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TEXTOS PARA REVISÃO - # 19

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Mensagem por Kio Seg Out 25, 2010 11:45 am

Conto - Marcelo Soares
Título: Salada
1 página

Corria uma gota de sangue do dedo indicador da sua mão direita, mesmo com a ardencia da dor do corte leve pela faca de cozinha, que instantes atrás cortava o tomate em pequenos pedaços, Laura não se preocupava com esse incomodo. Os olhos se fixavam através da janela, onde olhava seu cachorro - um labrador de pelo branco - brincando com um osso de plástico, das pupilas desciam lágrimas que molhavam sua pele.

Lembrava do dia de seu casamento, o quanto planejou, ficou nervosa, sonhou com um futuro lindo e belo para os dois. O noivo, um homem apaixonado e trabalhador, a festa perfeita, toda familia compareceu, tirou fotos, filmou, o bifé foi servido, os convidados sorriam. Isso foi há dez anos atrás, quando tudo ainda era um sonho, quando não sabia da infidelidade do marido, de seus casos no trabalho, nas saidas para o futebol com os amigos, nos telefonemas secretos no meio do dia. Quando o sonho ainda era possivel.

Ela enxuga as lágrimas no rosto, junta o tomate cortado à salada em um prato em cima do balcão, leva para a mesa da cozinha fazendo companhia ao feijão cozido, arroz, macarrão, figado e suco.

- Eles estarão com fome quando chegar aqui, tenho certeza amor - Diz ela para seu marido.

Um homem agora perdido em um único pensamento: como ela pôde fazer isso? Um pensamento que atormentará sua alma, já que seu corpo - um amontoado de carne ensaguentada caída no chão da cozinha - estava agora sem vida, esperando ser descoberto pelos policiais que chegavam junto a sirene do juízo final de seu casamento.

Laura se senta a mesa, olhando seu trabalho bem feito, como teve cuidado em preparar o almoço como sempre fez, como foi cuidadosa e carinhosa por todos aqueles anos. Uma gota de sangue cai de seu dedo indicador da mão direita em cima da salada. Enfim, ela teve sua vingança.


Última edição por Kio em Seg Jan 03, 2011 9:09 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Kio Seg Out 25, 2010 11:56 am

Conto urbano - Vino
1 página




Aquela armadilha pseudológica e sem sentido nenhum continuava insistindo em vir à tona em minha consciência: “Estou à beira do mar. O mar é um abismo. Logo...” E olhava para diante, para as ondas, indeciso entre pular para junto de meus primos e ficar por ali mesmo, assobiando covardemente. Claro, não há perigo nenhum em pular no mar de cima de uma rocha metro e meio acimal se o lugar tiver uma certa profundidade e você saiba nadar. Era algo que coçava, que me avisava atrás da esquina de meus sentidos. Um perigo.
“Pula, pula!”, gritavam os canalhas. Eu me senti um suicida. Talvez isso explique a minha alegria selvagem ao me lançar no ar e cair nas ondas. Um pontinho perfeito. Fendi as águas com graça (acho eu), a resistência da água diminuiu a minha queda até a interromper, eu voltei para a superfície e limpei os olhos. Sorria, orgulhoso. Um rapaz de treze anos tem que provar sua coragem constantemente a seus amigos e familiares. Só que não era o medo que me prendia à pedra, então. Era o conceito do mar. Sua grandeza. Como ter Deus na sua frente, imensurável. E aí? Como fazer? (E aí, Deus? Dia gostoso, né?) Mas estava aliviado. A água me envolvia, a temperatura era deliciosa, a sensação agradável, mesmo que estivesse turva. Relaxei.
Imagine a minha surpresa ao ver os olhares aterrorizados dos outros, apontando algo atrás de mim e gritando, gritando algo que eu não conseguia entender porque meus ouvidos estavam cheios d´água, que eu só pesquei o final da frase: “...rão!” A confusão não durou meio segundo (Deus abençôe Spielberg). Um tubarão! A verdade me atingiu como um tijolo. O mundo começou, súbito, a girar num ritmo bem mais lento. Disparei a nadar em direção à pedra. Enquanto nadava as coisas mais loucas corriam em minha mente: seis salva-vidas atiraram bóias em minha direção, mas eram bóias de cortiça, pesadas então eu tinha que me desviar delas e continuar nadando como se todas as forças do inferno estivessem em meu encalço. Aliás, estavam. Uma das bóias me acertou a cabeça, mas segui em frente, sem agarrá-la. Senti que começava a perder minhas bermudas, mas a nudez não me importou, me foi completamente indiferente. Apenas rezei pra que as bermudas, descendo, não atrapalhassem o bater dos meus pés. Podia sentir os dentes terríveis em meus calcanhares. Imaginários também, óbvio: única explicação possível para eu continuar com os calcanhares. Um barco se aproximou. “Estou salvo!”, me lembro de ter pensado, mas olhei para cima e vi a baleeira de Ahab, com avançando com ele na proa, gritando pela morte da baleia branca. Horrorizado, percebi que ele estava se referindo à minha bunda branca dançando nas ondas. Não havia o que fazer, senão cerrar os olhos e nadar, nadar para escapar da morte, nadar até o túnel colorido e mergulhar em seu interior translúcido, quente e confortável como uma cama. Quase podia sentir a textura dos lençóis.
Pior é que era uma cama, mesmo. Acertei a cabeça na pedra, nadando desesperado, e fui pro fundo. Quase me afoguei. Se não fossem os filhos-da-puta dos meus primos, os mesmos que me avisaram do tubarão, eu teria me afogado. E, claro, não tinha tubarão nenhum. Mas isso só soube depois.
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Mensagem por cpanhoca Qua Out 27, 2010 8:29 am

