TEXTOS PARA REVISÃO - #20
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Valeu, Rodrigo! Esse é velho. Achei ele guardado aqui.
A ideia era fazer o leitor ficar com nojo do narrador achando que ele era de algum tipo de família serial killer e só entender o que realmente aconteceu no final.
A ideia era fazer o leitor ficar com nojo do narrador achando que ele era de algum tipo de família serial killer e só entender o que realmente aconteceu no final.
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Eis o meu artigo!
Tá um bistecão, com mais ou menos 12 mil caracteres, mas acho que dá para dar uns picotes. Vejam:
.............................................................................................
Steampunk: Vapor e Atitude
Ultimamente vem se falando muito sobre “Steampunk”. Talvez você já tenha ouvido falar, talvez não.
Talvez você conheça “A Liga dos Extraordinários Gentlemen”. Talvez tenha lido “Don Casmurro e os Discos Voadores”. Talvez tenha assistido o novo filme de Sherlock Holmes. Talvez tenha ficado sabendo do iminente lançamento de “The Difference Engine” no Brasil. Talvez tenha ido ao evento sobre Ficção Científica da Casper Líbero este ano. Talvez...
Epa! Mas tem TANTA coisa assim sobre Steampunk rolando por aí e eu não tô sabendo de nada?! Pois é, manolo! Você está por fora das novidades da literatura/musica/cinema, está parado no século retrasado. Mas tudo bem, pois é lá mesmo que tudo começou!
Acompanhe agora nossa pequena (Mentira! Grande!) verborragia sobre Steampunk!
Mastigando Palavras
O que é Steampunk? Ou melhor, o que é Steam, o que é Punk e o que é Ficção Científica? Vamos fingir que você nunca ouviu falar de nenhuma destas palavras. Irei explicar cada uma delas para você:
“Steam” é vapor em inglês. E por enquanto é só isso que você precisa saber.
“Ficção” nada mais é do que um relato falso ou não comprovado empiricamente. É utilizado para denominar narrativas irreais e imaginárias, às vezes baseada em fatos reais (comprovados ou aceitos por uma maioria), mas distorcendo-os ao sabor do narrador. Para o senso-comum não é difícil separar ficção de realidade, mas filosoficamente a coisa já se complica, pois a própria realidade não pode ser “provada” de maneira empírica.
“Científica” tem a ver com a ciência (jura?). A palavra tem origem latina e quer dizer “conhecimento”. Todo o conhecimento que a humanidade adquiriu desde que começou a pensar pode ser considerado como ciência, do plantio, passando pelas roupas, até o modo de falar e andar. Numa definição mais restrita a ciência tem a ver com conhecimentos e procedimentos sistemáticos, que ganham uma explicação baseado em pesquisa e provas empíricas.
Portanto “Ficção Científica” nada mais é do que a ciência vista de uma forma totalmente contraditória à sua natureza: se ela precisa de provas e fatos reais, a ficção rouba-lhe estas duas características – ou então lhe dá explicações esdrúxulas. Mas ainda assim calça-se dentro do que é conhecido e aceitado como cientificamente possível, apenas extrapolando alguns pontos para a diversão do leitor.
“Ficção Científica” pode ser futurista, fazendo conjecturas sobre a evolução tecnológica nos anos que se seguirem. Como em “Eu, Robô” de Isaac Assimov, “Jornada nas Estrelas”, “Exterminador do Futuro”, “O Planeta dos Macacos”, entre outros.
Pode ser contemporânea, exagerando o poder da tecnologia atual ou inventando máquinas que, embora existam, não estão disponíveis para o público em geral. Como “Arquivo X”, “Parque dos Dinossauros” e “Matrix”
Finalmente temos a ficção científica anacrônica. Histórias que se passam no passado, tendo personagens com acesso à tecnologia muito mais refinada do que seria possível para a época. Todos os títulos que eu falei no primeiro parágrafo se enquadram neste gênero, além de outros, como os animes “Steamboy” e “Laputa: Castelo nos Céus”.
O romance que deu origem ao gênero Steampunk, “The Difference Engine” (em breve no Brasil), mostra uma Era Vitoriana totalmente diferente em termos tecnológicos graças ao advento da Máquina Analítica, um computador movido à vapor (que existiu mesmo, mas jamais foi construído) criado por Charles Babbage, que iniciaria a era da informática em pelo menos um século antes no mundo real.
Portanto “Steampunk” é um dos MUITOS gêneros dentro da ficção científica, cuja principal característica é que as histórias se passam no século XIX.
Agora vamos começar a falar sobre o Punk, e esta vai ser a parte mais legal.
Punk de Biblioteca
Vulgarmente, o “Punk” é conhecido como um movimento que tem como bases principais a anarquia, a rebeldia e o rock mais barulhento possível. Seus adeptos usam jaquetas, calças rasgadas, alfinetes na boca, brincos nas orelhas e cabelos desgrenhados. Na verdade esta é a imagem “showbiz” do punk, que veio após o seu surgimento e na esteira da sua popularização.
O punk, em suas raízes, surgiu mais ou menos da mesma forma que TODOS os outros movimentos culturais “jovens”: veio da indignação de uma geração com o status quo do mundo em que viviam – incluindo com a própria cena musical que se seguia.
No início dos anos 70 o movimento hippie já era coisa de gente velha. Os grandes ídolos estavam mortos ou morrendo, como Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison e os que sobreviveram (por certo tempo) se fecharam no ostracismo, como John Lennon, Brian Wilson e Syd Barret. E de resto, o mundo estava sendo tomado por shows de rock progressivo, com músicas que duravam 20 minutos e shows cada vez mais caros e inacessíveis.
O rock, que até a década de 50 era coisa de maloqueiro, nos anos 70 entrou na casa de pais de famílias (sendo que muitos deles foram roqueiros também), tornando-se pop. Aquele movimento musical frugal e de periferia, iniciado por Chuck Berry e outros, terminou sendo apresentado em grandes estádios, com o rock virando Ópera (como o próprio estilo “Opera Rock” decretava) e falando de temas grandiosos demais, como o Yes e seu “Tales from Topographic Oceans”, um álbum duplo com apenas 4 músicas, cada uma com mais de 20 minutos de duração (!!!).
