-Aranha...) ou por reboots sem fim (Crise nas Infinitas Terras e o “novíssimo” Novos 52 da DC Comics), um cara adorado - e ao mesmo tempo odiado - por muitos consegue um feito inédito: vender 500 mil exemplares. O conteúdo é, unicamente, um “pedido de namoro”. Mauricio de Sousa é tratado quase como um Walt Disney versão brasileira e ainda há lugares que relatam que TMJ vendeu não 500 mil, mas mais de 600 mil o que faria da criação de Mauricio a HQ mais vendida do mundo!
Por que eu estou falando tudo isso? Ora, que o mercado brasileiro não é justo, todos nós sabemos disso. Aliás, muita coisa e não somente os quadrinhos são justos. Nessa lista podemos colocar os salários para os professores, garis, funcionários dos Correios, o fato do Sarney estar na Academia Brasileira de Letras e outros caras nem passam na porta... Isso só para ficarmos limitados a alguns exemplos. Então injustiça não é novidade. O que quero dizer é que muito roteirista e/ou quadrinista reclama de falta de oportunidade e tudo mais. Só que a criatura não faz mais por merecer e com todo respeito está ali porque quer. Um mínimo de esforço nessa injustiça toda já te coloca em uma condição favorável. Clamar por direitos sim, mas viver o ócio jamais! Esse talvez seja o mais importante de todos os textos que essa aula publicou. Desenvolva-se teoricamente, depois avance uma casa no tabuleiro, comece a treinar, experimentar, arriscar... Feito isso, busque divulgar seu trabalho, envie para editoras, caso não consiga publique de forma independente. Não tem dinheiro? Blogs estão aí para isso e o FARRAZINE também. No final, seu trabalho será recompensado de forma justa. Danilo Beyruth, alguém conhecia? Hoje, com certeza muita gente conhece. O maior vencedor do HQMix de 2011 e, com certeza, ele deve ter uma infinidade de propostas.
Gabriel Bá, Fábio Moon, Rafael Grampá...
Saiba estar sempre disponível ao novo. Foram assim que esses caras chegaram onde estão. Inovando e trabalhando cada vez mais. A profissão de roteirista não tem descanso. Ou você tá estudando e se atualizando a “tudo”, ou você infelizmente não vai resistir muito. Aprenda a gostar de ler várias coisas, estudar várias ciências e arriscar de todas as formas. Incluse, desenvolva-se até no marketing, pois vai precisar. Ou vai me dizer que Mark Millar é tão badalado hoje por causa do quê? Falar nisso, não percam a sensacional, fantástica e incrível fase final de Cidade Nua, escrita por mim e que estará nas páginas seguintes dessa revista. Sophie irá morrer? Quem é o homem dentro do robô de combate na cidade? Não percam! É mais ou menos assim que funciona o marketing e não tenha medo de fazê-lo. Nunca chegue e fale “minha obra tem muito a melhorar, é uma porcaria, mas dá uma olhada aí que com o tempo eu vou ficar melhor”. Desencana rapaz! Imagina uma editora recebendo seu e-mail dizendo uma coisa dessas, ela nunca, JAMAIS, vai querer isso. Basta você mesmo ter consciência de que está em constante aprendizado e isso basta. Deixe que os outros falem ao lerem e pegue tudo que eles disserem, guarde, rebobine e avalie tudo. E lembre-se do seguinte “o sucesso e o fracasso são ilusórios”, então custa pouco para que você saia de uma ponta e chegue até a outra. Não se sinta o rei do mundo com elogios e muito menos o pior roteirista do mundo com duras críticas. Esse é o essencial para qualquer profissão e inclusive desta tratada aqui, a de roteirista.
Finalizando, como eu havia prometido, reservarei um espaço para agradecimentos. Obrigado a todas as 152 mulheres que me mandaram e-mails com fotos provocantes e com endereços e telefones anexados. Agradeço também as empresas que me mandaram presentes em troca de divulgar a marca deles nessa coluna (/mentira on/ a mais acessada do FARRAZINE! /mentira off/). Muito obrigado Coca-Cola, Nike, Supermercados Pão-de-Açúcar... Adorei os brindes e o cachê também! Ok, falando sério... Devo ter recebido uns três e-mails e uma MP via fórum (risos). Obrigado ao Lucas L. Remigio e para vocês verem que um roteirista pode ter a atenção de uma mulher (viu? Não precisa ser um Doutor Universitário, político com influência ou jogador de futebol) quero agradecer a Paloma Diniz por essa caridade (ela falou das aulas) para com esta pessoa (a propósito, deixei meu telefone na MP, ok?). (Risos) Brincadeiras a parte, se tem mais alguém que não mencionei, provavelmente a bagunça do meu e-mail impossibilitou que eu te encontrasse e, sendo assim, obrigado anônimos!

Encerro aqui as Aulas de Roteiro

Por Rafael C. Oliveira
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TEXTOS REVISADOS # 24 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 24

Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:42 pm

RITEANDO

Por Rita Maria Felix da Silva

Juliana



Juliana morava numa casa velha, às margens do Rio das Velas.
Ela não se sentia grande, especial ou importante. Sentia ser apenas ela mesma.

Vivia sozinha uma vida monótona — e que nunca se acabava — numa paisagem fria e enevoada. Pelo dia, caçava e comia feras daquele lugar ou se alimentava dos frutos pendurados nas árvores.
À noite, simplesmente dormia.

Na maioria das vezes, dormir significava um grande vazio escuro só interrompido pelo nascer do sol. Porém, havia momentos em que ela sonhava, sempre o mesmo sonho…
A última das guerras e a mais terrível arma que já fora usada.
No sonho, ela via uma grande bola de fogo, de fulgor tão assassino, cujo brilho, ao se extinguir, levava consigo toda a humanidade.
E, então, sonhando ela assistia dois homens que se dedicavam a uma conversa estranha:

— O que é isso, Anatole?

— É uma simulação virtual, Andrej, um pequeno mundo artificial existindo apenas no ambiente virtual deste computador.

— Mas por que esse cenário?

— Realmente não sei. Acredito que seja um bug no programa. Eu imaginei uma dezena de outros cenários, a maioria bem mais gloriosos, mas todos definharam nesse e não consigo modificá-lo.

— Ora, se é um bug, conserte.

— Temo que não haja mais tempo, Andrej. Tenho acompanhado as discussões dos políticos. Eles estão loucos, amigo. Vão usar a arma a qualquer momento, sim, aquela que construímos, depois disso… É tão horrível. Estou muito assustado. Como chegamos a algo assim? Destruir o mundo…
Nunca imaginei que…

— Anatole, nós fomos tolos e ambiciosos e nos deixamos levar por promessas de glória e dinheiro. Mas prefiro não falar disso. Se não tem jeito, não quero perder o pouco tempo que eu ainda possa ter. Sobre a simulação, e quanto a essa garota?

— Sim, é linda, não é?

— Magnífica! Usou alguém real como modelo?

— Acredite ou não, tomei como base
uma antiga namorada, de minha época na América do Sul. Batizei minha simulação com o mesmo nome da original: Juliana.

— Anatole, você está se tornando um velho nostálgico.

— Talvez.

— E ela tem consciência de que é apenas uma simulação numa realidade virtual?

— Oh, não. Juliana acredita que ela mesma e seu mundo são tão reais quanto você e eu.
Ah, e é inteligente e sensível como qualquer ser humano. Quando a humanidade se for, ela será o último legado da espécie humana.

— Uma obra de arte, pena que será destruída com o tempo e o colapso da civilização.