bom... aqui vai a minha contribuição:

"A regeneração do desconstruto.

Não me lembro direito de como cheguei aqui. Lembro-me de ser um inteiro incompleto no começo da minha jornada. Abandonei-me aos poucos. Não conseguiria isso sem a ajuda de meus avôs. Sem eles eu nunca teria doado meu rim. E nunca largaria a venda que me impedia de ver o mundo. As dores que antes eu afogava começaram a me atingir. Cruzei várias fronteiras. Esperando que a humanidade mostrasse para o que veio.
Meus órgãos que filtravam preencheram minha televisão. Preguei meu cérebro no coração de Jesus. Deixei minhas pernas aos pés da montanha. Subi ao cume. Obtive a vista panorâmica. Alimentei os pássaros com meus olhos. Selei meu coração numa carta à NASA. Num ato de misericórdia, doei meu esqueleto e dei origem a uma nova espécie de minhocas estruturadas.
Abandonei o resto em algum lugar. Não me lembro como saí da montanha. Aqui estou.
Ascendi aos céus. Encontrei-me frente a frente. Por quê? Por que nos fez assim? Qual foi o nosso grande pecado? Silêncio. Não. Não, você. Você já não é mais o mesmo que eles. Você deixou sua natureza. Diga-me o que sou. Diga-me você o que é. Eu sou o criador, sou o onipresente. E tu, o que és? Eu sou o desconstruído, e sou presente em todos, mesmo não sendo onipresente. Então você também é Deus. Não. Não nasci para ser isso. Eu sou a ideia. Sou o fruto. O que te torna a mordida. Por quê? Porque você é a criação, e eu sou a desconstrução. Mas você fez a gênese através da minhoca. Não. Eu dei o osso. Ela fez a nave. Simetria bilateral e regeneração. São só conceitos. Conectou-se com a natureza. A natureza é o coma. Canso-me disso. Você sabe porque veio até aqui. Não, vim aqui pedir sua explicação. Por que castiga-nos? Não castigo a ninguém, nem você, nem a humanidade. Faço o que posso por eles, se duvidas, tome o me lugar. Não posso. Eles são o que eu já fui. Assim como eles já foram a minha imagem e semelhança. E como é o peso do mundo sobre as suas costas? O mesmo de um atlas. Insignificante. Então aceito o seu lugar. Mas você sabe o que vou fazer. Sei. E não vai tentar me impedir? Se eles são o tumor, salve a criação máxima. Achei que eles fossem a criação máxima. Não, eles lutam por terra e morrerão pela falta de sementes. Se essa é a sua vontade então eu ordeno: Frutos, parem de gerar sementes! Era só uma metáfora, mas funcionará. Por que você não os descriou? Não posso. Sou igual a eles. Então temo que seja hora de eu te levar também.


O tumor é a regeneração desenfreada. Adeus.


Olá, chama-se Adão. Você ainda é o primeiro de sua espécie. Dê-me um de seus anéis e farei uma fêmea para que vocês mantenham o seu legado. Como vocês querem ser chamados?

Seremos chamados de ideias."

n sei se postei no topico certo, mas enfim...
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Mensagem por Kio Qua Out 27, 2010 11:22 am

cpanhoca escreveu:n sei se postei no topico certo, mas enfim...

É aqui mesmo, Carlão. Smile
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Mensagem por cpanhoca Qua Out 27, 2010 12:24 pm

beleza... estou fazendo uma HQ de umas 4 paginas, mas n garanto que eu consiga até o prazo(sou meio lento)... se der tempo eu posto aqui...
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Mensagem por Kio Qua Out 27, 2010 3:18 pm

cpanhoca escreveu:beleza... estou fazendo uma HQ de umas 4 paginas, mas n garanto que eu consiga até o prazo(sou meio lento)... se der tempo eu posto aqui...