Porém, nos circuitos mais barra-pesada, rolava shows para uns poucos adeptos de bandas que, posteriormente, seriam conhecidas como “proto-punk”: Velvet Underground e seu psicodelismo “deprê”, MC5 e sua música barulhenta e politizada, The Stooges, com seu vocalista demente e autodestrutivo ao extremo (que chegava a rolar em cacos de vidro e vomitar na platéia) entre outros.
Então, em 1974, surgiu o Ramones, considerados os pais do punk rock. Basicamente uma banda que tocava rock “das antigas”, com músicas de três acordes, com pouco mais de um minuto de duração e com letras que falavam sobre a sua insatisfação com o mundo, sobretudo por serem feios e pobres demais para conquistarem a garota dos sonhos, ou mesmo para conseguirem ser rock-stars grandiosos, como o Led Zeppelin ou os Rolling Stones.
O rock voltava às raízes, e a banda ainda tinha um poder extra: durante suas apresentações eles revelavam um fabuloso poder multiplicador. As pessoas que assistiam aos Ramones percebiam que, se eles conseguiam fazer música, tocando bem mais ou menos e destilando letras tão simples, então QUALQUER um poderia! O princípio Faça-Você-Mesmo (do it yourself) foi o grande norte do punk – e é o que rege a cultura “alternativa” até hoje.
Mas ainda faltava um pouco mais de raiva. Os Ramones, bem ou mal, ainda eram garotos muito “dóceis”. E talvez isso tenha sido o que os fez desaparecer na esteira das novas bandas punks raivosas que surgiram, como o Damned, Buzzcocks, The Clash e Sex Pistols – alias esta última pode ser considerada a grande síntese do movimento punk: efêmera e autodestrutiva.
O punk basicamente se sintetizou num movimento de imensa revolta e desgosto pelo futuro. Para aquela geração de jovens dos anos 70, o ano de 1968 não adiantou nada: os governos ainda eram conservadores, as cabeças eram quadradas, a guerra fria uma ameaça e os hippies libertários estavam trabalhando em empregos monótonos para se sustentar, igual aos seus pais e avós. A base do punk estava lançada, e o tédio e o niilismo eram a lei. O punk foi um grito de desgosto pelo “No Future” que se avizinhava. Se antes tínhamos uma utopia, agora vivíamos uma distopia.
Distopia? Epa... alguém aí falou em “futuro apocalíptico”? Alguém aí falou em ficção cientifica? Chegamos no ponto!
Cibernética, o pai do Vapor
Como já foi explicado, as coisas nos anos 70 não estavam nada alegres. De fato o clima era tão cínico e aviltante que ela foi declarada como a “Década do Eu”. As utopias pacifistas que hippies pregavam não eram mais possíveis. As músicas (ou melhor, óperas) das bandas de rock progressivo já estavam dando no saco. Os direitos humanos eram vilipendiados. A economia estava no buraco com a crise do petróleo. Tudo estava dando errado. Como ser positivo numa época assim? Só ouvindo muito Bee Gees e se esquecendo da vida real nas danceterias! Mas nem todos foram por este caminho.
No finalzinho desta década, entrou em cena um grande autor de ficção científica: William Gibson, que ficaria conhecido como sendo o pai do Cyberpunk com a publicação do seu livro Neuromancer que apresentava... opa, opa! Vamos com calma agora!
Antes de tudo, o que é Cyberpunk?
Cyberpunk é um subgênero da ficção científica, conhecido por seu enfoque de "Alta tecnologia e baixo nível de vida" ("High tech, Low life"). Baseado no “boom” da informática, com os primeiros computadores pessoais sendo vendidos (no exterior, claro!) à preços mais acessíveis. A internet já começava a dar seus primeiros passos dentro da vida do cidadão comum e as tecnologias de informação ficavam cada vez mais avançadas. A cibernética também evoluía a passos largos. Cyberpunk misturava toda essa revolução da informática, dava-lhe um pouco mais de gás e misturava à um elemento que, até aquele momento, não era muito considerado nos romances de ficcção científica: a sociedade.
Tecnologia mais avançada implica, naturalmente, em mudanças no paradigma social. Se um monte de pessoas que, até ontem, não tinham internet e agora têm, é claro que a vida delas irá ter mudanças grandes. Isso, para nós, parece óbvio, mas não era tanto assim na época de Julio Verne. Para ele uma viagem à Lua seria tão interessante como a chegada do homem a uma nova ilha no Pacífico. Mas é claro que as implicações sociais e políticas que ocorreram quando o homem realmente pisou no nosso satélite em 1969 foram MUITO maiores que apenas um artigo grande na National Geographic. E é esta vertente que o Cyberpunk explora, mas de maneira bem pessimista: a degradação do ser humano diante da tecnologia, que é colocada num pedestal acima da própria humanidade. Uma distopia.
William Gibson baseou-se no clima pessimista do punk para escrever seu primeiro grande romance: Neuromancer, que inaugurava o Cyberpunk. O livro conta a história de Case, um "pichador virtual" (na definição do próprio autor) que se utiliza de seu conhecimento de cibernética para realizar protestos contra a sistemática vigente das grandes corporações, sob a forma de vandalismo. Só que a casa caiu quando pegaram Case tentando roubar seus patrões, e por isso o envenenaram com uma microtoxina que danificou seu cérebro e o impediu de se conectar de novo à Matrix – o local onde toda a informação é concentrada no cyberespaço – palavra que, inclusive, foi inventada por Gibson. É a partir daí que a história realmente começa... e a degradação humana será ainda mais enfatizada no decorrer das páginas, assim como o clima sem esperança que ronda os personagens.