— Não, Andrej. Sei que parece difícil de acreditar, mas criei este computador e esta simulação virtual para sobreviverem e continuarem funcionando, ao menos em teoria, para sempre.

— Se conseguiu algo assim, é um feito impressionante. Minhas congratulações.

— Obrigado… Espere. Uma mensagem em meu celular. Andrej, acabo de ser informado, os políticos tomaram uma decisão. Eles vão usar a arma. Será a qualquer instante. Estou com muito medo.

— Eu sei que pode não ser grande consolo, mas quando ativarem, o fim vai ser tão rápido que ninguém terá tempo de sentir qualquer dor.

— É verdade. Ao menos isso. Adeus, Andrej, você foi um bom amigo.

— Você também, Anatole. Sabe, nesses momentos finais, advinha onde eu realmente gostaria de estar? Se eu pudesse agora estaria em…

Então, de um horizonte a outro, preenchendo céu e terra, a grande bola de fogo devorava o sonho. Juliana acordava. De todo aquele diálogo, em uma língua desconhecida para ela, entendia apenas seu próprio nome dito por aqueles homens. Perturbada, não voltou a dormir aquela noite.
Ela esperava o sol se erguer novamente. Tentando evitar a lembrança daquele sonho bizarro, levantou-se e saiu para caçar, colher e se alimentar, como fizera no dia anterior e como faria sempre. Assim era a vida de Juliana.

Fim

Dedicado a Heitor Serpa Vasconcelos
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TEXTOS REVISADOS # 24 Empty Re: TEXTOS REVISADOS # 24

Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:43 pm

Entrevista com Daniel HDR

FARRAZINE – Fala, Daniel! Muito obrigado por participar do zine com esta entrevista! Fuçando um pouco no seu histórico como desenhista, vimos que você começou a carreira cedinho, com 14 anos mais ou menos, colaborando com ilustrações para revistas com espaços dedicados aos leitores. Como foi essa primeira experiência e como surgiu a oportunidade?
DANIEL HDR - Foi excitante. E não sei se conseguiria comparar com algo assim nos dias de hoje (pô, quem lê deve achar que eu tenho uns 100 anos). Minhas primeiras HQs foram de Terror e de Sacanagem, desenhadas em papel vegetal, por solicitação dos editores, a fim de diminuir custos com fotolito. Era tudo muito inóspito, de início, e curioso. Sem parâmetros, a não ser o que eu lia nas bancas, de super-heróis a quadrinhos de Terror da Press e da D'Arte. Essa salada visual transparecia sem critério nas páginas... você fazia, mandava pra editora e depois aguardava ansiosamente pela revista na banca. Sem spoilers e, muitas vezes, sem colher o feedback. Mas devo admitir que isso tudo foi muito, muito rápido. Acho até que não tive um período para me resignar a somente estudar narrativa e desenho para então, quando me sentisse preparado, encarar uma experiência de publicação. Quando surgiram oportunidades, eu meio que fui dando murros em ponta de faca e fiz. O que pude aprimorar, foi com a pratica já publicando, fosse em meus fanzines, ou já em revistas de distribuição nacional. Esse ritmo sem freio de mão acho que me ensinou a não me acomodar no referente ao meu aprimoramento. Acabo vendo a mudança como um aprendizado, bem como um desafio, e quando se trabalha com isso de 4 a 6 horas por dia, você precisa saber aproveitar a diversão que o desafio técnico proporciona.

FZ - Na época que desenhava o Digimon, sua vida pessoal estava passando por um momento bastante difícil, combatendo uma doença grave na família. Lembro de uma entrevista onde você comentava que era barra pesada desenhar bichinhos bonitos enquanto a vontade era deixar tudo pra lá. Você pode contar pra gente como foi superar toda essa situação, mantendo a sua carreira em alto nível e, inclusive, melhorando contratos e oportunidades?

HDR - Essas situações mostram o comprometimento profissional do autor. É algo que quando se é iniciante, ouve falar, mas imagina nunca ter que passar por algo assim... mas cedo ou tarde, muito ou pouco grave, você passa e precisa saber administrar. A jornada de acompanhar a luta de minha mãe contra o câncer (que ela foi vitoriosa) foi intercalada com páginas sendo feitas em uma mesa no quarto dela no Hospital, ou então após levá-la às sessões de quimio e rádio terapias. É uma situação que, no início, te deixa inseguro pelo que virá depois, mas dá força para fazer tudo melhor. Nessas situações muitas vezes jogar tudo pro alto pode parecer o mais convidativo... mas carregar sua cabeça com os medos e ansiedades que uma situação dessas causa só piora as coisas, e manter a mente ocupada é a melhor saída. O trabalho acaba sendo um alicerce. E saber desligar as preocupações para se concentrar no trabalho pode, no início, parecer impossível, mas aos poucos vai sendo até benéfico e deixa bem claro de que tem hora para tudo. Inclusive de mandar tudo à merda. Essa disciplina reflete no que se faz e traz os benefícios que você mesmo citou.

FZ - O seu pai também era desenhista e adorava quadrinhos, não é? Certa vez você comentou que depois da morte dele, em 1981, sua vontade de desenhar aumentou e você não parava de produzir... Ele foi o seu maior inspirador como desenhista?

HDR - Agora sendo mais velho, vejo que essa vontade de criar personagens e, consequentemente, desenhá-los era meio que uma busca de foco no meu futuro, pois ele morreu quando eu tinha cinco anos, sabia que ele era desenhista e, se eu desenhava, era por incentivo dele. Algumas vezes quando sou questionado sobre o que eu faria profissionalmente se não fosse um desenhista, chego a pensar que talvez por rebeldia adolescente, eu nem fosse um desenhista profissional, caso meu pai estivesse vivo. Provavelmente para me afastar da escolha dele, coisa típica de adolescente. Mas não é assim e até penso como seria legal conversar com ele sobre quadrinhos, arte em geral, pois ele gostava de quadrinhos, de animação etc. Quando converso com Deodato (NR.: Mike, também desenhista), às vezes comento como ele é sortudo por ainda ter o pai dele consigo (pra quem não sabe, o pai do Deodato foi autor de quadrinhos, roteirista e desenhista, e já realizou muitos projetos de HQs com pai e filho).

FZ - Você ilustrou a Glory, em 1995, no auge da explosão da Image Comics. Como foi a experiência de trabalhar com eles? Aquele traço típico estilizado como Jim Lee, Marc Silvestri e Liefeld era obrigatório? Você se sentia livre para desenvolver sua arte normalmente?

HDR - Na época foi legal! Digo "na época" porque eu não desenhava realmente daquele jeito, meu traço era mais diferente, com influências de quadrinho europeu e narrativa de mangá. Essa adequação estética era a meta de mercado na época, algo bem diferente nos dias de hoje (ainda bem), mas na curtição de ver seu trabalho sendo aceito e publicado, isso era só um detalhe. Foi um período interessante, também pelo aprendizado junto a outros colegas da mesma época, que se tornaram amigos, como Luke Ross, o próprio Deodato, Roger Cruz, Marcelo Campos, Joe Prado, entre tantos outros. Naquele período, meu trabalho mais autoral tinha vazão mais nos fanzines, no caso, o RAFF, que eu fazia desde 1988 (desde meus moleques 12 anos de idade). Foi um período estranho falando em mercado, pois após uma expansão violenta das editoras destinando muito trabalho nesta estética "Image" para vários artistas, e em diferentes publicações, a "bolha editorial" explodiu nos EUA e muitas pequenas editoras fecharam, além das grandes enxugarem seu catálogo e cancelando revistas, reduzindo seu quadro de colaboradores, etc. Sorte ou não, quando isto aconteceu, eu estava me impondo um intervalo nos trabalhos para os EUA, pois estava por concluir meus estudos em Publicidade e Propaganda, e me formar tinha mais prioridade (e despendia mais de meu tempo e dinheiro) do que a produção mensal das publicações da Marvel (para quem eu estava trabalhando na época). Ao concluir o curso de PP, na virada de 99 para 2000, apareceu o trabalho do Digimon e daí não parei mais com quadrinhos.