Opa, isso é interessante. Se você achar que dá pra finalizar até começo de dezembro, pode reservar pra esse número. Smile
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Mensagem por Kio Qua Nov 03, 2010 8:24 am

Texto: Jardel
1 página

Rotina

É estranho falar o que se passa aqui dentro. Afinal, são só atitudes cotidianas e nada além disso. Mas, afinal, isto aqui me basta.
Tenho muitos livros para ler, muitas músicas para ouvir e a rotina sempre a ajudar. Levantar logo cedo, fazer exercícios, arrumar a casa, preparar o almoço, lavar as vasilhas, cuidar da horta, andar de bicicleta, pegar mais livros e comida, voltar para casa, colocar o lixo para fora e incinerá-lo, ler, escrever um pouco e ir dormir. A rotina. É ela que me mantém.
Tenho aqui em casa papel suficiente para escrever mil livros. Todos os dias escrevo. Não me lembro quem disse que 20% do que fazia era inspiração e 80% transpiração. É isso que faço. Vinte páginas por dia. Sento e escrevo. Até chegar a hora de dormir. Tomo banho e me deito para que o sono venha e eu espere pelo dia seguinte. Pela rotina do dia seguinte.

Ontem, algo aconteceu que quebrou a rotina.

Nada pode quebrar a rotina.

É preciso disciplina.

Muita disciplina.

Quisera eu ser Deus para que sempre chovesse na hora certa e as estações fossem sempre exatas. DISCIPLINA. ROTINA. Sempre. Para que nada saia dos eixos. Mas ontem alguém veio me visitar. Queria sentar e conversar. Falar sobre o que houve e dividir um jantar. ROTINA. Queria ficar, disse estar sozinha há tempos, que era bom encontrar alguém que tenha escapado. NÃO. DISCIPLINA. ROTINA. Vá embora, saia! Eu não a queria ali. Ela queira ficar, insistiu. Morreu a pauladas. ROTINA. Trinta e duas pauladas. Foi bom manter o físico com os exercícios. Foi fácil matá-la e seus pedaços estão junto ao lixo para queimar.

ROTINA.

Amanhã ela vira cinzas e fumaça. A ROTINA me mantém de pé. Não sei quem está vivo lá fora e se todos realmente morreram e me deixaram só. Somente a rotina me impede de enlouquecer. Amanhã, queimo o lixo para voltar tudo ao normal. Nada pode abalar a rotina. EU NÃO VOU ENLOUQUECER. Rotina. Só a rotina me mantém saudável. Só ela me mantém são.
ROTINA.

DISCIPLINA.

ROTINA.

Só ela me impede de enlouquecer.
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Mensagem por snuckbinks Sáb Nov 06, 2010 6:59 pm

Piece of My Heart
3 páginas

Texto e Diagramação SNUCK

Teve várias coletâneas póstumas.

Nascida no Texas em janeiro de 1943.

Janis Joplin teve uma carreira apaixonada e rápida.

Cresceu ouvindo Bessie Smith e Leadbelly e começou a cantar country e blues na década de 60.

A cantora Janis Joplin teve sua vida interrompida por sua morte aos 27 anos.

Em 1966 que tornou-se vocalista de uma banda, Big Brother and the Holding Company, formada por Sam Andrew e James Gurley comandando as guitarras, Pete Albin no baixo e David Getz na bateria.

Em 1967, no festival de Monterrey, Janis Joplin contagiou a platéia, por sua versão de “Summer Time”, impressionou também a voz rouca e a performance sensual, cantava blues como nenhuma cantora branca havia feito até então.

Em 1969, iniciou sua carreira solo. A rapidez com que ficou famosa talvez tenha sido um tanto violenta para uma personalidade tão instável. Janis passava da euforia ao desespero. Chegou a ser presa por dizer palavrões em um de seus shows.

Em 4 de outubro de 1970, alguns dias após as gravações do álbum Perl, ela foi encontrada em um quarto de Hotel em Hollywood, com picadas de agulha recentes, no braço.

Janis veio ao Rio no fim dos anos 60, talvez ali uma ultima tentativa de se safar do vício em heroína, Mas acabou enchendo ainda mais a cara, o que culminou em um topless na praia de Copacabana.

Ela foi eleita o garoto mais feio do colégio.

Desde a adolescência, enchia a cara com gosto: uísque, maconha, anfetaminas, ácido, tabaco, vodca, cocaína, heroína..

O único namorado fixo que teve morreu no Vietnã.

Ela sabia que era um gênio. Podia estar doidona, mas era consciente de seu papel como artista, sabia que era maravilhosa. Só que tinha um lado depressivo, de auto-estima baixa.

Janis cantava em bares do circuito folk em Austin, Texas por volta de 1963 e 1964 cantando acompanhada pelo violão.