Sentiu o clima “punk” neste romance? Pois é! É por este motivo que este sub-genero da ficção científica é chamado de CyberPUNK: mistura histórias que falam da tecnologia cibernética com o clima niilista do movimento punk.
Desde então vários outros títulos de livros e filmes do gênero começaram a ser lançados. Entre os que mais se destacam estão Blade Runner e o mais recente, Matrix. Infelizmente, no Brasil, poucos destes milhares de títulos cyberpunk chegaram à nossas prateleiras.
Foi então que, em 1990, William Gibson, em parceria com outro grande autor de ficção científica, Bruce Sterling, publica o livro The Difference Engine. A história se passa na Era Vitoriana. A Máquina Diferencial foi construída e, obviamente, tal invenção muda o mundo drasticamente, de forma política, econômica e social.
No romance, o Império Britânico está num auge de poder jamais atingido no mundo real, utilizando a tecnologia dos computadores analógicos de Babbage. Os Estados Unidos estariam fragmentados e fracos, as outras potências cairiam diante da armada super-tecnológica britânica. E dentro do Palácio de Buckingham e do Parlamento Inglês, intrigas políticas perigosas ameaçam o futuro de toda a humanidade. Distopia e alta tecnologia em pleno século XIX. Isto é Steampunk!
Tá um bistecão, com mais ou menos 12 mil caracteres, mas acho que dá para dar uns picotes. Vejam:
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Steampunk: Vapor e Atitude
Ultimamente vem se falando muito sobre “Steampunk”. Talvez você já tenha ouvido falar, talvez não.
Talvez você conheça “A Liga dos Extraordinários Gentlemen”. Talvez tenha lido “Don Casmurro e os Discos Voadores”. Talvez tenha assistido o novo filme de Sherlock Holmes. Talvez tenha ficado sabendo do iminente lançamento de “The Difference Engine” no Brasil. Talvez tenha ido ao evento sobre Ficção Científica da Casper Líbero este ano. Talvez...
Epa! Mas tem TANTA coisa assim sobre Steampunk rolando por aí e eu não tô sabendo de nada?! Pois é, manolo! Você está por fora das novidades da literatura/musica/cinema, está parado no século retrasado. Mas tudo bem, pois é lá mesmo que tudo começou!
Acompanhe agora nossa pequena (Mentira! Grande!) verborragia sobre Steampunk!
Mastigando Palavras
O que é Steampunk? Ou melhor, o que é Steam, o que é Punk e o que é Ficção Científica? Vamos fingir que você nunca ouviu falar de nenhuma destas palavras. Irei explicar cada uma delas para você:
“Steam” é vapor em inglês. E por enquanto é só isso que você precisa saber.
“Ficção” nada mais é do que um relato falso ou não comprovado empiricamente. É utilizado para denominar narrativas irreais e imaginárias, às vezes baseada em fatos reais (comprovados ou aceitos por uma maioria), mas distorcendo-os ao sabor do narrador. Para o senso-comum não é difícil separar ficção de realidade, mas filosoficamente a coisa já se complica, pois a própria realidade não pode ser “provada” de maneira empírica.
“Científica” tem a ver com a ciência (jura?). A palavra tem origem latina e quer dizer “conhecimento”. Todo o conhecimento que a humanidade adquiriu desde que começou a pensar pode ser considerado como ciência, do plantio, passando pelas roupas, até o modo de falar e andar. Numa definição mais restrita a ciência tem a ver com conhecimentos e procedimentos sistemáticos, que ganham uma explicação baseado em pesquisa e provas empíricas.
Portanto “Ficção Científica” nada mais é do que a ciência vista de uma forma totalmente contraditória à sua natureza: se ela precisa de provas e fatos reais, a ficção rouba-lhe estas duas características – ou então lhe dá explicações esdrúxulas. Mas ainda assim calça-se dentro do que é conhecido e aceitado como cientificamente possível, apenas extrapolando alguns pontos para a diversão do leitor.
“Ficção Científica” pode ser futurista, fazendo conjecturas sobre a evolução tecnológica nos anos que se seguirem. Como em “Eu, Robô” de Isaac Assimov, “Jornada nas Estrelas”, “Exterminador do Futuro”, “O Planeta dos Macacos”, entre outros.
Pode ser contemporânea, exagerando o poder da tecnologia atual ou inventando máquinas que, embora existam, não estão disponíveis para o público em geral. Como “Arquivo X”, “Parque dos Dinossauros” e “Matrix”
Finalmente temos a ficção científica anacrônica. Histórias que se passam no passado, tendo personagens com acesso à tecnologia muito mais refinada do que seria possível para a época. Todos os títulos que eu falei no primeiro parágrafo se enquadram neste gênero, além de outros, como os animes “Steamboy” e “Laputa: Castelo nos Céus”.
O romance que deu origem ao gênero Steampunk, “The Difference Engine” (em breve no Brasil), mostra uma Era Vitoriana totalmente diferente em termos tecnológicos graças ao advento da Máquina Analítica, um computador movido à vapor (que existiu mesmo, mas jamais foi construído) criado por Charles Babbage, que iniciaria a era da informática em pelo menos um século antes no mundo real.
Portanto “Steampunk” é um dos MUITOS gêneros dentro da ficção científica, cuja principal característica é que as histórias se passam no século XIX.
Agora vamos começar a falar sobre o Punk, e esta vai ser a parte mais legal.
Punk de Biblioteca
Vulgarmente, o “Punk” é conhecido como um movimento que tem como bases principais a anarquia, a rebeldia e o rock mais barulhento possível. Seus adeptos usam jaquetas, calças rasgadas, alfinetes na boca, brincos nas orelhas e cabelos desgrenhados. Na verdade esta é a imagem “showbiz” do punk, que veio após o seu surgimento e na esteira da sua popularização.
O punk, em suas raízes, surgiu mais ou menos da mesma forma que TODOS os outros movimentos culturais “jovens”: veio da indignação de uma geração com o status quo do mundo em que viviam – incluindo com a própria cena musical que se seguia.