FZ – Atualmente na DC, você considera que atingiu o “Monte Olimpo” dos desenhistas ou há um campo maior a ser desbravado?

HDR - Não. Porque se eu pensar assim, estou me acomodando. E com o mercado digital, sinceramente, um "Monte Olimpo" está muito longe. Se formos pensar pelo lado fanboy, estou trabalhando na editora que tem os ícones do gênero Super-Heróis. Mas todos sabemos que quadrinhos não é só isso.

FZ - Sua carreira como professor começou no Museu de Comunicação Social do Estado do RS, em 1994. Logo depois você começou a lecionar na faculdade (Unisinos) e agora você tem uma escola/agência de quadrinhos (http://www.cursodequadrinhos.com.br/) com o Dinamo Studio. Como é o prof. Daniel ensinando?

HDR - O Dinamo não é uma agência. É uma cooperativa de artistas. Cada artista tem sua autonomia financeira e profissional. Pode parecer uma agência, mas na verdade, todos os artistas que participam do Dinamo Studio tem seu portfólio, e administram seus freelas ou trabalhos contratados com empresas de modo independente. O curso é uma atividade agregadora que envolve estes profissionais, e quando fazemos algum trabalho em equipe, pode até se caracterizar como trabalho de estúdio, mas não dá pra dizer que é uma "agência".
No papel de professor, eu procuro agir vendo o aluno como a mim mesmo no meu inicio... queria informação que me ajudasse, tendo respeito e igualdade a quem estaria na minha frente me ensinando.

FZ - E o contato com os alunos? Como é ver o dia a dia dos meninos que sonham em poder trabalhar como desenhista? Tem alguma ocorrência curiosa ou engraçada para nos contar?

HDR - São tantas que se eu listar uma só, pode soar ou superficial ou até corriqueira. Mas acredite, as pessoas que procuram aprender mais sobre arte sequencial em desenho, cada vez mais têm vindo conscientes que sair publicando o que quiser e achar que sua ideia é magnífica e será aceita por todos é praticamente um equivoco de iniciante (brincamos sobre isto em sala de aula chamando tal perfil de "o fator cabaço"). Então os alunos já vêm com maturidade que, se comparados ao meu início ou depois, tem uma paciência e um pensamento metódico bem mais evidente. Em contrapartida, temos a - ainda - nova "geração z" que tem o imediatismo da internet já em seu dia a dia, e que às vezes demora a aceitar que o processo criativo e artístico tem associado à construção, maturação e comparação, e que não vem de uma hora pra outra, ou que basta baixar um tutorial e já saberá tudo sem treino.

FZ - No seu currículo vemos passagens pela revista do Megaman, da editora Magnum, a adaptação do Digimon, em estilo mangá, além de artes publicitárias em diversos meios e até storyboards para cinema e TV. Cara, como você consegue fazer trabalhos tão distintos com tanta qualidade?

HDR - Por não me acomodar, eu acho. O desenhista não deve entrar em uma 'zona de conforto' pois senão fará sempre a mesma coisa.

FZ - Pela sua variedade de estilos, você sente que a influência oriental acaba refletindo no estilo ocidental (ou vice-versa) na hora de decidir o storytelling de cada revista que você desenha? Nesse caso, isso seria positivo ou negativo, analisando pessoalmente?

HDR - Hoje em dia, bastante na narrativa, postural e em uma fisionomia que outra. Acho positivo. É tudo arte sequencial, é tudo quadrinhos.

FZ - Sua polivalência também é destacada na hora de escrever roteiros. Você pode citar alguns deles para os leitores do Farrazine? Como é o processo de criação de roteiro e arte?

HDR - Admito que trabalhar com quadrinho seriado em longa duração não é meu forte. Eu me sinto mais à vontade em trabalhar com histórias com inicio, meio e fim, ou forçar síntese em poucas páginas. Às vezes cortar arestas de uma extensa ideia resulta em uma boa história curta ou até em uma eficiente narrativa em minissérie. Mas admito que as histórias mais proveitosas que pude desenvolver foram as mais experimentais para fanzines, e indo pra publicações, a que fiz com Fabio Yabu no álbum Mangá Tropical (pois fiz o roteiro inicial e Yabu acrescentou o texto final e trabalhamos no desfecho junto com o editor do projeto) e a recente HQ que fiz para o MSP - Os Novos 50, com Tina e outros personagens. Tem mais coisa sendo feita, nos intervalos de meus trabalhos com comics, mas precisam ser concebidos aos poucos, devido ao volume de trabalho.

FZ - De todos os projetos independentes que você fez, qual foi o mais destacado pessoal e profissionalmente?

HDR - Sua pergunta é vaga... o que seria independente para você? Para mim, independente seria que partiu exclusivamente de mim, sem financiamento de uma editora, ou com personagens que não são exclusivamente meus. Se for isso... acredite, está sendo trabalhado e virá quando as pessoas menos esperarem.

FZ - Há algum projeto autoral a caminho?

HDR - Como eu disse, sim. Mas não quero fazer algo revolucionário, ou inovador, muito menos acho que o que faço - ou farei - será. Esses valores são vistos pelo outro lado (o leitor). Quero simplesmente contar a história.

FZ - Falemos sobre fanzines! Sabemos que você também foi, e é, especialista em publicar material independente. Qual é a maior diferença em publicar na faixa ou ter uma editora controlando tudo pra você?

HDR - O tempo que isso toma. (Risos)

FZ - Sua participação em podcasts (e agora no comando do ArgCast) é conhecida pelos fãs de quadrinhos tanto quanto pelos ouvintes dessa mídia. Como surgiu essa paixão e seu vínculo com eles?
HDR - O trabalho de fazer quadrinhos é, de certo modo, solitário e exige concentração. A pessoa tem seu ambiente de trabalho, seu estúdio, seu workstation, com sua mesa, seus materiais de desenho, etc. Enquanto trabalho na prancheta, costumo escutar notícias no rádio, música... e podcasts... Quando ocorreu minha primeira participação em um podcast, foi no ArgCast. Após isso, foi no Matando Robôs Gigantes, depois no Melhores do Mundo, daí foi um atrás do outro. Essa interatividade e facilidade em levar adiante o ponto de vista me atraíram a esta mídia e, juntamente com o Fabiano "Prof. Nerd" (que é um velho amigo e, antes de ser amigo foi meu aluno também) temos cuidado do ArgCast, que foi agregado às diversas opções de informação do site do curso do Dinamo. O podcast me possibilitou conhecer diversas outras pessoas muito legais e que, na sua maioria, não estão diretamente ligadas ao circulo profissional de autores que costumo conhecer já na minha profissão. Amigos como o pessoal dos próprios podcasts citados anteriormente, como os do HCast, Comicpod, Vortex Cultural, entre muitos outros. o ArgCast tem possibilitado isto.

FZ - E a música eletrônica? Você também esteve (ou está ainda?) metido nessa área com fitas-demo, coletâneas e tal, não é? Fale sobre esse hobby pra gente.