Ela arrancava as roupas no palco e costumava reclamar que, depois de "fazer amor" com mil pessoas num show, voltava para seu quarto e dormia sozinha.

Apesar da pose, era frágil e angustiada. Tinha momentos de alegria, ria como menininha, mas era uma pessoa muito sofrida.

Quando esteve aqui, passou praticamente despercebida. Fez um show por mera obra do acaso em um puteiro e foi expulsa de um hotel

Foi rejeitada em Port Arthur, Texas, onde nasceu, porque só andava com músicos, a maioria negros.

Na boate, encontrou o Serguei, que estava cantando no local, a reconheceu, parou tudo, e a anunciou, convidando-a para cantar, ela subiu ao palco e cantou "à capela". Todos que estavam no local, aplaudiram e vibraram, mandando drinks para a mesa.

Janis tinha mania de tomar suco de laranja, era um ritual, preparava suco toda hora - depois jogava gim.

" Eu sei cantar. E os caras disseram: Corta essa, Janis. Mas eu insisti, e comecei a cantar igualzinho a Odetta. Os caras vibraram".

Kio, tentei seguir aquelas sugestões que vc me fez! - 15.11.2010
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Mensagem por Brontops Sex Nov 26, 2010 10:45 am

(Segue - com bastante atraso - o conto que eu havia prometido. Aceito sugestões, comentários... Abs)


O Amadurecimento (ou Errare humanum est)

1
O menino e o vira-lata caminhavam entre as orgias nas planícies do planeta Xanax, entre bundas, esporões, tetas, caudas, falos, cristas e vulvas. Aqui e ali girafoides pisavam com cuidado entre os corpos dos amantes, saboreando com suas línguas-tentáculos aqueles mais palatáveis. A aurora se aproximava iluminando o teto da estepe: o momento mais intenso da noite já se fora e muitos dormiam uns sobre os outros, no sereno. Spaceboy usava uma lanterna e o vira-lata ajudava, enfiando focinhos em frestas, procurando um cheiro humano.

Encontraram-na ressonando entre duas pilhas masculinas. Identificaram-na pela tatuagem nas costas, mas era quase desnecessário. Ela era a única humana entre os extraterrenos daquele planeta. Era a primeira vez que via uma mulher tão de perto. Parecia jovem, não muito mais velha que ele. Conferiu o relógio e pediu à Nave-de-guerra relatórios caso detectasse a chegada de Forças Imperiais: havia uma recompensa considerável por sua cabeça. Mas ali, por enquanto, estava anônimo. Ele sentou-se junto com o vira-lata e esperou a moça acordar.

Quando um dos sóis nasceu, a maioria dos extraterrenos começou a despertar. Ela se sentou e viu aquelas duas figuras observando-a. Não escondeu sua nudez, usou a mão para sentir o próprio mau-hálito e fez uma careta.

“Nunca viu?”
“Não.”
Sem saber o que responder diante da negativa, coçou o rosto e fingiu que não estavam ali. Ela se ergueu e caminhou trôpega em direção ao rio: dezenas de amantes já caminhavam em direção a água para se lavarem. Outros iam às barracas situadas na margem da floresta, onde mascates vendiam desjejum e pílulas contra dor-de-cabeça. Alguns recolhiam suas garrafas. Improvisou um coque e entrou no rio até a cintura para mijar. Muitos outros faziam ou já tinham feito o mesmo. O menino e o seu cão ficaram à margem, observando.
“Você vai me seguir?”

Ela saiu da água e usando a palavra-senha liberou o acesso à Bolsa infradimensional de onde vieram um vestido leve e uma calcinha. Só. Ela andava descalça pela grama, acompanhada de perto pela dupla. O menino fixou o olhar nas solas dos pés dela, que não se feriam ou ajuntavam terra ou lama. A mulher acelerou o passo, tentando desaparecer em meio ao despertar dos carnavalescos. Depois de se embrenhar entre os extraterrenos na fila do pão-de-queijo, ela se safou por trás da barracas. Imaginando ter se livrado de Spaceboy, ela sorri. Mas então sente uma língua-tentáculo em seu pescoço: olha para cima e lá está o garoto montado no Girafoide.

“Preciso de uma professora. Alguém para me ensinar a ser humano.”