No início dos anos 70 o movimento hippie já era coisa de gente velha. Os grandes ídolos estavam mortos ou morrendo, como Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison e os que sobreviveram (por certo tempo) se fecharam no ostracismo, como John Lennon, Brian Wilson e Syd Barret. E de resto, o mundo estava sendo tomado por shows de rock progressivo, com músicas que duravam 20 minutos e shows cada vez mais caros e inacessíveis.
O rock, que até a década de 50 era coisa de maloqueiro, nos anos 70 entrou na casa de pais de famílias (sendo que muitos deles foram roqueiros também), tornando-se pop. Aquele movimento musical frugal e de periferia, iniciado por Chuck Berry e outros, terminou sendo apresentado em grandes estádios, com o rock virando Ópera (como o próprio estilo “Opera Rock” decretava) e falando de temas grandiosos demais, como o Yes e seu “Tales from Topographic Oceans”, um álbum duplo com apenas 4 músicas, cada uma com mais de 20 minutos de duração (!!!).
Porém, nos circuitos mais barra-pesada, rolava shows para uns poucos adeptos de bandas que, posteriormente, seriam conhecidas como “proto-punk”: Velvet Underground e seu psicodelismo “deprê”, MC5 e sua música barulhenta e politizada, The Stooges, com seu vocalista demente e autodestrutivo ao extremo (que chegava a rolar em cacos de vidro e vomitar na platéia) entre outros.
Então, em 1974, surgiu o Ramones, considerados os pais do punk rock. Basicamente uma banda que tocava rock “das antigas”, com músicas de três acordes, com pouco mais de um minuto de duração e com letras que falavam sobre a sua insatisfação com o mundo, sobretudo por serem feios e pobres demais para conquistarem a garota dos sonhos, ou mesmo para conseguirem ser rock-stars grandiosos, como o Led Zeppelin ou os Rolling Stones.
O rock voltava às raízes, e a banda ainda tinha um poder extra: durante suas apresentações eles revelavam um fabuloso poder multiplicador. As pessoas que assistiam aos Ramones percebiam que, se eles conseguiam fazer música, tocando bem mais ou menos e destilando letras tão simples, então QUALQUER um poderia! O princípio Faça-Você-Mesmo (do it yourself) foi o grande norte do punk – e é o que rege a cultura “alternativa” até hoje.
Mas ainda faltava um pouco mais de raiva. Os Ramones, bem ou mal, ainda eram garotos muito “dóceis”. E talvez isso tenha sido o que os fez desaparecer na esteira das novas bandas punks raivosas que surgiram, como o Damned, Buzzcocks, The Clash e Sex Pistols – alias esta última pode ser considerada a grande síntese do movimento punk: efêmera e autodestrutiva.
O punk basicamente se sintetizou num movimento de imensa revolta e desgosto pelo futuro. Para aquela geração de jovens dos anos 70, o ano de 1968 não adiantou nada: os governos ainda eram conservadores, as cabeças eram quadradas, a guerra fria uma ameaça e os hippies libertários estavam trabalhando em empregos monótonos para se sustentar, igual aos seus pais e avós. A base do punk estava lançada, e o tédio e o niilismo eram a lei. O punk foi um grito de desgosto pelo “No Future” que se avizinhava. Se antes tínhamos uma utopia, agora vivíamos uma distopia.
Distopia? Epa... alguém aí falou em “futuro apocalíptico”? Alguém aí falou em ficção cientifica? Chegamos no ponto!
Cibernética, o pai do Vapor
Como já foi explicado, as coisas nos anos 70 não estavam nada alegres. De fato o clima era tão cínico e aviltante que ela foi declarada como a “Década do Eu”. As utopias pacifistas que hippies pregavam não eram mais possíveis. As músicas (ou melhor, óperas) das bandas de rock progressivo já estavam dando no saco. Os direitos humanos eram vilipendiados. A economia estava no buraco com a crise do petróleo. Tudo estava dando errado. Como ser positivo numa época assim? Só ouvindo muito Bee Gees e se esquecendo da vida real nas danceterias! Mas nem todos foram por este caminho.
No finalzinho desta década, entrou em cena um grande autor de ficção científica: William Gibson, que ficaria conhecido como sendo o pai do Cyberpunk com a publicação do seu livro Neuromancer que apresentava... opa, opa! Vamos com calma agora!
Antes de tudo, o que é Cyberpunk?
Cyberpunk é um subgênero da ficção científica, conhecido por seu enfoque de "Alta tecnologia e baixo nível de vida" ("High tech, Low life"). Baseado no “boom” da informática, com os primeiros computadores pessoais sendo vendidos (no exterior, claro!) à preços mais acessíveis. A internet já começava a dar seus primeiros passos dentro da vida do cidadão comum e as tecnologias de informação ficavam cada vez mais avançadas. A cibernética também evoluía a passos largos. Cyberpunk misturava toda essa revolução da informática, dava-lhe um pouco mais de gás e misturava à um elemento que, até aquele momento, não era muito considerado nos romances de ficcção científica: a sociedade.
Tecnologia mais avançada implica, naturalmente, em mudanças no paradigma social. Se um monte de pessoas que, até ontem, não tinham internet e agora têm, é claro que a vida delas irá ter mudanças grandes. Isso, para nós, parece óbvio, mas não era tanto assim na época de Julio Verne. Para ele uma viagem à Lua seria tão interessante como a chegada do homem a uma nova ilha no Pacífico. Mas é claro que as implicações sociais e políticas que ocorreram quando o homem realmente pisou no nosso satélite em 1969 foram MUITO maiores que apenas um artigo grande na National Geographic. E é esta vertente que o Cyberpunk explora, mas de maneira bem pessimista: a degradação do ser humano diante da tecnologia, que é colocada num pedestal acima da própria humanidade. Uma distopia.