HDR - Você se informou, hein? (Risos) Este ano tive que parar a produção das faixas do Mutewave, o terceiro álbum do Defcon 1, meu projeto experimental de música eletrônica. Faço sem pretensões comerciais, somente me divertindo com a sonoridade e timbres (de certo modo resgatando quando eu fui DJ, dos meus 18 aos 20 anos). Acabei optando por timbres vintage (de teclados antigos) e me arrependo agora, pois o processo criativo está lento, pois exige refino e amostragem dos sons junto aos programas que eu estou usando para as faixas. Mas como já está quase concluído, não pretendo voltar atrás ou desistir. Mas ainda não é possível dizer que este está concluído.

FZ - Das HQs novas que têm surgido qual você destacaria? Que estilo você curte mais na hora de desenhar? E como leitor?

HDR - Pode parecer suspeito de minha parte, mas estou gostando de algumas coisas que antes eram da Vertigo e agora foram agregadas ao decorrente novo universo da DC Comics, como Animal Man, Swamp Thing, entre outras coisas do "reboot" que não posso comentar ainda, mas pude ter acesso e gostei muito. Do que tem sido feito no país, ao mesmo tempo em que tenho gostado de muitas coisas, como o material do Danilo Beyruth, o material do Mondo Urbano, entre outros... Mas uma coisa que vem me preocupando é que está se criando um formato que pode vir a engessar muitos autores... Pelo menos na minha opinião de merda... Tem quem esteja se prendendo demais no formato do "álbum autoral", que às vezes é hermético demais, mercadologicamente falando e, por ser segmentado, acaba por se isolar até de possíveis leitores novos. Ou seja, muito do que se faz está só pra nicho e se satisfaz com isso. Isso que aconteceu com a DC, da venda simultânea digital e física, sem dúvida vai reverberar em um futuro (provavelmente) próximo. Digo isto, pois, se o acesso digital do material periódico (antes de ser adaptado e publicado aqui) tiver opção de seleção de idioma (pode não ter agora, mas deve ter em breve), as editoras que publicam revistas mensais fora do gênero infantil vão se ater aos encadernados (isso já vem acontecendo gradativamente) ou sairão das bancas de vez. Isso mostra que o autor nacional tem dois meios a explorar, o periódico físico e o digital. Como sabemos que o físico sai caro na sua produção e distribuição,... pô... o digital está aí. Sinceramente não se deve reclamar por "falta de espaço", etc. O negócio é correr atrás, aprender esta linguagem e entrar de cabeça, pois está em franca expansão e quem ficar para trás vai ver o trem bala passar.

FZ - Os gêmeos Bá e Moon acabam de ganhar outro Eisner por DAYTRIPPER uma história de morte e vida que lembra muito a obra "Brás Cubas", de Machado de Assis. Este estilo lírico de fazer quadrinhos era a novidade que essa mídia precisava para voltar a fazer os leitores sonharem?

HDR - Isso já era feito em fanzines por eles e antes deles. Não podemos esquecer que o público agora está dando atenção a um prêmio como o Eisner Awards, porque brasileiros foram premiados. Esse prêmio já existe há mais tempo e outros autores na mesma linha já foram agraciados. Assim sendo, o leitor sempre pode sonhar com quadrinhos cheios de lirismo, ou aventura, ou terror... a Arte Sequencial é a porta do real e do imaginário, como qualquer forma de arte que conte uma história. Este comprometimento com a história a ser contada, o grau de entrega do leitor, é o sonho em si. Independentemente da abordagem. Talvez sua questão esteja embasada no que o público brasileiro esteja agora, supostamente, querendo fazer com sua leitura, o "sonhar"... ele já sonha com Turma da Mônica, já sonhava com heróis feitos no Brasil, ou mesmo com os quadrinhos de Terror nacionais... e o Bá e Moon já faziam este tipo de trabalho, já se propunham a contar este tipo de histórias antes de publicarem no exterior. Logo, seja um ganhador do Eisner, ou do HQMix, ou do prêmio de criatividade da feira de arte da sua escola, este autor, quando tem um leitor que compra sua ideia, já faz ele sonhar.

FZ - Falando sobre webcomics... Alan Moore fez um comentário recentemente afirmando que ninguém ainda soube aproveitar esse novo meio de ler HQ. No ponto de vista dele, todas as tentativas até agora foram somente uma transposição do que há no papel para a tela e que ele gostaria de trabalhar e explorar o máximo essa nova alternativa. Você acha a mesma coisa? Dá pra explorar e fazer um storytelling diferente no PC que no papel?

HDR - Desenvolver pensando nas plataformas digitais portáteis, como celulares e mesmo Tablets, tem sido um desafio interessantíssimo. Estive dia desses conversando com o Ivan reis (em um papo que colocaremos no ArgCast, em breve) a respeito disso. Os quadrinhos atuais estão sendo concebidos dentro do pensamento plurivisual, pois o sentido de leitura que conhecemos habitualmente nas páginas de HQ, o qual você olha a página como um painel geral e depois vai de quadro a quadro, ganha valor isolado em cada quadro, fazendo sua visão migrar de uma cena a outra, tendo condução de leitura e formatos de apresentação na tela bem diferentes entre si, ou seja, o autor quando desenvolve uma página agora pensa nas duas mídias, o que deixa o desafio maior e nem por isso menos divertido fazer (pelo menos eu acho). Isso marca uma nova etapa na arte sequencial que, com certeza, é o início de uma nova Era, tal qual foram as Eras de Ouro, Prata, Bronze, Moderna. Estamos no início disso, e sabe-se lá qual será o próximo passo. E pensar que Scott McCloud falou sobre os webcomics já antevendo em 2001, no seu livro "Re-Inventando os Quadrinhos", e num período tão curto de uma década, estamos nós com quadrinhos no celular.

FZ - Com os meios virtuais há muitos projetos "amadores" e novos artistas tendo mais oportunidades para mostrar seus trabalhos. Você destacaria algum artista "desconhecido" da net?

HDR - Que posso citar já de antemão, é Rogério de Souza e sua série autoral "Os Debiloids" e o ótimo fanfiction "Menores do Amanhã", uma visão única da Turma da Mônica, desenvolvida por ele há quase 15 anos. Disponíveis nos sites http://www.osdebiloids.blogspot.com e http://www.menoresdoamanha.blogspot.com

FZ - E o quadrinho nacional? Temos várias “frentes de batalha” tentando seu espaço. Como você encara esse cenário?

HDR - Sinceramente, já estou de saco cheio dessa abordagem de "batalha"... de que fulano está "lutando pelo quadrinho nacional". Como se as bancas fossem uma muralha de um forte e os quadrinhos estrangeiros estivessem dentro deste forte, e os bravos autores nacionais estivessem com um aríete tentando fazer sua entrada nesta fortaleza. O mercado já está todo bagunçado... nem mercado é aqui... as vendas são ínfimas se comparadas há 20 anos... As livrarias têm publicações autorais nacionais até em boa quantidade, mas nas bancas o quadrinho infantil é que está vendendo E MAIS que as revistas de super-heróis... E isso quando as bancas recebem este material, pois a distribuição neste país monstruoso de grande é muito deficiente, o que faz o editor pequeno adotar estratégias diferentes. Temos iniciativas como a do QUARTO MUNDO (http://4mundo.com/), entre outras... Isso só mostra uma coisa: Mexa-se, garanta seu espaço, ache seu público e não espere ser apadrinhado ou descoberto. Na velocidade que as coisas acontecem, ficar parado esperando as coisas melhorarem ou caírem no seu colo é ingenuidade demais.

FZ - Se você não fosse desenhista, o que faria?

HDR - Pô, sei lá... acho que músico. Ou fotógrafo. Certamente, nunca teria um cargo 100% burocrático.