2
Láudano e Spaceboy sentados em uma mesa dobrável de metal comendo uma porção de cérebros. O menino achou pesado para tão cedo, mas o vira-lata extasiava-se com os restos jogados. Ela fumava um Marley e escutou a conclusão da história do garoto (Não lhe era totalmente desconhecida, Spaceboy construíra uma reputação nas fronteiras).
“Preciso de alguém para me ensinar o que é ser humano.”
Baforou a fumaça para o alto enquanto batucava suavemente o maço, marcando o ritmo para seus pensamentos antes de responder.
“Esquece esta história. Volta para sua casa.”
“Não tenho casa, não tenho ninguém.”
“E não terá a mim também.”
O segundo sol nasceu finalmente: a pele e os olhos incomodaram-se com a luminosidade extra, os extraterrenos mais sensíveis vestiam sua roupa para proteção. O vira-lata escondeu-se sobre a sombra dupla da cadeira, o menino usou a mão para barrar a luz, ela chamou a Bolsa e tirou óculos escuros, uma loção de protetor e pílulas, as quais tomou num gesto automático. Ela era bonita: filha de burocratas poderosos do planeta Valium, crescera em uma mansão nefelibática cercada por robôs e empregados extraterrenos. Há quem diga que assassinou seus pais. Ou que fugiu de casa por interesse romântico e não-humano. Outros, que se tornou mercenária para comprar joias e vestidos caros (Nunca usou sapatos). Arrumou um monte de inimigos na Corte e hoje atua mais nas fronteiras do Império Humano. Spaceboy não sabia mais a quem recorrer: ele crescera isolado de todos e embora conhecesse muito de tudo, pouco entendia da humanidade. Diante da negativa, sem saber como reagir, começou a chorar.

Láudano tirou o cigarro para melhor abrir a boca. Fazia décadas que não presenciava isto. Sentiu-se subitamente constrangida como se fosse uma pornografia abjeta.
“O que está fazendo? Pare com isto, menino!”

Ele não parou: o choro virou canto e, apesar do brilho alaranjado do segundo sol, os demais extraterrenos, aqueles com olhos para ver e ouvidos para escutar, voltaram-se para aquela mesa e repetiram em suas próprias vozes aquela melodia e Láudano sentiu-se pesada como se a gravidade fosse inadequada e ela pediu a caixa de lenços de papel na Bolsa, mas não conseguiu encontrá-la e ela se deixou convencer antes que as fossas lacrimais desmoronassem.
“Pare com isto, eu lhe ensino.”

3
Durante os próximos dezesseis episódios de Spaceboy, o menino e a loira se tornaram os protagonistas. Juntos, adquiriram falsos chips e atravessaram clandestinamente a fronteira. A audiência, de início, antipatizou com Láudano. Mas com o tempo ela conseguiu conquistar o público. Uma tensão subentendida nos olhares. Láudano era quimicamente rejuvenescida e, para quase todos os efeitos, pareciam ter a mesma idade. Realizaram trabalhos arriscados e missões complicadas. Um roubo de carga em Rivotril; salvar uma princesa de traficantes em Paxil; libertar cobaias de um laboratório em Demorol; já em Pindorol, a missão era recapturar cobaias de um experimento anti-pandemia; entrega de relatório contábil em Quetamina; contrabando entre Pamelor e Efexor; monitor de buffet infantil em Klonopin; combater piratas em Wellbutim.

A segunda maior audiência daquela temporada foi aquela onde o batiscafo caiu sobre as florestas rasas do Gigante Rochoso Dexadrine. Foi um episódio relativamente parado, condizente com a situação em que se encontravam: em órbita, a nave de guerra e o vira-lata se ocupavam em conseguir recuperar a espaçonave; na superfície, Spaceboy e Láudano conversaram durante quase toda a hora enquanto esperavam o esgotar fatídico das baterias de grávitons. “Então você ainda é virgem” virou frase estampada em camisetas. A história se encerrava de forma aberta, com um close no rosto da loira, com um discurso tarantinesco de cinco minutos - entrecortado por gemidos e suspiros – sobre as qualidades de temperatura, densidade e viscosidade das diferentes línguas extraterrenas que ela conhecia. Fãs mais obcecados debateram a estranha observação do menino ao mencionar que a coisa dela não tinha cheiro: alguns acreditavam que, apesar de artificialmente jovem, ela já alcançara a menopausa; outros detectaram um prenúncio do que acabaria ocorrendo: a traição de Láudano.

Láudano, usando da inocência do menino ou dos recursos de um chip de dupla face, conseguiu comprometê-lo de forma que o valor da recompensa pela captura de Spaceboy subiu mais de 200% antes do final daquela temporada. A ideia era armar uma tocaia e usar o prêmio para seu próprio benefício. Mas o garoto conseguiu se safar por um milagre. Nos últimos três episódios, ele enfrenta sua professora e amante.