William Gibson baseou-se no clima pessimista do punk para escrever seu primeiro grande romance: Neuromancer, que inaugurava o Cyberpunk. O livro conta a história de Case, um "pichador virtual" (na definição do próprio autor) que se utiliza de seu conhecimento de cibernética para realizar protestos contra a sistemática vigente das grandes corporações, sob a forma de vandalismo. Só que a casa caiu quando pegaram Case tentando roubar seus patrões, e por isso o envenenaram com uma microtoxina que danificou seu cérebro e o impediu de se conectar de novo à Matrix – o local onde toda a informação é concentrada no cyberespaço – palavra que, inclusive, foi inventada por Gibson. É a partir daí que a história realmente começa... e a degradação humana será ainda mais enfatizada no decorrer das páginas, assim como o clima sem esperança que ronda os personagens.
Sentiu o clima “punk” neste romance? Pois é! É por este motivo que este sub-genero da ficção científica é chamado de CyberPUNK: mistura histórias que falam da tecnologia cibernética com o clima niilista do movimento punk.
Desde então vários outros títulos de livros e filmes do gênero começaram a ser lançados. Entre os que mais se destacam estão Blade Runner e o mais recente, Matrix. Infelizmente, no Brasil, poucos destes milhares de títulos cyberpunk chegaram à nossas prateleiras.
Foi então que, em 1990, William Gibson, em parceria com outro grande autor de ficção científica, Bruce Sterling, publica o livro The Difference Engine. A história se passa na Era Vitoriana. A Máquina Diferencial foi construída e, obviamente, tal invenção muda o mundo drasticamente, de forma política, econômica e social.
No romance, o Império Britânico está num auge de poder jamais atingido no mundo real, utilizando a tecnologia dos computadores analógicos de Babbage. Os Estados Unidos estariam fragmentados e fracos, as outras potências cairiam diante da armada super-tecnológica britânica. E dentro do Palácio de Buckingham e do Parlamento Inglês, intrigas políticas perigosas ameaçam o futuro de toda a humanidade. Distopia e alta tecnologia em pleno século XIX. Isto é Steampunk!
Jacaranda- Apagati CRTL+ALT+DEL
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Hmmm... na verdade ainda ficou faltando a "finalização" do texto!
Vou pensar em algo curto.
Vou pensar em algo curto.
Jacaranda- Apagati CRTL+ALT+DEL
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Jacaranda escreveu:Hmmm... na verdade ainda ficou faltando a "finalização" do texto!
Vou pensar em algo curto.
Antes que outra pessoa escolha.... eu posso diagramar esse sobre Steampunk??
snuckbinks- Apagati CRTL+ALT+DEL
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
snuckbinks escreveu:Jacaranda escreveu:Hmmm... na verdade ainda ficou faltando a "finalização" do texto!
Vou pensar em algo curto.
Antes que outra pessoa escolha.... eu posso diagramar esse sobre Steampunk??
Eu ainda preciso revisá-lo uma última vez, mas claro! pode diagramar!
... e não se esqueça de colocar muitas engrenagens, muitas fotos antigas e faz um design bem PUNK!
Jacaranda- Apagati CRTL+ALT+DEL
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Jacaranda escreveu:snuckbinks escreveu:Jacaranda escreveu:Hmmm... na verdade ainda ficou faltando a "finalização" do texto!
Vou pensar em algo curto.
Antes que outra pessoa escolha.... eu posso diagramar esse sobre Steampunk??
Eu ainda preciso revisá-lo uma última vez, mas claro! pode diagramar!
... e não se esqueça de colocar muitas engrenagens, muitas fotos antigas e faz um design bem PUNK!
Pode deixar que não esquecerei, curto muito esse tipo de cenário!
snuckbinks- Apagati CRTL+ALT+DEL
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Eu pego o conto do Hiro ok?
rdelton- Apagatti Be Water My Friend
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Opa, fiquei meio ausente por uma série de viagens de fim de ano... agora estou fixo num lugar com internet novamente... queria agradecer pelo tratamento gráfico do conto que mandei pra edição 19, curti bastante! a edição inteira ficou boa... enfim, segue aqui minha pequena contribuição... to escrevendo tbm uma matéria sobre Sandboard, mas n sei se tem mto a ver com a revista...
"Cíntia.
Acordou numa cama estranha com uma estranha mais estranha ainda. Sua cabeça doía e os órgãos internos queixavam-se da noite anterior. A cabeça era o que mais doía. Gostava de pensar que a dor de cabeça era causada pelo crescimento do cérebro devido à um grande número de informações registradas na festa. Esse grande número de informações normalmente causam uma pane no sistema nervoso. Então você não lembra direito o que fez. E de fato você não usa o cérebro quando ele desliga. E é por isso que ele não se lembrava o nome da garota que dormia na cama.
Talvez ele nunca tenha sabido o nome dela. Questiona-se se ela sabe o seu nome. Muitos criticam esse estilo de vida. Dizem que não vale a pena se você não conseguir lembrar. Não se lembra do que fez na maior parte de 1994. E ele tinha quatro anos nessa época. E ele não bebia aos quatros anos. Claro que houve exceções. Teve aquele restinho de cerveja num copo que ninguém sabia de quem era no aniversário da tia Rita. Mas não era o suficiente para fazer ele perder a memória. O que o incomodava era a tremedeira. Sempre tremeu. Até quando tinha quatro anos. Mas nos dias após a bebedeira ele tremia compulsivamente. Foi uma vez ao neurologista. Ele pediu um exame de sangue que ele não fez. Não fez porque tinha medo que também detectasse AIDS. Tinha medo do vírus do amor porque uma vez estava bêbado demais e não usou camisinha. Apesar de muitos dizerem que ele não fez o exame pela sua fobia incontrolada de seringas. Não tinha problemas com agulhas. Tinha feito três tatuagens. Mas não suportava olhar para uma seringa. Apesar de ser a favor da liberação da heroína. As festas seriam melhores. A sobriedade era a pior parte da festa. Não. A ressaca que era. A sobriedade era passageira. E o ritmo dependia apenas de si mesmo. Já a ressaca parecia interminável. Quase tão interminável quanto o sono da garota anônima que acabava de acordar. Odiava essa parte. Ele queria ter sido esperto e ter ido embora antes dela acordar. Agora não sabe se espera até de noite. Se for embora após o almoço pode parecer interesseiro. Se for embora de noite pode parecer querer um relacionamento. Se for embora agora pode parecer grosso e acabar com tudo o que tenha possivelmente dito na noite anterior.