FZ – Muito obrigado pela participação, Daniel. Um forte abraço e vida longa e próspera!

HDR - Eu que agradeço e fico feliz em participar do Farrazine, que é um ótimo exemplo do que eu já disse antes: quer fazer? FAÇA! Não fique esperando! Falou! Um abraço a todos!

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Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:44 pm

Entrevista com Flávio Luiz

NOME: Flavio Luiz R Nogueira.
NATURALIDADE: Salvador – Bahia.
DATA DE NASCIMENTO: 29/11/1964.
PRIMEIRA REVISTA QUE LEU OU QUE C0MPROU: Almanaque Invictus (Batman e Super-homem) de janeiro de 1970 da editora EBAL.
REFERÊNCIAS GRÁFICAS/ARTÍSTICAS: Gibi semanal da RGE, Spirit, Mortadelo e Salaminho, Asterix, Luke Lucky, Kid Farofa... E principalmente MAD, primeira fase da Vecchi!
ÚLTIMA BOA COISA QUE LEU (OU ASSISTIU): HQ-Neandertal (primeira trilogia) do Roudier pela Delcourt. Livro - O Guardião de livros de Cristina Norton pela Casa da Palavra e Tókio Proibida de Jake Aldestein pela Cia. das Letras. Costumo ler vários livros ao mesmo tempo (tem gente que prefere novela...). Assistiu - Capitão América - O Primeiro Vingador.
O QUE ANDA LENDO NO MOMENTO: HQS - Histórias do Clube da Esquina do Laudo, Morro da Favela do André Diniz, THE AVENGERS (Marvel Masterworks # 10) e relendo Avengers - THE KOVAC SAGA.
Livros - “Mad Men - Comunicados do Front Publicitário” do Jerry Femina pela Record, O Rei do Mundo, David Remnick pela Cia. das Letras e Como a Geração Sexo, Drogas e Rock n’ Roll Salvou Hollywood do Peter Biskind da Editora Intrínseca.
HISTÓRICO PROFISSIONAL (RESUMO): Autodidata, comecei em 1983 desenhando uma HQ para o colégio UCBA-SSA onde fiz o 3º ano um ano antes, depois passei a criar e desenhar mortalhas de Carnaval (avós dos abadás) para vários blocos em Salvador. Comecei a trabalhar como ilustrador publicitário e em 1993 me tornei chargista e ilustrador do extinto Jornal Bahia Hoje. Publiquei de forma independente dois números de Jayne Mastodonte Adv (HQMIX 99 e Troféu Alfaiataria em 2006) e um livro da tirinha ROTA 66 (/Jab, Um Lutador) que depois foi publicada durante três anos no Correio da Bahia, de 2000 a 2003, onde trabalhei como ilustrador de 2000 até 2008. Depois de 33 prêmios em diversos salões (HQMIX, etc.), hoje moro em SP, desde outubro de 2008, onde publico meus livros (Aú, O Capoeirista e O CABRA) e atendo o mercado publicitário como ilustrador.
PERSONAGENS E PUBLICAÇÕES AUTORAIS: Jayne Mastodonte, Rota 66 /Jab, Um Lutador, Aú, o capoeirista e O CABRA, além de participar na criação de diversas mascotes como o Assolan e, recentemente, ter criado o REDECARD para a ÁFRICA.
RITMO DE PRODUÇÃO DIÁRIO: Na época das tirinhas cheguei a nove por dia, o que é uma insanidade. Mas hoje entre um “frila” (freelancer) e outro, uma página de HQ é uma boa média. Sem “frila” são duas.
TÉCNICAS QUE DOMINA (PODE LISTAR TAMBÉM AS QUE NÃO DOMINA): Nanquim sobre papel. Photoshop pra pintar. Não domino nenhuma das duas, mas vou dando um jeito até hoje... (risos)!!!!
HQS, LIVROS E FILMES DE CABECEIRA:
HQs de cabeceira - Kid Farofa do TK Ryan, qualquer número; Capitão Klutz (do finado Don Martin, do MAD); The Avengers, do Byrne; X-Men, a fase do Byrne; Ant Man, também do Byrne (foram dois números). É o Scott Lang , não o Henry Pim. Plastic Man, Sgt Rock, os archives... Spirou et Fantasio... Já deu pra ver que minha cabeceira é enorme, né??? (risos) Mas esses são os que volta e meia eu leio e releio...
Filmes - Blade Runner, O Décimo Terceiro Guerreiro, Testemunha Ocular, Star Wars (a primeira trilogia), Casablanca...


BETONANDO GERAL o FLAVIO LUIZ
No ano em que o “Golpe de 64” foi deflagrado em nosso país (ou a “Revolução”, se seu pai era militar na época), nascia na “Terra de Todos os Santos” um cabrinha da peste que, contrariando todas as estatísticas e probabilidades, não virou pai de santo, não integrou nenhuma banda de axé (embora tenha criado “mortalhas” para alguns blocos) e não brincou de olé com Bobô ou Bebeto (embora seja torcedor roxo do Bahia). O universo pluricultural de Dorival Caymmi, de Dodô e Osmar, de Gil e de Caetano, ganharia naquele 29 de novembro um novo talento artístico: Flavio Luiz!
Sua infância foi regada a muito bullying, leitura de gibis, riscos e rabiscos e exposição excessiva aos raios ultra-neons-gama dos seriados de TV, mas entre uma merendinha e outra de acarajé ou de vatapá, entre uma e outra lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim, “Flavin Baiano” desenvolvia um sonho: o de ser desenhista. O que na época ia de encontro com as expectativas de painho e de mainha que queriam ver o seu filho seguindo uma carreira promissora, como um respeitado médico, engenheiro ou advogado, ou na pior das hipóteses, jogador do Bahia ou assessor de ACM.
Flavin, insistiu, persistiu e uma vez grandin, formado em Administração, resolveu que estava na hora de administrar a sua vida e em 1996, de posse da obra de Eisner “Quadrinho e Arte Sequencial”, colocou-a debaixo do sovaco e rumou para Barcelona, onde aprimorou sua arte estudando na escola de quadrinhos Joso Comics. Lá perceberam de cara que seria um desperdício de tempo ele fazer o curso completo e lhe incentivaram a partir direto para o mercado.
Com o ego inflado, mas o bolso vazio, Flavin Baiano naquele mesmo ano rumou para os states, em busca de um contato com a MAD que só não acabou em MERD... graças a sua passagem por uma San Diego Comicon. Lá teve o raro privilégio de conversar e de mostrar a sua arte (Jayne Mastodonte # 1) para duas feras da arte sequencial: Sergio Aragonés e Jeff Smith. Ambos foram amáveis e cordiais, demonstrando inclusive, estarem superantenados com o que rolava no país Brazuca: Pelé, Bossa Nova e Escrava Isaura, foram temas de debates entusiastas e calorosos. Elogiaram sua arte e lhe deram dicas de como fazer a diferença nesse meio tão competitivo e por vezes desleal, que é o do universo dos quadrinhos e afins. Munido desse kit de sobrevivência e nutrido com um “cremosin”, Flavin retornou a Salvador, em 2008, deu um “triplo twist estendido" e saltou para Sampa, onde reside “inté” hoje. Recentemente agraciado com mais um Prêmio HQMIX em sua prateleira, fruto de sua obra “O Cabra”, Flavio Luiz pode, enfim, olhar pra trás com satisfação e gratidão por não ter abandonado o seu sonho de criança. Para quem já foi vítima de situações constrangedoras, quando ao se apresentar como “cartunista” em SSA (Somos Salvador Até morrer), pediam-lhe para que lesse a sorte, já que “jogava cartas” ou pior, ter se deparado com um recenseador que ao ouvir sua profissão de “ilustrador”, perguntou de que tipo... móveis ou paredes?
Flavin deu a volta por cima e venceu! Seu olhar continua o de um menino, treloso e sonhador, só que agora voltados para uma única direção: o futuro! Para o alto e avante, sempre! Com vocês, Flavio Luiz Nogueira, “O Cabra” que faturou o HQMIX de melhor publicação independente de autor:

Enfim, a dita cuja... A entrevista!
FARRAZINE - Viver profissionalmente, da arte no Brasil, é um privilégio de poucos, apesar de existir uma demanda de mercado e uma legião de artistas talentosos em nossas fileiras pranchetais. Ao que você atribuiria esse quadro tão contraditório? O clássico provérbio do “santo de casa...”, em nosso país assumiu um caráter literal – ortoxo-dogmático–de-extrema-direita-maxi-ultra-conservadora-inquestionável?
FLAVIO LUIZ - Só agora as HQs e seus profissionais estão tendo o devido valor. Houve períodos anteriores (a época do Chiclete Com Banana) prejudicados pela situação econômica, mas acho que agora estamos na melhor época para se viver de HQ no Brasil. O problema persiste nos vícios por parte de quem contrata, querendo sempre o melhor por quanto menos possa pagar e boa parte do publico leitor, que apesar de gostar de HQ, espera sempre uma revista barata demais, ao mesmo tempo em que paga o que cobrarem por um ingresso pra show ou CD, festa, festa, festa... Mas isso está mudando e para melhor, graças a Deus.
FZ - Jayne Mastodonte foi a sua primeira personagem, mas foi com o “Aú” que seu trabalho ganhou uma maior projeção nacional. De onde vieram as inspirações (ou transpirações) para a criação desses seus personagens e qual o diferencial que você creditaria ao “Aú”, para ele ter conseguido uma aceitação bem maior que os seus antecessores?
FL - Jayne foi uma brincadeira com as personagens belicistas, lindas, mas infelizes das HQs americanas no começo dos anos 90 e apesar do sucesso agradou apenas a um grupo restrito de aficionados. É puro MAD!!!! O Aú preencheu uma lacuna num nicho de personagens 100 % brasileiros. Ele é otimista, positivo, carismático, destemido e está tendo uma aceitação maior do que eu esperava na vida! Estou fazendo o número 2, mas apesar de ter três anos que lancei, a procura pelo numero 1 ainda é grande!!!

FZ - Sua mudança de Salvador para São Paulo também contribuiu para o reboot de sua carreira. Essa mudança de habitat de produção foi opcional ou circunstancial?
FL - Eu sou 100% baiano, mas durante uma época recente e prejudicial (mas que graças a Deus está mudando) não caí na “caricatura de si mesmo”, que alguns detentores de poder político e midiático tentaram e conseguiram embutir na cabeça de uma grande parcela da população que, mesmo sem fazer nada, produzir nada, achava que merecia o titulo de gênio, de porreta, de superior porque dança isso ou dança aquilo. E SÓ! Eu me tornei um chato pra muita gente (e sou mesmo - risos) e reclamava de coisas que hoje estão num nível insuportável. Tem mais gente reclamando agora, graças a Deus!!! Como baiano, sou muito mais do que essa caricatura imposta e aceita mais meu trabalho, lamentavelmente não conseguia o retorno que merecia. Muitos padeceram do mesmo mal. Li em uma biografia que o gênio artista plástico Calazans Neto tinha seus quadros apedrejados e cuspidos enquanto pintava no Dique do Tororó. Muitos tiveram que deixar a terra em que nasceram para se afirmar dignos de nota em terras distantes. E veja só, hoje são cultuados!!! (risos) Por me apresentar como cartunista, as pessoas pediam pra eu ler a mão, já que lia cartas... E EU ESTOU FALANDO DE REUNIÕES COM PUBLICITÁRIOS!!! Esse desconhecimento no trato e no respeito ao que faço me fez TER que mudar pra SP, terra que eu amo desde criança, e onde estou tendo o reconhecimento que mereço. As coisas melhoraram muito em Salvador e hoje temos uma produção que repercute positivamente aqui e no resto do país, e aposto que mais até do que lá, tanto que tenho sempre recebido e aceitado convites para participação e palestra em eventos com outros, igualmente talentosos, artistas do traço 100% baianos!

FZ - “O Cabra” foi uma aposta nova e ousada. Afinal, o cangaço é um tema pra lá de surrado, batido, chupado e espremido. Só este ano, tivemos o lançamento de mais 4 cangaceiros e um quarto. Em que o seu “cabra da peste” traz de contribuição nova para esse universo ardente, inquietante, sedutor e megaexplorado e por que ir de encontro a essa temática? Pra acrescentar ou pra “tumultuar”?
FL - (Risos) Não é nada disso. Acho que O CANGAÇO é um tema rico e que, discordando de você, ainda pode ser muito mais explorado. O CANGAÇO é o nosso Western e por que não, no meu caso, a nossa ficção científica. O tema é tão rico que todas as abordagens citadas por você têm seus particulares e têm fôlego para seguir agradando por muito tempo! A minha é mais uma na briga! (Risos) Acho que apenas não adianta imitar modelos importados e o segredo é buscar esse diferencial 100 % nacional na abordagem.
FZ - Fora isso, houve uma divulgação da moléstia, com direito a um teaser no You Tube e tudo mais. Qual o segredo? Com a maturidade veio a experiência “macetal” ou você arranjou um novo produtor artístico ou está fazendo hora extra com uma “nova” profissão nas madrugadas da Av. Paulista?
FL - O teaser, o merchandising, etc. são retratos do nosso tempo multimídia e temos que acompanhá-lo. Pena eu não ter condições ainda de apresentar meus personagens nos formatos mais atuais, ou em games, action figures, etc. Mas o sonho existe. Antes, porém, acho que tenho que fazê-los mais conhecidos no formato que lhes deu origem (as HQs).
FZ - O Rio Comicon, no ano passado, deu origem a um frenesi comicon como nunca se viu antes neste país. Quais são os pontos positivos dessa enxurrada de eventos para o mercado e para os artistas brasileiros emergentes e sobreviventes?
FL - Superimportante. Os artistas estrangeiros vivem também desse contato com o público e com os colegas e isso realimenta o mercado, fazendo-o pulsar. Artisticamente e economicamente. Eu, como fã, não perderei a oportunidade, como não perdi no tempo em que rolava isso “de caju em caju”, gastando mesmo que de ônibus, dinheiro, saúde, o que fosse para estar presente ou aqui em SP ou no Rio, ou BH ou Brasília diante dos meus ídolos e de gente como eu (leia-se NERDs de carteirinha! - Risos). É fundamental a existência cada vez mais constante desses eventos e mostra o quão bom está o momento pelo qual estamos passando. Que venham mais e que, se possível, que me convidem também! (Risos)