4
Os ferimentos na Nave eram sanáveis, mas implicaria em alguns dias de sono para a recuperação. Spaceboy analisou rapidamente as cartas náuticas e ruma para Nardil: uma lua selvagem orbitando um planeta anular no tórrido limite inferior da zona habitável. A gravidade do planeta-mãe travava a rotação do satélite e uma de suas metades era virada para o planeta de anéis e a outra para todo o resto: 120 horas de dia e outras 120 à noite. A natureza se adaptara a este regime: todas as noites, uma fosforescente floresta noturna de samambaias e araucárias irrompia de forma brutal, espalhando esporos e sementes em um ambiente úmido até as manhãs, quando o calor violento da estrela queimava e ressecava estas selvas; minguavam, murchavam, morriam, adormeciam enterradas no solo. O menino pousou o batiscafo em um aparente deserto na zona crepuscular. Logo a seguir chegou a equipe de mercenários e caçadores de recompensa, liderados por Láudano. Então veio a noite e o solo vibrava com o despertar repentino daquele jardim botânico e troncos e cipós e galhadas inflavam-se como cabelos e uma chuva fina caiu até engrossar numa tormenta e que depois viraria neve e granizo. Os soldados que o perseguiam logo perderam sua trilha e mais adiante perderam-se uns dos outros e a loira sorriu, antecipando o que viria a seguir.

Durante aquela longa noite, o menino eliminou todos os dezoito inimigos, usando táticas de guerrilha, túneis, mel de pirilampo e pura sorte. Láudano era a última. Mas ela preferiu esperar o dia nascer. E sob aquele sol, troncos rebentaram ou queimaram, provocando uma chuva de resíduos mortos e tanto ele quanto ela correram risco sob os galhos, pétalas, pinhas, enxames que se precipitavam e se enfiavam no solo tentando se esconder para sobreviver à luz insuportável. A neve derreteu e em meio aquele lodaçal se tornaria um solo pedregoso e rachado com o avançar das horas. Logo a floresta se aplainou e eles se viram e caminharam um em direção ao outro, desarmados e seminus. Se fosse realidade, estariam com a pele cheia de bolhas e em carne viva sob o dia. Mas na vida real, dificilmente se identifica um clímax: só o tempo parece dar algum sentido onde antes não havia nenhum.

5
Subiram até umas rochas que resistiram à selva e agora não se cobriram de lama (Era um cacho de mariscos gigantes, mas esta informação ficou apenas no roteiro do episódio). Havia uma plataforma pequena ali, onde poderiam jogar. Ela pediu para se lavar, estava imunda; ele não se opôs: também estava enlameado. Foram ali em uma das poças mornas contida entre as pedras e se limparam. E conversaram.

Perguntou do vira-lata, Láudano respondeu “Em um lugar seguro, esperando o dono se entregar.” O menino teve vontade de dar vazão a raiva “Sua puta, por que fez isto?”, mas o retorno seria tão óbvio que se calou. Mas adivinhando seus pensamentos, a loira sorriu e respondeu enquanto se enxaguava: “Ensina-se com exemplo e não com palavras. Vamos?” Apesar do ódio contra a mulher, Spaceboy não conseguiu conter uma ereção, ainda mais dos mamilos evidentes sob o pano da camiseta, depois dos pés delicados sobre a concha, dela prender o cabelo em um rabo quase despreocupado. Em um estalo-insight, murmurou para si mesmo: “Isto é ser humano; viver o paradoxo”.

Ela passou a gingar e ele também, o ritmo da capoeira dado pelos estertores finais das florestas e um chiado que tanto era o vento quanto a evaporação rápida da água noturna. A loira deu uma bicuda, ele se esquivou só para tomar um rabo de arraia, rodou pelo chão. Láudano riu: “Não deu nem para esquentar.”
“Chama a Bolsa e uma arma e acaba logo com isto.”
“Eu ainda gosto de você, garoto.”
Spaceboy saltou contra ela que se defendeu com um giro de pernas que lembravam as pás de helicóptero. Ele se jogou para trás sobre outra rocha em uma posição mais alta.
“Não. Não é isto.”
“Tem razão: quero humilhá-lo. Fazê-lo entender que é desnecessário.”
Com largas passadas e um salto, a loira alcançou o lugar onde o menino estava; mas ele voltou para a arena e, no trajeto, puxou-lhe o cabelo, fazendo-a cair de forma desengonçada. A mulher recuperou-se, avançou contra Spaceboy que gingou e acertou-lhe uma solada que feriu mais orgulho que rosto. Ela se enfureceu e dali em diante houve uma sequência de voadoras, meias-luas, pernadas, tesouras e rasteiras. O garoto ficou deitado na concha sentindo o sangue preencher-lhe as narinas. Era possível ouví-la arfando com dificuldade, parecendo próxima da exaustão. Mas então Láudano chamou a Bolsa e pediu por algemas, já sabendo que seu oponente não resistiria muito mais.
“Aproveite e peça um espelho para maquiagem... Você me parece meio envelhecida, talvez precise de um retoque.”