Vou-me embora. Tenho que trabalhar. Qual o seu nome?
É Carlos."
"Cíntia.
Acordou numa cama estranha com uma estranha mais estranha ainda. Sua cabeça doía e os órgãos internos queixavam-se da noite anterior. A cabeça era o que mais doía. Gostava de pensar que a dor de cabeça era causada pelo crescimento do cérebro devido à um grande número de informações registradas na festa. Esse grande número de informações normalmente causam uma pane no sistema nervoso. Então você não lembra direito o que fez. E de fato você não usa o cérebro quando ele desliga. E é por isso que ele não se lembrava o nome da garota que dormia na cama.
Talvez ele nunca tenha sabido o nome dela. Questiona-se se ela sabe o seu nome. Muitos criticam esse estilo de vida. Dizem que não vale a pena se você não conseguir lembrar. Não se lembra do que fez na maior parte de 1994. E ele tinha quatro anos nessa época. E ele não bebia aos quatros anos. Claro que houve exceções. Teve aquele restinho de cerveja num copo que ninguém sabia de quem era no aniversário da tia Rita. Mas não era o suficiente para fazer ele perder a memória. O que o incomodava era a tremedeira. Sempre tremeu. Até quando tinha quatro anos. Mas nos dias após a bebedeira ele tremia compulsivamente. Foi uma vez ao neurologista. Ele pediu um exame de sangue que ele não fez. Não fez porque tinha medo que também detectasse AIDS. Tinha medo do vírus do amor porque uma vez estava bêbado demais e não usou camisinha. Apesar de muitos dizerem que ele não fez o exame pela sua fobia incontrolada de seringas. Não tinha problemas com agulhas. Tinha feito três tatuagens. Mas não suportava olhar para uma seringa. Apesar de ser a favor da liberação da heroína. As festas seriam melhores. A sobriedade era a pior parte da festa. Não. A ressaca que era. A sobriedade era passageira. E o ritmo dependia apenas de si mesmo. Já a ressaca parecia interminável. Quase tão interminável quanto o sono da garota anônima que acabava de acordar. Odiava essa parte. Ele queria ter sido esperto e ter ido embora antes dela acordar. Agora não sabe se espera até de noite. Se for embora após o almoço pode parecer interesseiro. Se for embora de noite pode parecer querer um relacionamento. Se for embora agora pode parecer grosso e acabar com tudo o que tenha possivelmente dito na noite anterior.
Vou-me embora. Tenho que trabalhar. Qual o seu nome?
É Carlos."
cpanhoca- Apagatti Café-com-Leite
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Pessoal, enquanto eu não me animo em dar uma limpada no meu texto sobre Steampunk (que, aviso, AINDA não está pronto, e sugestões de uma conclusão para estes texto são bem-vindas) queria que dessem uma olhada nesta minha resenha que publiquei no meu blog:
http://quadrinhosgonzo.wordpress.com/2010/12/28/resenha-gonzo-hipster-hitler/
Como ela já foi publicada, talvez não dê para entrar no zine... e principalmente porque meu texto de steampunk já come um nacão de páginas. Mas dêem uma olhada. Quaçquer coisa é um tapa-buraco.
http://quadrinhosgonzo.wordpress.com/2010/12/28/resenha-gonzo-hipster-hitler/
Como ela já foi publicada, talvez não dê para entrar no zine... e principalmente porque meu texto de steampunk já come um nacão de páginas. Mas dêem uma olhada. Quaçquer coisa é um tapa-buraco.
Jacaranda- Apagati CRTL+ALT+DEL
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Outro texto que eu achei pronto.
Heliomachia: O Advento da Lua
Foi até aquele lugar que a grande jornada me levou. Levou a todos nós. Ao grande platô no alto da cidade flutuante de Deus. E ali eu fracassei, ali eu não pude fazer mais além. Toda minha concentração estava voltada contra a luz. A Criança fazia com que sua Grande Chama ardesse como nunca. Além de sustentar o manto de sombras de Iácono, que agonizava ao chão com a pele já se abrindo em bolhas diante do calor que era quase insuportável até a mim, eu precisava deter toda a luz que jorrava da mais poderosa das armas. Não conseguia nem pronunciar palavra que fosse, a maior parte de meu corpo já se desconstruía e se fundia com as trevas que eu invocava àquele lugar. Eu era uma estátua quase etérea cuja toda concentração era apreendida pela tarefa de impedir que o gárgula se tornasse rocha, e todo o resto, cinzas.
Miguel era nossa única ofensiva direta. Apenas ele possuía condições de enfrentar o deus do Quarto Mundo em equiparáveis condições, ou quase. Não consegui capturar todos os detalhes, eu só pensava na minha parede de sombras, visualizava-a diante de mim e sabia que se eu me contivesse, mesmo que por alguns segundos, a loucura divina consumiria tudo. Não só nós, mas a cidadela dos céus, a cidade abaixo Het-ka-Ptah e tudo que se encontrasse às margens do grande rio. O que sei é que, por um tempo que me pareceu longo demais, ambos duelaram com suas espadas e asas pelo céu, até que Miguel não resistiu diante da Face do Falcão. O Deus-Sol atingiu o seu irmão celestial pelas costas e o agarrou firmemente estrangulando seu pescoço.
A Criança pensara que Miguel estava domado, mas ele não desistiu. Com sua espada de marfim, perfurou o próprio peito transpassando-o. A lâmina saiu pelas suas costas e atingiu o peito de deus. Com uma única estocada, dois corações angelicais foram perfurados, mas aquela não era uma arma como as destes cinco mundos. Nenhuma gota de sangue espirrou. Aquela era uma arma que matava imortais matando sua imortalidade. Miguel finalmente sorriu, para nunca mais o repetir, antes de seu pescoço se partir, e seu corpo cair sem vida no solo. A espada do Construtor também caiu, para sumir da mesma forma que apareceu neste mundo. Nunca mais eu soube dela.