FP - Tanto o “Aú” quanto “O Cabra” possui o perfil editorial das principais publicações estrangeiras, com um acabamento gráfico mais requintado e direcionado para um público consumidor específico. Com a diminuição do público formador de leitores de quadrinhos, oriundos das “bancas de revistas” e o afunilamento do mercado, concentrando-se principalmente nos lançamentos para as livraria, você não teme que, em longo prazo, esse público consumidor cada vez mais envelhecido também não repita o ciclo que as “cigarreiras” e “tabacarias” estão experimentando no momento de hoje?
FL - Temos que nos adequar aos novos tempos. Minha experiência com banca de revista foi frustrante, já que mesmo custando 2 reais vendi 5 exemplares da Jayne Mastodonte (realidade de Salvador na época. AÚ e O Cabra têm vendido muito mais hoje por lá). Por outro lado em BH, Rio e SP nas COMIC SHOPS vendi o suficiente para ganhar um HQMix com o número 1. Acho que HQ boa vende em qualquer lugar, mas hoje a competição com outras mídias faz que a HQ impressa seja um artigo mais voltado a quem curte de paixão, independentemente se a adquire em banca ou livraria. Exatamente por querer e preferir pagar, como leitor, numa HQ o mesmo preço e muitas vezes mais, do que muitos preferem pagar num CD ou ingresso pra Show, não me incomodei tanto com a mudança de banca pra livraria e, exatamente por respeitar e amar tanto, aceitei e quis fazer o meu material com a melhor qualidade possível, isso mesmo, a custa de um maior lucro ou dividendos. O preço dos meus títulos diante da qualidade gráfica oferecida está muito aquém do sensato! (Risos)
Nessa hora, ser meu próprio editor me poupa da bronca (risos). Pode botar na calculadora. Acontece, como lhe disse, que muitos preferem “colocar debaixo da camisa” a revistinha da banca, mesmo barata, do que pagar mais caro, por um material pra vida toda, ao artista que oferece o sangue e a alma num material que acredita e que espera ser compartilhado por aqueles que gostam, como ele, das HQs! Esse tipo de leitor que sempre quer o barato e que se dane o artista, eu dispenso! Concluindo, mesmo sem nunca ter fumado, adoro o ambiente das tabacarias e se esse é o futuro do meu meio de vida, que seja...

FP - As poderosas Marvel e DC, recentemente, renderam-se ao mercado digital. Seria esse o caminho do quadrinho por aqui também? Será que o povo do “jeitinho” seria tão receptivo como os europeus e norte-americanos estão sendo?
FL - Acho que sim, é o futuro, mas ainda teremos revistas impressas. Matar uma barata na parede do banheiro usando o ipad2 enquanto você está no vaso sanitário será mais prejuízo do que se você a acerta com a velha e boa revistinha enrolada! (Risos)

FZ - Voltando ao mundo mágico de Flávio Luiz. Quais são os seus novos projetos e em que pé eles se encontram? Alguma possibilidade de termos um “The Cabra Returns” ou “Jayne Mastodonte Begins” na área, na sala ou na cozinha?
FL - Aú 2 em fase primeira de páginas a lápis para depois passar a tinta e pintar. São 46, estou nesse momento na página 40. Além disso, antes de voltar ao CABRA 2 ou Jayne, uma graphic novel, espero retomar a ROTA 66 e lançá-la num formato livrão (em paralelo para ipad, se Deus quiser).

FZ – E, pra finalizar, esse ano Stan Senil Lee nos brindou com duas informações que poderíamos ter sobrevivido sem: que a coisa do Coisa é dura como pedra e a do sr. Fantástico, estica e puxa que é uma beleza. O que nos faz indagar se os créditos das criações da Marvel não deveriam ter sido mais bem contrabalanceados entre ele e o imortal Jack Kirby? Mas, voltando o foco para as pérolas de Lee, o maior enigma do universo fálico da Marvel não foi revelado: e o Surfista Prateado? Como ele faz pra mijar? Ou o Galactus? Além de comer planetas também é chegado em aperitivos exóticos e nhac... No nhoc do coitado?! Qual sua opinião filosófica a respeito para esse dilema existencial que aflige 11 entre 10 marvetes?
FL - Quantos anos tem o Stan Lee? (Risos) Acho que são brincadeiras e nunca levei tão a serio esse universo de superheróis, apesar de amá-lo tanto e talvez por isso mesmo. Não podemos levar tudo tão a sério! Jack Kirby, Ditko, Dick Sprang e muitos outros mereciam melhor reconhecimento, mas, e isso não tem nada a ver com o mercado de HQ, existem aqueles que “sabem ganhar dinheiro” e outros que são mais “artistas” e não tem esse tino comercial. Eu mesmo, sem minha esposa e produtora, Lica de Souza, estaria ainda em Salvador reclamando do cara da banca por ter deixado a Jayne molhar e tomar sol ao ponto de desintegrar na minha mão. Stan Lee está riquíssimo e fez muito pelas HQs. Ao mesmo tempo não se importou, como eu e muitos outros, em ver o Surfista Prateado (meu personagem favorito) ser torturado ou ter sua força atrelada à prancha no último filme do Quarteto e não o contrário, como acontece nos gibis. Acho que o problema está nessas historias que tentam explicar tudo de forma racional e realista demais e acaba ficando pior. Essas sagas megassanguinárias e confusas estão matando o quadrinho mensal! Alan Moore, outro doido, dá um show com TOM STRONG, já que explica as coisas de forma aceitável, apesar de tão absurdas. Sempre achei que o Surfista tinha uma sunga por cima. Se fosse criação européia, ele estaria nu e seria normalíssimo. No caso do Surfista sinto mais falta das orelhas! (Risos)

FZ - Hora de dizer bye e de agradecer pelo tempo dispensado, pela cortesia e paciência. Encontro marcado no FIQ em BH. Nas considerações finais, algum recadinho altruísta ou sádico para os jovens que estão pensando em enveredar pelo caminho dos quadrinhos e se tornarem os próximos ”Jim Lees”, “Todd Mcfarlane’s” e por aí vai, (percebeu que ninguém quer ser Ziraldo, Cedraz, Henfil ou Flavio Colin?)?
FL - Em 1996, tive a sorte de conhecer pessoalmente dois ídolos que nortearam minha carreira: Jeff Smith, de Bone e Sergio Aragonés. O primeiro, em Angouleme, viu minha produção ainda não publicada da Jayne e do Jab (naquele tempo eu não havia criado a Rota66). Ele me disse: “Olhe só, cachorrinho por cachorrinho, já existe o Snoopy. Se seu cachorrinho está sendo criado para ser apenas mais um, será que ele realmente precisa ser criado? De que adianta? É isso que você quer? Ser apenas mais um? Veja o que você quer para sua carreira e suas criações e trabalhe para atingir seus objetivos”. Eu criei a Rota 66 em 99 e fui bem mais feliz com eles. Tem gente que se contenta em ser cópia do Jim Lee e etc. e outros, mais autorais como eu, querem deixar uma marca mais duradoura e definitiva.
O Sergio Aragonés olhando meu portfólio, em San Diego (no único ano que consegui ter dinheiro pra estar lá) disse que meu caminho seria um dos mais difíceis, porém um dos mais bonitos. Difícil, pois meu estilo não é pro mainstream, não seria jamais um Jim Lee ou um desses caras que detonam nas anatomias superheróicas, sacam tudo de perspectiva e passam horas num só quadrinho. Eu sou muito cartoon. Então ele disse que se um personagem meu emplacasse também, ninguém tiraria o lugar dele. Espero um dia entregar pessoalmente exemplares do Aú e do Cabra e agradecer a ele pelas palavras! Enfim, eu acho que não devemos imitar ninguém ou querer ser esse ou aquele artista. Sermos nós mesmos já é tão difícil. Mas é só o que nos cabe. Porém, sejamos os “melhores nós mesmos” que pudermos! (Risos)





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Mensagem por Kio Qui Out 20, 2011 2:44 pm

Seu nome é Jeff, Allan Jeff.