Ela interrompeu-se em meio a seu gesto, tentando decifrar o que dizia seu aluno. Spaceboy continuou “Eu já suspeitava de você, naquele dia em Dexadrine eu troquei algumas pílulas de rejuvenescimento por outras, de farinha.”
“Você está mentindo.”
“O efeito acumulado dos remédios duraria algumas semans... Nos últimos dias, talvez você tenha sentido algumas dores, alguma confusão. Se duvida, chame o espelho então.” Ele se sentou. “Veja a pele descolar do seu crânio. Ou olhe suas mãos: estão envelhecendo... parecem garras de pássaro.”
E ela viu nas costas das mãos e pulsos e braços as pequenas manchas senis e pintas espalhadas pela pele e os cabelos do corpo engrossados. Láudano sucumbiu e chamou pelo espelho e ela se viu, verdadeira, como sempre temeu ser vista. Ela dobrou o corpo numa cólica fortíssima e ficou ali no chão.
Spaceboy se levantou: “Aprendi bem o que tinha para me ensinar. Bolsa, traga-me o vira-lata.” O ar se abriu e dele caiu seu companheiro a lamber-lhe o rosto. Contatou em seguida a Nave-de-guerra que, de órbita, deixou cair de si um ranho que atravessou a atmosfera na direção daquele amontoado de mariscos. Antes de entrarem no batiscafo para abandonar Nardil, concluiu: “Eu deveria matá-la, aqui e agora. Mas... errare humanum est.” A Nave puxou-os para o espaço e Láudano ficou ali, envelhecida e moribunda, pronta para morrer sob a luz lancinante do dia.
Mas a loura ressurgiria na temporada final, por pressão dos fãs mais objetivos que buscavam explicações que cobrissem todas as inconsistências do roteiro. Normal: procura-se nas histórias, o sentido ausente na própria vida. Apesar disso, os patrocinadores da indústria farmacêutica comemoraram o aumento substancial das vendas entre o segmento infantil.

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TEXTOS PARA REVISÃO - # 19 Empty Re: TEXTOS PARA REVISÃO - # 19

Mensagem por rdelton Qua Dez 08, 2010 5:31 pm

Resenha - Paloma Diniz
Título: Patrice Killoffer em João Pessoa (Ou à definir)
Páginas: ? (2 ou 3)

escreveu:Quando tem que ser, quando tem que acontecer.

Certo dia, não me lembro qual, em meados do mês de outubro de 2010, meus amigos me convidaram para uma noite de autógrafos que aconteceria aqui, em João Pessoa na Paraíba, com Killoffer.
Perguntei do auge da minha ignorância: - Quem é Killoffer?
Eles responderam: - Um quadrinista francês, que virá pra cá lançar um quadrinho seu pela editora de Henrique.
Um novo mundo abriu-se diante dos meus olhos a partir daquele instante.