Enquanto nosso anjo caía, não sem antes derrubar nosso inimigo ao estado de um de nós — o mais poderosos entre nós, mas ainda assim um de nós — Todra havia alcançado o mais alto patamar da cidadela. O pássaro estava diante da Grande Chama de Deus, e quanto mais se aproximava, maior era o poder da ave. O ferreiro de pele verde que tentara proteger o globo de fogo que era a fonte de poder teórica e concreta d’A Criança não pôde resistir a toda a força que Todra absorvia e acumulava em seu corpo vinda da arma do inimigo, e agora o medíocre artesão que criara a arma estava caído ao chão em desespero proferindo todas as formas de insultos contra aqueles que ameaçavam sua obra e seu deus.
Todra fora indiferente aos lamentos do pusilânime ferreiro e com sua marreta golpeava a Grande Chama. A cada golpe seguia-se um tremor que era mais luminoso do que sonoro ou sísmico. A cada golpe, fragmentos da esfera de fogo e luz se desprendiam dando-a a aparência de uma massa disforme sobre um altar. Um símbolo religioso venerando algo tão distorcido e deformado quanto divino. E, a cada golpe, a Grande Chama parecia pulsar, parecia expelir para fora de si seu poder, que se dispersava, à exceção dos fragmentos que colidiam contra as construções da própria cidade, destruindo-a, e contra o corpo de Todra, fortalecendo-o e o prendendo em um círculo vicioso de poder. Foi então que seu corpo pareceu ter acumulado mais energia do que suportava. O outrora pequeno Todra agora era uma monstruosa ave cuja sombra era quase tão grande quanto a que eu gerava. Seu corpo absorvera tanto calor que finalmente incendiava. Suas poucas plumas e sua carne foram consumidas pelo fogo, seus ossos se desmancharam em pequenas migalhas sobre poeira cinza, mas, ainda assim, tamanha era sua determinação que ele continuou a martelar. Sua marreta subia e descia pelo braço de uma imagem formada apenas pelo fogo da força de vontade. Todra se tornou aqui algo parecido com o que meu pai fora em seu mundo. E quando a Ave de Fogo desferiu o golpe definitivo, quando meu amigo mudou para sempre as regras da natureza que governam este mundo, a Grande Chama se desfez em uma tempestade de fagulhas. Explodiu com tamanha intensidade, que Todra fora jogado com a força que o fez dar uma volta completa ao redor do mundo, e todos os povos puderam vê-lo em seus céus. Viram uma esplendorosa ave que na morte pelo fogo, nas próprias cinzas renasceu em fogo, e dizem alguns, como o pequeno povo da Baía de Eníria, que até hoje ele dá voltas pelo mundo, e tamanha é sua graça que alguns o confundem pensando ser ele uma nova Grande Chama em eterno movimento.
A explosão gritou com um clarão final, e quando o ofuscamento que ela causou se foi, junto levou a realidade conhecida. Eu finalmente pude descansar. Miguel e Todra se foram, mas levaram consigo o que A Criança tinha de especial. A partir de então, este era um mundo de iguais onde não existia mais Deus. Mas eu caí, estava exausta e nada podia fazer contra A Criança que marchava até mim.
Foi então que Iácono se ergueu, arremessando ao longe o longo manto negro que o cobrira durante toda a nossa jornada até aqui. Ele esticou suas asas e, olhando para o céu que agora era escuro — não como o rubro e nevoento do outro lado do mar, mas em um azul amplo e libertador — se sentiu em casa. Assim a profecia deu-se início quando Iácono por seis vezes bradou desafiando o infante. E pela primeira vez A Criança temeu. Temeu diante do reluzir da armadura prateada do cavaleiro alado que não a temia. Coruscava em prata como o novo disco marfim que brilhava no céu. Entretanto este círculo não ardia em fogo como o anterior, era sim de um brilho apaziguador e aconchegante e parecia ter, na condição de recém-chegado à História, vindo observar aos eventos finais da era que estava se acabando. E todas as raças, livres ou escravas, olharam para o céu naquela primeira noite e viram que, antes de Iácono cair após a espada d’A Criança rasgar completamente seu corpo, seis vezes ele se levantou, e seis flechas de seu arco-cruzado perfuraram o coração de seu inimigo, e que, em sua última queda, a besta levou consigo o filho do Criador.
E ambos os corpos jazeram sobre as areias do deserto, mas apenas um deles foi cercado por representantes de todas as raças. Iácono olhou a todos os que à sua volta o saudavam e pediu desculpas a um menino por não podê-lo auxiliar a construir seu reino livre como prometera. Só que o menino chamado Mipia disse-lhe que não deveria se desculpar, pois já o tinha auxiliado. E Iácono olhou para o céu azul e descobriu pequenos pontos luminosos, pequenos lampejos distantes e imaginou o que seriam e se poderia chegar até eles. E, como conta o povo de Mipia, assim se fez, pois, ao final do dia, a primeira e mais intensa estrela a surgir no céu não é nada além do cavaleiro alado nos olhando do firmamento. E assim partiu o maior herói que já houve nestes cinco mundos.
Quando eu acordei, a cidadela em ruínas despencava lentamente dos céus, e o servo rastejante de pele verde, às lágrimas, pisava e cuspia sobre os ossos de Todra. A vontade que me despertou foi a de matá-lo, de acabar com o último símbolo daquele antigo mundo que deixava de existir. Deixei-o lá chorando diante de um altar vazio, promovendo juramentos a deus nenhum e profecias engendradas e reacionárias.
E foi assim que fracassei, que perdi meus amigos, e que chegou o fim da Era Heróica destes mundos. Foi assim que participei da criação de um mundo onde não sou mais necessária e me tornei apenas uma sombra que vaga sozinha e sem propósito.