Costumo dizer que as verdadeiras amizades superam as provas do tempo, da tolerância aos defeitos, e da distância.
Com Allan Jeff não é diferente. Nunca vi esse homem pessoalmente, mas apesar da distância, é um amigo presente na minha vida. Conhecemo-nos nas redes sociais (salve o “feicibuuk”) e começamos a conversar sobre coisas em comum: QUADRINHOS. Recentemente, fiz teste de arte final para o mercado de quadrinhos, coincidentemente os desenhos eram páginas feitas por ele; após o insucesso do teste, mostrei pra ele e, gentilmente, ele me orientou no que melhorar.
Mesmo à distância, eu na Paraíba e ele em Minas Gerais, sempre partilhamos o nosso cotidiano.
Allan Jefferson trabalhou nas seguintes HQs: Teen Titans, LJA, Taco Time – Thor, War Machine #6 -7 e #9-10, Crosshair, Predators, Iron Man vs. Fun Fang Foom, Transformers Prime. Em algumas fez capas, noutras fez desenhos internos e arte final.
Aproveitei-me da intimidade e convidei-o para uma conversa sobre seu ofício sagrado de todos os dias: desenhar.
FARRAZINE - Boa noite, Jeff.
Allan Jefferson - Boa noite.
FZ - Não quero te atrapalhar...
AJ - Tudo bem, não está.
FZ – Quero, primeiramente, agradecer por você ter aceitado meu convite para esta entrevista.
AJ - É um prazer. Vai ser pelo talk mesmo?
FZ - Sim e ficará registrado para eu transcrever com calma antes de enviar para a edição do Farrazine. Jeff, você faz jus aos apaixonados por quadrinhos? Que comem quadrinhos, respiram quadrinhos, leem quadrinhos, bebem quadrinhos... ou não?
AJ - Eu queria fazer mais. Já fui assim. Ia a todos os eventos que podia, lia muito revistas da Marvel, DC, Dark Horse, etc. Incluindo os mangás! Mas com o tempo fui mudando meus gostos por leitura. Claro que você não deve pensar que eu não adoro os quadrinhos, independentemente de ler ou não, ainda amo esse universo.
FZ - E como foi este enamorar por quadrinhos? Seu primeiro contato com este universo?
AJ - Eu posso dizer que tive dois "primeiros contatos”. O primeiro foi o básico, aos seis anos seus pais começam a lhe dar revistas para você aprender a ter gosto por leitura e claro que nisso os quadrinhos ajudam demais! Afinal, palavras com imagens são mais assimiláveis. Mas isso durou apenas alguns anos.
O grande amor mesmo veio em 1994, quando a paixão pelo antigo desenho dos X-Men me levou a comprar a primeira edição com meu próprio dinheiro: X-Men 70 - Programa de Extermínio, Parte 3. E daí pra frente foi só aumentando.
FZ - Eu lembro deste desenho, era muito bom! A 1ª edição dos X-Men que comprei foi a nº 50 que tem a primeira aparição de Jubileu e a morte de Vampira. E como foi que você se tornou desenhista de histórias em quadrinhos?
AJ - Foi no FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) que teve em BH no ano de 2007. Quando o Editor da DC Comics (Ed Berganza) veio nos fazer a primeira visita. Houve uma avaliação de portfólio e quando eu fiquei sabendo, corri para lá com uma pasta A3 cheia de desenhos! O normal para avaliação é de 7 a 10 folhas, a maior parte em páginas e talvez uns 2 pinups. Eu levei 70 folhas (risos). Queria mostrar tudo e não sabia escolher. Fui o último em uma fila gigante que durou 2 horas ou mais. Levei uma ex-namorada, escolhi rápido 7 páginas na hora, pedi para ela segurar bem próximo dele os que eu não ia mostrar e mostrei apenas essas 7. Ele viu e quis analisar os outros 63 desenhos (risos). Claro que nessa hora eu pirei de alegria.
FZ - E qual foi o primeiro contrato pra desenhar quadrinhos?
AJ - Liga da justiça. Um teste pago, resultado dessa avaliação. 6 páginas de lápis, arte final e muita dor nas mãos (risos).
FZ - Lembra o número dessa edição da Liga?
AJ - Liga da Justiça n°75 no Brasil; a original eu não me lembro agora...
FZ - E o que você está desenhando no momento?
AJ - Uma minissérie chamada "Devil is Due in Dreary". Além de uma história curta de 6 páginas que fiz para um site.
FZ - Como é seu ritual de trabalho?
AJ - Bem vampiresco, na maioria das vezes: trabalho à noite, de madrugada e, às vezes, de manhã. Aí vem o caminho que eu sigo: Leio o roteiro (ou o que me enviaram dele, pois nem sempre vem por inteiro), leio de novo e começo a esboçar cenas. Faço os layouts em A4 e envio. Quando vem o retorno, aprovação e etc., passo o layout para o A3 da seguinte forma: faço uma impressão da página em formato A3 (no meu caso, duas folhas de A4 coladas), Faço mesa de luz em cima do layout e, a partir daí, mudo e melhoro o que eu sei que pode ficar melhor no lápis.
FZ - Quais foram os trabalhos que marcaram pessoal e profissionalmente? Aqueles que você não esquecerá nunca!
AJ - Essa é uma excelente pergunta, mas complicada de responder de uma forma exata.
O primeiro (que já comentei), depois o que eu fiz de 4 edições para Marvel no "War Machine”, e o atual, onde eu criei muito do visual. São grandes trabalhos para mim, que me enchem o peito. Mas nunca deixaria os outros de lado, incluindo “Crosshair” para a Top Cow, onde também criei o visual com o Marc Silvestri. Eu nunca esquecerei estes, mas para ser sincero, tirando raras exceções, tive um bom relacionamento até agora com meus clientes e valorizo demais isso. É o mais importante nesse trabalho, pois é apenas assim que você fará tudo da melhor forma, tanto para você, quanto para o cliente e também para quem for ler. Só que sempre pode melhorar.
FZ - Quais os artistas que te influenciaram?
AJ – (Risos) Tantos! Vou citar os que mais influenciaram: Moebius, Travis Charest, Kevin Nowlan, Mark Farmer, Stuart Immonen, Alphonse Mucha, Adam Hughes, Shinkiro, Koji Morimoto, Paolo Eleuteri Serpieri, Berni Wrightson, Tim Bradstreet, J. G. Jones e JH. Williams. São artistas cuja arte eu admiro muito e me serviram como escola.
FZ - Você rói o lápis enquanto está pensando no que irá desenhar?
AJ – (Risos) Depende do momento. Não existe uma regra entre não saber o que desenhar e saber. Às vezes eu sei de cara, às vezes demora um tempinho. Mas uma coisa é certa, eu gosto de trabalhar com roteiros. Justamente porque me sinto bem em poder colocar algo novo em cima daquela determinada ideia que me passaram. Ou seja, eu adoro fazer “adaptações” dos roteiros que me passam. Mas sim, às vezes isso demora um pouco, às vezes não. O problema é que, nesse trabalho, não se pode demorar muito, então você é obrigado a encontrar incentivos para o cérebro.
FZ - Mas você rói o lápis?
AJ – (Risos) Lapiseira, no meu caso. Isso é uma mania? Eu tenho uma diferente.
FZ – (Risos) Qual é esta mania?
AJ - Quando eu estou muito empolgado em fazer uma página, começo a mexer os dedos como se estivesse contando. Faço isso enquanto olho o que posso fazer no desenho. Como toda mania a gente só nota depois que já está rolando.
FZ – (Risos) Obrigado pela entrevista, Jeff.
AGRADECIMENTOS:
Ao próprio Jeff por ter enviado gentilmente as fotocas suas e alguns desenhos para meu e-mail.
Maiores informações sobre este rapaz:
http://www.spacegoatproductions.com/talent/Allan_Jefferson.pdf
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