Falavam eles do Seminário “Quadrinhos: reflexão e paixão” organizado pelo Prof. Dr. Henrique Magalhães (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGC) da UFPB, do Projeto de Extensão do Núcleo de Artes Midiáticas - NAMID) e diretor da editora Marca de Fantasia que em parceria com a Aliança Francesa de João Pessoa, e a Comic House realizariam este evento entre os dias 2 e 4 de novembro de 2010.
No dia 02 de novembro, à noite, seguimos para a sede da Aliança Francesa para a abertura da exposição “Ils rêvent le monde: images sur l’an 2000″ (Eles sonham o mundo: imagens sobre o ano 2000). Chegando lá deparei-me com uma bela e agradável exposição sobre quadrinistas franceses.
Dos quadrinhos franceses posso dizer que conheço Astérix de Albert Uderzo e René Goscinny, Barbarella de Jean-Claude Forest, Tintim de Hergé, e o belíssimo trabalho de Moebius. Porém, sobre Patrice Killoffer, absolutamente nada!
E lá estavam em exposição no salão da Aliança Francesa alguns destes citados acima, Killoffer, entre outros que não conhecia.
Como o francês é um idioma neolatino como o português, consegui compreender um pouco dos textos que acompanhava as imagens. Pois do francês eu não falo NADA!!!
Um pouco mais tarde, chegou Killofer à exposição. A primeira impressão que tive foi de um homem sereno e alegre disposto a conversar com todos do jeito que desse, em francês, inglês ou com mímicas. Não ousei falar com ele em inglês, não sei falar francês. Muda, no meu canto, eu fiquei.
Patrice Killoffer é escritor e artista de quadrinhos; estudou na Escola de Artes Aplicadas Duperré em Paris. Em 1981 (ano em que eu nasci) criou suas primeiras páginas. Em 1987, participou da edição pas un seul revista com Jean-Yves Duhoo. Posteriormente, publicou nas revistas Globof, Lynx, e Labo, que foi publicado pela Futuropolis. Em maio de 1990, juntamente com Jean-Christophe Menu, David B., Matt Konture, Lewis Trondheim, Stanislas e Mokeït, Killofer fundou a editora L´Association. Que revelou Marjani Satrapi (autora de Pérsepolis) e Joann Sfar (autor de O Gato do Rabino) e revolucionou a cena dos quadrinhos franceses. Killoffer produziu também ilustrações para os jornais Le Monde e Libération e possui inúmeras publicações.
E sua obra chegou até mim.
No dia seguinte, 03 de novembro, após sair do trabalho, segui para a Comic House para o lançamento de mais uma de suas obras: Quando Tem Que Ser publicado pela editora Marca de Fantasia em parceria com a L´Association; é uma edição que reúne histórias em quadrinhos de Killoffer publicadas de 1992 a 2004.
Parafraseando Henrique Magalhães, “(...) Quando Tem Que Ser é um álbum que flui como as boas obras de quadrinhos. Por vezes, Killoffer abre mão do texto em sua narrativa. Mas há histórias em que ele recorre massivamente ao texto como força expressiva, chegando próximo ao conto ilustrado. Nada disso, porém, tira o vigor da récita de Killoffer, que domina com primor a arte de contar histórias.”
E lá estava eu, timidamente no meu canto, a observar Killoffer. De maneira despojada, mediante ao calor típico dos dias de verão que fazia naquela noite, Killoffer elegeu um dos bancos do Empresarial Esquina 200 fazendo dele sua mesa de autógrafos. Se nós estávamos sentindo calor, imagine um francês recém-chegado do outono europeu, há apenas 48 horas, numa cidade litorânea de clima quente e úmido a poucos quilômetros da linha do Equador! Mas ele continuava sereno e alegre a autografar cada exemplar. De maneira bem peculiar, ele desenhava juntamente com seu autógrafo nas contracapas do quadrinho, inspirado pelas primeiras impressões dos que se aproximavam para receber o registro.
Com maestria, ele mergulhava suavemente a pena no tinteiro, traçava de maneira irretocável num único deferido golpe sobre o papel, desenhos na contra capa da edição para cada um.
Foi lindo observar esta cena.
E chegou a vez do meu autógrafo! Estava nervosa, agitada, ansiosa! Ele leu meu nome com sotaque francês: - PalômÁ. Eu afirmei em ‘portunhol’: - PaLÔma. Ele apontou para o rabisco que faço no fim de meu nome. Com mímicas eu comuniquei que aquele rabisco não significava nada (ainda bem que ele compreendeu). E pôs-se a desenhar. Rapidamente ele traçou no meu exemplar um desenho que representa, para mim, ele voando de maneira livre e majestosa a surpreende a mim, “la pequeña paloma”. E, de maneira gentil, ele pede desculpas à ave que não compreende o vôo imaginário do artista. Após o término do desenho, ele me entregou sorrindo a edição autografada. Eu agradeci em português, ele agradeceu em francês e curvou-se como um gentil cavalheiro. Curvei-me para ele em reciprocidade a sua generosidade.
No terceiro e último dia do seminário, Killoffer palestrou sobre produção de histórias em quadrinhos, perspectivas de um projeto editorial independente frente ao mercado, e sua experiência no ramo. Infelizmente, eu não pude participar, soube por meus amigos que estiveram em todos os momentos desta passagem de Patrice Killoffer em João Pessoa antes de seguir para o Rio Comicon.
Se eu fosse uns 10 anos mais nova e se não tivesse desnudado minhas opiniões artísticas, não aproveitaria os belos momentos da visita de Killoffer. Não apreciaria a sua obra que possui uma particularidade: a simplicidade quase pueril de seu traço no primeiro plano é como um véu que esconde a grandiosidade da composição gráfica de cada quadrinho que ele desenha. Para os olhos velozes e desatentos, a sua arte passará despercebida.
Guardarei comigo a bela lembrança do sereno e alegre cavalheiro francês juntamente com sua bela obra.
E de uma coisa tenho certeza: os fatos ocorrem em nossas vidas quando tem que ser, quando tem que acontecer.

Paloma Diniz.
João Pessoa, 08 de dezembro de 2010.

Agradecimentos:

À generosidade da Aliança Francesa de João Pessoa.
À prestativa e disposta Comic House.
Ao gentil e atencioso Henrique Magalhães.
Ao fotógrafo Adriano Franco e à Mikael de la Fuente (diretor da Aliança Francesa de João Pessoa e nosso tradutor de plantão) que registraram com lindas fotografias este evento.
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Mensagem por Kio Qui Dez 09, 2010 9:34 am

Peguei o texto da Paloma. Assim que abrirmos as reservas do # 20, marco na lista. Smile
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Mensagem por Rodrigo! Qui Dez 09, 2010 12:20 pm

Eu vou ver se consigo fazer uma resenha da exposição do Manara aqui em SP =D Considere também... Uma página...
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