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Oi pessoal!
Sou nova no fórum, mas participei dos primeiros números do Farrazine com poemas e um conto. Agora estou de volta, querendo botar a mão na massa. Vou fazer a revisão de alguns textos, mas não sei quais já foram revistos. Vou pegar os últimos 3 postados pra começar, ok?
Quanto a questão do Steampunk, é ótimo saber que tem gente escrevendo sobre esse tema no Brasil. Eu conheço pouco, mas gosto muito. Existe um livro sensacional, que eu recomendo sempre: "Os Portais de Anúbis", do Tim Powers. Ele ganhou todos os prêmios possíveis quando foi lançado.
Para quem curte RPG há um sistema chamado Castelo Falkenstein que é baseado em Steampunk. Muito bacana, se joga com cartas de baralho ao invés de dados.
É isso, assim que revisar eu coloco no tópico dos textos revisados.
See you...
Sou nova no fórum, mas participei dos primeiros números do Farrazine com poemas e um conto. Agora estou de volta, querendo botar a mão na massa. Vou fazer a revisão de alguns textos, mas não sei quais já foram revistos. Vou pegar os últimos 3 postados pra começar, ok?
Quanto a questão do Steampunk, é ótimo saber que tem gente escrevendo sobre esse tema no Brasil. Eu conheço pouco, mas gosto muito. Existe um livro sensacional, que eu recomendo sempre: "Os Portais de Anúbis", do Tim Powers. Ele ganhou todos os prêmios possíveis quando foi lançado.
Para quem curte RPG há um sistema chamado Castelo Falkenstein que é baseado em Steampunk. Muito bacana, se joga com cartas de baralho ao invés de dados.
É isso, assim que revisar eu coloco no tópico dos textos revisados.
See you...
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Oi Rodrigo!
Caramba, é mesmo...rs
Vamos sim! Com certeza!
Poderiamos aproveitar e jogar algo voltado para o Steampunk!
Caramba, é mesmo...rs
Vamos sim! Com certeza!
Poderiamos aproveitar e jogar algo voltado para o Steampunk!
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Ah, tem sempre uma primeira vez... Eu não jogo em mesa a décadas, o que vier é lucro =D
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Mais uma vez bem-vinda, Cinthia.
Organizando então:
Cinthia revisando: Heliomachia, Cíntia e Steampunk (obs.: este último ainda sofrerá alterações da autora)
Rodrigo! revisando: Bráulio e Riteando.
Vamoquevamo.
Organizando então:
Cinthia revisando: Heliomachia, Cíntia e Steampunk (obs.: este último ainda sofrerá alterações da autora)
Rodrigo! revisando: Bráulio e Riteando.
Vamoquevamo.
Kio- Editor aposentado
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Data de inscrição : 29/12/2008
Idade : 52
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Beleza!
Detalhe para a coincidência: vou revisar um conto com o meu nome!
Detalhe para a coincidência: vou revisar um conto com o meu nome!
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Ah, eu tenho um conto do qual gosto bastante...Será que tem espaço no Farrazine, apesar de ser bem deprê/mulherzinha ?
NA MADRUGADA
Na madrugada, ao som da voz de Ella, ela chorava.
O peito subia e descia pausadamente.
Entre um soluço e outro o ar se esgueirava e invadia as narinas a fim de ressuscitar um corpo já sem vontade de nada.
Inesperadamente os olhos se abriram.
Se alguém a visse naquele momento diria que ela tinha um olhar de emboscada.
Sentou-se na cama na qual estava estendia havia horas e recuperou o fôlego como quem chega ao fim da marcha.
Retirou os cabelos da frente dos olhos, enxugou as lágrimas e se levantou.
Olhou tudo ao seu redor como quem admira uma exposição de arte.Um livro marcado na página 117, um par de sapatos velhos jogados em um canto, um álbum de fotos antigas, de seus avós.
Nem se lembrava mais desse álbum. Folheou e viu que se parecia muito com uma tia avó.Não sabia seu nome, mas de alguma forma era ela ali.
Durante todo o tempo, que parecia não passar, seu rosto permaneceu apático.
Parou diante do aparelho de som e derramou uma lágrima.
”Uma lágrima à voz de Ella”, pensou.
Desligou o som com o dedo indicador e sem olhar mais nada se retirou do quarto, fechando a porta atrás de si.
Controlou o choro que ameaçava recomeçar e antes de chegar à sala já estava firme.
Continuou o passo até a cozinha.
Bebeu um copo de água, mas se arrependeu. Ainda havia uma lata de cerveja.
Ao fim da lata, que naquele momento parecia o fim de tudo, o telefone tocou.
Levantou-se muito rápido e derrubou a lata que ainda estava em sua mão.
Atendeu ao telefone. Ficou em silêncio por 5 minutos, ouvindo, estática.
No final, suspirou e os lábios apenas sussurraram:
-Perdoo.
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Já anotei nas reservas, Cínthia.
Kio- Editor aposentado
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Data de inscrição : 29/12/2008
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Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
bem-vonda de volta!
se for rolar o rpg me chamem tbm!
se for rolar o rpg me chamem tbm!
cpanhoca- Apagatti Café-com-Leite
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Data de inscrição : 15/09/2010
Localização : Marília.
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Beleza...Vamos botar esse povo pra jogar!
Ah, Kio, e o podcast do Farrazine? Tá rolando?
Beijos
Ah, Kio, e o podcast do Farrazine? Tá rolando?
Beijos
Re: TEXTOS PARA REVISÃO - #20
Agente Dias escreveu:RPG? Eu quero! Como seria o esquema?
Oi Agente! Então, ainda não tem esquema ainda, rs...
Temos que ver se tem como rolar de todo mundo que quer participar se encontrar e quem vai mestrar. E principal, qual o sistema que será usado.
Eu costumo jogar usando o sistema SiRIUS. Alguém mais conhece?
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